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Este documento discute as manifestações neurológicas da lepra, incluindo sintomas como hipertrofia de nervos, distúrbios motores e sensitivos, anidrose e reflexos. O texto também aborda as dificuldades diagnósticas relacionadas às alterações do sistema nervoso periférico e o papel da anamnese na interpretação de sintomas. Além disso, são apresentados os tipos de distribuição topográfica das alterações da sensibilidade superficial e as manifestações expressivas da neuroleprose.
O que você vai aprender
Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas
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Não perca as partes importantes!
O. FREITAS JULIÃO *
Os casos de lepra nos quais há exclusivamente acometimento neurológico suscitam, não raro, problemas embaraçosos de diagnóstico diferencial, não só porque não se acompanham das lesões cutâneas típicas mas ainda porque o exame bacterioscópico 6 habitualmente negativo; mesmo o exame histopatológico poderá ser inconclusivo, por evidenciar, muitas vezes, alterações incaracterísticas. Neurites isoladas do ne ulnar ou do peroneal, áreas de anestesia conseqüentes a lesões neurorramusculares, perturbações úlcero-mutilantes das extremidades exemplificam algumas das condições clínicas capazes de originar problemas dessa espécie. O autor procura, nesta exposição, realçar o valor diagnóstico dos conhecimentos de ordem puramente neurológica para a elucidação de tais casos, pois apenas eles permi- tirão, na maioria das vezes, dirimir as dúvidas existentes.
Aula proferida no Curso de Neurologia da Escola Paulista de Medicina, em 23 de outubro de 1962.
Do ponto de vista clínico, distinguem-se casos de lepra nos quais se evidenciam: 1) manifestações cutâneas puras (máculas, infiltração di- fusa, lepromas e outras); 2) manifestações neurológicas puras (insula anestésica, neurites isoladas do ulnar, peroneal c o m u m ou de outros nervos, ulceração plantar e outras); 3) manifestações cutâneas e neurológicas associadas. Tais manifestações subordinam-se a alterações histopatológicas da pele e nervos, classificadas, segundo sistematização admitida nos últimos Congressos de Leprologia, e m dois tipos fundamentais — "Lepromato- so" (L) e "Tuberculóide" (T) — e e m dois grupos, "Indiferenciado" (I) e "Dimorfo" ou "Borderline" (D-B). A s alterações neurológicas (sensitivas, amiotrófico-paralíticas, úlce- ro-mutilantes e outras) objetivam o acometimento neurorramuscular cutâneo e/ou neurotroncular, os quais podem revestir aspectos clínicos diversos, tais como os de mononeurites isoladas, mononeurites dissemi- nadas ou multineurites (neurites múltiplas e sucessivas) e polineurites, de expressão sensitivo-motora ou puramente sensitiva. Dos nervos que possuem contingente motor, são eletivamente atin- gidos o ulnar, mediano e radial, nos membros superiores; o peroneal d o m u m e tibial, nos membros inferiores; o facial, dentre os nervos crar nianos. N o que concerne ao comprometimento sensitivo, os variados tipos de disposição topográfica dos distúrbios atestam o extremo poli- morfismo — quanto à sede e extensão — das lesões da rede neural derme- pidérmica. Assim, desde a ocorrência de u m a pequena área anestésica, circunscrita ao território de determinado nervo cutâneo (mononeurite sensitiva), até à de u m a anestesia difusa a todo o tegumento (pan-neurite ramuscular sensitiva), todas as modalidades de invasão do contingente sensitivo periférico podem ser reconhecidas. A eletividade do processo patológico para os nervos periféricos foi salientada desde as investigações fundamentais de Danielssen e Boeck, Virchow, Dejerine e Léloir, Dehio, Gerlach, Lie, Woit, e ulteriormente reafirmada por Monrad Krohn, Muir e Chatterji, Lowell, Fite, Khanolkar, Dastur e muitos outros. A possibilidade da extensão das lesões às raízes dorsais e o comprometimento dos gânglios espinais foi, por outro lado, assinalada por alguns autores (Kalindero, Lie, Looft, Babes, Austrege- silo). O quadro de u m a polirradiculoneurite crônica, de evolução extre- mamente lenta e progressiva, pode, efetivamente, desenvolver-se e m de- terminados casos; o comprometimento radicular passa, entretanto, muitas vezes clinicamente despercebido, mascarado pela intensidade e extensão das lesões ramúsculo-tronculares. Quanto às lesões medulares (degene- ração dos funículos dorsais, e m particular) registradas por diversos pes- quisadores (Jeanselme e Marie, Woit, Mitsuda e Ogawa), não se reves- tem, ordinariamente, de expressão clínica.
Fig. 2 — Amiotrofias das mãos (tipo ulnar à esquerda) e distúrbios tróíicos cutâneos nos dedos médio e indicador, à direita. Para- lisia do orbicular das pálpebras, à direita.
do nervo peroneal c o m u m ; atrofia dos músculos próprios da planta do pé, quando são invadidos os nervos plantares, ramos do tibial.
Fig. 4 — • Amiotrofia das mãos (paralisia mediano-cubital) e dos ante- braços. Paralisia radial.
O exame elétrico dos nervos e músculos, os dados obtidos pela cronaxia e electromiografia, fornecem valiosas indicações, não apenas para a exata determinação da intensidade e topografia das lesões neuríticas, m a s ainda para a revelação das lesões iniciais.
Fig. 5 — À esquerda, paralisia dissociada do músculo frontal (afetado apenas em sua por- ção mais lateral) e do supraciliar; comprome- timento das sensibilidades superficiais no território demarcado. Neurite ramuscular, tu- berculóide, sensitivo-motora.
e generalizada. C o m exceção dos casos e m que ocorre lesão radicular, estes vários tipos de distribuição subordinam-se a lesões dos nervos peri- féricos, atingidos e m sua porção troncular (distribuição neurítico-tron- cular) ou e m seus territórios ramusculares cutâneos, de m o d o circunscrito (distribuição "insular" das neurites sensitivas isoladas) ou mais ou menos difusa, como se observa nas neurites sensitivas disseminadas, nas neurites sensitivas de nervos vizinhos (distribuição "pseudo-radicular" e "segmen- taria") e na pan-neurite sensitiva (distribuição "generalizada").
Fig. 6 — Tipos de distribuição topográfica das alterações da sensibilidade superficial (hipoestesia representada em reticulado, anestesia em preto) : A — a) Distribuição insular: áreas anestésicas no ombro esquerdo e região frontal direita. b) Distribuição neurítico-troncular: na mão esquerda, anestesia no território do nervo ulnar; no membro superior direito, nos territórios dos nervos ulnar e cutâneo-medial do antebraço. c) Distri- buição segmentaria: nos membros inferiores, topografia em "meia". B — a) Distribuição segmentaria, em "luva", nas mãos. b) Distribuição em "faixa", na região mediai dos antebraços e do braço direito, c) Distribuição segmentaria, nos membros inferiores. C — Distribuição segmentaria. As alterações sensitivas, em razão de acometimento neuror- ramuscular extenso-progressivo, atingem quase totalmente os quatro membros. D — Distribuição generalizada: Pan-neurite ramuscular sensitiva.
e metacarpo, ocasionando deformidades pronunciadas e típicas das extre- midades (mutilações). O exame radiográfico (fig. 7) revela atrofia con- cêntrica e progressiva das falanges e dos ossos metatársicos e metacár- picos; o processo inicia-se na extremidade distai desses segmentos, destroi a superfície articular e progride e m direção à diáfise, sem determinar qualquer reação óssea, esclerosante ou hiperplástica; os fragmentos ósseos
Fig. 7 — Quadro radiológico característico de alterações ostearticulares, avançadas, da lepra. Pé direito (frente e perfil). 1.» podartículo: reabsor- ção da primeira falange do halux e do terço distai do primeiro metatarsiano, com aspecto irregular do coto; superfície c o m exostoses e irregularidades; retração dorsal da falange distai. 2.? podartículo: perda da falange distai; ancilose parcial das superfícies articulares metatarsofalângeas, após osteólise irregular das epífises e de suas superfícies articulares; osteoscle- rose densa, eburnizante, de toda a diáfise do 2.' metatarsiano. 3.<> po- dartículo: aspecto e m "pirulito" (candy stick), característico, do 3.' metatarsiano, resultante da atrofia concêntrica, progressiva, próximo-distal, terminando e m ponta, c o m perda da epífise distai; articulação completa- mente destruída; atrofia de desuso da falange proximal. 4.' podartículo: completa perda das falanges; atrofia da epífise distai do metatarso. 5.9 podartículo: sem alterações significativas (Dr. F. C h a m m a s ).
tornam-se afilados, pontiagudos. Tais alterações ocorrem sobretudo na lepra neural (Paget e Mayoral); não são, segundo esses autores, resul- tantes da ação direta do bacilo sobre o osso, m a s de natureza neuro- trófica, dependendo de alterações dos troncos nervosos; surgem como manifestações relativamente tardias, e m neurites de longa evolução e formas avançadas da moléstia, nas quais houve degeneração e fibrose dos nervos. Três tipos de fatores, atuando conjuntamente, segundo Cooney e Crosby, seriam responsáveis pela absorção óssea concêntrica: distúrbios circulatórios, anestesia e pressão. Lechat relaciona as mutilações a qua- tro tipos de fenômenos: a) processo de origem bacilar (cistos, parti- cularmente) ; b) lesões mecânicas (osteartrite matatarsofalângea); c) pro- cesso de reabsorção, dependente, até certo ponto, de distúrbios da vasor- regulação periférica; d) superinfecção, osteíte e lesões difusas, conse- qüentes a ulcerações plantares.
tróficas), raízes e plexos (costela cervical e outras malformações cervicais especialmente), e sobretudo os nervos periféricos (neuropatias de diversas etiologias, neurite intersticial hipertrófica, neurofibromatose, paramiloi- dose, etc). A s características clínicas de cada u m a das afecções e m apreço e os exames subsidiários concorrem para a diferenciação diag- nostica.
EXAMES COMPLEMENTARES
Praticam-se habitualmente os seguintes:
AS MANIFESTAÇÕES NEUROLÓGICAS DA LEPRA 73
JTJLIÃO, O. F. — The neurological manifestations of leprosy. Rev. Med. (São Paulo) 47:63-74, 1963.