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Este documento aborda a alquimia, uma prática antiga que admite a transmutação da matéria e a relação entre a humanidade e a natureza. O autor destaca a importância da tomada de consciência e a evolução da matéria, além da interpretação simbólica da alquimia como projeções do inconsciente do alquimista. A obra também discute a influência da alquimia na história e na psicologia.
Tipologia: Resumos
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Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analitica, 2º sem. 2017 ■ 69
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O autor realiza um passeio pelas origens da alquimia e por sua existência em diferentes culturas e em diferentes épocas. Reconhece a alquimia como originando-se de técnicas má- gico-míticas, que surgiram com o despertar da consciência. As diferentes alquimias incorpo- ram diferentes sabedorias, que buscam com- preender as relações cósmicas do homem com a matéria. A alquimia precedeu no nível objeti- vo a química e no subjetivo a psicologia. Toda matéria tem sua alma, que é perene. Os corpos, porém, são formas transmutáveis. Acentua que a física moderna, também como a alquimia, admite a transmutação da matéria. A leitura que Jung fez da simbólica alquímica, como projeção de vivências inconscientes pessoais e arque- típicas, trouxe uma compreensão psicológica para o complexo simbolismo alquímico. O autor
acentua que o psicólogo moderno deve saber que, em termos científicos, só pode descrever o processo psicológico, uma vez que a natureza real da psique transcende a consciência como um mistério da vida ou da própria matéria. ■
Alquimia, aspectos históricos, alma da matéria, projeções na matéria.
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É impossível dizer-se onde, quando e como surgiu a alquimia. Suas origens são várias, imprecisas, difusas e discutíveis. São várias também as versões sobre a eti- mologia da palavra alquimia. Parece referir-se ao Egito ( Khem ou khan , nome antigo do Egito) e o artigo definido árabe “ al ” dando-al-chimia , (a terra negra). Parece também prover da raiz grega chemeia , do egípcio chem, negro, que pode referir-se à terra negra (Egito), ao negro da oxidação dos metais ou ao negro, cor sagra- da dos sacerdotes egípcios que como tintura a preparavam secretamente, daí o termo “Arte Negra” como arte do aperfeiçoamento em bus- ca do divino. Como mostra Eliade (1979), a alquimia teria muito a ver com técnicas arcaicas, mágico-míti- cas da humanidade, que devem ter surgido com o despertar da consciência. Ter instrumentos (como pedra e madeiras) e ser capaz de usá-los como utensílios tem a ver com a tomada de consciên- cia, adaptação do homem ao seu meio natural. As técnicas, pelo contrário, surgem quando o homem promove a adaptação do meio natu- ral às necessidades humanas, para atender às suas consciências. A emergência da consciência traz algo destaca- do da natureza, mas traz também a percepção dos limites da própria consciência, ou seja, o medo do que permanece desconhecido e fora dela, ou seja, o medo da noite com seus sonhos e da morte. No escuro da noite, o homem não sabe o que se ater. Daí consciência ter que ver com luz e es- clarecimento de um lado e não ter consciência tem a ver com escuridão e desconhecido de ou- tro. Esta vivência interna que se manifesta como consciência também aparece como emoções, como, por exemplo, amor e medo. Este interno assustador se assemelha ao sobrenatural com deuses, fantasmas e demônios e parece sobre- viver à morte, pois o ser humano pode pensar e desejar além do que está claro e distinto na cons-
ciência. Temos então dois polos: a consciência instrumental, clara e discriminada, surgindo jun- to com a crença no sobre natural da qual a alma humana faz parte. A ideia de que a conjugação de opostos, o polo claro, natureza (consciência), com o polo escuro, sobrenatural (inconsciente), é propiciadora de crescimento, vai permear toda a obra alquímica ( opus ). Se a alquimia tem origem nas técnicas ar- caicas mágico-míticas, ela só pode instituir-se como um saber, a partir de uma sabedoria que procura compreender as relações cósmicas do homem com a matéria. A sabedoria pode ser formulada por um ho- mem, o(a) sábio(a) (tipo Confúcio) que procura compreender estas relações de um modo que pode ou não ser aceito. Com o advento das reli- giões reveladas, a sabedoria é considerada como vinda de Deus, sábio e único, que fala pela boca de seu profeta. Em várias civilizações antigas, encon- tramos alquimias que trouxeram valores que foram incorporados pela alquimia europeia. O raciocínio alquímico é principalmente dedutivo e baseado em duas premissas estabelecidas a priori : a unida- de da matéria e a existência de um potente agente transformador, chamado “pedra filosofal”. Este seria capaz de curar as imperfeições dos metais enobrecendo-os para se transformarem em ouro, símbolo do perfeito e incorruptível. Do postulado da unidade da matéria segue-se que um agente seria capaz de curar enfermidades no humano e prolongar sua vida. A pedra filosofal seria esta me- dicina perfeita, com o nome de elixir da vida. Havia em várias antigas civilizações técnicas complexas e refinadas, por exemplo, técnicas com tinturas, vidros coloridos e metalurgia no Egito que foram assimiladas pela alquimia, pela qual se acreditava que coisas materiais estavam carregadas com coisas divinas. Na Caldeia, havia a astrologia que associava planetas aos metais e ao destino dos homens. A alquimia chinesa desenvolveu técnicas de
Aspectos históricos da alquimia
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para a imortalidade, justificados pela teoria gre- ga dos quatro elementos, da mântica caldaica, da Astrologia e do rito do fogo do zoroastrismo. Na idade média, com influências de outras alquimias, a europeia tornou-se um grande sis- tema filosófico que busca penetrar e harmonizar os mistérios da criação e da vida. Propõem-se a relacionar o microcosmo do homem com o ma- crocosmo do universo. A alquimia é muito mais que uma forma ru- dimentar de ciência experimental. A busca da transmutação de matéria inanimada, os metais, é apenas um objetivo incidental. Com isto ela busca provar sua mais essencial e ampla pro- posta da unidade de todas as coisas. Encon- tramos na alquimia uma vasta rede de ideias e afirmações na qual se misturam rudimentos de química, relacionados com religião, folclore, mitologia, astrologia, magia, misticismo, filoso- fia, teologia e outros campos de imaginação e experiência humana, ou seja, tudo o que é mani- festação do inconsciente pessoal e coletivo. Uma das compreensões da simbólica al- química é a de que se tratava de projeções do alquimista sobre a matéria e suas alterações, do inconsciente pessoal e de imagem arquetípi- cas expressas pelo seu Self , principalmente de seu processo de individuação. A associação da alquimia com religião e psi- cologia tem mostrado que ela é tão ou mais im- portante para a psicologia do que para a quími- ca. Esta interpretação, proposta por Jung, trouxe enorme compreensão para os complexos, confu- sos e as vezes incompreensíveis manifestações da alquimia. A compreensão da alquimia como projeções de vivências inconscientes, pessoais e arquetí- picas trouxe um sentido psicológico importan- tíssimo para a compreensão do riquíssimo, exu- berante e confuso simbolismo alquímico. Estas expressões simbólicas aconteceram em diferen- tes culturas, em diferentes lugares e diferentes épocas, devendo, portanto, estar presentes, para os diferentes alquimistas, além de aspectos pes- soais e culturais próprios de vivências de cada
alquimistas, também símbolos arquetípicos do inconsciente coletivo. Nelas, assim, aparecerá o coletivo arquetípico, próprio do ser humano, de maneira exuberante, pois os alquimistas não tinham consciência que eram expressões do seu inconsciente. Achavam que eram realmente ex- pressões de alterações na matéria que para eles era una, e, por conseguinte, não havia nenhuma crítica ou defesa contra suas expressões. Esta simbólica expressava tudo aquilo que é próprio e eternamente presente na psique in- consciente coletiva, ou seja, a vivência dos ar- quétipos, na busca da estruturação da consci- ência. Por esta razão, Jung identificou em muitas expressões simbólicas dos alquimistas, expres- sões simbólicas idênticas às que apareciam nos sonhos e imaginações de seus clientes. Como dizia Jung (1991), a psique objetiva é autônoma em alto grau, sendo o inconsciente uma realidade psíquica que só aparentemente pode ser disciplinada. É um lado da natureza que não pode se melhorado nem deteriorado, podemos auscultar seus segredos, mas não manipulá-los. Fica claro que ambos estavam ex- pressando símbolos arquetípicos, presentes na personalidade do ser humano, que sempre exis- tiram e existirão sempre pois são arquetípicos e próprios de nossa espécie. Aparecerão, no en- tanto, com algumas características próprias do tempo e da cultura de quem os está vivenciando, porém idênticos na sua essência. A ideia básica da alquimia é que tudo provém do Uno. O processo alquímico é uma reconstru- ção microcósmica do processo de criação ou em outras palavras uma recriação. Para desmanchar o “corpo” em sua forma atual, a procura da for- ma original do Uno , várias operações eram feitas. Ao nível do individual, o corpo das coisas poderia ter a operação de dissolução, chamada solutio e seguida da coagulação, a coagulatio. Era a sol- vite corpora et coagulate spiritum. Havia muitas outras operações: calcinatio , putrefatio , coniunc- tio etc. Como afirmava Jung, o desenvolvimento e crescimento da personalidade, não pode ser completo só à custa das vivências externas. É fun-
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damental que venha da própria personalidade, do Self , motivações que os inspirem e promovam seu desenvolvimento e aprimoramento. As íntimas conexões entre o simbolismo alquí- mico e as metáforas das religiões são muito gran- des. Por exemplo, o grande símbolo da união dos opostos, expresso por inúmeras metáforas em to- das as religiões, por exemplo, Cristo unido à igre- ja, está presente em inúmeros símbolos alquími- cos, como o casamento do rei e da rainha. Outro exemplo, unicórnio, monstro hermafrodita simbo- lizando uma coniunctio opositorum está presente em várias alquimias. A serpente gnóstica é com- parável ao mercúrio alquímico ou à água divina, símbolo que leva todas as coisas à maturação e desenvolvimento, buscando aperfeiçoamento. É o espírito da vida, a anima mundi. Serpente e o chifre do unicórnio são alexipharmakons , ou seja, são antídotos contravenenos. A experiência alquímica europeia era mais uma “vivencia mágica” do que uma experiência científica concreta e repetível. Ela fundamenta- va-se na concepção animista da natureza. Nela tudo é movido por uma alma, da qual a alma hu- mana participa. Isto possibilitou o estreito para- lelismo entre o que acontece com a matéria du- rante sua transmutação e o que acorria na alma do alquimista. Como já dissemos, Jung trouxe uma nova interpretação para os textos e sím- bolos alquímicos como sendo projeções do in- consciente do alquimista sobre a matéria e suas transformações e seus símbolos coletivos de seu processo de individuação. Ele mostra fenomeno- logicamente que a opus é uma projeção sobre a matéria do acontecer psicológico no processo de individuação. Este, para Jung (1997), pode ocor- rer na segunda metade da vida, principalmente em pessoas preocupadas com sua melhoria in- terna e desenvolvimento de sua personalidade ou em termos religiosos como a salvação de sua alma. Atualmente, a psicologia analítica fala em processo de individuação ocorrendo em toda a vida e vindo do Self , para o crescimento e aper- feiçoamento da consciência.
A imagem central da alquimia é o opus com a qual o alquimista tinha um compromisso sagrado, era a busca do valor supremo, o ouro alquímico. O segredo alquímico não podia ser divulgado e sua violação seria um crime pois poderia cair em mãos inadequadas que poderiam fazer mal uso dele. As energias transpessoais devem ser secretas e sagradas e não apossadas pelo ego que não pode se identificar com imagens arque- típicas o que seria uma inflação, um não conhe- cer a si mesmo e seus limites. A ideia da prima matéria veio dos filósofos pré-socráticos como um a priori de que o mundo derivava de uma substância original e única da qual derivava o mundo. Seria da parte desses fi- lósofos ou uma imaginação, ou um pensamento irracional, ou uma impressão visual e, portanto, uma manifestação de um fato psíquico arquetí- pico, projetados na matéria, já que o mundo é obviamente múltiplo. A prima matéria sofrendo um processo de diferenciação se parava-se em quatro elemen- tos: terra, ar, fogo e água que combinado-se em proporções variadas formariam todos os objetos físicos, os corpos. A alquimia descreve um processo de trans- formação química e das instruções para sua realização. Embora muito variáveis elas coinci- dem em algumas partes principais desde o co- meço da Era Cristã. Seriam quatro os estágios da opus caracterizados pelas cores originais: preto ( nigredo ), branco ( albedo ), amarelo ( xan- tosis ) e vermelho ( rubedo ). No século XV, as co- res foram reduzidas a três, caindo em desuso a xantosis. Dizia-se que apesar de serem quatro elementos, as cores eram três. A mudança na classificação dos estágios foi devida ao signi- ficado simbólico do quaternio e da trindade, ou seja, foi devida a razões internas psicológi- cas, e não externas. A sequência das fases da opus , nos diferen- tes autores depende em primeiro lugar de sua concepção da meta, que são tão variáveis como os processos individuais. Às vezes, trata-se como meta, da obtenção da tintura branca e vermelha,
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Abstract
Hysyoric aspects of alchemy
The author describes the origins of Alchemy and shows that it was present in several cultures and in different times in History. It is acknowled- ged that Alchemy originated from magical-mythi- cal techniques, which arose from the emerging consciousness. Alchemy seeks to understand various aspects of the cosmic relationship of man to matter, and each different school of al- chemical thought has its own wisdom and brings light to valuable elements of this relationship. Objectively, Alchemy preceded chemistry, and subjectively, it preceded psychology. Matter also has a soul, which is perennial. But, in its physical
aspect, matter is transmutable. In this paper, it is emphasized that modern physics, like alchemy, admits the transmutation of matter. Jung’s com- prehension of the symbology of alchemy, as a projection of personal and archetypal uncons- cious experiences, brought a psychological un- derstanding to the complex alchemical symbo- lism. The author emphasizes that, in the field of science, the modern psychologist can only des- cribe the psychological process, since the real nature of the psyche transcends consciousness because it is one of life’s mysteries as well as one of the mysteries of matter itself. ■
Keywords: Alchemy, historic aspects, matter’s soul, projections on matter.
Resumen
Aspectos históricos de la alquimia
El autor realiza un paseo por los orígenes de la Alquimia y su existencia, en diferentes cultu- ras y en diferentes épocas. Reconoce la Alquimia como originaria de técnicas mágico-míticas que surgieron con el despertar de la conciencia. Las diferentes Alquimias incorporan diferentes sa- bidurías que buscan comprender las relaciones cósmicas del hombre con la materia. Respecto a lo objetivo, la Alquimia precedió a la Química, y a lo subjetivo, a la Psicología. Toda materia tiene un alma que es perenne. Los cuerpos, sin embargo,
son formas transmutables. La física moderna, tal como la Alquimia, admite la transmutación de la materia. La lectura que Jung hizo de la simbólica alquímica, como proyección de vivencias incons- cientes personales y arquetípicas, posibilitó una comprensión psicológica del complejo simbolis- mo alquímico. El autor señala que una vez que la naturaleza real de la psique trasciende la concien- cia, el psicólogo moderno debe saber que solo se puede describir el proceso psicológico como un misterio de la vida o de la propia materia. ■
Palabras claves: Alquimia, aspectos históricos, alma y materia, proyecciones en la materia.
Referências
ELIADE, M. F. Alquimistas. Rio de Janeiro, RJ: Zahar, 1979.
JUNG, C. G. Psicologia e alquimia. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991.
JUNG, C. G. O Eu e o inconsciente. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. (Obras completas de C.G. Jung, v. 2/2).
VON FRANZ, M. L. Alquimia. São Paulo, SP: Cultrix, 1980.