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O objetivo primário da Terapia Ocupacional é habilitar as pessoas a participar das atividades da vida diária. Este objetivo é alcançado por meio do trabalho com ...
Tipologia: Slides
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Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais (ABRATO) ESTUDO SOBRE ATIVIDADES DA VIDA DIÁRIA, ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DA VIDA DIÁRIA E TECNOLOGIA ASSISTIVA. Organização: Dra. Ana Paula Martins Cazeiro Dra. Simone Maria de Bastos Dr. Élcio Alteris dos Santos Dr. Marcus Vinícius Machado de Almeida Dr. José Naum de Mesquita Chagas
Sobre os Autores: Dra. Ana Paula Martins Cazeiro (CREFITO 2: 6201 - TO. Graduação em Terapia Ocupacional, Especialização em Terapia Ocupacional na Reabilitação do Aparelho Locomotor e Terapia da Mão, Mestrado e Doutorado (em andamento) em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, Professora Assistente da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Dra. Simone Maria de Bastos (CREFITO 2: 719 - TO. Graduação em Terapia Ocupacional, Especialização em Psiquiatria Social, em Ergonomia e em Terapia da Mão e Membro Superior, Funcionária Pública Federal - Ministério da Saúde). Dr. Élcio Alteris dos Santos (CREFITO 3 - 13 : 10972 - TO. Graduação em Terapia Ocupacional. Especialização em Metodologia e Didática do Ensino Superior, Mestrado em Engenharia Elétrica, Pesquisador da UNESP em Engenharia de Reabilitação e Tecnologia Assistiva em projetos de Engenharia Mecânica e Elétrica, Funcionário Público Municipal da Prefeitura de Três Lagos – MS). Dr. Marcus Vinícius Machado de Almeida (CREFITO 2: 3532 - TO. Graduação em Terapia Ocupacional, Dança e Filosofia, Especialização em Musicoterapia, Mestrado em Artes e Doutorado em Educação Física, Professor Adjunto da Escola de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Dr. José Naum de Mesquita Chagas (CREFITO 11: 8498-TO). Graduação em Terapia Ocupacional, Mestrado em Saúde Pública. Conselheiro Nacional de Saúde. Presidente da Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais. Delegado da ABRATO junto a World Federation of Occupational Therapists- WFOT. Coordenador Adjunto da Comissão Intersetorial de Ciência e Tecnologia-CNS/MS. Membro da Comissão de Especialidades do COFFITO.
1 – Definição de Terapia Ocupacional. A Federação Mundial dos Terapeutas Ocupacionais (WFOT – World Federation of Occupational Therapists) define a Terapia Ocupacional como uma profissão da área da saúde envolvida com a promoção da saúde e bem estar através da ocupação. O objetivo primário da Terapia Ocupacional é habilitar as pessoas a participar das atividades da vida diária. Este objetivo é alcançado por meio do trabalho com pessoas e comunidades para aumentar suas habilidades para o engajamento nas ocupações que elas querem, desejam ou precisam participar; esta intervenção é feita por meio da modificação das ocupações ou do ambiente para melhor apoiar a participação nas atividades. Os terapeutas ocupacionais acreditam que a participação pode ser melhorada ou reduzida em decorrência das habilidades físicas, afetivas e cognitivas, das características das ocupações, ou do ambiente físico, social, cultural, atitudinal e legislativo. Deste modo, a prática da Terapia Ocupacional é focada em habilitar os indivíduos a modificar aspetos pessoais, da ocupação e/ou do ambiente, visando aumentar a sua participação ocupacional (Disponível em: http://www.wfot.org/information.asp?id=2. Acesso em: 12/03/11). De maneira bastante semelhante, a Organização Mundial da Saúde refere que a Terapia Ocupacional promove a saúde e o bem estar por meio da ocupação, sendo o seu objetivo primário habilitar as pessoas para a participação nas atividades da vida cotidiana ( activities of everyday life ). Os terapeutas ocupacionais alcançam este objetivo por meio do favorecimento para que as pessoas aumentem suas habilidades para participação nas atividades ou pela modificação do ambiente, de modo a melhor apoiar a participação (WHO, 2011). De acordo com a ABRATO (Associação Brasileira dos Terapeutas Ocupacionais), é competência do terapeuta ocupacional [...] o diagnóstico do desempenho ocupacional nas áreas das atividades de vida diária, atividades instrumentais de vida diária, trabalho e produtivas, lazer ou diversão e nos componentes de desempenho sensório-motor, integração cognitiva, e componentes cognitivos, habilidades psicossociais e componentes psicológicos, por meio da utilização de métodos e técnicas terapêuticas ocupacionais. O Terapeuta Ocupacional é um profissional, membro da equipe interdisciplinar de assistência à saúde, cujo foco é auxiliar o indivíduo a desenvolver ou restaurar habilidades e melhorar sua adaptação para desempenhar as atividades que ele deseja e precisa, considerando seus potenciais, limitações e sua história pessoal. [...] O Terapeuta Ocupacional estimula a independência e autonomia progressiva do indivíduo, buscando sua satisfação e de sua família no desempenho das atividades que lhe são próprias e possíveis, em cada fase da recuperação ou na adaptação às seqüelas permanentes (Disponível em: <http://www.abrato.com.br/ mostra_caderno.aspx?id=243>. Acesso em: 12/03/11 – grifo nosso).
Segundo o COFFITO (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional), a Terapia Ocupacional É uma área do conhecimento, voltada aos estudos, à prevenção e ao tratamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas, afetivas, perceptivas e psico- motoras, decorrentes ou não de distúrbios genéticos, traumáticos e/ou de doenças adquiridas, através da sistematização e utilização da atividade humana como base de desenvolvimento de projetos terapêuticos específicos. TERAPEUTA OCUPACIONAL É um profissional dotado de formação nas Áreas de Saúde e Sociais. Sua intervenção compreende avaliar o cliente, buscando identificar alterações nas suas funções práxicas, considerando sua faixa etária e/ou desenvolvimento da sua formação pessoal, familiar e social. [...] O Terapeuta Ocupacional compreende a Atividade Humana como um processo criativo, criador, lúdico, expressivo, evolutivo, produtivo e de auto-manutenção e o Homem como um ser práxico, interferindo no cotidiano do usuário comprometido em suas funções práxicas objetivando alcançar uma melhor qualidade de vida. As atividades do profissional estendem-se por diversos campos das Ciências de Saúde e Sociais. Avalia seu cliente para a obtenção do projeto terapêutico indicado; que deverá, resolutivamente, favorecer o desenvolvimento e/ou aprimoramento das capacidades psico-ocupacionais remanescentes e a melhoria do seu estado psicológico, social, laborativo e de lazer (Disponível em: http://www.coffito.org.br/conteudo/con_view.asp?secao=46. Acesso em: 11/03/2011 – grifo nosso). Em diversas resoluções e notícias que dizem respeito à Terapia Ocupacional, o COFFITO também relaciona esta prática profissional à intervenção nas atividades humanas, incluindo-se as Atividades da Vida Diária e as Atividades Instrumentais da Vida Diária. Abaixo são apresentados dois exemplos, sendo o primeiro extraído de uma notícia publicada no site do Conselho e, o segundo, de uma consideração incluída na Resolução COFFITO 383/2010, que define as competências do terapeuta ocupacional no contexto social: Profissão de nível superior regulamentada pelo decreto-lei n° 938/69, a Terapia Ocupacional confere ao profissional graduado a capacidade de desenvolver diagnóstico de desempenho ocupacional em áreas de atividades da vida diária que “abrangem a mobilidade funcional, os cuidados pessoais, a comunicação funcional, a administração de hardware e dispositivos ambientais e a expressão sexual”, conforme a resolução Coffito nº. 316/2006 (Disponível em: http://www.coffito.org.br/publicacoes/pub_view.asp?cod=570&psecao=7. Acesso em: 12/03/11 – grifo nosso). CONSIDERANDO que o terapeuta ocupacional no campo social atua a partir da compreensão de hábitos, de costumes, de tradições, da diversidade, de modos de realização da vida cotidiana, de atividades da vida diária e da vida prática, de trabalho, de lazer, de saberes e conhecimentos, de história da vida ocupacional, comunicacional e expressiva de pessoas e coletivos; CONSIDERANDO que o terapeuta ocupacional no campo social atua como articulador do desempenho ocupacional por meio do manejo das atividades humanas que sejam significativas e dialógicas como tecnologia de mediação sócio-ocupacional, a fim de estimular a participação social da pessoa, família, grupos e comunidade em atividades culturais, expressivas, econômicas, corporais, lúdicas e de convivência, dentre outras (COFFITO, 2010 – grifo nosso).
Atividades da Vida Prática (AVPs) : atividades domiciliares, do cotidiano. [...] Adaptações e dispositivos : recursos terapêuticos que facilitam a realização das atividades, promovendo a independência pessoal e a melhora da funcionalidade e a qualidade de vida, cabendo ao Terapeuta Ocupacional planejar, prescrever, confeccionar, orientar e treinar (Disponível em: http://www.crefito.com.br/. Acesso em: 12/03/11 – grifo nosso). O CREFITO 8 (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 8 a Região), por sua vez, menciona a WFOT para afirmar que: A Terapia Ocupacional é uma profissão na área da saúde, com base no conhecimento de que determinadas atividades podem promover a saúde e o bem- estar em todos os aspectos da vida cotidiana. Os objetivos são: promover, desenvolver, restaurar e manter habilidades necessárias para realizar atividades diárias para evitar disfunção. Programas são desenvolvidos para facilitar o máximo uso da função para atender às demandas do trabalho, sociais, pessoais e do ambiente doméstico. [...] Estas [atividades] são concebidas para facilitar a performance nas tarefas cotidianas e adaptação dos locais em que a pessoa trabalha, vive e socializa-se. Inclui exemplos de ensino de novas técnicas, fornecer equipamentos que facilitem a independência no cuidado pessoal, redução de barreiras ambientais e fornecendo recursos para reduzir o estresse (Disponível em: <http://www.crefito8.org.br/site/index.php?option=com_content& view=article &id=147&Itemid=89>. Acesso em: 12/03/11 - grifo nosso) No documento intitulado “Carta de Joinvile – Sistema Único de Assistência Social – SUAS e as diretrizes norteadoras ao Terapeuta Ocupacional”, publicado no endereço eletrônico do CREFITO 10, consta que: O terapeuta ocupacional no âmbito da política de Assistência Social atua em todos os níveis de proteção; contribuindo na autonomia individual, familiar e social. Pode realizar acompanhamento da família por meio da intervenção terapêutica ocupacional propondo orientações e se necessário, encaminhamentos a rede, elabora parecer técnico, fomenta atividades na área senso-percepto-cognitiva, cultural, social e de lazer entre outras, resgatando as áreas de desempenho ocupacional: AVD’s - Atividades da Vida Diária (auto-cuidado, alimentar-se, vestir- se, locomover-se, etc.); AIVD’s – Atividades Instrumentais (preparação de alimentos, limpeza da habitação, compras, etc.); Brincar, Escola, Sono e Lazer e Diversão (Disponível em: http://www.crefito10.org.br/conteudo.jsp?idc=557. Acesso em: 08/05/11 – grifo nosso). Em 2009, a AOTA ( American Occupational Therapy Association ) definiu a Terapia Ocupacional como o uso terapêutico das atividades da vida diária (ocupações) com indivíduos ou grupos com o objetivo de favorecer a participação em papéis e situações em casa, na escola, no trabalho, na comunidade e em outros ambientes. A Terapia Ocupacional aborda os aspectos físicos, cognitivos, psicossociais e sensoriais do desempenho em uma variedade de contextos para apoiar o engajamento nas atividades da vida diária que afetam a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida. De maneira resumida, a prática da Terapia Ocupacional inclui:
encontram-se alteradas; compensação, modificação e adaptação da atividade ou do ambiente para melhorar o desempenho; manutenção ou melhoria das capacidades sem as quais o desempenho das atividades da vida diária estaria reduzido; promoção da saúde e do bem-estar para habilitar ou melhorar o desempenho em atividades da vida diária; prevenção de barreiras para o desempenho, incluindo a prevenção de deficiências.
demonstrado nos parágrafos acima, incluem as Atividades da Vida Diária nas definições da Terapia Ocupacional. Outro indício de que a identidade desta profissão vincula-se à recuperação da independência para a realização das Atividades da Vida Diária pode ser encontrado nos símbolos utilizados para a Comunicação Alternativa ou Suplementar. Abaixo, serão ilustrados os símbolos de Terapia Ocupacional e Fisioterapia dos seguintes sistemas pictográficos: as Figuras 1 e 2 apresentam os símbolos do PCS ( Picture Communication Symbols , disponível no software Boardmaker – Mayer-Johnson®); as Figuras 3 e 4 apresentam os símbolos do Widget (disponível no software Invento – Imagina ® ); as Figuras 5 e 6 apresentam símbolos do sistema pictográfico ARASAAC, (disponível no Portal Aragones de Comunicação Aumentativa e Alternativa http://www.catedu.es/arasaac/index.php, acesso em 08/05/11). Figura 1 – Símbolos representativos da Terapia Ocupacional no sistema PCS Figura 2 – Símbolos representativos da Fisioterapia no sistema PCS Figura 3 – Símbolos representativos da Terapia Ocupacional no sistema Widget Figura 4 – Símbolos representativos da Fisioterapia no sistema Widget
Figura 5 – Símbolos representativos da Terapia Ocupacional no sistema ARASAAC Figura 6 – Símbolos representativos da Fisioterapia no sistema ARASAAC 2 – Atividades da Vida Diária, Atividades Instrumentais da Vida Diária, Tecnologia Assistiva e sua relação com a história da Terapia Ocupacional. A Terapia Ocupacional começou a desenvolver-se na primeira década do século XX, nos Estados Unidos. Na segunda década deste mesmo século, esta prática profissional foi reconhecida no contexto da reabilitação física e mental, devido à necessidade de reinserir os traumatizados de guerra na sociedade. A partir deste período, a Terapia Ocupacional aprimorou-se e passou a atuar com diferentes populações, tendo sempre as atividades humanas como objeto de estudo, instrumento de intervenção e objetivo do tratamento. Neste documento, contudo, não serão apresentados todos os aspectos históricos e os referenciais teóricos da Terapia Ocupacional, mas somente alguns daqueles que podem auxiliar na compreensão de como as Atividades da Vida Diária, as Atividades Instrumentais da Vida Diária e a Tecnologia Assistiva têm sido empregadas desde os primórdios da profissão. Os fundadores da Terapia Ocupacional acreditavam no valor da ocupação como método de tratamento, tendo sido influenciados, principalmente, por três correntes filosóficas/ideológicas: o Tratamento Moral, o Movimento de Artes e Ofícios e a Administração Científica (PEDRETTI; EARLY, 2005). Desenvolvido a partir do final do século XVIII, o Tratamento Moral foi um dos primeiros métodos de tratamento propostos para pessoas com doenças mentais; dentre seus proponentes, podemos citar os seguintes: Phillipe Pinel, na França, entendia a ocupação como o uso intencional do tempo, energia, interesses e atenção, sendo que o tratamento do doente mental era
entre objetos de uso cotidiano/funcional e de contemplação não tinha mais sentido. Cozinhar, coser ou plantar eram consideradas como experiências estéticas significativas (RUSKIN, 1992, 2004). Tentando regatar a dignidade do operário, na Europa do século XX, várias comunidades idílicas e de esquerda foram fundadas por influência do Movimento de Artes e Ofícios. Nestas, as mulheres tiveram papel fundamental porque ainda guardavam os antigos segredos da vida, presentes no fazer doméstico e artesanal. Estas comunidades pregavam o trabalho artesanal, solidário e coletivo (KELVIN, 1999). Muitos operários que lá viveram após sofrerem lesões na indústria foram capazes de, através da criação de utensílios artesanais e de um ritmo próprio de trabalho, superar suas deficiências. E como eles preferiam a produção artesanal ao invés dos objetos industrializados, muitas experiências iniciais em tecnologias assitivas nasceram destas colônias. Ao confeccionarem artesanalmente seus objetos do cotidiano — pratos, garfos, copos, cadeiras, etc. — permitiram que estes fossem criados de forma a facilitar as atividades dos operários com deficiências que lá viviam. O uso da arte e do artesanato como meio terapêutico, bem como o uso de adaptações confeccionadas para facilitar a realização das atividades, surgiu na Terapia Ocupacional por influência deste movimento, levando a uma abordagem que defendia que o “trabalho manual melhorava a saúde física e mental, por meio de exercício e satisfação obtida na criação de um artigo útil ou decorativo com as próprias mãos”. Acreditava-se que o trabalho manual poderia ser graduado e teria a capacidade de fornecer estimulação mental e muscular ao mesmo tempo (PEDRETTI; EARLY, 2005, p. 15). Deste modo, os fundadores da Terapia Ocupacional articulavam as idéias do tratamento moral e do Movimento de Artes e Ofícios, desenvolvendo métodos de tratamento voltados para pessoas com deficiências físicas e mentais. Segundo Pedretti e Early (2005), a Terapia Ocupacional, em seus anos iniciais, propunha um tratamento que consistia em três etapas: inicialmente eram realizados trabalhos manuais no leito; quando os pacientes tinham condições de sair do leito, eram realizadas atividades para fortalecimento do corpo e da mente e “ocupações destinadas a restabelecer os hábitos básicos de cuidados pessoais e comunicação”; a terceira etapa consistia na preparação para o retorno à vida social e laborativa (p. 15). A National Society for the Promotion of Occupational Therapy (NSPOT) foi fundada em 1917 e foi posteriormente denominada American Occupational Therapy Association (AOTA). De acordo com Miralles e Valverde (2007), o fato de a profissão ter sido criada por pessoas com diferentes formações conferiu o caráter plural da formação do terapeuta
ocupacional desde sua origem, bem como propiciou a formação de uma visão global sobre as ocupações humanas. Dentre seus fundadores, destacam-se as figuras de Eleanor Clark Slagle, George Barton e William Dunton. Slagle trabalhou com Adolph Meyer na Clínica Phipps e desenvolveu, com base na Teoria da Psicobiologia e no Movimento de Artes e Ofícios, o Programa de Treinamento de Hábitos em hospitais para doentes mentais, visando restabelecer hábitos saudáveis de cuidados pessoais e comportamento social. Seu método de treinamento de hábitos era voltado para pacientes crônicos e consistia em pequenos grupos de pacientes que recebiam supervisão durante o dia, seguindo uma escala de atividades que incluía autocuidado e higiene pessoal, classes de ocupações, caminhadas, refeições, atividades recreacionais e exercícios físicos. Os pacientes eram encorajados a assumir responsabilidade pela execução de sua rotina (MIRALLES; VALVERDE, 2007; NELSON, 1997; PEDRETTI; EARLY, 2005). Nelson (1997) chama a atenção para o fato de que, neste método, existiam horários específicos de instrução para o autocuidado. Miralles e Valverde (2007) transcrevem trechos de um relato de caso, no qual é possível observar o enfoque dado às atividades cotidianas por Slagle: 3 de maio de 1926 – Admitido no treinamento de hábitos. Não se veste nem se despe sozinho. Roupa desarrumada e desabotoada. Mudo. Não se lava sozinho. Molha e suja a cama. Come excessivamente. Masturbação freqüente. 01 de junho a 20 de junho de 1926 – Lava-se e veste-se sozinho. Molha e suja a cama com menos freqüência. Poliu o piso quando supervisionado continuamente. Realiza ocupações simples. 10 de julho a 22 de setembro de 1926 – Fala ocasionalmente. Disse ao superintendente que melhorou ligeiramente. Tecendo tapete. Ajuda o atendente com a limpeza e limpa os pratos da mesa nas refeições. Apetite mais normal (WILSON, 1929^1 in MORALLES; VALVERDE, 2007, p. 140). Barton, arquiteto e membro da Sociedade de Artes e Ofícios, foi hospitalizado no Clifton Springs Sanatorium (Nova Iorque) em 1913, apresentando tuberculose, amputação de três dedos e hemiparesia à esquerda. Durante o período de hospitalização, teve contato com pessoas que defendiam o Tratamento Moral e o uso das atividades como recurso terapêutico. Sua recuperação foi marcada por uma escala de atividades que ele se impôs, a qual incluía a realização de atividades cotidianas, visando a recuperação de sua independência. Ele percebeu que o hospital era um local de passagem, apostando nas tarefas cotidianas e ocupações como trânsito na recuperação pessoal. Barton comprou uma casa nas proximidades do hospital, visando favorecer sua própria (^1) WILSON, S.C. Habit training for mental cases. Occupational Therapy and Rehabilitation , n. 8, p. 189-197,
Figura 7 – Homem com amputação no membro superior, utilizando próteses durante alimentação (DUNTON, 1919). Figura 8 – Homem com amputação no membro superior, utilizando prótese durante alimentação (DUNTON, 1919). Figura 9 – Homem com amputação bilateral nos membros superiores fazendo a barba (DUNTON, 1919). Figura 10 – Homem utilizando adaptação para o vestuário (DUNTON, 1919).
Figura 11 – Homem com amputação em membro superior utilizando uma adaptação durante sua atividade laboral (DUNTON, 1919). Figura 12 – Adaptação em assento de trator, para pessoa com amputação na coxa (DUNTON, 1919). Figura 13 – Homem com amputação em membro superior, utilizando adaptação para a escrita (DUNTON, 1919). Figura 14 – Homem com amputação em membro superior, utilizando adaptação para a gravata (DUNTON, 1919).
as Atividades da Vida Diária: o objetivo do programa de Atividades da Vida Diária era tornar os pacientes com deficiência física o mais independente possível nas suas atividades diárias pessoais: alimentação, vestuário, higiene pessoal, comunicação (escrever e telefonar), lidar com dinheiro e outras funções necessárias. De acordo com MacDaniel (19--), o termo ADL ( Activities of Daily Living ) se tornou popular nos anos 50, mas, apesar da modificação no termo, o tratamento de tais atividades não era algo novo na Terapia Ocupacional, visto que programas similares já eram realizados antes desta década, tanto no exército, quanto nos programas civis com pacientes com lesões encefálicas e poliomielite. MacDaniel (19--) informa que, nas clínicas de Terapia Ocupacional do exército, o treinamento de tais atividades era feito por simulação, visto que não havia os utensílios reais de uma casa, como já havia naquela época em clínicas civis (nas quais existiam camas, cozinhas e banheiros para o treinamento das atividades cotidianas). A autora também explica que, em conjunção com os programas de Atividades da Vida Diária, era necessário desenhar e fabricar adaptações para que pacientes, por exemplo, com lesões na medula espinhal ou lesões encefálicas pudessem fazer suas atividades com maior independência. Tais equipamentos (hoje incluídos sob o termo Tecnologia Assistiva) podiam ser indicados para uso temporário ou permanente. No site do exército americano há registros fotográficos de terapeutas ocupacionais realizando intervenções nas Atividades da Vida Diária e o treino do uso de adaptações por pacientes, no período da Segunda Guerra Mundial. Exemplos são apresentados nas Figuras 16 e 17. Figura 16 – Órtese e adaptação utilizadas nas Atividades da Vida Diária: órtese abdutor do polegar e adaptação para escova de dentes, que também pode ser utilizada para o garfo e a colher (MACDANIEL, 19--).
Figura 17 – Treinamento de atividades da vida diária: criança com amputação bilateral aprendendo a utilizar o telefone e criança aprendendo a abotoar e desabotoar (MACDANIEL, 19--). Segundo Kielhofner e Burke (1977 apud CARLO; BARTALOTTI, 2001), a Terapia Ocupacional viveu, durante as décadas de 30 e 40, uma pressão por um maior desenvolvimento científico na área da saúde. Neste contexto, houve uma busca pelo aprimoramento dos métodos utilizados, desenvolvimento de recursos tecnológicos, bem como o aprofundamento de conhecimentos em diferentes especialidades, divididas conforme as especialidades médicas. Um dos métodos fortemente utilizados para o embasamento científico do uso de atividades como método de tratamento foi a Análise de Atividades. Entre as décadas de 40 e 60, a Terapia Ocupacional foi bastante influenciada pelo Movimento Internacional de Reabilitação, que resultou de ações da ONU (Organização das Nações Unidas), OIT (Organização Internacional do Trabalho) e OMS (Organização Mundial da Saúde). Este movimento foi criado devido à necessidade da população em receber atendimentos de Reabilitação Física, especialmente em decorrência da guerra (CARLO; BARTALOTTI, 2001; CAVALCANTI; GALVÃO, 2007). Foi por meio deste movimento internacional que os primeiros programas de reabilitação física surgiram no Brasil, a partir da década de 40, mas a utilização do trabalho como forma de tratamento já existia neste país desde meados do século XIX, em instituições de longa permanência. Conforme descrito por Carlo e Bartalotti (2001) a Terapia Ocupacional surgiu, no Brasil, por dois processos: pela ocupação de doentes institucionalizados em hospitais