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ARTIGO DE COMPLEXIDADE NA ARQUITETURA, Notas de estudo de História da Arquitetura

TEORIAS DA COMPLEXIDADE E TRASDICIPLINARIDADE NA ARQUITETURA

Tipologia: Notas de estudo

2019

Compartilhado em 09/09/2019

lara-azevedo-12
lara-azevedo-12 🇧🇷

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Transdisciplinaridade e complexidade na arquitetura
Arq. Clarissa Ribeiro
(USP_Universidade de São Paulo, EESC, Nomads.USP, Departamento de Arquitetura e Urbanismo)
e-mail: assiralc1@yahoo.com
Dra. Anja Pratschke
(USP_Universidade de São Paulo, EESC, Nomads.USP, Departamento de Arquitetura e Urbanismo)
e-mail: pratschke@sc.usp.br
Abstract
This paper draws on current research on complexity and design process in architecture and offers a
proposal for how architects might bring complex thought to bear on the understanding of design
process as a complex system, to understand architecture as a way to organize events, to organize
interaction. We want to explore the hypothesis that the basic characteristics of complex systems –
emergence, nonlinearity, self-organization, hologramaticity, and so forth – can function as
effective tools of conceptualization that can usefully extend the understanding of the way architects
think and act along the design process. To illustrate the discussions, we show ways on how
architects might bring complex thought inside a transdisciplinary design process trough network
environments as media to integrate, connect, ‘trans_act’.
Palavras chaves: Transdisciplinarity, Complexity, Design process, Architecture, Network environments.
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Transdisciplinaridade e complexidade na arquitetura

Arq. Clarissa Ribeiro (USP_Universidade de São Paulo, EESC, Nomads.USP, Departamento de Arquitetura e Urbanismo) e-mail: assiralc1@yahoo.com

Dra. Anja Pratschke (USP_Universidade de São Paulo, EESC, Nomads.USP, Departamento de Arquitetura e Urbanismo) e-mail: pratschke@sc.usp.br

Abstract This paper draws on current research on complexity and design process in architecture and offers a proposal for how architects might bring complex thought to bear on the understanding of design process as a complex system, to understand architecture as a way to organize events, to organize interaction. We want to explore the hypothesis that the basic characteristics of complex systems – emergence, nonlinearity, self-organization, hologramaticity, and so forth – can function as effective tools of conceptualization that can usefully extend the understanding of the way architects think and act along the design process. To illustrate the discussions, we show ways on how architects might bring complex thought inside a transdisciplinary design process trough network environments as media to integrate, connect, ‘trans_act’.

Palavras chaves: Transdisciplinarity, Complexity, Design process, Architecture, Network environments.

Introdução

Em um contexto em que emergem com renovada força, pensamentos e processos colocados a partir da década de 1960, por arquitetos e artistas influenciados por um pensamento científico e filosófico de vanguarda, pensadores contemporâneos vinculados à arquitetura se esforçam por traduzir um intrincado universo de relações entre Arquitetura, Ciência, Filosofia e Teorias da Informação e Comunicação [TICs]. O objeto do presente trabalho é a questão da complexidade e da transdisciplinaridade em arquitetura como uma alternativa não reducionista, um modo de pensar o processo de design como ambiente de interação, procurando encontrar os atores desse processo e os meios capazes de viabilizar essa prática. A intenção é observar de que forma os arquitetos podem incorporar em seu modo de pensar e fazer espaços de quaisquer naturezas, princípios do pensamento complexo, contribuindo para uma compreensão da arquitetura como um objeto de estudo e de trabalho complexo. Quando examinamos em detalhe o processo de design em arquitetura, o próprio processo – que leva ao objeto arquitetônico – é um sistema que pode ser compreendido a partir da complexidade. Assim, acreditamos que características básicas de sistemas complexos podem funcionar como ferramentas conceituais efetivas para transformar a compreensão e orientar a articulação do processo de design em arquitetura. A presente abordagem se justifica diante de um cenário de crise na prática da arquitetura, frente à eminente necessidade de transformação do pensamento arquitetônico. Acredita-se que essa transformação seja possível a partir de uma prática transdisciplinar.

Cibernética e arquitetura

A corrente principal do Movimento Moderno, já nos primeiros anos da década de 1920, havia optado por ignorar o aspecto dinâmico da tecnologia que seguia em um processo de renovação constante e cada vez mais veloz. No capítulo de conclusão do livro “ Theory and Design in the First Machine Age ”, de 1960, o renomado historiador e crítico britânico de arquitetura Reyner Banham [BANHAM, 1979] aponta os equívocos que fizeram com que o Estilo Internacional – que tinha a pretensão de ser a arquitetura da Era da Máquina – fosse, paulatinamente, se distanciando da essência do pensamento tecnológico. No entanto, sustentando uma ideologia de raiz Futurista que ia de encontro às certezas absolutas do Estilo Internacional, o arquiteto Buckminster Fuller consegue incorporar e traduzir em essência a mudança científico-tecnológica que se anunciava na primeira Era da Máquina. Transformados em certa medida pela necessidade de uma Europa que se reconstruía desde o final da Segunda Guerra, os ideais do Movimento Moderno em arquitetura ainda sobreviveram hegemônicos, sob muitos aspectos, até a década de 1960. No entanto, nos primeiros anos da década da Era da Informação, alguns arquitetos de uma pequena avant-garde na Inglaterra, na França e nos Estados Unidos, que se aproximavam dos ideais sustentados por Fuller, apresentavam propostas arquitetônicas de projetos experimentais em compasso com os desenvolvimentos científicos e tecnológicos correntes. As propostas refletiam um conhecimento da essência do pensamento científico-tecnológico de vanguarda e uma postura crítica diante de uma arquitetura da racionalidade, da linearidade. Essa pequena avant-garde bombardeava o cenário arquitetônico internacional com propostas que refletiam um intenso diálogo com a cibernética, que se estendia em direção à complexidade. Com os projetos “ Fun Palace ” e “ Potteries Thinkbelt ”, o arquiteto britânico Cedric Price começou a explorar o impacto das tecnologias da informação em formas indeterminadas de arquitetura onde os atributos “invisíveis” eram tão importantes quanto os aspectos formais. A arquitetura de Price ilustra uma forte influência da cibernética, sobretudo da emblemática figura de Gordon Pask. Price idealizava uma arquitetura inteligente, capaz de responder a estímulos, capaz de dialogar com os usuários. Segundo Peter Muray, “desde o Fun Palace, a arquitetura de Price possuía a capacidade de

Questões que emergiram com grande força em arquitetura nos anos 1990 – relacionadas à geometria fractal, caos, engenharia genética, entre outros –, marcaram os primeiros anos da década. Isso se torna evidente diante da abordagem de importantes publicações da área como os números ‘ Architects in Cyberspace’ (Architectural Design, dec. 1995) e ‘ New science=new architecture? ’ (Architectural Design, dec. 1997). Questões discutidas a partir de aproximações teóricas e empíricas, refletiam um momento caracterizado pela promoção de um amplo e intenso diálogo entre disciplinas convencionalmente distintas – Ciência da Computação, Química, Física, Filosofia, Arquitetura. Um momento crucial, onde questões levantadas a partir dos anos 1960 voltavam à cena para ser revisadas e desenvolvidas. Temas trabalhados por Robert Venturi, Jane Jacobs, Cedric Price, os arquitetos do grupo Archigram, Gordon Pask, Yona Friedman, entre outros, foram aos poucos sendo resgatados sob a perspectiva de uma cultura arquitetônica que vivia os primeiros anos da era da Internet. Diante desse quadro podemos nos perguntar: como utilizar as Tecnologias da Informação e Comunicação como media para recriar e transformar o modo como pensamos e praticamos arquitetura? Estamos vivendo um momento em que a arquitetura dos processos é mais relevante que a arquitetura dos objetos? Uma possível resposta a essas questões está em considerar a complexidade como elemento fundamental no processo de design arquitetônico. Acreditamos que a complexidade pode ser um meio de incentivar os arquitetos a abandonar seu tradicional posto de gerentes imperativos – uma atitude “ top-down” , para trabalhar mais efetivamente em um sistema horizontal, “ botton-up” , interagindo com os diferentes atores envolvidos no processo de design.

Transdisciplinaridade e complexidade na arquitetura

“[...] precisamos de um terceiro termo além de meio e mensagem. [...] O meio e a mensagem permaneceriam os mesmos, somente as regras mudariam de um sistema para outro.” [JOHNSON, 2003, p. 119-120, grifo nosso]

Na década de 1960, inspirado pelas idéias de Norbert Wiener, Marshall Mc Luhan falava da importância do meio como mensagem. Atualmente, as Tecnologias da Informação e Comunicação contribuem para um questionamento dos métodos tradicionais de trabalho, convidando a abordagens transdisciplinares no que se refere ao processo do design, possibilitando o trabalho em rede e permitindo uma interação cada vez maior. Nesse contexto, muitos arquitetos têm expressado reações à influência do paradigma da complexidade em seu pensamento arquitetônico. O arquiteto Bernard Tschumi fala sobre o que poderia, segundo seu ponto de vista, ser considerado como base de uma arquitetura da complexidade:

“A arquitetura se encontra em uma situação única: é a única disciplina que, por definição, combina conceito e experiência, imagem e uso, imagem e estrutura. Os filósofos podem escrever, os matemáticos podem desenvolver espaços virtuais, mas os arquitetos são os únicos prisioneiros de uma arte híbrida [...].” 4 [TSCHUMI, 1995, p. 82, tradução nossa]

Os arquitetos precisam tomar consciência de que os métodos da arquitetura precisam ser revisados, incorporando, por exemplo, a possibilidade de trabalho em rede viabilizada pelas Tecnologias da Informação e Comunicação, em processos de design caracteristicamente complexos. Um bom exemplo do uso dessas tecnologias, o ICC – web-based Information, Communication, and Collaboration environment – é um ambiente experimental desenvolvido dentro do projeto de

(^4) Do original em inglês: “ Architecture finds itself in a unique situation: it is the only one discipline that, by definition, combines concept and experience, image and use, image and structure. Philosophers can write, mathematicians can develop virtual spaces, but architects are the only ones who are the prisoners of that hybrid art […].” [TSCHUMI, 1995, p. 82]

pesquisa “ A Tool Set for the Virtual AEC Company, 1996-2000 ” que pode gerenciar e apresentar dados que são gerados e intercambiados em um processo de design colaborativo [figura 2].

Figura 2

A publicação “ Bits and Space ” apresenta caminhos para o uso de CAAD [ Computer Aided Architectural Design ] com equipes de trabalho em rede, e habilidade de desenhar tanto os aspectos físicos quanto os virtuais do ambiente. Segundo David Kurmann,

“A disponibilidade de novas tecnologias está destacando novas possibilidades de interação como espaço e tempo e certamente os designers podem estar entre os primeiros a utilizá-las. [...] novos e diferentes métodos devem ser desenvolvidos, que se diferenciem das técnicas tradicionais e permitam o design interativo.”^5 [KURMANN, 2001, p. 9-10, tradução nossa]

Com a intenção de rever os métodos de design em arquitetura, devemos primeiramente tentar compreender o significado da complexidade nesse contexto. Existem algumas diferenças crucias entre o que comumente entendemos como complexo – um sinônimo de intrincado – e um pensamento capaz de unir disjunção e conjunção, capaz de fazer conexões. Qual a natureza de nosso interesse em complexidade? Primeiramente, procuramos entender a complexidade a partir de sua epistemologia. Assim, consideramos os sistemas orgânicos ou o processo de design em arquitetura não como “inerentemente” complexos: sua complexidade existe como uma característica resultante de nossa tentativa de compreensão do mundo. No sentido de considerar o processo de design arquitetônico como um sistema complexo, temos que levar em conta os tipos de complexidade característicos de sistemas complexos, focalizando algumas de suas características principais. Com o presente propósito, selecionamos algumas destas características: Emergência _ implica que alguns comportamentos e padrões emergem em sistemas complexos como resultado das inter-relações entre seus elementos; Não-linearidade _ significa que não existem relações diretas de causa e efeito entre os elementos; Auto-organização _ implica em um diálogo entre ordem, desordem e organização, em uma ampla variedade de formas, via processo inumerável de feedback; Hologramaticidade _ destaca o aparente paradoxo de sistemas nos quais não apenas as partes estão presentes no todo, mas o todo está presente nas partes.

Se aceitarmos a hipótese de que o processo de design em arquitetura pode ser conceituado como um sistema complexo, ele pode ser caracterizado como emergente, não-linear, auto-organizado, hologramático , e assim por diante. A idéia de uma arquitetura da complexidade não é a de abandonar os princípios da ciência clássica – que são, a propósito, as linhas mestras da arquitetura de raiz Modernista: ordem, separabilidade e lógica –, mas incorporá-los em um processo onde interação é a palavra-chave. Esse processo, caracteristicamente complexo, implica

(^5) Do original em inglês: “The availability of new technologies is leading to new possibilities of interacting with space and time and surely designers should be among the first to use them. [...]new and different methods would have to be developed that different from traditional drafting techniques and allowed for interactive design.” [KURMANN, 2001, p. 9-10].

Referências Bibliográficas

BANHAM, R. Teoria e projeto na primeira era da máquina. Tradução de A. M. Goldberger Coelho. São Paulo: Editora Perspectiva, 1979.

DECQ, O. and CORNETTE, B. Hyper Tension. The Power of Contemporary Architecture. London: Academy Editions, 1999, p.39-41.

JOHNSON, S. Emergência: a vida integrada de formigas, cérebros, cidades e softwares. Tradução de Maria Carmelita Pádua Dias; Revisão técnica de Paulo Vaz. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p. 119-120.

KURMANN, D. Designing in space and time. In: ENGELI, M. Bits and Space. Berlin: Birkhàuser, 2001, p. 9-10.

MURRAY, P. A Philosophy of enabling. In: PRICE, C. The square book. Great Britain: Wiley- Academy, 2003, p.15.

NICOLESCU, B., Gödelian Aspects of Nature and Knowledge. Translated from French by Karen- Claire Voss. In: Systems: New Paradigms for the Human Sciences. Edited by G. Altmann and W. Koch. Berlin - New York: Gruyter Verlag, 1998, 385-403. Disponível em: < http://nicol.club.fr/ciret/bulletin/b12/b12c3.htm>. Acesso em: 31 de jul. De 2005.

PASK, G. The architectural relevance of cybernetics. London: Architectural Design , sept. 1969, p.

TSCHUMI, B. Responding to the question of complexity, JPVA – Journal of Philosophy and the Visual Arts , 1995, p. 82.

Iconografia

Figura 1_ PRICE, C. Fun Palace Project. Architectural Review , v.137, n. 815-816, jan/fev. 1965, p.74.

Figura 2_ STÄGER, B. A tool set for the virtual AEC Company. In: ENGELI, M. Bits and Space. Berlin: Birkhàuser, 2001, p. 169.