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Arthur-Conan-Doyle-O-Parasita-Elivros., Manuais, Projetos, Pesquisas de Engenharia Informática

Arthur-Conan-Doyle-O-Parasita-Elivros.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2020

Compartilhado em 20/02/2020

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felipe-cgdi 🇧🇷

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O Parasita por Arthur Conan Doyle - 1 - www.ELIVROS-GRATIS.net
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O

PARASITA

Por

Arthur Conan Doyle

Este livro digital não pode ser vendido e foi criado

como parte do Projeto 1000 Livros, por pessoas que

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Tradução de Willame Soares Barroso

Contato: willame_soares@hotmail.com

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desmoralizante. Qualquer abandono da razão pura me afeta como um odor maligno ou um desacordo musical.

Esse é um motivo suficiente para explicar porque eu estou relutante em ir encontrar Professor Wilson hoje à noite. Ainda assim eu sinto que dificilmente poderia livrar-me do convite sem parecer rude; e, agora que Sra. Marden e Agatha estão indo, certamente eu não o faria se eu pudesse. Mas eu preferiria encontrá-los em qualquer outro lugar. Eu sei que Wilson iria me arrastar para esta subciência imprecisa dele se ele pudesse. Em seu entusiasmo ele se torna completamente impassível a palpites e objeções. Nada mais do que uma discursão positiva o fará perceber minha aversão a tudo isso. Eu não tenho dúvidas de que ele tem algum novo tipo de hipnotismo ou clarividência ou médium ou truque que ele vai exibir para nós, porque até seus entretenimentos incidem sobre seu hobby. Bem, de qualquer forma isso será uma alegria para Agatha. Ela se interessa por isso, assim como toda mulher geralmente se interessa por algo que é vago e místico e indefinido.

10:50 P.M. Este meu diário é, eu imagino, o resultado do hábito científico de me importar com o que eu escrevi esta manhã. Eu gosto de registrar impressões enquanto elas ainda estão frescas. Uma vez por dia no mínimo eu me esforço para definir minha própria posição mental. É uma ferramenta muito útil para autoanálise, e tem, eu imagino, um efeito constante sobre o personagem. Francamente, eu devo confessar que eu mesmo necessito de um reforço. Eu tenho medo de que, depois de tudo, muito do meu temperamento neurótico sobreviva, e eu esteja longe daquela tranquila, calma precisão que caracteriza Murdoch ou Pratt-Haldane. Caso contrário, por que aquela idiotice que eu testemunhei essa noite deve ter estimulado meus nervos de modo que até agora eu ainda esteja nervoso? Meu único conforto é que nem Wilson nem Srta. Penclosa e nem mesmo Agatha poderiam possivelmente ter percebido minha fraqueza.

Mas o que nesse mundo havia naquele lugar para me perturbar? Nada, ou algo tão desprezível que vai parecer ridículo quando eu perceber.

Os Mardens chegaram à casa de Wilson antes de mim. De fato, eu fui um dos últimos a chegar e encontrar o lugar lotado. Eu quase nem tive tempo de dar uma palavra com Sra. Marden e Agatha, que estava encantadora de branco e cor-de-rosa, com folhas de trigo cintilante em seu cabelo, quando Wilson chegou puxando minhas mangas.

“Você quer algo positivo, Gilroy,” ele disse, arrastando-me para o canto. “Meu querido amigo, eu tenho um fenômeno-- um fenômeno!”

Eu deveria estar mais impressionado se eu já não tivesse ouvido o mesmo antes. Seu espírito sanguíneo transforma todo vagalume em uma estrela.

“Desta vez sem possíveis perguntas a respeito da boa fé,” ele disse, em resposta, talvez, a algum pequeno rastro de distração nos meus olhos. “Minha esposa a conhece por muitos anos. Ambas vêm de Trinidad, você sabe. Srta. Penclosa esteve na Inglaterra por um ou dois meses apenas, e não conhece ninguém fora da universidade, mas eu lhe asseguro que as coisas que ela nos contou são, por elas mesmas, suficientes para definir a clarividência sobre uma base absolutamente científica. Não existe nada como ela, amador ou profissional. Venha e se apresente!”

Eu não gosto de nenhum desses comerciantes de mistérios, e muito menos de amadores. Com o executor da performance pago você pode argumentá-lo e expô-lo no momento em que você conseguiu entender seu truque. Ele está lá para te iludir, e você para o desmascarar. Mas o que você pode fazer com o amigo do anfitrião da sua esposa? Você deve repentinamente acender uma luz e expô-la tocando um banjo oculto? Ou você deve lançar cochineal sobre sua bata noturna enquanto ela rouba a cena com seu frasco de fósforo e sua tranquilidade supernatural?

Haveria então uma cena, e você seria visto como rude. Então você tem a escolha de ser isso ou um comparsa. Eu não estava com um bom humor enquanto seguia Wilson até a moça.

Eu não poderia imaginar nada menos que a minha ideia de uma Indiana Ocidental. Ela era criatura pequena, frágil, facilmente acima dos quarenta, eu diria, com uma pele pálida, acinzentada, e cabelos com um leve tom acastanhado. Sua presença era insignificante a seu jeito introvertido. Em qualquer grupo de dez mulheres ela seria a última que alguém escolheria. Seus olhos eram talvez sua característica mais notável, e também, sou obrigado a dizer, sua característica menos agradável. Eles eram cinzas, --cinza com um tom esverdeado, --e suas expressões me pareciam ser claramente dissimuladas. Eu me pergunto se dissimulada seria a palavra correta, ou eu deveria dizer agressiva? Pensando bem, felina teria expressado melhor. Uma bengala encostada na parede me mostrou o que era dolorosamente evidente quando ela se levantou: uma das suas pernas estava machucada.

Então eu fui apresentado para Srta. Penclosa, e não pude deixar de perceber que quando meu nome foi citado ela olhou rapidamente para Agatha. Wilson evidentemente falou algo sobre. E em breve, sem dúvida, imagino eu, ela me informará que por meios ocultos eu estou noivo de uma jovem moça com folhas de trigo no seu cabelo. Eu me pergunto quanto mais Wilson deve ter contado a ela sobre mim.

“Professor Gilroy é tremendamente céptico,” ele disse; “Eu espero, Srta. Penclosa, que você será capaz de convertê-lo.”

Ela me olhou profundamente.

“Professor Gilroy está certo em ser céptico se ele nunca viu nada convincente,” ela disse. “Eu deveria ter imaginado,” acrescentou, “que você mesmo teria sido um ótimo caso.”

“Para quê, posso saber?” eu disse.

“Bem, para hipnotismo, por exemplo.”

“Minha experiência tem sido a de que hipnotistas escolhem para seus casos aqueles que são mentalmente frágeis. Todos os seus resultados são viciados, como me parecem, pelo fato de que eles estão lidando com organismos anormais.”

“Qual dessas moças você diria possuir um organismo normal?” ela perguntou. “Eu gostaria que você escolhesse aquela que para você parece ter a mente mais bem balanceada. Deveríamos dizer a garota em branco e cor-de-rosa? --Srta. Agatha Marden, eu creio que seja seu nome.”

“Sim, Eu levaria em consideração qualquer resultado obtido a partir dela.”

“Eu nunca testei o quanto é necessário para impressioná-la. Claro que algumas pessoas reagem mais rápido que outras. Posso lhe perguntar quão longe vai o seu cepticismo? Eu suponho que você aceite algo como o sono hipnótico e o poder da sugestão.”

“Eu não admito nada, Srta. Penclosa.”

“Meu querido, eu pensava que a ciência já tinha ido além disso. Claro que eu não sei nada sobre o lado científico disso. Eu sei apenas o que eu posso fazer. Você vê a garota de vermelho, por exemplo, perto do vaso japonês. Eu desejarei que ela venha até nós.”

Ela curvou-se enquanto falava e deixou cair seu leque no chão. A garota virou-se rapidamente e veio direto em nossa direção, com um olhar curioso, como se alguém tivesse a chamado.

“E você a terá.” Eu percebi um sorriso sobre seu rosto, como se um pensamento impressionante a atingiu. Ela inclinou-se e sussurrou seriamente no seu ouvido. Agatha, que estava tão surda para comigo, balançava sua cabeça enquanto ouvia.

“Acorde!” exclamou Srta. Penclosa, com um suave toque de sua bengala no chão. Os olhos se abriram, o olhar vidrado vagarosamente se desfez e a sua alma surgiu novamente depois do seu estranho obscurecimento.

Nós fomos embora mais cedo. Agatha não estava tão ruim pela sua estranha viagem, mas eu estava nervoso e irritado, incapaz de ouvir ou responder a enchente de comentários que Wilson dirigia a mim. Enquanto eu a desejava boa noite Srta. Penclosa disfarçadamente colocou um pedaço de papel na minha mão.

“Perdoa-me.” ela disse, “pelos meus meios de superar o seu ceticismo. Abra este bilhete as 10 horas amanhã pela manhã. É um pequeno teste particular.”

Eu não consigo imaginar o que ela quis dizer, mas eu tenho o bilhete, e o mesmo será aberto como ela instruiu. Minha cabeça está doendo, e eu escrevi o suficiente por esta noite. Amanhã eu ouso dizer que o que parece ser inexplicável tomará outro aspecto. Eu não devo abandonar minhas convicções sem lutar.

25 de Março. Eu estou impressionado, confuso. É óbvio que preciso reconsiderar minha opinião sobre o assunto. Mas primeiro permita-me registrar o que ocorreu.

Eu terminei o café da manhã, e estava olhando alguns diagramas, com os quais devo ilustrar minha aula, quando minha empregada entrou e me informou que Agatha estava no meu escritório e desejava me ver imediatamente. Eu olhei para o relógio e vi que ainda faltavam trinta minutos para as dez horas.

Quando eu entrei na sala, ela estava em pé no tapete perto da chaminé olhando para mim. Algo em sua pose me acalmou e levaram as palavras que estavam surgindo nos meus lábios. Seu véu estava pela metade, mas eu podia ver que ela parecia pálida e que sua expressão estava inibida.

“Austin,” ela disse, “eu vim para lhe dizer que nosso noivado chegou ao fim.”

Eu entrei em choque. Eu acredito que eu literalmente entrei em estado de choque. Eu sei que encontrei-me encostado na estante de livros para me sustentar.

“Mas...mas...” eu gaguejei. “Isto é algo muito súbito, Agatha.”

“Sim, Austin, eu vim aqui para lhe dizer que nosso noivado chegou ao fim.”

“Mas, certamente,” eu gritei, “você me dará algum motivo! Isto é algo contrário a você, Agatha. Conte-me como eu tenho sido desagradável o suficiente para lhe ofender.”

“Está tudo acabado, Austin.”

“Mas por quê? Você deve estar sob alguma ilusão, Agatha. Talvez alguém lhe contou alguma mentira a meu respeito. Ou você deve ter interpretado errado algo que eu lhe disse. Apenas permita-me saber o que é isso, e uma palavra pode consertar isso tudo.”

“Nós devemos considerar isso tudo no fim.”

“Mas você me deixou ontem a noite sem nenhum rastro de desentendimento. O que pode ter ocorrido nesse intervalo para lhe mudar tanto? Deve ter sido algo que aconteceu na noite de ontem. Você esteve pensando sobre isso e desaprovou minha conduta. Foi o hipnotismo? Você me culpou por ter deixado aquela mulher exercer seu poder sobre você? Você sabe que no menor sinal eu poderia ter interferido.”

“Isso é inútil, Austin. Está tudo acabado.”

Ela falava de maneira fria e calculista; sua atitude parecia estranhamente formal e inflexível. Parecia para mim que ela estava absolutamente decidida a não se deixar levar por qualquer argumento ou explicação. Quanto a mim, eu estava trêmulo de tanta intranquilidade, virei meu rosto, e de tão envergonhado que eu estava ela podia perceber minha ânsia por controle.

“Você deve saber o que isso significa para mim!” exclamei. “Isto é a destruição de todas as minhas expectativas e a arruinação da minha vida! Você não vai me punir dessa forma sem ouvir algo. Você vai me dizer qual é o problema. Leve em consideração o quão absurdo seria para mim, sob quaisquer circunstâncias, lhe tratar dessa maneira. Pelo amor de Deus, Agatha, diga- me o que eu fiz!”

Ela passou por mim sem dizer uma palavra e abriu a porta.

“É praticamente inútil Austin,” ela disse. “Você deve considerar que nosso noivado chegou ao fim.” Logo depois ela se foi, e, antes que eu pudesse me recuperar e segui-la, eu ouvi a porta da sala fechando atrás dela.

Eu corri para o meu quarto a fim de trocar de casaco, com o intuito de correr para casa de Sra. Marden a fim de descobrir qual poderia ser a causa daquela fatalidade. Eu estava tão trêmula que mal podia amarrar minhas botas. Eu nunca esquecerei aqueles dez minutos horríveis. Eu tinha acabado de colocar meu sobretudo quando o relógio sobre a lareira tocou dez horas.

Dez! Eu associei a ideia com o bilhete de Srta. Penclosa. Ele estava em cima da mesa bem atrás de mim, e então eu o abri. Ele foi escrito a lápis em uma escrita peculiarmente angular.

“QUERIDO PROFESSOR GILROY [dizia]: Perdoe-me pela natureza pessoal do teste que eu estou lhe aplicando. Professor Wilson acabou por mencionar a relação entre você e minha voluntária naquela noite, e me ocorreu que nada poderia ser mais convincente para você do que se eu sugerisse Srta. Marden a lhe procurar as nove e meia pela manhã de amanhã e suspender seu noivado por cerca de meia hora. A ciência em si é tão exata que é difícil pensar em um teste satisfatório, mas eu estou certa de que isto seria para ela, no mínimo, uma atitude muito improvável de ser tomada por vontade própria. Esqueça qualquer coisa ela pode ter dito, visto que ela não tem absolutamente nada a ver com isso, e certamente não lembrará nada a respeito. Eu escrevi este bilhete para diminuir a sua ansiedade, e pedir que me desculpe pela infelicidade momentânea que a minha sugestão pode ter lhe causado. Atenciosamente; HELEN PENCLOSA.”

Sinceramente, quando eu li o bilhete, eu estava aliviado demais para ficar zangado. Foi uma libertação. Certamente foi uma liberdade incrível de fato por parte de uma senhora que eu havia visto apenas uma vez. Mas, depois de tudo, eu a desafiei com o meu ceticismo. Pode ter sido, como ela disse, um pouco complicado elaborar um teste que me satisfaria.

E ela conseguiu. Não poderiam de maneira alguma haver questões sobre aquilo. Para mim o hipnotismo estava finalmente garantido. A partir de agora ele tomou seu lugar como um dos fatos da vida. Aquela Agatha, a qual entre todas as mulheres que conheço tem a mente mais bem balanceada, foi reduzida a uma condição de automatismo aparentemente determinada. Uma pessoa a distância conseguiu a modificar como um engenheiro em uma fronteira conseguiria

Quem não ficaria assim se tivesse um campo de estudo virgem e imenso a ser descoberto em suas mãos? Por que eu, que conheci a forma original de um nucléolo, ou uma peculiaridade trivial de uma fibra muscular estriada sob lentes de 300mm de diâmetro, me encho com tal encanto. Quão insignificantes essas pesquisas parecem ser quando comparadas com uma que afeta diretamente as raízes da vida e a natureza da alma! Eu sempre vi o conceito de espírito como o produto da matéria. O cérebro, eu imaginava, segregava a mente, assim com o fígado segrega a bile. Mas como isso pode ser verdade quando eu observo a mente trabalhando à distância e lidando com a matéria assim como um músico poderia lidar com um violino? O corpo não dá origem à mente, então, mas é preferivelmente o instrumento bruto pelo qual o espírito se manifesta. O moinho não dá origem ao vento, apenas o sinaliza. Isso era oposto à minha maneira de pensar inteira, e ainda assim era incontestavelmente possível e digno de investigação.

E por que eu não deveria investigá-lo? Eu entendo que no encontro de ontem eu disse: “Se eu pudesse observar algo positivo e objetivo, eu poderia ficar tentado a abordar o tema sob o aspecto fisiológico.” Bem, eu consegui minha prova. Eu devo ser tão certo quanto a minha palavra. A investigação seria, tenho certeza, de imenso interesse. Alguns dos meus amigos pode olhar para isso de maneira suspeita, pois a ciência e cheia de preconceitos sem fundamento, mas se Wilson tem confiança nas suas convicções, eu posso tê-la também. Eu o encontrarei amanhã pela manhã – ele e Srta. Penclosa. Se ela pode nos mostrar aquilo tudo, é provável que ela possa nos mostrar mais.

II

26 de Março. Como eu esperava, Wilson estava maravilhado com a minha conversão, e Srta. Penclosa também estava claramente contente com o resultado do seu experimento. Estranho o quão silencioso e incolor ela é, exceto quando exerce seu poder! Até mesmo falando sobre isso a deixa cheia de vida e cor. Ela parece ter um interesse particular em mim. Eu não posso deixar de notar como seus olhos me seguem pela sala.

Nós tivemos uma conversa bem interessante sobre seus poderes. É interessante também registrar suas opiniões, apesar de as mesmas não requererem nenhum peso científico.

“Você está na margem do assunto”, ela disse, quando eu expressei dúvidas em relação ao notável caso de sugestão que ela havia me mostrado. “Eu não tive nenhuma influência direta sobre Srta. Marden quando foi ao seu encontro. Eu não estava nem mesmo pensando nela naquela manhã. O que eu fiz para mudar sua mente foi o mesmo que ajustar o alarme de um relógio para despertar por si próprio. Se ao invés de doze horas, seis meses tivessem sido sugeridos, a situação teria sido a mesma.

“E se a sugestão tivesse sido me assassinar?”

“Ela teria inevitavelmente o assassinado.”

“Mas esse é um poder terrível!”, exclamei.

“De fato é, como você diz, um poder terrível,” ela respondeu seriamente, “e quanto mais você o conhece, mais terrível ele lhe parecerá.”

“Posso perguntar”, eu disse, “o que você quis dizer quando mencionou que esse caso de sugestão está apenas à margem disso? O que você considera essencial?”

“Eu preferiria não lhe contar.”

Eu fiquei surpreso com a escolha da sua resposta.

“Você precisa entender”, eu disse, “que eu não pergunto por curiosidade, mas sim na esperança de que eu possa encontrar alguma explicação científica para os fatos que você forneceu.”

“Francamente, Professor Gilroy”, ela disse, “Eu não estou nem um pouco interessada em ciência, e também não me importo se ela pode ou não classificar esses poderes.”

“Mas eu esperava que…”

“Ah, isto é completamente diferente. Se você fizer disso uma questão pessoal,” ela disse, com os sorrisos mais agradáveis, “eu ficarei muito feliz em lhe contar qualquer coisa que você deseje saber. Deixe-me ver; o que foi que você me perguntou? Oh, sobre os outros poderes. Professor Wilson nunca acreditaria neles, mas eles também são completamente verdadeiros. Por exemplo, é possível que um hipnotista ganhe controle total sobre sua vítima, presumindo que o primeiro é um dos bons. Sem nenhuma sugestão prévia ele pode fazer sua vítima fazer o que ele quiser.”

“Sem o conhecimento da vítima?”

“Isso depende. Se a força for forte o suficiente, ele não saberia nada além do que a Srta. Marden sabia quando ela apareceu e lhe assustou. Ou, se a influência for menos intensa, ele pode ter consciência do que ele está fazendo, mas ser incapaz de evitar que ele mesmo o faça.”

voltados para mim, cinzas, profundos, impenetráveis. Eles ficavam cada vez maiores, até que repentinamente se transformaram em dois lagos montanhosos nos quais eu parecia estar afundando com tremenda rapidez. Eu estremeci, e naquele momento uma gama de pensamentos me diziam que aquela vibração representava a mesma rigidez que havia observado em Agatha. Em um instante depois eu atingi a superfície dos lagos, e estava agora entrando em um deles e me aprofundando nas águas com uma plenitude na minha cabeça e um zumbido nos meus ouvidos. Mergulhei mais e mais, e de uma só vez subi novamente até que pude ver a luz fluindo brilhantemente através da água verde. Eu estava quase na superfície quando a palavra “Acorde!” passou pela minha cabeça, e, com um pontapé, eu me vi de volta na poltrona, com Srta. Penclosa apoiando-se em sua bengala, e Wilson, com seu caderno de anotações em sua mão, espiando sobre o ombro dela. Nenhum peso ou cansaço foi deixado para trás. Muito pelo contrário, apesar de ter se passado apenas uma hora ou mais do experimento, eu me sinto tão alerta que estou mais disposto ao meu estudo do que meu quarto. Eu vejo um panorama de experimentos interessantes se estendendo diante de nós, e eu estou impaciente para começar a estudá-los.

27 de Março. Um dia em branco, pelo fato de Miss Penclosa ir com Wilson e sua esposa para o Suttons'. Deu-se início ao “Hipnotismo Animal” de Binet e Ferre. Que águas estranhas e profundas! Resultados, resultados e mais resultados – e a causa ainda um mistério absoluto. Isso é algo estimulante para a imaginação, mas eu devo permanecer em guarda contra isso. Não podemos ter inferências nem deduções, nem nada além de fatos sólidos. EU SEI que o transe hipnótico é verdadeiro; EU SEI que a sugestão hipnótica é verdadeira; EU SEI que eu mesmo sou vítima desta força. Esse é a minha posição no momento. Eu tenho um enorme caderno de anotações que será dedicado inteiramente aos detalhes científicos.

Longa conversa com Agatha e Sra. Marden à noite sobre o nosso casamento. Achamos que as férias de verão (o início dela) seria o melhor momento para o casamento. Por que deveríamos adiar? Eu nem mesmo gosto desses poucos meses. Ainda assim, como diz Sra. Marden, há um bom número de coisas a serem organizadas.

28 de março. Hipnotizado novamente pela Srta. Penclosa. Experimentei praticamente o mesmo que antes, exceto que fiquei inconsciente mais rapidamente. Veja o Caderno A para temperatura do quarto, pressão barométrica, pulsação e respiração obtidas pelo Professor Wilson.

29 de março. Hipnotizado novamente. Detalhes no Caderno A.

30 de março. Domingo, um dia em branco. Eu odeio qualquer interrupção nos nossos experimentos. No momento eles abrangem meramente os aspectos físicos, os quais se dão com leve, plena e extrema insensibilidade. Posteriormente nós esperamos passar para os fenômenos da sugestão e da lucidez. Professores têm demonstrado essas coisas atuando sobre mulheres em Nancy e no Salpetriere. Mas será mais convincente quando uma mulher demonstrar isso em um professor, com um segundo professor como testemunha. E que eu deveria ser a vítima – eu, o cético, o materialista! Pelo menos, eu mostrei que minha devoção à ciência é maior do que a minha própria coerência pessoal. A ingestão de nossas próprias palavras é o maior sacrifício que a verdade sempre exige de nós.

Meu vizinho, Charles Sadler, o belo jovem demonstrador de anatomia, veio nesta noite retornar um volume dos “Arquivos” de Virchow que eu havia emprestado a ele. Eu o chamo de novo, mas, na realidade, ele é um ano mais velho que eu.

"Eu entendo, Gilroy," ele disse, "que você está sendo testado por Srta. Penclosa.

"Bem", ele continuou, quando eu tinha confirmado, "se eu fosse você, eu não deixaria isso ir mais longe. Você vai achar que sou muito impertinente, sem dúvida, mas, não obstante, eu sinto que é o meu dever de aconselhá-lo a não ter mais nada a ver com ela".

É claro que eu perguntei-lhe porquê.

“Eu estou em uma situação na qual eu não posso entrar em detalhes tão livremente como eu gostaria.”, ele disse. “Srta. Penclosa é amiga de um amigo meu, e a minha posição é delicada. Eu só posso dizer uma coisa: que eu mesmo fui vítima de alguns dos seus experimentos, e que eles deixaram as impressões mais desagradáveis possíveis na minha mente.”

Ele dificilmente esperaria que eu ficasse satisfeito com aquilo, então continuei tentando obter algo mais específico dele, mas sem sucesso. É possível que ele estivesse com inveja pelo fato de eu o ter substituído? Ou ele é um daqueles cientistas que se sentem pessoalmente ofendidos quando fatos vão contra as suas opiniões preconcebidas? Ele não pode estar seriamente supondo que pelo fato de ele ter alguma reclamação vaga eu irei, portanto, abandonar uma série de experimentos que prometem ser tão produtivos. Ele parecia estar irritado com o modo como eu tratei seus avisos obscuros, e nós nos despedimos com uma certa frieza em ambos os lados.

31 de março. Hipnotizado por Srta. P.

1º de abril. Hipnotizado por Srta. P. (Caderno de anotações A)

2 de abril. Hipnotizado por Srta. P. (Tabela esfigmógrafa feita pelo Professor Wilson.)

3 de abril. É possível que esse processo de hipnotismo pode ser um pouco difícil para a estrutura em geral. Agatha diz que eu estou mais magro e com sombras debaixo dos olhos. Eu percebo uma certa ansiedade que eu não tinha percebido em mim antes. O menor barulho, por exemplo, me faz ficar alerta, e a estupidez de um estudante me causa raiva ao invés de diversão. Agatha deseja que eu pare, mas eu digo a ela que todo processo de estudo é complicado, e que ninguém pode alcançar um resultado sem ter que pagar algum preço por isso. Quando ela entender a importância que meu futuro artigo em "A Relação entre Mente e Matéria" pode ter, ela entenderá que um pouco de desgaste e ferimento vale a pena. Eu não ficaria surpreso se eu conseguir meu título de membro da Royal Society^2 com esse trabalho.

Hipnotizado novamente à noite. O efeito é produzido mais rapidamente agora, e as visões pessoais são menos notáveis. EU mantenho anotações completas de cada sessão. Wilson está partindo para a cidade por uma semana ou dez dias, mas nós não iremos interromper os experimentos, os quais dependem tanto das minhas sensações quando das suas observações.

4 de abril. Eu preciso estar cuidadosamente em guarda. Uma complicação com a qual eu não contava surgiu em nossos experimentos. Na minha ânsia por fatos científicos eu acabei ficando totalmente cego quanto as relações pessoais entre Srta. Penclosa e eu. Eu posso escrever aqui o que eu não diria para nenhuma alma viva. A mulher infeliz aparenta ter criado uma fixação por mim.

Eu não deveria dizer tal coisa, mesmo na privacidade do meu próprio diário, se isso não tivesse chegado ao ponto de ser algo impossível de ignorar. Por algum tempo, -- isto é, durante a última semana, -- houve sinais que eu preferi deixar de lado e me recusar a pensar neles. Seu resplendor quando eu chego, seu desânimo quando eu saio, seu desejo de que eu deveria ir constantemente, a expressão em seus olhos, o tom da sua voz -- eu tentei pensar que tudo isso não significava nada, e era, talvez, apenas seu intenso jeito Indiano Ocidental. Mas na noite de ontem, assim que eu acordei do sono hipnótico, eu estendi minha mão, inconscientemente, involuntariamente, e apertei a dela. Quando eu retomei completamente a consciência, estávamos sentados com as mãos presas, ela olhando para mim com um sorriso esperançoso. E o pior foi que eu me senti impelido a dizer o que ela esperava que eu dissesse. Que mentiroso deplorável eu teria sido! Como eu me detestaria agora se eu tivesse cedido à tentação daquele momento! Mas, graças a Deus, eu fui forte o suficiente para me levantar e ligeiramente sair daquele quarto.

(^2) Sociedade Inglesa dedicada à promoção da ciência e seus benefícios.

A noite passada foi pior que a anterior. Ao invés de partir eu na verdade permaneci sentado por um tempo com minha mão sobre a dela falando sobre os assuntos mais íntimos. Nós falamos sobre Agatha, entre outras coisas. Com o que eu poderia estar sonhando? Srta. Penclosa disse que ela era tradicional, e eu concordei com ela. Ela falou uma ou duas vezes dela de uma maneira depreciativa, eu não reclamei. Que criatura eu me tornei!

Eu tenho provado ser um fraco, mas eu ainda sou forte o suficiente para acabar com esse tipo de coisa. Isso não acontecerá novamente. Eu tenho consciência o suficiente para fugir quando eu não posso lutar. Desde domingo em diante eu nunca mais sentarei com Srta. Penclosa novamente. Nunca! Deixe os experimentos para lá, deixe a pesquisar chegar a um fim; qualquer coisa é melhor do que enfrentar essa tentação monstruosa que me deixa tão deprimido. Eu não disse nada para Srta. Penclosa, mas eu simplesmente permanecerei distante. Ela pode perceber a razão sem ouvir nenhuma palavra minha.

7 de abril. Permaneci longe como eu disse. É uma pena arruinar uma investigação tão interessante como essa, mas seria uma pena maior arruinar com a minha vida, e eu SEI que eu não posso confiar naquela mulher.

11 P.M. Deus me ajude! Qual o problema comigo? Estou ficando louco? Deixe-me tentar ficar calmo e raciocinar comigo mesmo. Primeiramente eu devo esclarecer exatamente o que aconteceu.

Eram quase oito quando escrevi as linhas com as quais o dia começou. Sentindo-me estranhamente inquieto e apreensivo, eu saí dos meus aposentos e gastei o fim de tarde caminhando com Agatha e sua mãe. Ambas notaram que eu estava pálido e abatido. Por volta das nove o Professor Pratt-Haldane chegou, e nós jogamos uíste^3. Eu tentei fortemente me concentrar nas cartas, mas o sentimento de cansaço crescia cada vez mais até que percebi que era impossível lutar contra ele. Eu simplesmente NÂO CONSEGUIA permanecer sentado na mesa. Até que finalmente, no meio de uma jogada, eu joguei minhas cartas sobre a mesa e, com algum tipo de desculpa incoerente sobre ter um compromisso, saí da sala rapidamente. Como em um sonho eu tenho uma vaga lembrança de passar pela sala, tirar meu chapéu da chapeleira, e bater a porta ao sair. Como em um sonho, também, eu tenho a impressão de que as duas fileiras de lâmpadas a gás, e as minhas botas respingadas me dizem que eu devo ter corrido pela estrada. Foi algo obscuro, estranho e anormal. Eu fui até a casa de Wilson; vi Sra. Wilson e Srta. Penclosa. Eu quase não lembro a respeito do que nós conversamos, mas eu lembro que Srta. Penclosa balançou a ponta de sua bengala em minha direção de uma maneira lúdica, e me acusou de estar atrasado e perder o interesse em nossos experimentos. Não houve hipnose, mas eu fiquei por um tempo e só agora retornei.

Meu cérebro está bastante lúcido agora, então eu posso analisar o que aconteceu. É um absurdo supor que isso é apenas fraqueza e força do hábito. Eu tentei explicar isso dessa forma na noite passada, mas essa explicação não é suficiente. É algo bem mais profundo e trágico do que isso. Por que, quando eu estava na mesa de uíste com Marden, eu fui arrastado como se um laço tivesse sido jogado em volta de mim. Eu não posso mais esconder isso de mim mesmo. Aquela mulher tem controle sobre mim. Eu estou em suas garras. Mas eu preciso manter a cabeça erguida, raciocinar e ver qual o melhor a ser feito.

Mas que cego cretino eu me tornei! No meu entusiasmo pela minha pesquisa eu caminhei direto para o abismo, apesar do mesmo jazer escancarado diante de mim. Será que ela mesma não me avisou? Será que ela não me contou, como eu posso ler no meu próprio diário, que quando ela adquirisse poder sobre sua vítima ela poderia incitá-la a fazer a sua vontade? E ela adquiriu tal

(^3) Jogo de cartas de duas duplas, com parceiros frente a frente. É similar ao jogo de copas.

poder sobre mim. No momento eu estou às ordens dessa criatura de bengala. Eu devo vir quando ela desejar. Devo agir como ela bem entender. O pior de tudo, eu devo me sentir como ela quiser. Eu a detesto e a temo, contudo, enquanto eu estiver sobre seu feitiço, ela pode sem dúvida fazer com que eu a ame.

Nesse caso, existe um tipo de consolação nesse pensamento, visto que aqueles impulsos hediondos pelos quais eu me culpo na verdade de forma alguma partem de mim. Todos eles são transmitidos por ela, assim como eu poderia ter imaginado no momento. Eu me sinto mais puro e mais leve devido a esse pensamento.

8 de abril. Sim, agora, em plena luz do dia, escrevendo tranquilamente e com tempo para refletir, eu sou forçado a confirmar tudo que escrevi em meu diário na noite passada. Eu estou em uma situação terrível, mas, acima de tudo, eu não devo perder a cabeça. Eu preciso opor meu intelecto contra seus poderes. No final das contas, eu não sou um fantoche estúpido, a ponto de dançar na extremidade de uma corda. Eu tenho energia, cérebro, coragem. Mesmo com todos os seus truques demoníacos eu posso vencê-la. Posso! Eu DEVO, ou o que será de mim?

Deixe-me raciocinar! Esta mulher, de acordo com sua própria explicação, pode dominar meu sistema nervoso. Ela pode se projetar dentro do meu corpo e tomar o controle dele. Ela tem uma alma parasita; sim, ela é um parasita, um parasita monstruoso. Ela se arrasta para dentro do meu corpo assim como o caranguejo ermitão^4 se aloja em uma concha. Eu estou impotente. O que eu posso fazer? Estou lidando com forças das quais eu não tenho conhecimento. E eu não posso contar meu problema a ninguém. Eles me tachariam como louco. Certamente, se isso se espalhasse, a universidade diria que eles não precisam de um professor endemoniado. E Agatha! Não, não, eu preciso enfrentar isso sozinho.

(^4) Tipo de caranguejo com abdômen mole e sem carapaça protetora, por isso costuma procurar conchas vazias e passar a usá-las

como seu abrigo.

Armstrongs, de quem Agatha tem expectativas, devem voltar de Adelaide e estar em casa durante a Aurora, e que eles escreveram para Sra. Marden e para ela a fim de que os encontrassem na cidade. Elas provavelmente ficarão fora por um mês ou seis semanas, e, como espera-se que a Aurora seja na Quarta-feira, elas devem partir imediatamente amanhã, se estiverem prontas a tempo. Meu conforto é que quando nos encontrarmos novamente não haverá mais separação entre mim e Agatha.

"Eu quero que você faça uma coisa, Agatha", eu disse, quando nós estávamos a sós. "Se acontecer de você encontrar Srta. Penclosa, tanto aqui quanto na cidade, você deve me prometer que nunca mais permitirá que ela lhe hipnotize."

Agatha abriu seus olhos.

"Ora, um dia desses você estava dizendo como era tudo isso era interessante, e quão determinado você estava em terminar seus experimentos."

"Eu sei, mas eu mudei de ideia desde então."

"E você também não o fará mais?"

"Não."

"Fico feliz, Austin. Você não imagina o quão pálido e exausto você parece ultimamente. Essa era nossa principal objeção em ir a Londres agora que nós não queríamos te deixar num momento em que você estava tão cabisbaixo. E o seu comportamento tem sido tão estranho ocasionalmente -- especialmente naquela noite quando você deixou o pobre Professor Pratt- Haldane para agir brincar de marionete. Eu estou convencida de que esses experimentos são muito ruins para os seus nervos."

"Eu também acho, querida."

"E para os nervos de Srta. Penclosa também. Você ouviu que ela está doente?"

"Não."

"Sra. Wilson nos contou ontem à noite. Ela descreveu os sintomas como uma febre nervosa. Professor Wilson está voltando esta semana, e claro Sra. Wilson está bastante ansiosa para que Srta. Penclosa melhore até lá, visto que ele tem um programa inteiro de experimentos que ele está ansioso para realizar."

Eu estava feliz por ter a promessa de Agatha, pois era suficiente que essa mulher tivesse um de nós sob o seu controle. Por outro lado, eu estava incomodado em ouvir sobre a enfermidade de Srta. Penclosa. É algo que de certa forma diminui a vitória que eu pareci ter na noite passada. Eu lembro que ela disse que perda de saúde interferia em seus poderes. Esse pode ser um motivo pelo qual eu fui capaz de me conter tão facilmente. Ora, ora, eu preciso ter a mesma precaução hoje à noite e ver o que acontece. Eu fico extremamente assustado quando eu penso nela.

10 de abril. Tudo ocorreu perfeitamente bem na noite passada. Achei engraçado a expressão no rosto do jardineiro quando eu tive que chamá-lo esta manhã para pedir que me jogasse minha chave. Eu devo escolher um dos criados caso este tipo de coisa continue. Mas o ponto positivo é que eu permaneci no meu quarto sem a menor intenção de deixá-lo. Eu acredito que eu esteja me livrando deste vínculo incrível -- ou isso é apenas o poder daquela mulher que encontra-se suspenso até que ela recupere sua força? Eu não posso fazer nada além de rezar para o melhor.

Os Mardens partiram esta manhã, e o brilho parece ter desaparecido do nascer do sol da primavera. Mesmo assim ainda é muito bonito quando ele brilha sobre as castanhas verdes em frente a minha janela, e dá um toque de alegria às paredes maciças, cheias de líquen dos colégios antigos. Quão doce, gentil e suave é a natureza! Quem imaginaria que também existem tais forças abomináveis e possibilidades hediondas escondidas nela. Porque com certeza eu sei que essa coisa terrível que tem nasceu em mim não é nem sobrenatural nem mesmo preternatural. Não, é uma força natural que essa mulher pode usar e a sociedade não tem conhecimento da mesma. O simples fato de que isso consome a força dela mostra como isso é inteiramente um objeto de estudo para as leis da física. Se eu tivesse tempo, eu poderia investigá-la profundamente e ter em mãos um antídoto. Mas você não pode domesticar o tigre quando você está debaixo de suas garras. Não há nada a fazer além de tentar se arrastar para longe dele. Ah, quando eu me olho no espelho e vejo meus próprios olhos escuros e rosto hispânico nítido, eu anseio por um espirro agressivo ou um período com varíola. Um ou o outro poderia ter me salvado dessa calamidade.

Eu estou tentado a achar que eu posso ter problemas esta noite. Existem duas coisas que me fazem sentir assim. Uma é que eu encontrei Sra. Wilson na rua, e ela me contou que Srta. Penclosa está melhor, embora ainda esteja fraca. Eu desejava do fundo do coração que aquela enfermidade tivesse sido sua última. A outra é que Professor Wilson retorna dentro de um ou dois dias, e sua presença atuaria como uma restrição a ela. Eu não deveria temer nossos encontros se uma terceira pessoa estivesse presente. Por ambos motivos eu tenho um pressentimento de problemas esta noite, e por isso tomarei as mesmas precauções de antes.

1o de abril. Não, graças a Deus, tudo ocorreu bem na noite passada. Eu realmente não poderia encarar o jardineiro novamente. Eu tranquei minha porta a empurrei a chave por baixo dela, por isso eu tive que pedir para a empregada me deixar sair do quarto pela manhã. Mas de fato aquela precaução não era necessária, pois eu não tive nenhuma predisposição a sair. Três noites seguidas em casa! Certamente eu estou próximo ao fim dos meus problemas, pois Wilson estará em casa novamente hoje ou amanhã. Será que devo contar a ele pelo que eu tenho passado ou não? Eu estou convencido de que eu não terei a menor compreensão da parte dele. Ele olharia para mim como um caso interessante, e leria um artigo sobre mim no próximo encontro da Sociedade de Psiquiatria, na qual ele iria discutir seriamente a possibilidade de eu ser um mentiroso deliberado, e avaliar isto em função das chances de eu estar em um estágio de loucura precoce. Não, eu não obterei conforto da parte de Wilson.

Estou me sentindo maravilhosamente bem e saudável. Eu acho que eu nunca lecionei com um temperamento melhor que este. Oh, como eu seria feliz se eu pudesse pelo menos tirar essa sombra da minha vida! Jovem, consideravelmente saudável, no principal posto da minha profissão, noivo de uma linda e charmosa mulher -- eu tenho tudo que um homem poderia querer, não tenho? Há apenas uma coisa que me incomoda, mas que coisa!

Meia-noite. Eu vou ficar louco. Sim, esse será o fim de tudo. Eu ficarei louco. Eu não estou longe disso. Minha cabeça começa a vibrar quando eu a repouso sobre minha mão quente. Estou me tremendo todo como um cavalo apavorado. Oh, que noite eu tive! E ainda assim eu também tenho alguns objetivos a serem satisfeitos.

Correndo o risco de me tornar o motivo de chacota da minha própria empregada, eu joguei a chave por baixo da porta novamente, aprisionando-me durante a noite. Logo, achando que era muito cedo para dormir, eu me deitei ainda vestido e comecei a ler um dos romances de Dumas. Repentinamente eu fui agarrado -- agarrado e puxado do sofá. Esse é o único jeito que consigo descrever a natureza avassaladora da força que se lançou sobre mim. Eu me agarrei à colcha. Agarrei-me ao suporte de madeira. Eu acredito que gritei de tanta agitação. Tudo aquilo foi inútil e desesperado. Eu PRECISAVA ir. Não tinha como evitar. Foi apenas no início que eu resisti. A força rapidamente se tornou muito dominante. Agradeço a Deus por não haver ninguém para me