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A história das relações de trabalho capitalistas durante a revolução industrial, enfatizando seu impacto na saúde e na educação. O texto aborda a crise do covid-19 e sua influência nas horas de trabalho mundiais, além de contextualizar as relações de trabalho na era da revolução industrial, incluindo a força de trabalho feminina e a introdução da maquinaria. O documento também sugere medidas para enfrentar as crises atuais.
Tipologia: Notas de aula
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O lixo é definido pelo dicionário Aurélio como aquilo que se varre da casa, do jardim, da rua e se joga fora; entulho. Tudo o que não presta e se joga fora. Sujidade, sujeira, imundície. Coisa ou coisas inúteis, velhas, sem valor. Resíduos que resultam de atividades domésticas, comerciais, industriais e hospitalares. Também classifica e defini o lixo, segundo o risco que causa à população, como atômico, espacial, radioativo e especial – os resíduos resultantes de atividades industriais poluentes. (...) Na Idade Média, a maioria dos restos resultantes da atividade do homem estava diretamente relacionada aos resíduos produzidos pelo seu corpo - fezes, urina, secreções em geral e o próprio corpo humano em decomposição. Também havia os restos provenientes da alimentação - carcaças de animais, cascas de frutas e hortaliças. Os restos começaram a causar medo no homem, a partir do momento em que foram sendo associados ao seu sofrimento físico e psíquico. Esse sofrimento ficou bem marcado na ocasião do surto manifestado pelas epidemias e pandemias de algumas doenças na Idade Média, mais precisamente pela peste negra no continente europeu durante o século XIV. (...) Na Idade Média, as palavras "praga", "peste" ou "pestilência" significavam a aparição de uma enfermidade epidêmica, que produzia um alto índice de mortalidade. Nem sempre o termo se referia à peste negra ou bubônica, já que outras epidemias como gripe, tifo, cólera e varíola, contagiosas e letais, também estavam presentes. No entanto, os sintomas da peste bubônica foram descritos em detalhes. Houve, assim, pestes ou pragas famigeradas que chegaram a ser denominadas com o nome do lugar onde começaram ou onde foram mais graves. A peste do século XIV, chamada de "morte negra ou peste negra" foi a mais célebre pela sua mortandade. As "pestes" causavam temor e, no período medievo, muitas vezes foram interpretadas como "castigo divino", pelos pecados que o homem havia cometido. Além dessa crença, os homens também acreditavam que as enfermidades poderiam ser transmitidas pelo ar corrompido – teoria dos miasmas
um pestilento, todas as pessoas presentes ou próximas, dissessem: que Deus te bendiga [...]. As epidemias, como punição dos deuses, pareciam constituir uma associação importante, já presente na antiguidade. O texto da "peste", em Ovídio descrito por Diniz, registra bem a associação entre "pestes" e castigo divino: o flagelo terrível que atacou o povo teria sido provocado pela ira de Juno junto à terra. Além da doença como castigo divino, mas atribuída às condições climáticas, encontramos os dizeres de Ovídio, sugerindo que a peste brotou com ímpeto, quando [...] O céu cobriu a terra com uma escuridão profunda e encheu essas trevas com um calor sufocante. O cálido Austro soprou um vento mortal [...] era evidente que a peçonha se espalhava pelas fontes e pelos lagos, e que milhares de serpentes, errando pelos campos incultos, contaminaram os rios com o seu veneno [...]. O pensamento médico fundamentado na teoria das influências astrais ressaltava o ar como o meio de transmissão das doenças. Eram o ar envenenado, os miasmas e as névoas pesadas e pegajosas, provocando todos os tipos de agentes naturais e imaginários, desde águas estagnadas dos lagos e rios, até a conjunção negativa dos planetas que disseminavam a doença e a morte entre os homens. Assim, segundo a concepção dos miasmas, o ambiente corrompido das habitações e os hábitos das pessoas eram também associados à propagação da peste. O ambiente interno das moradias era o mesmo - tanto os lares mais humildes como os castelos de pedra dos senhores feudais possuíam um único cômodo grande. Situação que agravava os problemas relativos à saúde de seus habitantes. O principal agente insalubre era a coabitação com os animais de criação; outro problema dizia respeito à falta de ventilação. A maioria das casas tinha um piso de terra batida, sendo aquecidas por uma lareira central. As camas geralmente eram envolvidas por cortinados, que proporcionavam maior privacidade. Nessas camas, largas e compridas, dormiam até oito pessoas. As condições internas das habitações, como a umidade, a fumaça, a ausência de privacidade e a consequente promiscuidade, eram agentes eficazes na transmissão de doenças. Neste ambiente corrompido, se um membro da família contraísse alguma doença, era tarefa muito difícil evitar o contágio. As cidades, no medievo, eram densamente povoadas. Os resíduos - fezes, urina e águas fétidas
homem. O enfermo que conseguia alcançar a cura mudava sua visão sobre o mundo. Ele deixava de temer a doença, pois se sentia capaz de vencê-la. A doença, percebida como algo "divino" e estando em um plano superior ao humano ou "profano" tornava-se algo não palpável, coisa do destino e, assim, fugia ao domínio do homem. As vítimas da peste, consideradas como pecadoras, deviam ser condenadas ao sofrimento. As medidas contra a peste, que eram fundamentadas em princípios morais, censuravam os prazeres sexuais e gustativos do corpo, ainda permanecendo, durante alguns séculos, associados ao pecado, ao profano e ao indigno do divino. A concepção dos miasmas, como meio de contágio das enfermidades, estando relacionada aos fenômenos da natureza – as estações do ano, o clima quente ou frio, os ventos, as tempestades – permanecia passível a mudanças naturais. Contudo, ainda no século XVI, Fracastoro (1478 – 1553), em suas observações sobre a natureza e a disseminação das doenças infecciosas, supôs que as infecções passavam de uma pessoa a outra por meio de pequenos corpos capazes de auto-reprodução. Ele definia o contágio como uma corrupção ou infecção, que ocorria de forma análoga entre portadores e receptores, ocasionada por partículas imperceptíveis. Nos dias de hoje, reconhecemos a peste como uma doença de cadeia epidemiológica complexa, envolvendo roedores, carnívoros domésticos (cães e gatos) e silvestres (pequenos marsupiais), pulgas e o homem. É uma doença infecciosa e contagiosa, possuindo como agente etiológico a bactéria Yersinia pestis , que é transmitida ao homem pela picada da pulga infectada, encontrada principalmente nos ratos. As gotículas transportadas pelo ar e as secreções bronquiais de pacientes com peste pneumônica constituem os meios de transmissão mais frequentes de pessoa a pessoa. Tecidos de animais infectados, fezes de pulgas e culturas de laboratórios também são fontes de contaminação para quem os manipula sem obedecer a normas de biossegurança. A sua persistência em focos naturais, no Brasil e em outros países do mundo, é uma importante característica ecológica e epidemiológica da doença, dificultando a sua erradicação e impondo a manutenção da sua vigilância e controle, mesmo quando em baixas incidências.
O coronavírus atravessa nossa porta da frente como um monstro já familiar. Sequenciar seu genoma (aliás muito semelhante ao de sua irmã, a amplamente estudada SARS) foi moleza. Ainda nos faltam, no entanto, os pedaços mais vitais de informação. À medida que os pesquisadores trabalham noite e dia para conseguir caracterizar o surto, eles enfrentam três enormes desafios. Em primeiro lugar, a continuada escassez de kits para diagnóstico da infecção viral, especialmente nos EUA e na África, tem impedido a projeção de estimativas precisas, tais como a taxa de reprodução, o tamanho da população infectada e a quantidade de infecções de caráter benigno. O resultado vem sendo um completo caos numérico. Alguns países, contudo, dispõem de dados mais confiáveis a respeito do impacto do vírus em certos grupos. E as informações são muito assustadoras. [...] A “gripe corona” que Trump menospreza representa um perigo sem precedentes para populações geriátricas, com um potencial saldo de mortalidade na casa dos milhões. Em segundo lugar, assim como as influenzas sazonais, o vírus está sofrendo mutações à medida que atravessa populações dotadas de diferentes composições etárias e condições de saúde. A variedade que os estadunidenses têm mais probabilidade de acabar pegando já é ligeiramente diferente daquela identificada no surto original em Wuhan. [...] Em terceiro lugar, mesmo se o vírus permanecer estável e sofrer poucas mutações, é possível que seu impacto sobre cortes etários mais jovens difira radicalmente em países pobres e entre grupos de alta pobreza. Considere a experiência global da gripe espanhola de 1918-19, que, estima-se, matou cerca de 1-2% da humanidade. Nos EUA e na Europa Ocidental, o vírus original do H1N1 teve maior índice de letalidade em jovens adultos, e a explicação que geralmente se dá para tanto é que seus sistemas imunes relativamente mais fortes acabavam reagindo com demasiada intensidade à infecção e atacarem células pulmonares. [...] De todo modo, é sabido que o vírus original da H1N1 encontrou um nicho privilegiado em acampamentos do exército e em trincheiras de batalha, onde ele ceifou a vida de dezenas de milhares de jovens soldados. Esse tornou-se um fator importantíssimo na batalha entre os impérios. Chegou-se a atribuir o colapso da grande ofensiva alemã na primavera de 1918, e, portanto, o resultado da guerra, ao fato de que os Aliados, em contraste com seu inimigo, tinham condições de reabastecer seus exércitos doentes com tropas estadunidenses recém-chegadas. [...] Essa história – especialmente as consequências desconhecidas das interações com subnutrição e infecções existentes – deveria nos alertar que o COVID-19 pode tomar um caminho diferente e mais letal nas favelas densas e insalubres da África e do Sul Asiático. O perigo desse fenômeno para as populações pobres de todo o mundo vem sendo quase completamente ignorado por jornalistas e governos ocidentais. O único artigo publicado que li nesse sentido argumenta que por conta do fato da população urbana da África ser a mais jovem do mundo, a pandemia deve produzir lá apenas um impacto ameno. À luz da experiência de 1918, essa não passa de uma extrapolação tola. Assim como a suposição de que a pandemia, assim como a gripe sazonal, irá recuar diante de climas mais quentes. [...]
Tanto a temporada de gripe de 2009 quanto a de 2018, por exemplo, sobrecarregaram hospitais em todo o país [EUA], expondo a chocante escassez de leitos hospitalares depois de vinte anos de cortes na capacidade de internação movidos pela maximização dos lucros. De acordo com a Associação Hospitalar Estadunidense, o número de leitos hospitalares sofreu um espantoso declínio de 39% entre 1981 e 1999. Hospitais privados e de caridade fechando as portas e carências de enfermagem, igualmente provocados pela lógica de mercado, devastaram os serviços de saúde em comunidades mais pobres e em áreas rurais, transferindo o fardo para hospitais públicos subfinanciados (...). Se as condições do atendimento emergencial em tais instituições já são incapazes de dar conta de infecções sazonais, como esperar que elas deem conta de uma iminente sobrecarga de casos críticos? No novo século, a medicina emergencial continuou a sofrer reduções no setor privado por conta do imperativo de se preservar o “valor dos acionistas”, buscando o aumento de dividendos e lucros de curto prazo, e no setor público por meio de austeridade fiscal e reduções nos orçamentos estaduais e federais de prevenção e preparação emergencial. [...] O surto expôs instantaneamente a marcada divisão de classes no atendimento de saúde, que a Nossa Revolução colocou na agenda nacional. Em suma: quem dispõe de um bom plano de saúde e também tem condições de trabalhar ou lecionar de casa está confortavelmente isolado, contanto que siga com prudência as diretrizes de segurança. Funcionários públicos e outros grupos de trabalhadores sindicalizados que gozam de uma cobertura decente terão de fazer escolhas difíceis, optando entre renda e proteção. Enquanto isso, milhões de trabalhadores de baixa renda do setor de serviços, trabalhadores agrícolas, desempregados e sem teto estão sendo atirados aos lobos. [...] A atual pandemia expande o argumento: a organização capitalista agora parece estar biologicamente insustentável na ausência de uma infraestrutura verdadeiramente internacional de saúde pública. Mas tal infraestrutura jamais existirá enquanto movimentos de pessoas não quebrarem o poder das grandes corporações farmacêuticas e de um sistema de atendimento à saúde organizado em função do lucro. Texto adaptado de “O coronavírus e a luta de classes: o monstro bate à nossa porta”, por Mike Davis. In Blog da Boitempo. Disponivel em https://jornalggn.com.br/artigos/o-coronavirus-e-a-luta-de-classes-o-monstro-bate-a-nossa-porta-por-mike-davis/. Publicado em 16/03/2020.
O imperativo de isolamento coincide com um novo reconhecimento de nossa interdependência global no novo tempo e espaço da pandemia. Por um lado, somos solicitados a nos recolhermos em unidades familiares, espaços compartilhados de moradia, ou domicílios individuais, privados de contato social e relegados a esferas de relativo isolamento. Por outro lado, com a COVID-19, estamos diante de um vírus que transpõe tranquilamente as fronteiras, completamente alheio à própria ideia de território nacional. (...) O vírus não discrimina. Poderíamos dizer que ele nos trata com igualdade, nos colocando igualmente diante do risco de adoecer, perder alguém próximo e de viver em um mundo marcado por uma
humanos) na área de saúde com o aumento dos casos de pessoas infectadas, sobretudo no pico da epidemia, o que requer uma espécie de economia de guerra nesse segmento. [...] A economia brasileira será profundamente afetada por essa conjuntura crítica decorrente do avanço na COVID-19 no país, o que é agravado pela nossa situação prévia de baixo dinamismo e incapacidade para recuperar os níveis de produção anteriores à recessão de 2015-16. Nesse quadro, que já era preocupante antes de a pandemia se instalar, a resposta do governo brasileiro para enfrentar a crise econômica (plano divulgado no dia 16/03/2020) gera ainda maior preocupação ao não propor nenhum recurso novo, apenas antecipação de recursos ou diferimento [adiamento] de pagamentos. Ademais, o ministro da Economia mantém o discurso de que a melhor resposta para combater a crise econômica seria a aprovação das reformas administrativa e tributária. As reformas já aprovadas (Emenda Constitucional 95/2016 do “Teto dos gastos”, reformas trabalhista e previdenciária) não foram capazes de proporcionar a retomada do crescimento econômico e, em alguns casos, ampliaram as vulnerabilidades para enfrentar os desafios atuais das crises de saúde e econômica provocadas pela COVID-19. A EC 95/2016, por exemplo, alterou o cálculo do mínimo constitucional na área de saúde que implicou uma redução de mais de R$ 20 bilhões nos recursos federais que deveriam ter sido utilizados para saúde pública desde 2018. [...] Diante desse quadro, a economia brasileira deverá mergulhar numa recessão em 2020, provocando a ampliação do número de desempregados e da população em situação de extrema pobreza. Segundo estimativas realizadas [internacionais], a economia brasileira deverá perder, em 2020, dois pontos percentuais de crescimento, num cenário mais favorável, e até oito pontos percentuais num cenário mais desfavorável. A recessão está contratada e pode ter a gravidade de uma depressão caso não sejam utilizados todos os instrumentos disponíveis de política econômica, sobretudo os fiscais, para combater a crise. Em uma economia, sob efeito da COVID-19, haverá um esgotamento da capacidade instalada e escassez da mão de obra no setor saúde, combinados a desemprego e falta de produtos e insumos nos outros setores. Nesse contexto, a necessidade de priorizar os objetivos imediatos do país – a luta contra a pandemia e a contenção dos seus efeitos sobre a atividade econômica – em detrimento do equilíbrio fiscal de curto prazo não é uma questão ideológica. [...] Para tanto, são necessários gastos adicionais ao previsto no orçamento para a infraestrutura de combate à doença e coordenação do governo central em virtude da baixa capacidade fiscal dos estados e munícipios. [...] Nessa situação, defendemos que o governo e o Congresso brasileiro adotem os seguintes pontos para combater a crise:
demais regras fiscais vigentes (...) e a suspensão do Teto de Gastos, de forma a se criar um espaço legal para a necessária política de expansão dos gastos públicos.; 6) Suspensão de multa, juros e penalização sobre pagamento atrasado de contas dos serviços de utilidade pública; 7) Ajuda fiscal aos estados e municípios, seja por meio de transferências do governo federal, seja pela renegociação de dívida, de forma a permitir aos entes subnacionais elevar seus gastos para fazer frente à emergência médica e seus impactos sociais mais imediatos; 8) Política de expansão de crédito e alongamento de dívidas utilizando os bancos públicos, para socorrer empresas e famílias mais afetadas pela pandemia. Texto adaptado deCoronavírus: pesquisadores da UFRJ avaliam impacto econômico da doença. Disponivel em https://ufrj.br/noticia/2020/03/18/coronavirus-pesquisadores-da-ufrj-avaliam-impacto-economico-da-doenca
A Revolução Industrial se constituiu num processo de profundas transformações que mudou radicalmente a estrutura da sociedade em vários aspectos. Porém, ela não foi produto do acaso. A Revolução Industrial ocorreu graças às melhoras significativas que a Inglaterra promoveu no século XVIII nas vias de transportes e nas comunicações, assim como houve também um crescimento do mercado consumidor interno e das exportações. Além disso, o Estado britânico desempenhou um papel fundamental como fomentador das atividades econômicas na ação e proteção dos interesses dos industriais. Outro fator determinante foram as profundas mudanças na relação entre o campo e a cidade. O êxodo rural forçado, decorrente dosenclousures [cercamento dos campos] e a crescente necessidade de força de trabalho exigida pelo avanço industrial fizeram surgir grandes metrópoles. Além disso, outros três elementos foram determinantes para que a Revolução Industrial se desenvolvesse. Primeiro havia um grupo de empregadores capitalistas que tiveram a sua disposição uma classe de trabalhadores que nada possuíam e que para satisfazer suas necessidades se obrigavam a vender sua força de trabalho em troca de salários. Segundo era a produção na fábrica que funcionava por meio de uma combinação de máquinas especializadas com trabalhadores especializados, com longos anos de aprendizado nos ofícios. E o terceiro que era a existência de número razoável de homens vocacionados para o negócio, para a acumulação, que procuravam acumular riqueza por meio do lucro, estes dominavam a economia. Esses homens nada viam de errado no novo sistema e não faziam distinção entre os aspectos sociais e técnicos. (HOBSBAWM, 1978, p. 62). O que mudou radicalmente a Inglaterra e fez com que a Revolução Industrial “explodisse” foi o algodão. Embora a Revolução Industrial não se resuma ao algodão, pois o algodão perdeu sua supremacia algumas décadas depois, [mas] mudou a forma e o ritmo de produzir, ele foi o esteio do desenvolvimento da indústria na região do Lancashire. Daí para frente a produtividade passou a se multiplicar de forma rápida e permanente. Dessa forma, o sistema incontrolável do capital ganhou forças e o ritmo de valorização dos investimentos conduziu à expansão num patamar jamais visto. [...]
que a grande indústria reúne grande quantidade de operários para manter o funcionamento do sistema de máquinas “[...] homens, mulheres e crianças, encarregadas de tarefas especiais, que se tornam engrenagens entre as engrenagens”. (MANTOUX, s/d, p. 2). Ainda de acordo com Mantoux, a grande indústria pode ser definida por sua organização interna, ou seja, ela é um regime de produção. [...] A manufatura pressupõe a separação entre o trabalho e o capital. Mantoux salienta que pelo preâmbulo de uma lei de 1557 esta separação se dava da seguinte forma [...] operário, de início trabalhando livremente, em sua própria casa e com suas próprias ferramentas, logo depois nada mais era do que locatário, pagando uma renda pela utilização de um instrumento de trabalho que já não lhe pertencia. Depois, o fabricante ia mais longe; retinha os instrumentos, organizando oficinas submetidas à sua vigilância direta: o operário não lhe fornecia mais do que seu trabalho, pelo qual recebia um salário. (MANTOUX, s/d, p. 13). A divisão do trabalho é o princípio e a razão de ser da manufatura. [...] O trabalho artesanal, principalmente na tecelagem, foi gradativamente suplantado pelo tear mecânico, embora a tecelagem manual fosse o último refúgio dos operários expulsos dos outros ramos produtivos. De tal maneira, que mesmo tendo que trabalhar de catorze a dezoito horas por dia, o tecelão manual se sentia útil, pois, ao menos, tinha trabalho. O sistema fabril, com o desenvolvimento do sistema de máquinas, precarizou as condições de vida dos artesãos manuais. Posteriormente o trabalho passou a ser feito em manufaturas. Para diminuir os custos, aumentar a produtividade e assim ter lucros mais elevados, os mercadores passaram a concentrar os trabalhadores numa oficina e a fornecer-lhes matéria- prima e as ferramentas para a fabricação dos produtos. O artesão deixa de ser o dono dos meios de produção e do local de trabalho e passou a trabalhar em troca de um salário. [...] Para Hobsbawm a Revolução Industrial representou uma mudança social fundamental. “[...] Ela transformou a vida dos homens a ponto de torná-los irreconhecíveis [...] destruiu seus antigos estilos de vida, deixando-os livres para descobrir ou criar outros novos, se soubessem ou pudessem”. (HOBSBAWM, 1983, p. 74). Marx analisando as consequências imediatas da produção mecanizada sobre o trabalhador afirma que: [...]a maquinaria permite o emprego de trabalhadores sem força muscular ou com desenvolvimento físico incompleto, mas com membros mais flexíveis. Por isso a primeira preocupação do capitalista ao empregar a maquinaria, foi a de utilizar o trabalho das mulheres e das crianças. Assim, de poderoso meio de substituir trabalho e trabalhadores, a maquinaria transformou-se imediatamente em meio de aumentar o número de assalariados [...] sob o domínio direto do capital (MARX, 1989, p. 449). [...] As fábricas eram locais úmidos e quentes. O trabalho era repetitivo e as jornadas de trabalho muito longas. Sobre o trabalho na fábrica Marx afirma que o mesmo “[...] exaure os nervos ao extremo, suprime o jogo variado dos músculos e confisca toda a atividade livre do trabalhador, física e espiritual”. (MARX, 1989, p. 483). Além do salário muito baixo, da exaustiva jornada, havia o medo de perder o emprego, pois havia muitos trabalhadores desempregados. Multiplicaram-se os bairros pobres, habitados por operários, que muitas vezes moravam com suas famílias em casas de um único cômodo. Não havia água potável, o esgoto corria a céu aberto, ruas sem calçamento, lixo por todos os cantos. [...] Por isso, originariamente a classe operária vieram das partes mais pobres do reino, Irlanda, País de Gales e Escócia. Ou seja, o capital recrutou mão de obra entre as populações mais pobres que eram brutalmente privadas dos meios de existência. Porém, Mantoux destaca o fato dos manufatureiros da
indústria têxtil ter encontrado outra solução para o problema de escassez de força de trabalho. Ou seja, a contratação de mulheres e crianças. [...] [Segundo] Engels, “[...] Dos 419.590 operários fabris do Império Britânico, em 1839, 192.887 (isto é, quase a metade) tinham menos de 18 anos e 242.296 eram do sexo feminino, dos quais 112.192 com menos de 18 anos”. (ENGELS, 2008, p. 181). Engels (2008) relata o aumento da mortalidade das crianças em consequência do retorno das mães às fábricas no terceiro ou quarto dia após o parto, muitas vezes deixando o recém-nascido sob os cuidados do irmão pouco mais velho, “[...] na hora das refeições, correm até lá para amamentá-lo e comer algo – e não é difícil imaginar em que condições ocorre esse aleitamento!” O trabalho das mulheres também foi explorado nas minas de carvão, na árdua atividade de retirar o carvão do fundo das minas e transportar até a superfície. Texto adaptado de BOTTINI, Lucia Mamus e BATISTA, Roberto Leme. “O trabalho da mulher durante a revolução industrial inglesa (1780-1850)”. In Os desafios da escola pública paranaense na perspectiva do professor PDE. Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE. Volume I, 2013. Disponivel em http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_fafipa_hist_a rtigo_lucia_mamus_bottini.pdf REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Boitempo, 2008; HERDERSON, William Otto. A revolução industrial:1780-1914. Trad. Maria Ondina. Ed. bras. rev. pref. Aldo Janotti. São Paulo: Verbo (USP), 1979; HOBSBAWM, Eric J. Da revolução industrial inglesa ao imperialismo. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense- Universitária, 1983; LEFEBVRE, Henri. A reprodução das relações de produção. Porto: Publicações Escorpião, 1973. MANTOUX, Paul. A Revolução Industrial no século XVIII. São Paulo: Editora da UNESP/Ucitec, s/d.; MARX, K. O capital: Crítica da economia política. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2013; MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Vol. II. Coleção Os Economistas. 3. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1988;MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. Livro primeiro: O processo de produção do capital. Trad. Reginaldo Sant'Anna. Vol. I. 13 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A, 1989.
A fim de aprofundarmos as questões levantadas pelas leituras
anteriores, propusemos essa seleção de filmes...