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Origem e Características do Artigo Indefinido e Numeral no Português, Provas de Latim

Este artigo discute a origem do artigo indefinido e do numeral um no português, que derivam do latim unu. Explica-se a evolução fonética e a diferença na distribuição e intensidade de ambos. O texto também aborda a questão do plural do artigo.

O que você vai aprender

  • Como se diferenciam o artigo indefinido e o numeral em termos de distribuição e intensidade?
  • Qual a origem do artigo indefinido um no português?
  • Por que o numeral um não tem flexão numérica de plural?

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Luiz_Felipe
Luiz_Felipe 🇧🇷

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ARTIGO INDEFINIDO E NUMERAL
Antônio José Sandmann *
1. Aspectos diacrônlcos.
Embora o latim clássicoo possuísse propriamente artigo, o
numerai unus. segundo mostra Ismael de Lima Coutinho,1 começava a
desempenhar, aqui e ali, a função de artigo indefinido, sendo já mais
freqüente seu uso no latim popular. Hoje é fato geral nas línguas ro-
mánicas e nas do ramo anglo-germânico, como o inglês e o alemão, por
exemplo.
A evolução fonética do latim unu para o português um obedece
a regras gerais: de unu temos uu, por síncope da consoante nasal den-
tal n e nasalizacão da voeal aue a orecedia: uu. Dela natural aversão
ao hiato, simplifica-se para u, escrito hoje um.
Já o feminino apresenta uma complexidade maior, que é o apa-
recimento do m de uma. Ismael de Lima Coutinho invoca a explica-
ção de Leite de Vasconcelos, segundo o qual o m teria aparecido em
uma como o nh em vinho, etc., o que seria um fato isolado.
Silveira Bueno, 2 pelo fato mesmo de ser um caso isolado, adota,
para explicá-lo, a tese da influência da grafia: ua, pronunciado u-a, foi
à semelhança de u, também escrito um, grafado uma, pronunciado, ain-
da de início, um-a e depois u-ma, com m = consoante nasal bilabial".
1 COUTINHO. Ismael de Lima. Gramática histórica. 6. ed. Rio de Ja-
neiro. Académica, 1971. p. 252.
2 SILVEIRA BUENO, Francisco da. Formação histórica da lingua portuguesa.
2. ed. Rio de Janeiro. Acadêmica, 1958.
» O autor licenciou.se cm Letras Anglo-Germânicas, em 1961, pela Universidade
Federal do Paraná. Em Marburgo (Alemanha), estudou Teoria Literária a
Língua e Literatura Alema (1960). Publicou O morfema de grau sufixo
flexionai ou derivaclonal na revista Letras (n» 20, 1972) e Em torno da vogol
temática em Arquivos (v. 1, n'/ 5, 1972). Atualmente, exerce as funções de
Auxiliar de Ensino de Língua Portuguesa na Universidade Federal do Paraná.
letras, Curitiba, (24) 35-38 dez. 1975 35
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ARTIGO INDEFINIDO E NUMERAL

**Antônio José Sandmann ***

1. Aspectos diacrônlcos.

Embora o latim clássico não possuísse propriamente artigo, o numerai unus. segundo mostra Ismael de Lima Coutinho,^1 começava a desempenhar, aqui e ali, a função de artigo indefinido, sendo já mais freqüente seu uso no latim popular. Hoje é fato geral nas línguas ro- mánicas e nas do ramo anglo-germânico, como o inglês e o alemão, por exemplo.

A evolução fonética do latim unu para o português um obedece a regras gerais: de unu temos uu, por síncope da consoante nasal den- tal n e nasalizacão da voeal aue a orecedia: uu. Dela natural aversão ao hiato, simplifica-se para u, escrito hoje um. Já o feminino apresenta uma complexidade maior, que é o apa- recimento do m de uma. Ismael de Lima Coutinho invoca a explica- ção de Leite de Vasconcelos, segundo o qual o m teria aparecido em uma como o nh em vinho, etc., o que seria um fato isolado.

Silveira Bueno, 2 pelo fato mesmo de ser um caso isolado, adota, para explicá-lo, a tese da influência da grafia: ua, pronunciado u-a, foi

à semelhança de u, também escrito um, grafado uma, pronunciado, ain- da de início, um-a e depois u-ma, com m = consoante nasal bilabial".

1 COUTINHO. Ismael de Lima. Gramática histórica. 6. ed. Rio de Ja- neiro. Académica, 1971. p. 252. 2 SILVEIRA BUENO, Francisco da. Formação histórica da lingua portuguesa.

  1. ed. Rio de Janeiro. Acadêmica, 1958.

» O autor licenciou.se cm Letras Anglo-Germânicas, em 1961, pela Universidade Federal do Paraná. Em Marburgo (Alemanha), estudou Teoria Literária a Língua e Literatura Alema (1960). Publicou O morfema de grau — sufixo flexionai ou derivaclonal na revista Letras (n» 20, 1972) e Em torno da vogol temática em Arquivos (v. 1, n'/ 5, 1972). Atualmente, exerce as funções de Auxiliar de Ensino de Língua Portuguesa n a Universidade Federal do Paraná.

letras, Curitiba, (24) 35-38 dez. (^1975 3 )

2. A categorìa gramatical de número.

O numeral um, uma, indicando a unidade, a quantidade unitária, não pode naturalmente receber flexão numérica de plural. Não as- sim o artigo, que se adapta ao nome que determina também cm número. Originário do numerai, como se mostrou acima, o qual não tem flexão de número plural, foi preciso que para o artigo se criasse um plural. A analogia morfologica explica facilmente essa inovação. O s, morfema de plural dos nomes do português, é adicio- nado a um c uma, formando uns e umas.

3. A distribuição.

Também quanto à distribuição diferem o numerai e o artigo in- definido. Um, uma, numerai, entra no paradigma de dois, três quatro, etc. Um, uma, uns, umas, artigo, entra no paradigma de o, a, os, as, artigo indefinido.

Em Achei um anel, um, artigo indefinido e que indetermina o objeto anel, está em oposição a o de Achei o anel, em que o artigo definido o determina o objeto anel, que seria, p. ex., aquele anel que eu perdi e estava procurando. Em Tenho um anel, um, numerai, tal será se estiver em oposição a Tenho dois anéis, ou três, quatro, etc. Mas como saber que um em Tenho u m anel, é numeral c não artigo? A resposta nos dá a intensi- dade, a ser vista no item seguinte.

4. A intensidade.

A diferença maior, porém, entre um, artigo, e um, numerai, pa- rece estar na intensidade. Tanto um como outro são vocábulos mór- ficos porque elementos móveis, separáveis das palavras que determi- n a m. Achei um anel, em que afirmávamos que um é artigo indefeni- do, permite a inserção de outro elemento entre um e anel: Achei um bonito anel. O mesmo se pode fazer cm Tenho um anel, em que admi- tíamos ser um numerai: Tenho um só anel.

Um, artigo indefinido, no entanto, não é vocábulo fonològico, co- mo o é o numerai. Segundo a doutrina de Joaquim Mattoso Câma- ra Jr., 3 a pauta acentuai de Achei um anel é 1 3 I 14, como seria a de Achei o anel. A de Tenho um anel é 1 3 2 1, como seria a de Tenho dois anéis. Se admitirmos com Mattoso Câmara que vocábulo fonológico é aquele que, dentro do grupo de força, tem, no mínimo, intensidade 2,

3 MATTOSO CAMARA JR., Joaquim. Estrutura da lingua portuguesa. 2. ed. Petrópolis, Vozes. 1970. p. 53.

3 6 Letras,^ Curitiba,^ 124)^ 35-38^ dez.^1975

Only the article has a plural: uns, umas. The numeral, which indicates the unitarian quantity, cannot, logically, have the plural f o r m. If one considers the paradigmatic distribution, another difference between the article um and the numeral um appears: um, indefinite article, is in opposition to the definite article o, while the numeral is in opposition to dols (two), três (three), quatro (four), etc. The greatest difference, however, is in the accent. The article does not have the "status" of a phonological word (vocábulo fono- lógico), because it has the accent 1. The numeral is a phonological word, because it has the accent 2 or 3. Moreover, in the answers, the numeral may be alone, form a sentence, not so the article.

3 8 Letras, Curitiba,^ (241^ 35-3S dez.^1975