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Este artigo, de cunho teórico, pretende refletir sobre a concepção de arte apresentada pelo psicólogo russo Lev Semionovich Vigotski na obra Psicologia da ...
Tipologia: Exercícios
Compartilhado em 07/11/2022
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Art and catharsis for Vigotski in Psychology of Art ABSTRACT This theoretical article intends to reflect on the conception of art presented by the Russian psychologist Lev Semionovich Vigotski in the work Psychology of Art. The study highlights the importance of art as mediation for human emotional expression and reprocessing, through the aesthetic reaction expressed by catharsis in artistic appreciation. From the contributions of Vygotsky, the creative and transformative potential of man on the work of art is emphasized, favoring human resignification in its cultural and historical context. In this sense, the role of art and artistic experience as essential instruments to modern society is emphasized for the reconnection with the sensitive and subjective aspects that integrate the human psyche. Keywords: Art; Catharsis; Vygotsky.
da Psicologia é inestimável. Fundador da Psicologia Histórico-Cultural, muitos concei tos desenvolvidos por ele são considerados diretrizes para a compreensão do homem enquanto ser de relações, que modifica e também é transformado pelo ambiente com o qual se relaciona. Vigotski dedicou-se a diversos objetos de estudo, muitos dos quais não foram profundamente delineados devido à sua morte precoce, den tre os quais pode-se citar a definição da psicologia enquanto ciência, a consciência, o pensamento e a linguagem, o processo educativo e a educação de pessoas com deficiência. Cabe destacar, contudo, as contribuições do autor ao contexto da arte – desde o início de sua carreira e ao longo de toda a sua vida, Vigotski sempre nutriu grande interesse pelas questões artísticas, razão pela qual inicialmente aproximou-se da Psicologia. Lev Semionovitch Vigotski nasceu em 5 de novembro de 1896, na cidade de Orsha, mas sua família se mudou para Gomel durante seu primeiro ano de vida. Segundo entre oito filhos de uma família judia, Vigotski cresceu em um contexto cultural mente privilegiado e sua família era considerada uma das mais instruídas da cidade (Vygodskaya, 1995). Embora preferisse literatura e filosofia, essas áreas lhe permitiriam somente exercer o cargo público de professor – o que era proibido para judeus, na Rússia czarista (Prestes, 2010a; Vygodskaya, 1995). Dessa forma, considerando essas restrições e atendendo ao pedido de seus pais, Vigotski começou a cursar Medicina em Mos cou, transferindo-se logo depois para o curso de Direito. Paralelamente, iniciou os estudos de História e Filosofia na Universidade de Shanavsky, instituição não oficial prestigiada por acolher a diversidade política e religiosa. Foi nesse período que seu interesse pela área da Psicologia foi despertado – desde então, Vigotski nunca inter rompeu os estudos nessa área (Vygodskaya, 1995). A gama de interesses de Vigotski era ampla: “poesia, teatro, língua e problemas dos signos e da significação, teorias da literatura, cinema, problemas de história e de-----
Embora incialmente tenha demonstrado interesse pela Psicanálise, vida, Vigotski (1965/1999b) estabeleceu seu próprio posicionamento frente às ques tões defendidas por essa abordagem, discordando de diversos de seus pressupos tos – opondo-se, entre outros aspectos, “ao caráter universal e a-histórico dado por Freud ao inconsciente” (González Rey, 2018, p. 349). É preciso frisar, no entanto, que “embora tenha ficado cada vez mais crítico quanto a muitos dos conceitos de Freud, Vygotsky ainda valorizava profundamente seu trabalho” (Van Der Veer & Valsiner, 2014, p. 117). Vigotski (1965/1999b) critica a concepção psicanalítica da consciência como um processo passivo em relação ao inconsciente ao alertar que esta abordagem aca bava “reduzindo o papel da consciência a zero e reconhecendo para ela apenas a capacidade de servir de instrumento cego nas mãos do inconsciente” (Vigotski, 1965/1999b, p. 93). Aponta também a importância excessiva atribuída aos eventos relacionados à sexualidade e à infância, afirmando que a psicanálise busca “redu zir a qualquer custo todas as manifestações do psiquismo humano à mera atração sexual” (Vigotski, 1965/1999b, p. 92). Em relação aos aspectos de forma e conte údo da arte, Vigotski (1965/1999b) denuncia a ênfase da Psicanálise sobre o conte údo, sendo incapaz de explicar a questão da forma. Segundo o autor, a Psicanálise restringe a criação artística à esfera individual e é incapaz de explicar a evolução histórica e social das artes, “porque desse ponto de vista a arte sempre foi, dos primórdios aos nossos dias, uma expressão permanente dos instintos mais antigos e conservadores” (Vigotski, 1965/1999b, p. 92). A arte, segundo o autor, nunca reflete a realidade toda em sua plenitude e verdade real; é um produto sumamente complexo de elementos da realidade, resultado da incorporação à realidade de ele mentos inteiramente estranhos a ela. Vigotski (1965/1999b) elenca três elementos constituintes da obra de arte: forma externa (material de base), forma interna (a forma definida pelo artista) e conteúdo (o que a obra representa); para o autor, a arte consiste no amálgama desses três ele ao longo de sua - -------
A vivência artística permite a significação dos conteúdos inconscientes que são trazi dos à consciência e transformados, criando algo novo e solucionando o conflito (San tos & Leão, 2014). Nesse aspecto reside uma crítica do autor em relação ao uso da arte no contexto educacional, quanto às possíveis conclusões morais em que sempre se procurou enquadrar qualquer vivência estética na escola – ignorando inteiramente o fator psicológico das possíveis e diversas interpretações da arte. A análise da estrutura dos estímulos da arte, ou seja, os mecanismos que com põem a obra artística, evidencia os sentidos e permite a recriação da estrutura das respostas pelo indivíduo através de mecanismos psicológicos. Dessa forma, para Vigotski (1965/1999b), a análise da resposta estética envolve a contradição dialética entre forma e conteúdo, criando uma dinâmica qualitativamente diferente sobre a qual se fundamentam os processos psicológicos determinantes da psicologia da arte (Namura, 2007). Vigotski (1965/1999b) rejeita uma compreensão intelectualizada do fenômeno artístico, ou seja, a ideia de que a arte é compreendida apenas pelo pensamento; mais do que isso, a arte permite ultrapassar o pensamento, gerando emoções que o próprio espectador não é capaz de definir ou explicar. As emoções suscita das pela arte não podem ser explicadas por seus elementos isoladamente, mas somente pelo produto que o conjunto da obra produz – pois, além do pensamento, a arte envolve diretamente o sentimento. Desse modo, o autor aponta que a ideia de que a vivência artística é absolutamente passiva, comum no contexto da edu cação estética de sua época, é errônea. Tão logo o fruidor entre no papel ativo de participante da obra de arte por ele percebida, o campo da estética é abandonado e a percepção da arte passa a envolver uma postura ativa do sujeito – assim, ela chega por meio dos órgãos dos sentidos, mas também é percebida através de uma atividade interior sumamente complexa, na qual ouvir ou ver são somente os impulsos básicos iniciais. Envolve, para além da percepção, também a emoção de cada pessoa. Dessa maneira, as múltiplas interpretações que se atribui às obras - ---- de arte não são apenas juízos cognitivos, senão atos emocionais do pensamento:
(p. 315). O social desvela-se na intencionalidade conscientemente determinada pelo artista em sua criação, organizada justamente com o intuito de provocar uma deter minada reação estética no público. Dessa forma, individual e social relacionam-se em um indivisível e contínuo processo dialético (Barroco & Superti, 2014; Japiassu, 1999). A arte, compreendida sob este ponto de vista, não é produto individual, mas incorpora-se à história da humanidade, possibilitando a vivência por meio indireto das emoções e das relações que se estabelecem socialmente (Barroco & Superti, 2014; Guimarães, 2000). Assim, a arte constitui um meio psicológico para criar equi líbrio sobre o comportamento; aparece, dessa forma, como um complemento da vida, a expandir as suas possibilidades. A criação artística, para Vigotski (1965/1999b), não visa transmitir os sentimentos particulares do autor para o fruidor; vai além das emoções individuais, generalizan do-as em um plano social no qual são reelaboradas e transformadas, revelando algo inteiramente novo que não pode ser encontrado diretamente na obra, mas só pode ser objetivado concretamente nas relações humanas com a mediação da arte (Magio lino, 2014; Schühli, 2011; Zanatta & Silva, 2017). Essa mediação, segundo Vigotski (1965/1999b), ocorre por meio da catarse. Reflexões sobre a catarse Na obra reflexões sobre o termo em outros autores e apresentando sua própria formulação do conceito. Vigotski (1965/1999b) inicia revisando a definição de Aristóteles (335a.C.?/2008), segundo a qual a catarse é o efeito emocional da tragédia sobre o espectador que, identificando-se com as personagens, sentiria piedade e terror (Barros et al, 2011; Psicologia da Arte , Vigotski (1965/1999b) discorre sobre a catarse, tecendo----
É a catarse que suscita o prazer na arte. Seguindo o mesmo princípio de transforma ção pelos opostos, a arte sempre destrói o conteúdo por meio da forma, sendo essa a base da reação estética. Vigotski (1965/1999b) utiliza elementos do teatro e da literatura para demonstrar como ocorre a reação estética, esclarecendo que toda obra artística se caracteriza pela são submetidas a certa descarga, à sua destruição e transformação em contrários” (p. 270). Vigotski (1965/1999b) enfatiza que a produção artística busca causar uma reação estética no público, produzida pelo choque entre situações que se opõem em um conflito emocional na obra de arte. A catarse é, portanto, desencadeada por uma contradição emocional presente em todas as formas de arte, e se manifesta em diferentes expressões artísticas. Essa contradição dialética é evidenciada de diferen tes formas. Na poesia, esse processo revela-se tanto na oposição entre o ritmo e as palavras como pela exposição de sentimentos antagônicos no texto. Em gêneros literários como o drama, o romance, a tragédia e a comédia, a contradição emocional é evidenciada na descrição do personagem central (o herói), que ao longo da trama pode revelar posições ambíguas, ou mesmo por meio de um desfecho desconcertante para o leitor. Na pintura, os elementos de contraposição entre formas e valores levam à superação através da catarse. De forma semelhante isso ocorre na arquitetura e na escultura, quando elementos artificiais representam os naturais e estruturas físi cas pesadas remetem a ideias etéreas de leveza. Em todas essas diferentes formas de produção artística sempre se constatará a duplicidade, em uma luta de opostos solucionada pela catarse, que é exatamente o elemento que confere prazer à fruição artística e sem o qual não existe arte. Dessa forma, a partir de uma concepção materialista dialética, Vigotski (1965/1999b) compreende que a obra de arte sempre gera sentimentos contraditórios. Em qual quer expressão artística, a reação estética define-se sempre como o produto da superação da contradição dialética entre conteúdo e forma, entre dois polos anta reação estética gerada quando “as emoções angustiantes e desagradáveis-----
processo cuja natureza é social. Ao agir sobre sua realidade, o homem modifica a natureza, criando instrumentos simbólicos que o auxiliem em seu processo de domínio e transformação. Constrói, dessa forma, um ambiente que extrapola as determinações naturais, sendo determinado não somente por seus aspectos indi viduais, mas pelas influências culturais e históricas que permeiam sua sociedade (Japiassu, 1999; Santos & Leão, 2014). A arte é compreendida por Vygotski (1965/1999b) enquanto produto e processo do trabalho humano, constituindo-se em uma ação intencional. A objetivação dos sentimentos proporcionada pela ação criadora da obra artística permite a recriação de si mesmo e a transformação da natureza e da realidade, reafirmando o cará ter histórico e social do psiquismo humano (Barroco & Superti, 2014; Guimarães, 2000; Japiassu, 1999). Psicologia da Arte cologia e apresenta importantes contribuições para a compreensão do potencial da arte como instrumento psicológico promotor da catarse. Enquanto produção humana inserida no seio das relações sociais, a arte tem o poder de suscitar vivências mobi lizadoras de emoção que possibilitam a geração de novas formas de sentir e estar no mundo. A fruição da obra de arte sensibiliza o sujeito; a catarse promovida por essa fruição conduz à produção de novos sentidos, que geram a ressignificação de si mesmo e ao outro. A psicologia da arte contemporânea precisa de maiores estudos sobre a percepção, sobre as emoções, sobre a imaginação e a fantasia. A resposta da psicologia da arte começa pela percepção, mas não termina nela; certamente, todos os sistemas psi cológicos se revestem de diferentes combinações para buscar explicar a catarse. A partir dos pressupostos de Vygotski (1965/1999b) abre-se para a atuação do psicó logo um novo campo a partir do qual, por meio da mobilização emocional, é possível construir formas qualitativamente novas de pensar, ser e sentir. Considerando que a marca a aproximação inicial de Vygotski (1965/1999b) da Psi - -----
O estudo do conceito de catarse para Vygotski (1965/1999b) revela a importância de que a arte transcenda as emoções da vida cotidiana. A Psicologia, enquanto ciência voltada ao desenvolvimento e às relações humanas, precisa também se apropriar do potencial da arte enquanto promotor do estabelecimento de novas e transformadas relações do sujeito consigo mesmo e com o meio, possibilitando novas formas de interagir, ser e sentir. A catarse promovida pelo encontro com a arte tem justamente esse potencial: estimulando o desenvolvimento de novos sentidos, a ação criadora do homem sobre a obra artística deve proporcionar trans formações qualitativas que levem à ressignificação do indivíduo em seu contexto histórico e cultural. Surpreendentemente, as reflexões realizadas há quase cem 100 anos em logia da Arte na qual se prima pelo consumo instantâneo, pela agilidade das informações e pela defesa de uma aldeia global, a superficialidade das relações denuncia o distancia mento alarmante da subjetividade e o empobrecimento sensível e afetivo da vida moderna. A sociedade atual precisa redescobrir o potencial criador da arte, promotor de desenvolvimento pessoal e social, e criador de novas formas de subjetivação e de compreensão da realidade. A Psicologia pode – e deve – contribuir para esse processo, promovendo o reencontro do homem com as próprias emoções através da catarse gerada nas diversas possi bilidades de fruição artística que a sociedade atual oferece. Se a arte “é um meio de equilibrar o homem com o mundo nos momentos mais críticos e responsáveis da vida” (Vygotski, 1965/1999b, p. 329), urge, nos tempos atuais, realizar uma rea proximação com a arte. É preciso criar e fortalecer espaços para a vivência estética, possibilitando ao indivíduo um reencontro com as próprias emoções, reconectando -se com seus aspectos de sensibilidade e criatividade. permanecem ainda – e cada vez mais – atuais. Em uma sociedade Psico- - ----
Santos, L. G., & Leão, I. B. (2014). O inconsciente sócio-histórico: Aproximações Schühli, V. M. (2011). Shakespeare, W. (1997). Van Der Veer, R., & Valsiner, J. (2014). Vygodskaya, G. L. (1995). His Life. Vigotski, L. S. (1999b). Vigotski, L. S. (2004). Wedekin, L. M. (2015). O trágico em Vygotski e Filonov.^ a^ https://doi.org/10.7213/psicol.argum.32.S01.AO09 de org/10.1590/S0102-71822014000600005 individualidade para-si: A catarse como categoria psicológica mediadora segundo Vygotski e Lukács Psicologia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR. (Original publicado em 1601). Trad.). São Paulo, SP: Loyola. Fontes. (Original publicado em 1965). SP: Martins Fontes. (Original publicado em 1924).^ partirum conceito.^ de^ Vygotsky (^) Psicologia (^) (Dissertação de Mestrado). Programa de Pós-graduação em A dimensão formativa da arte no processo de construção da (^) Psicologia pedagógicaPsicologia da arte Hamlet e^ Bakhtin. & (^) (M. Fernandes, Trad.). Porto Alegre, RS: L&PM. School Psychology InternationalSociedade Vygotsky: Uma síntese^ Psicologia (P. Bezerra, Trad.). São Paulo, SP: Martins ,(2a ed., P. Bezerra, Trad.). São Paulo, 26 (n.^ Argumento Esp. Ouvirouver 2), (7a ed., C. C. Bartalotti, ,38–47.^^32 ,, 1611 (79),(2), 105–116.(1), 238–256. https://doi.^ 97–107.
I. Doutoranda. Mestre em Educação. Universidade Federal do Paraná (UFPR). Curitiba. Estado do Paraná. Brasil. II. Docente. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia e Sociedade/Departamento de Estudos Sociais. Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Curitiba. Estado do Paraná. Brasil. III. Docente. Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Paraná (UTP). Curitiba. Estado do Paraná. Brasil. (UFPR). Mestrado em Psicologia Social Comunitária. Universidade Tuiuti