Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Neurológicas Manifestações da Lepra: Sintomas e Diagnóstico, Manuais, Projetos, Pesquisas de Anestesia

Este documento discute as manifestações neurológicas da lepra, incluindo sintomas como hipertrofia de nervos, distúrbios motores e sensitivos, anidrose e reflexos. O texto também aborda as dificuldades diagnósticas relacionadas às alterações do sistema nervoso periférico e o papel da anamnese na interpretação de sintomas. Além disso, são apresentados os tipos de distribuição topográfica das alterações da sensibilidade superficial e as manifestações expressivas da neuroleprose.

O que você vai aprender

  • Quais manifestações neurológicas são expressivas da neuroleprose?
  • Quais sintomas neurológicos são comuns na lepra?
  • Como as alterações sensitivas na lepra se expressam topograficamente?
  • Quais tipos de distribuição topográfica de alterações da sensibilidade superficial podem ser observados na lepra?
  • Como as dificuldades diagnósticas relacionadas às alterações do sistema nervoso periférico podem ser abordadas?

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Oscar_S
Oscar_S 🇧🇷

4.5

(69)

217 documentos

1 / 12

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
AS MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS DA LEPRA
O. FREITAS JULIÃO *
Os casos de lepra nos quais exclusivamente acometimento
neurológico
suscitam,
não raro, problemas embaraçosos de
diagnóstico
diferencial,
não porque não se
acompanham das
lesões
cutâneas
típicas
mas ainda porque o exame
bacterioscópico
6 habitualmente negativo; mesmo o exame
histopatológico
poderá ser
inconclusivo,
por
evidenciar,
muitas
vezes,
alterações
incaracterísticas.
Neurites
isoladas
do nervo
ulnar ou do
peroneal,
áreas de
anestesia
conseqüentes a
lesões
neurorramusculares,
perturbações
úlcero-mutilantes
das extremidades exemplificam algumas das condições
clínicas
capazes de
originar
problemas dessa
espécie.
O autor procura, nesta
exposição,
realçar o valor
diagnóstico
dos conhecimentos de
ordem puramente
neurológica
para a
elucidação
de
tais
casos,
pois apenas
eles
permi-
tirão,
na maioria das
vezes,
dirimir
as dúvidas
existentes.
O quadro neurológico
da
lepra constitui-se
de
manifestações clínicas
bem definidas, resultantes
do
acometimento
do
sistema nervoso perifé-
rico,
especialmente
em seu
contingente ramúsculo-terminal dermepi-
dérmico.
O
Mycobacterium leprae, penetrando
no
organismo provavel-
mente através da
pele,
desenvolve-se no conjuntivo do derma
e,
dependendo
das reações
dos
tecidos
ao
bacilo, determina processo inflamatório mais
ou menos intenso
e
extenso,
que
freqüentemente invade, desde logo,
a
rede neural cutânea, envolvendo
os
ramúsculos
e
terminações nervosas
sensitivas
e
vegetativas. Estabelecem-se, então,
na
área afetada, graves
perturbações
das
sensibilidades exteroceptivas (hipoestesia
ou
anestesia
térmica,
dolorosa
e
tátil),
distúrbios
da
pigmentaçâo
e
vascularização
cutânea (máculas hipocrômicas, eritêmato-hipocrômicas; arreflexia vaso-
motora),
desordens secretórias
conseqüentes
à
lesão
das
glândulas
sudoríparas (anidrose)
e
sebáceas
e
alterações
do
sistema piloso (hipo-
tricose,
alopecia).
Progressivamente, as lesões se estendem,
em
superfície,
aos territórios vizinhos, interessando ainda,
com
freqüência, por processo
de neurite ascendente, ramos
e
troncos
dos
nervos periféricos (Dehio-
Gerlach);
dessa forma, ampliam-se
as
desordens sensitivas
e se
instalam
atrofias musculares
e
distúrbios motores.
As
lesões inflamatórias
dos
troncos nervosos poderiam ainda produzir-se através
de
focos metastá-
ticos hematogênicos.
Aula proferida no Curso de Neurologia da Escola Paulista de Medicina, em 23 de outubro de 1962.
* Professor-Assistente de Clínica Neurológica na Faculdade de Medicina da Universidade deo
Paulo (Serviço do Prof. A.
Tolosa).
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Neurológicas Manifestações da Lepra: Sintomas e Diagnóstico e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Anestesia, somente na Docsity!

AS MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS DA LEPRA

O. FREITAS JULIÃO *

Os casos de lepra nos quais há exclusivamente acometimento neurológico suscitam, não raro, problemas embaraçosos de diagnóstico diferencial, não só porque não se acompanham das lesões cutâneas típicas mas ainda porque o exame bacterioscópico 6 habitualmente negativo; mesmo o exame histopatológico poderá ser inconclusivo, por evidenciar, muitas vezes, alterações incaracterísticas. Neurites isoladas do ne ulnar ou do peroneal, áreas de anestesia conseqüentes a lesões neurorramusculares, perturbações úlcero-mutilantes das extremidades exemplificam algumas das condições clínicas capazes de originar problemas dessa espécie. O autor procura, nesta exposição, realçar o valor diagnóstico dos conhecimentos de ordem puramente neurológica para a elucidação de tais casos, pois apenas eles permi- tirão, na maioria das vezes, dirimir as dúvidas existentes.

O quadro neurológico da lepra constitui-se de manifestações clínicas

b e m definidas, resultantes do acometimento do sistema nervoso perifé-

rico, especialmente e m seu contingente ramúsculo-terminal dermepi-

dérmico. O Mycobacterium leprae, penetrando no organismo provavel-

mente através da pele, desenvolve-se no conjuntivo do derma e, dependendo

das reações dos tecidos ao bacilo, determina processo inflamatório mais

ou menos intenso e extenso, que freqüentemente invade, desde logo, a

rede neural cutânea, envolvendo os ramúsculos e terminações nervosas

sensitivas e vegetativas. Estabelecem-se, então, na área afetada, graves

perturbações das sensibilidades exteroceptivas (hipoestesia ou anestesia

térmica, dolorosa e tátil), distúrbios da pigmentaçâo e vascularização

cutânea (máculas hipocrômicas, eritêmato-hipocrômicas; arreflexia vaso-

motora), desordens secretórias — conseqüentes à lesão das glândulas

sudoríparas (anidrose) e sebáceas — e alterações do sistema piloso (hipo-

tricose, alopecia). Progressivamente, as lesões se estendem, e m superfície,

aos territórios vizinhos, interessando ainda, com freqüência, por processo

de neurite ascendente, ramos e troncos dos nervos periféricos (Dehio-

Gerlach); dessa forma, ampliam-se as desordens sensitivas e se instalam

atrofias musculares e distúrbios motores. A s lesões inflamatórias dos

troncos nervosos poderiam ainda produzir-se através de focos metastá-

ticos hematogênicos.

Aula proferida no Curso de Neurologia da Escola Paulista de Medicina, em 23 de outubro de 1962.

  • Professor-Assistente de Clínica Neurológica na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (Serviço do Prof. A. Tolosa).

64 REVISTA^ DE^ MEDICINA

A S P E C T O S CLÍNICOS E CLASSIFICAÇÃO

Do ponto de vista clínico, distinguem-se casos de lepra nos quais se evidenciam: 1) manifestações cutâneas puras (máculas, infiltração di- fusa, lepromas e outras); 2) manifestações neurológicas puras (insula anestésica, neurites isoladas do ulnar, peroneal c o m u m ou de outros nervos, ulceração plantar e outras); 3) manifestações cutâneas e neurológicas associadas. Tais manifestações subordinam-se a alterações histopatológicas da pele e nervos, classificadas, segundo sistematização admitida nos últimos Congressos de Leprologia, e m dois tipos fundamentais — "Lepromato- so" (L) e "Tuberculóide" (T) — e e m dois grupos, "Indiferenciado" (I) e "Dimorfo" ou "Borderline" (D-B). A s alterações neurológicas (sensitivas, amiotrófico-paralíticas, úlce- ro-mutilantes e outras) objetivam o acometimento neurorramuscular cutâneo e/ou neurotroncular, os quais podem revestir aspectos clínicos diversos, tais como os de mononeurites isoladas, mononeurites dissemi- nadas ou multineurites (neurites múltiplas e sucessivas) e polineurites, de expressão sensitivo-motora ou puramente sensitiva. Dos nervos que possuem contingente motor, são eletivamente atin- gidos o ulnar, mediano e radial, nos membros superiores; o peroneal d o m u m e tibial, nos membros inferiores; o facial, dentre os nervos crar nianos. N o que concerne ao comprometimento sensitivo, os variados tipos de disposição topográfica dos distúrbios atestam o extremo poli- morfismo — quanto à sede e extensão — das lesões da rede neural derme- pidérmica. Assim, desde a ocorrência de u m a pequena área anestésica, circunscrita ao território de determinado nervo cutâneo (mononeurite sensitiva), até à de u m a anestesia difusa a todo o tegumento (pan-neurite ramuscular sensitiva), todas as modalidades de invasão do contingente sensitivo periférico podem ser reconhecidas. A eletividade do processo patológico para os nervos periféricos foi salientada desde as investigações fundamentais de Danielssen e Boeck, Virchow, Dejerine e Léloir, Dehio, Gerlach, Lie, Woit, e ulteriormente reafirmada por Monrad Krohn, Muir e Chatterji, Lowell, Fite, Khanolkar, Dastur e muitos outros. A possibilidade da extensão das lesões às raízes dorsais e o comprometimento dos gânglios espinais foi, por outro lado, assinalada por alguns autores (Kalindero, Lie, Looft, Babes, Austrege- silo). O quadro de u m a polirradiculoneurite crônica, de evolução extre- mamente lenta e progressiva, pode, efetivamente, desenvolver-se e m de- terminados casos; o comprometimento radicular passa, entretanto, muitas vezes clinicamente despercebido, mascarado pela intensidade e extensão das lesões ramúsculo-tronculares. Quanto às lesões medulares (degene- ração dos funículos dorsais, e m particular) registradas por diversos pes- quisadores (Jeanselme e Marie, Woit, Mitsuda e Ogawa), não se reves- tem, ordinariamente, de expressão clínica.

GG REVISTA^ DE^ MEDICINA

Os nervos afetados podem ser extremamente dolorosos à pressão e

apresentam muitas vezes a sua consistência aumentada, mostrando-se

duros e tensos à palpação. E m número relativamente escasso de casos,

esse aumento de consistência corresponde a deposições calcáreas no interior

do nervo. Deve ser mencionada especialmente a possibilidade de ocorrer

u m processo de Gaseificação: a neurite caseosa é, segundo Souza Campos,

u m a "reação eminentemente tuberculóide", apresentando-se como acidente

secundário e tardio deste tipo de neurite. A calcificação do nervo corres-

ponderia à fase final da Gaseificação, significando a cura do processo.

2. Distúrbios motores e amiotrofias — Quanto à motilidade, os dis-

túrbios se localizam, na imensa maioria dos casos, nos segmentos distais

dos membros e e m músculos subordinados ao nervo facial. Dependem,

nas extremidades, do comprometimento dos nervos ulnar, mediano e pero-

neal c o m u m e, menos freqüentemente, dos nervos radial e tibial. Inicial-

mente circunscrita a determinado músculo, ou grupo muscular, a defi-

ciência motora invade, ao fim de tempo mais ou menos longo, outros

territórios musculares, sempre na esfera dos nervos acima referidos; confi-

Fig. 2 — Amiotrofias das mãos (tipo ulnar à esquerda) e distúrbios tróíicos cutâneos nos dedos médio e indicador, à direita. Para- lisia do orbicular das pálpebras, à direita.

gura-se, dessa forma, o quadro de u m a multineurite de topografia distai,

simétrica ou assimétrica. O desenvolvimento da desordem motora acom-

panha e m geral paralelamente o das atrofias musculares; casos há, to-

davia, e m que êle é relativamente mínimo e m comparação à intensidade

das amiotrofias. B e m mais raramente, estabelece-se o quadro de defi-

ciência motora desacompanhado de atrofia muscular. A s atrofias mus-

culares e paralisias conferem às mãos atitudes características, tais como

m ã o e m garra, m ã o simiesca, nas paralisias do ulnar e mediano; amio-

trofia do antebraço e m ã o pêndula, nos casos de paralisia radial;

amiotrofia da região ântero-externa da perna, paralisia dos músculos

dorsiflexores do pé e marcha escarvante, nos casos de comprometimento

AS MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS DA LEPRA 67

do nervo peroneal c o m u m ; atrofia dos músculos próprios da planta do pé, quando são invadidos os nervos plantares, ramos do tibial.

Fig. 4 — • Amiotrofia das mãos (paralisia mediano-cubital) e dos ante- braços. Paralisia radial.

O exame elétrico dos nervos e músculos, os dados obtidos pela cronaxia e electromiografia, fornecem valiosas indicações, não apenas para a exata determinação da intensidade e topografia das lesões neuríticas, m a s ainda para a revelação das lesões iniciais.

  1. Pares cranianos — O com- prometimento do nervo facial é particularmente característico, por processar-se na maior parte dos casos de forma parcelada, com predileção para os músculos do território superior da face (orbi- cular das pálpebras, supraciliar, frontal), atingindo-os uni ou bila- teralmente (Krohn). Evoluindo, a paralisia pode completar-se, assu- mindo então o aspecto típico da paralisia facial periférica, total. Instala-se, no c o m u m dos casos, de m o d o lento e progressivo, acom- panhando-se de intensa hipotonia e, e m razão do freqüente envolvi- mento do V par, anestesia no ter- ritório cutâneo correspondente. O déficit motor tem, numerosas ve- zes, o seu desenvolvimento nitida- mente relacionado ao de lesões cutâneas regionais, observando-se ainda, freqüentemente, hipertrofia

Fig. 5 — À esquerda, paralisia dissociada do músculo frontal (afetado apenas em sua por- ção mais lateral) e do supraciliar; comprome- timento das sensibilidades superficiais no território demarcado. Neurite ramuscular, tu- berculóide, sensitivo-motora.

AS MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS DA LEPRA G

e generalizada. C o m exceção dos casos e m que ocorre lesão radicular, estes vários tipos de distribuição subordinam-se a lesões dos nervos peri- féricos, atingidos e m sua porção troncular (distribuição neurítico-tron- cular) ou e m seus territórios ramusculares cutâneos, de m o d o circunscrito (distribuição "insular" das neurites sensitivas isoladas) ou mais ou menos difusa, como se observa nas neurites sensitivas disseminadas, nas neurites sensitivas de nervos vizinhos (distribuição "pseudo-radicular" e "segmen- taria") e na pan-neurite sensitiva (distribuição "generalizada").

Fig. 6 — Tipos de distribuição topográfica das alterações da sensibilidade superficial (hipoestesia representada em reticulado, anestesia em preto) : A — a) Distribuição insular: áreas anestésicas no ombro esquerdo e região frontal direita. b) Distribuição neurítico-troncular: na mão esquerda, anestesia no território do nervo ulnar; no membro superior direito, nos territórios dos nervos ulnar e cutâneo-medial do antebraço. c) Distri- buição segmentaria: nos membros inferiores, topografia em "meia". B — a) Distribuição segmentaria, em "luva", nas mãos. b) Distribuição em "faixa", na região mediai dos antebraços e do braço direito, c) Distribuição segmentaria, nos membros inferiores. C — Distribuição segmentaria. As alterações sensitivas, em razão de acometimento neuror- ramuscular extenso-progressivo, atingem quase totalmente os quatro membros. D — Distribuição generalizada: Pan-neurite ramuscular sensitiva.

  1. Distúrbios tráficos e neurovegetativos — A o lado dos distúrbios tróficos musculares, destacam-se as alterações tróficas cutâneas e ósseas, das quais as mais importantes são as ulcerações plantares, o panarício analgésico e as mutilações das extremidades. O mal perfurante plantar, cuja incidência é calculada aproximadamente e m 2 0 % dos casos "nervosos", pode surgir como manifestação aparente- mente inicial da moléstia e apresentar-se, por longo tempo, como o dis- túrbio predominante da sintomatologia; localiza-se e m geral nas zonas da região plantar submetidas a maior pressão, especialmente nas corres- pondentes à epífise distai dos 1." e 5.^9 metatársicos e face plantar do hálux. A s lesões ósseas (osteólise), de localização sempre distai e geralmente bilaterais, atingem progressivamente as falanges, os ossos do metatarso

70 REVISTA^ DE^ MEDICINA

e metacarpo, ocasionando deformidades pronunciadas e típicas das extre- midades (mutilações). O exame radiográfico (fig. 7) revela atrofia con- cêntrica e progressiva das falanges e dos ossos metatársicos e metacár- picos; o processo inicia-se na extremidade distai desses segmentos, destroi a superfície articular e progride e m direção à diáfise, sem determinar qualquer reação óssea, esclerosante ou hiperplástica; os fragmentos ósseos

Fig. 7 — Quadro radiológico característico de alterações ostearticulares, avançadas, da lepra. Pé direito (frente e perfil). 1.» podartículo: reabsor- ção da primeira falange do halux e do terço distai do primeiro metatarsiano, com aspecto irregular do coto; superfície c o m exostoses e irregularidades; retração dorsal da falange distai. 2.? podartículo: perda da falange distai; ancilose parcial das superfícies articulares metatarsofalângeas, após osteólise irregular das epífises e de suas superfícies articulares; osteoscle- rose densa, eburnizante, de toda a diáfise do 2.' metatarsiano. 3.<> po- dartículo: aspecto e m "pirulito" (candy stick), característico, do 3.' metatarsiano, resultante da atrofia concêntrica, progressiva, próximo-distal, terminando e m ponta, c o m perda da epífise distai; articulação completa- mente destruída; atrofia de desuso da falange proximal. 4.' podartículo: completa perda das falanges; atrofia da epífise distai do metatarso. 5.9 podartículo: sem alterações significativas (Dr. F. C h a m m a s ).

tornam-se afilados, pontiagudos. Tais alterações ocorrem sobretudo na lepra neural (Paget e Mayoral); não são, segundo esses autores, resul- tantes da ação direta do bacilo sobre o osso, m a s de natureza neuro- trófica, dependendo de alterações dos troncos nervosos; surgem como manifestações relativamente tardias, e m neurites de longa evolução e formas avançadas da moléstia, nas quais houve degeneração e fibrose dos nervos. Três tipos de fatores, atuando conjuntamente, segundo Cooney e Crosby, seriam responsáveis pela absorção óssea concêntrica: distúrbios circulatórios, anestesia e pressão. Lechat relaciona as mutilações a qua- tro tipos de fenômenos: a) processo de origem bacilar (cistos, parti- cularmente) ; b) lesões mecânicas (osteartrite matatarsofalângea); c) pro- cesso de reabsorção, dependente, até certo ponto, de distúrbios da vasor- regulação periférica; d) superinfecção, osteíte e lesões difusas, conse- qüentes a ulcerações plantares.

72 REVISTA DE MEDICINA

tróficas), raízes e plexos (costela cervical e outras malformações cervicais especialmente), e sobretudo os nervos periféricos (neuropatias de diversas etiologias, neurite intersticial hipertrófica, neurofibromatose, paramiloi- dose, etc). A s características clínicas de cada u m a das afecções e m apreço e os exames subsidiários concorrem para a diferenciação diag- nostica.

EXAMES COMPLEMENTARES

Praticam-se habitualmente os seguintes:

  1. Exame bacteriológico — A pesquisa do Mycobacterium leprae no m u c o nasal, lesão cutânea, gânglio e sangue periférico é e m geral ne- gativa nos casos "nervosos puros", u m a vez que estes correspondem ordi- nariamente ao tipo "tuberculóide" e grupo "indeterminado" da afecção. A pesquisa resulta positiva nos casos "lepromatosos" e muitas vezes nos do grupo "borderline"
  2. Intradermo-reação à lepromina — A reação de Mitsuda não possui valor diagnóstico. Ela poderá apenas contribuir, ao lado dos ele- mentos clínicos, para o reconhecimento da forma da moléstia: positiva no tipo "tuberculóide", é negativa no "lepromatoso" e de comportamento variável nos grupos "indeterminado" e "borderline",
  3. Exame histopatológico — A biopsia de pele e de nervo cutâneo, adequadamente escolhido, representa recurso complementar da maior im- portância, porquanto demonstra, numerosas vezes, as alterações histopa- tológicas características da enfermidade. Conforme referimos, tais alte- rações se catalogam e m dois tipos fundamentais: "lepromatoso" (L) e "tuberculóide" (T) e e m dois grupos, "indeterminado" (I) e "dimorfo", "borderline" ou "transicional" (B-D). O tipo lepromatoso caracteriza-se por u m infiltrado no qual, além de linfócitos e plasmócitos, se evidenciam as típicas células vacuolizadas de Virchow, contendo no seu interior bacilos de Hansen. O tipo tuberculóide define-se por estruturas nodulares, onde se reconhecem células histioci- tárias epitelióides, gigantócitos e linfócitos, raramente encontrando-se bacilos. O grupo dimorfo, borderline ou transicional distingue-se por apresentar estruturas mistas, nas quais se verificam alterações do tipo lepromatoso ao lado de células epitelióides; o exame bacterioscópico reve- la-se, de hábito, positivo. O grupo indeterminado ou inflamatório simples é representado por u m infiltrado linfo-histiocitário, que se dispõe e m torno de vasos, nervos, g^ndulas e folículos pilosos; o exame bacterios- cópico é excepcionalmente positivo. Vemos, pois, que nos casos propriamente neurológicos o exame bac- teriológico e a reação de Mitsuda não contribuem, ordinariamente, para a elucidação diagnostica; até m i s m o a biopsia de nervo poderá falhar, por fornecer, numerosas vezes, resultado inconcludente (alterações ines- pecíficas, infiltrados inflamatórios simples do grupo "indeterminado"). Ressalta, nesta circunstância, o extraordinário valor dos conhecimentos de ordem clínico-neurológica, pois serão eles que permitirão dirimir as dúvidas e estabelecer o diagnóstico. Lembraremos, neste sentido, como

AS MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS DA LEPRA 73

as mais expressivas manifestações da neuroleprose, as seguintes: a hiper-

trofia dos nervos periféricos e de seus ramos superficiais; as alterações

sensitivas, essencialmente caracterizadas pelo acometimento das sensibi-

lidades exteroceptivas e pela topografia neurorramuscular ou neurotron-

cular; os distúrbios amiotrófico-paralíticos, dependentes sobretudo do

comprometimento dos nervos ulnar, mediano e peroneal c o m u m ; a para-

lisia facial, freqüentemente de tipo dissociado, com predileção para os

músculos orbicular das pálpebras, supraciliar e frontal, atingindo-os uni

ou bilateralmente; a anidrose, a alopecia e a arreflexia vasomotora (ausên-

cia de eritema reflexo à prova da histamina); as ulcerações plantares e

as alterações ósseas (atrofia concêntrica e progressiva), responsáveis pelas

mutilações das extremidades. Os elementos fornecidos pela anamnese

(por exemplo, a convivência com hansenianos) e determinados exames

subsidiários (prova da pilocarpina, do Mecholyl, da histamina, da acetil-

colina ou do picrato de nicotina), poderão contribuir positivamente para

a exata interpretação dos dados clínicos.

T R A T A M E N T O

O emprego de sulfonamidas, promin e diazona, encontra indicação

nos casos e m que existem lesões cutâneas, particularmente naqueles e m

que o exame bacteriológico é positivo e a reação de Mitsuda, negativa. A

conveniência de sua aplicação nas formas nervosas puras dependerá da

análise particular de cada caso. Tratamento sintomático, fisioterapia e

medidas cirúrgicas constituem, numerosas vezes, recursos auxiliares de

grande interesse prático.

SUMMARY

JTJLIÃO, O. F. — The neurological manifestations of leprosy. Rev. Med. (São Paulo) 47:63-74, 1963.

The neurological picture of leprosy is composed of well defined clinicai

manifestations, which result from the impairment of the peripheral ner-

vous system, especially in its cutaneous terminal ramifications. Isolated

mononeuritis, disseminated mononeuritis or multineuritis (multiple and

successive neuritis) and polyneuritis, of sensorimotor or merely sensory

expression, m a y be observed.

Of the nerves that have a motor component, the ulnar, median and

radial ones in the superior limbs are electively struck; in the inferior

limbs, the c o m m o n peroneal and the tibial; the facial one, amongst the

cranial nerves. A s regards the sensory impairment, the various types

of topographical distribution of the disorders attest the extreme poly-

morphism — in site and extension — of the lesions of the cutaneous

neural network. Thus, from the occurrence of a small anesthetic área,

limited to the territory of a single cutaneous nerve (sensory mononeu-

ritis) to an anesthesia spread ali over the tegument (sensory panneuritis

of terminal ramifications) ali invasion modalities of the peripheral sen-

sory contingent m a y be recognized.