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Eficiência do Capim-Mombacá: Altura, Interceptação Luminosa e Lotação, Manuais, Projetos, Pesquisas de Engenharia Agronômica

Este documento discute o objetivo de maximizar a produtividade de forragens em pastagens de capim-mombacá através do aumento da produtividade das forrageiras, eficiência da colheita, melhoria da conversão de forragem em produto animal e a relação entre altura de pasto, interceptação luminosa e taxa de lotação. Resultados de estudos que demonstram a importância de manter uma interceptação luminosa de 95%, a eficiência de pastagem com alturas de 25 e 50 cm pós-pastejo e a relação entre taxas de lotação e ganho de peso por área.

O que você vai aprender

  • Como a taxa de lotação afeta a produtividade de forragens em pastagens de capim-mombacá?
  • Qual é o objetivo de maximizar a produtividade de forragens em pastagens de capim-mombacá?
  • Como a interceptação luminosa afeta a produtividade de forragens em pastagens de capim-mombacá?
  • Quais são as principais estratégias de manejo de pastagens de capim-mombacá para maximizar a produtividade de forragens?
  • Quais são as alturas de pasto recomendadas para maximizar a produtividade de forragens em pastagens de capim-mombacá?

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2020

Compartilhado em 25/02/2020

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I SIMBOV I Simpósio Matogrossense de bovinocultura de corte
MANEJO DE GRAMÍNEAS TROPICAIS SOB PASTEJO INTENSIVO
Anderson de Moura Zanine1; Alexandre Lima de Souza1; Braulio Maia de Lana
Sousa2, Daniele de Jesus Ferreira2; Fagton de Mattos Negrão3, Emerson
Alencar Bonelli3
1Prof. Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso. Pesquisador do Cnpq.
E-mail: andersonzanine@ufmt.br; Alexandre@ufmt.br
2Doutorando da Universidade Federal de Viçosa.
3Mestrando da Universidade Federal de Mato Grosso.
1. Introdução
A atividade pecuária brasileira tem sua sustentabilidade baseada no uso
do pasto como principal fonte de alimento. Notoriamente, as condições
ambientais e a vasta extensão territorial do País, aliado ao fato de que a
colheita de forragem é realizada pelo próprio animal em pastejo, fazem com
que os custos de produção em pastos sejam relativamente baixos e, por
consequência, torna a produção de carne bovina competitiva.
Esses fatores contribuem para colocar o Brasil em posição de destaque
no cenário internacional, como um dos maiores exportadores de carne bovina
do mundo. Contudo, apesar desse aparente sucesso, observa-se que a maior
parte das propriedades rurais os índices zootécnicos dos rebanhos ainda
deixam muito a desejar. Assim, interesse crescente tem ocorrido no sentido de
aumentar a produtividade e a lucratividade da atividade e, consequentemente,
sua competitividade, por meio da intensificação do processo produtivo.
Comumente, a intensificação tem sido confundida como sendo resultado
apenas do uso generoso de insumos e investimentos em máquinas e
equipamentos, o que nem sempre resulta nos benefícios idealizados, gerando
frustrações e descrença no uso de tecnologia. Na realidade, intensificar
significa obter o maior rendimento possível por unidade de recurso produtivo
disponível, independente dos quantitativos adicionados e dos métodos de
pastejos adotados. Portanto, o processo de intensificação está muito mais
relacionado com o nível de adoção e abrangência dos conhecimentos
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Baixe Eficiência do Capim-Mombacá: Altura, Interceptação Luminosa e Lotação e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Engenharia Agronômica, somente na Docsity!

MANEJO DE GRAMÍNEAS TROPICAIS SOB PASTEJO INTENSIVO

Anderson de Moura Zanine^1 ; Alexandre Lima de Souza^1 ; Braulio Maia de Lana Sousa^2 , Daniele de Jesus Ferreira^2 ; Fagton de Mattos Negrão^3 , Emerson Alencar Bonelli^3

(^1) Prof. Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso. Pesquisador do Cnpq.

E-mail: andersonzanine@ufmt.br; Alexandre@ufmt.br (^2) Doutorando da Universidade Federal de Viçosa. (^3) Mestrando da Universidade Federal de Mato Grosso.

1. Introdução

A atividade pecuária brasileira tem sua sustentabilidade baseada no uso do pasto como principal fonte de alimento. Notoriamente, as condições ambientais e a vasta extensão territorial do País, aliado ao fato de que a colheita de forragem é realizada pelo próprio animal em pastejo, fazem com que os custos de produção em pastos sejam relativamente baixos e, por consequência, torna a produção de carne bovina competitiva. Esses fatores contribuem para colocar o Brasil em posição de destaque no cenário internacional, como um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo. Contudo, apesar desse aparente sucesso, observa-se que a maior parte das propriedades rurais os índices zootécnicos dos rebanhos ainda deixam muito a desejar. Assim, interesse crescente tem ocorrido no sentido de aumentar a produtividade e a lucratividade da atividade e, consequentemente, sua competitividade, por meio da intensificação do processo produtivo. Comumente, a intensificação tem sido confundida como sendo resultado apenas do uso generoso de insumos e investimentos em máquinas e equipamentos, o que nem sempre resulta nos benefícios idealizados, gerando frustrações e descrença no uso de tecnologia. Na realidade, intensificar significa obter o maior rendimento possível por unidade de recurso produtivo disponível, independente dos quantitativos adicionados e dos métodos de pastejos adotados. Portanto, o processo de intensificação está muito mais relacionado com o nível de adoção e abrangência dos conhecimentos

aplicados no gerenciamento do sistema de produção do que com o nível de investimento financeiro ou de utilização de recursos externos (CARVALHO, 2005; DA SILVA, 2006), fato que exige atenção de técnicos e produtores para a exploração racional e sustentável do ecossistema pastagem. Nesse contexto, a adoção de técnicas que proporcione melhoria na eficiência do pastejo se insere perfeitamente no conceito de intensificação do sistema de produção e ao mesmo tempo não acarreta em dispêndio de insumos agrícolas ou mesmo no aumento da mão-de-obra contratada, mas apresentam reflexos positivos na produtividade e na lucratividade da propriedade rural.

2. Ecossistema pastagem

A produção animal a pasto pode ser entendida, do ponto de vista de funcionamento, como resultado de três etapas interdependentes: crescimento, utilização e conversão (Figura 1) (HODGSON, 1990). A fixação de energia proveniente da radiação solar e sua transformação em tecido vegetal são processos responsáveis pela produção de forragem e correspondem à etapa de crescimento. Essa forragem produzida necessita ser colhida por meio do pastejo, caracterizando a etapa de utilização. Por fim, a forragem produzida precisa ser transformada em produto de origem animal em uma etapa denominada conversão.

Figura 1. Representação das etapas da produção animal em pastagens (Adaptado de HODGSON, 1990).

processo dinâmico exige conhecimento integrada das respostas morfogênicas e estruturais, composição morfológica e produtividade do dossel, sendo os parâmetros principais para a recomendação do manejo intensivo do pastejo.

3.1. Sistema de lotação rotativa

A etapa de utilização é a que permite maior possibilidade de manipulação por parte do manejador, razão pela qual a colheita eficiente da forragem deve ser o primeiro passo para intensificar a produção animal. Nesse sentido, avaliações de forrageiras de clima temperado submetidas a variações de freqüências e a severidades de pastejos vêm sendo realizadas a mais de 50 anos. Recentemente, esses estudos foram introduzidos com sucesso no Brasil, mostrando que gramíneas de clima tropical apresentam padrões de crescimento e desenvolvimento semelhantes, porém com magnitudes distintas, ao de gramíneas de clima temperado (NASCIMENTO JÚNIOR et al., 2010). As folhas, responsáveis pela interceptação da luz e produção de fotoassimilados, são as primeiras e mais importantes estruturas a serem formadas durante o processo de rebrotação. Este padrão de crescimento permite rápida recuperação da área foliar e um rápido acúmulo de biomassa. Na medida em que a competição intra-específica por luz aumenta, reduz-se a quantidade e a qualidade da luz que chega ao interior do dossel. Nesse momento, as forrageiras tropicais investem em alongamento de entrenós na tentativa de alocar suas folhas no topo do dossel (HODGSON & Da SILVA, 2002), ao mesmo tempo em que os processos de senescência e morte de folhas e perfilhos acentuam-se em razão do sombreamento (ZANINE & SANTOS, 2004). Essa condição em que ocorre modificação nos padrões de desenvolvimento coincide com a interceptação de 95% da luz incidente pelo dossel (KORTE et al., 1982; CARNEVALLI et al., 2006; BARBOSA et al., 2007; ZANINE, 2007), razão pela qual tem sido considerado o momento ideal para a interrupção da rebrotação em gramíneas de clima tropical e temperado. Pastos manejados com o critério de 95% de interceptação luminosa apresentam maior número de pastejos, acúmulo de forragem de maior valor nutricional e menores perdas de forragem, devido principalmente a maior

proporção de folhas e menor proporção de colmos e material senescente (Tabela 1) (BUENO, 2003).

Tabela 1. Composição morfológica (%) da forragem em pastos de capim- mombaça submetidos a regimes de lotação rotativa. Componente 95 Interceptação luminosa (%) 100

Folha 82,9 a 74,4 b Colmo 8,0 b 14,7 a Material morto 6,5 b 9,7 a Médias na mesma linha seguidas de letras distintas diferem entre si (P>0,10). Fonte: Adaptado de BUENO (2003)

Essa relação causa-efeito ocorre devido a essa estratégia de manejo, proporcionar forragem de alta qualidade, uma vez que ao comparar lâmina e colmos em um mesmo estágio de desenvolvimento a lâmina foliar é o componente morfológico da planta que possui melhor valor nutritivo (PACIULLO et al., 2002). Ao avaliarem os componentes morfológicos do capim-tanzânia ZANINE et al. (2007), observaram maiores valores de proteína bruta menores valores de fibra em detergente neutro e ácido para folhas em expansão e expandida quando comparados as folhas em senescência e no colmo. Os autores concluíram que no âmbito nutricional, existe uma hierarquia decrescente do valor bromatológico: folha em expansão, folha expandida, colmo e material senescente (Tabela 2). Por isso, o manejo intensivo de desfolhação é uma situação pontual que favorece o desempenho animal a pasto (EUCLIDES et al., 1999), já que o consumo máximo ocorre quando os animais estão em pastos com alta densidade de folhas expandidas ou em expansão.

Tabela 2. Teores de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) na folha em expansão, folha expandida, folha senescente, colmo e planta inteira. Separação PB FDN FDA

Tabela 3. Porcentagem de proteína bruta (PB) e digestibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO) na massa de forragem, em pré-pastejo, de capim-mombaça submetidos a regimes de lotação intermitente. Interceptação luminosa (%) 95 100 Época do ano PB (%) Média Verão 11,3Aa 9,7 Ab 10,5 A Outono/Inverno 10,9 Aa 9,0 ABb 9,9 AB Primavera 11,4 Aa 8,2 Bb 9,8 B Média 11,2 a 9,0 b DIVMO (%) Verão 59,9 Ba 56,6 Ab 58,3 A Outono/Inverno 52,4 Ca 53,0 Ba 52,7 B Primavera 61,9 Aa 5,3 ABb 58,6 A Média 58,1 a 55,0 b Médias seguidas da mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem entre si (P>0,10). Fonte: Adaptado de BUENO (2003) Essa maior produção e melhor valor nutricional dos pastos com metas distintas de manejo baseados na frequência e intensidade de desfolhação com base na interceptação luminosa podem ser refletidas em produção animal. VOLTOLINI et al. (2010b) relataram que a utilização do capim-elefante com 95% de interceptação de luz aumentou a taxa de acúmulo de forragem, reduziu a quantidade de colmos e material morto, bem como diminuiu os valores de fibras em detergente neutro e ácido (Tabela 4), o que pode favorecer o consumo e o desempenho animal. Na prática, a utilização desse manejo (95% de IL) não resultou em maior produção de leite por animal, mas houve aumento dos teores de nitrogênio ureico no leite e no plasma (VOLTOLINI et al., 2010a). Esse fato sugere uma melhora na qualidade da forragem, de forma que o teor de proteína da ração (18% de PB na MS) tornou-se excessivo. Apesar de, não se ter observado melhora na produção de leite por animal, a taxa de lotação aumentou em 30% e a produção de leite por área em 34% (Tabela 5), o que evidencia os benefícios da utilização dessa estratégia de manejo. Benefícios adicionais foram observados por Hack (2004), em que estudou estruturas distintas de pastos de capim-mombaça, e relatou que a altura de 90 cm (95% de interceptação de luz), favoreceu a produção diária de leite com 14 kg por vaca, 30% superior a altura de 140 cm (mais de 95% de interceptação luminosa), cuja produção foi de 10,8 kg por vaca.

Tabela 4. Composição bromatológica de amostras de pastos de capim-elefante submetidas a duas frequências de pastejo.

Componente

Frequência de pastejo

95% de IL

A cada 26 dias EPM Matéria seca (%) 16,58 16,40 0, Proteína bruta (%) 14,24 14,58 0, Fibra em detergente neutro (%) 65,07 b^ 66,99 a^ 0, Fibra em detergente ácido (%)

35,88 b 37,05 a 0,

Lignina (%) 6,50 6,13 0, Extrato etéreo (%) 2,70 b 3,17 a 0, Matéria mineral (%) 12,02 a 10,18 b 0, EPM = erro-padrão da média Fonte: Adaptado de VOLTOLINI et al. (2010b)

Tabela 5. Taxa de lotação, produção de leite por área em pastos de capim- elefante submetida a duas frequências de pastejo. Componente (^) 95% de IL Frequência de pastejoA cada 26 dias EPM Taxa de lotação (vacas/ha) 7,18^ 5,05^ 0, Taxa de lotação (UA/ha) 8,27 5,85 0, Produção de leite (kg/ha.dia) 114 75 6, EPM = erro-padrão da média Fonte: Adaptado de VOLTOLINI et al. (2010a)

Apesar de sua importância, a utilização de 95% de interceptação de luz pelo produtor rural é pouco viável, em razão dos custos elevados com aparelho analisador de dossel. Nesse sentido, CARNEVALLI et al. (2006) e BARBOSA et al. (2007) realizaram estudos pioneiros com os capins Mombaça (90 cm) e Tanzânia (70 cm), respectivamente, e revelaram existir uma alta relação entre o momento em que 95% da luz incidente é interceptada e a altura do dossel no pré-pastejo. Essa relação foi corroborada por ZANINE (2007), MONTAGNER

Apesar do consumo de forragem não ter sido modificado, os pastos manejados com 25 cm de altura pós pastejo apresentaram maior remoção de forragem (68,0 vs 45,6%) e eficiência de pastejo (90,4 vs 49,8%) quando comparado àqueles manejados com 50 cm de altura pós pastejo (DIFANTE et al., 2009b). Esse padrão resultou em maior ganho de peso médio diário em pastos manejados com 50 cm de resíduo (801 versus 664 g/dia), porém com menor taxa de lotação (4,9 versus 6,1 UA/ha), fazendo com que os ganhos de peso por unidade de área fossem 601 e 559 kg/ha para as alturas pós pastejos de 25 e 50 cm, respectivamente (DIFANTE et al., 2010). Portanto, a escolha da intensidade de desfolhação utilizada será função do sistema produtivo, podendo-se utilizar uma maior severidade de pastejo como forma de aumentar os ganhos de peso por unidade de área ou utilizar uma menor intensidade de pastejo para promover maior ganho individual.

3.2. Sistema de lotação contínua

Historicamente, manejo intensivo era descrito como sinônimo de método de pastejo em lotação rotativa. O método de pastejo em lotação contínua era visto como rudimentar, especialmente pela utilização de taxa de lotação fixa, a qual não permite o controle da estrutura do dossel, ficando os animais em pastejo à mercê das variações na produção de forragem anual. Assim, era comum observarmos no pasto o “efeito sanfona” dos animais, isto é, ganho de peso no verão e perda de peso no inverno. Por muito tempo, esse manejo foi descrito como um método de produção extensiva. Esse conceito começou a ser revisto, quando as pesquisas baseadas na ecofisiologia de plantas forrageiras demonstraram que é possível produzir forragem intensivamente no método de lotação contínua com taxa de lotação variável. As pesquisas, calcadas em metas de condições de pasto ( sward target ) (HODGSON, 1985), mostraram haver em lotação contínua, assim como em lotação rotativa, muitas similaridades entre gramíneas de clima tropical e temperado (HODGSON & Da SILVA, 2002). No Brasil, as metas de condição do pasto a serem mantidas quando o mesmo é manejado sob lotação contínua foram estabelecidas, primeiramente, para as forrageiras do gênero Cynodon (PINTO, 2000) e para a Brachiaria

brizantha cv. Marandu (ANDRADE, 2003; SBRISSIA, 2004). Os resultados desses estudos revelaram padrões dinâmicos de produção líquida de forragem muito semelhante àqueles descritos, originalmente, para azevém perene (BIRCHAM & HODGSON, 1983). Estudos com Cynodon spp. revelaram haver mudanças compensatórias na densidade de perfilhos e no fluxo de tecidos em perfilhos individuais (PINTO, 2000; SBRISSIA et al., 2001; SBRISSIA et al., 2003) para manter valores altos e relativamente constantes de taxas de acúmulo forragem (Figura 2a), em uma amplitude de condições de pasto variando de 10 a 20 cm de altura do dossel forrageiro. Nesse trabalho, maiores desempenhos de ovinos foram verificados em pastos manejados a 15 cm de altura (Figura 2a), com valor nutritivo da forragem consumida variando de 14 a 18% de proteína bruta e 65 a 75% de digestibilidade (CARNEVALLI et al., 2000, 2001a,b). Da mesma forma que a produção de forragem é máxima e praticamente constante em uma determinada faixa de condição do pasto, existe uma amplitude de condições de pasto específica para que as metas de desempenho animal possam ser obtidas (Da SILVA, 2004).

serem utilizados em condições de campo, de acordo com o objetivo de cada produtor.

Figura 3. Representação gráfica das taxas de crescimento, senescência e acúmulo líquido (a) e ganho de peso e taxa de lotação em pastagens de capim-marandu (b) submetido a alturas de dossel forrageiro. Fonte: Adaptado de (a) SBRISSIA (2004); (b) ANDRADE (2003).

Nessa realidade, tendo por base a altura média de 30 cm, utilizando o método de pastejo sob lotação contínua com taxa de lotação variável, ZANINE et al. (2006) observaram o comportamento ingestivo em pastejo de bovinos de forma comparativa em pastos de Brachiaria decumbens e Brachiaria brizantha (Tabela 7). O tempo total gasto em pastejo foi maior para o pasto de Brachiaria decumbens situação explicada pela menor relação lâmina:colmo (0,35), levando os animais a um comportamento mais seletivo nesse pasto. Segundo

(b)

(a)

SARMENTO (2003), os animais tendem a ser mais seletivos, em pastos com uma reduzida relação lâmina:colmo, o que resulta em uma aumento no tempo de pastejo, como mecanismo compensatório. Outro ponto destacado pelos autores é a diferença na composição bromatológica, principalmente o maior conteúdo de proteína bruta e menor de FDN no pasto de capim Brachiaria brizantha. Com relação aos tempos de ruminação (Tabela 7) houve diferença entre os dois pastos nos períodos diurnos e noturnos, porém não foi observada diferença estatística alteração significativa para o tempo total de ruminação. Isto sugere que os animais modificaram o tempo de pastejo como forma de regular a ingestão de forragem, não sendo alterados os tempos gastos em ruminação.

Tabela 7. Valores médios dos tempos de pastejo e de bovinos durante o dia, durante a noite e total (horas) gasto pelos animais nos dois pastos estudados. Tempo de pastejo (horas) Capim TPD^1 TPN^2 TTP^3 Brachiaria brizantha 7,48 a 2,26 b 9,75 b Brachiaria decumbens

7,44 a 3,86 a 11,31 a CV(%) 3,20 11,85 8, Tempo de ruminação (horas) Capim TRD^4 TRN^5 TTR^6 Brachiaria brizantha 2,07 b 4,69 a 6,76 a Brachiaria decumbens

2,95 a 3,65 b 6,35 a CV(%) 12,48 6,29 6, Tempo de ócio (horas) Capim TOD^7 TON^8 TTO^9 Brachiaria brizantha (^) 1,95 a 4,98 a 6,94 a Brachiaria decumbens

1,19 b 4,36 b 5,55 b CV(%) 15,17 10,32 9, Médias seguidas pela mesma letra na mesma coluna não diferem, estasticamente, pelo teste F, ao nível de 5% de probabilidade. 1

4 Tempo de pastejo diurno;^2 Tempo de pastejo noturno;^3 Tempo total de pastejo. Tempo de ruminação diurno; 5 Tempo de ruminação noturno; 6 Tempo total de ruminação. 7 Tempo de ócio diurno; 8 Tempo de ócio noturno; 9 Tempo total de ócio. Fonte: Adaptado de ZANINE et al., (2006).

Vale destacar, de acordo com as metas de manejo acima discutidas, que cada espécie e, ou, categoria animal, atinge seu melhor desempenho em alturas de pasto que lhes proporcione maior consumo de forragem. Geralmente, maior desempenho animal é obtido em pastos mantidos próximos do limite superior da amplitude de condições de utilização da espécie forrageira utilizada; enquanto menor desempenho ocorre em pastos mantidos próximo do limite inferior.

4. Adubação do pasto como forma integrante do manejo do pastejo

O efeito mais difundido da adubação consiste no aumento da produção de forragem por unidade de área, fato que associa a adubação do pasto com a intensificação do processo produtivo (FONSECA et al., 2008). De fato, em sistemas intensivos de produção a pasto, a adubação é ação de manejo geralmente presente e fundamental. O nitrogênio funciona como modulador, regulador e acelerador do crescimento, condições que podem resultar em aumentos de produção e melhoria do valor nutricional da forragem produzida. A aceleração nas taxas de crescimento das plantas é resultante da aceleração dos processos morfogênicos, que ocorrem no perfilho, e está associada a aumentos nas taxas de aparecimento e alongamento de folhas e de aparecimento de perfilhos (MARTUSCELLO et al., 2005; MARTUSCELLO et al., 2006), em contrapartida, estão normalmente associados a aumentos nas taxas de senescência e de mortalidade de perfilhos e redução na longevidade de folhas (LEMAIRE & CHAPMAN, 1996). Ao avaliarem o capim-piatã submetido a doses de 0, 125, 250, 375 e 500 kg de N/ha e cortes a cada 35 dias durante o período das chuvas, Dourado (2009) verificou valores máximos para a produção de perfilhos (955 perfilhos/m^2 ), de matéria seca de lâmina foliar verde (11.548 kg de MS/ha) e índice de área foliar (4,77) para doses de nitrogênio variando de 350 a 385 kg de N/ha. Para condições climáticas favoráveis e de altas doses de adubação nitrogenada este capim deve ser manejado com maior freqüência de corte ou pastejo para evitar o acúmulo excessivo de colmo e de material morto (DOURADO, 2009).

Assim, para que os benefícios da aceleração do crescimento possam ser realizados é necessário colher a forragem produzida antes que essa entre em processo de senescência acelerado e, para isso, é preciso promover ajustes nas taxas de lotação empregadas (lotação contínua) ou no intervalo de desfolhação (lotação rotativa), para que este não exceda o período de vida das folhas. Nesse contexto, FREITAS (2008) avaliaram o capim-tanzânia, durante o verão, submetido a doses de nitrogênio de 0, 80, 160 e 320 kg/ha e densidades de plantas de 9, 25 e 49 plantas/m^2 sendo a interrupção da rebrotação baseada no critério de 95% de interceptação luminosa. Foram observados aumentos de 96% na produção de forragem quando utilizados 320 kg/ha.ano de nitrogênio em relação à ausência de adubação. Esse aumento em produção foi acompanhado de um aumento no número de cortes do capim, elevação nos teores de proteína bruta de lâminas foliares (16 versus 8%) e de colmos ( versus 4%), redução nos teores de lignina (3,03 versus 2,65%). Além de uma redução de 8% na fibra em detergente neutro (8%) e elevação em 24% na digestibilidade in vitro da matéria orgânica de lâminas foliares. Com o apropriado ajuste no manejo da desfolhação, as estruturas dos pastos de capim-tanzânia foram controladas, apresentando elevada participação de folhas na forragem colhida. Cabe ressaltar que a melhoria do valor nutritivo da forragem em função da adubação nitrogenada é dependente de ações de manejo (FONSECA et al., 2008; ZANINE & FERREIRA, 2010). Dessa forma, o efeito mais esperado com a elevação na adubação nitrogenada é o aumento na produção da área. Fagundes et al. (2007), avaliando o capim-elefante em lotação rotativa, não relataram aumentos no desempenho animal individual, porém observaram aumentos na taxa de lotação e no ganho de peso por área quando a dose de nitrogênio foi aumentada de 100 para 400 kg/ha.ano. De maneira semelhante, porém em lotação contínua, Mesquita et al. (2010) avaliaram o capim-marandu mantido a 30 cm de altura (ANDRADE, 2003: SBRISSIA, 2004) e adubado com 0, 150, 300 e 450 kg/ha de nitrogênio. Os autores relataram que o aumento na dose de nitrogênio acelerou as taxas de crescimento do capim-marandu sob lotação contínua, elevando a massa de forragem, a porcentagem de folhas e de colmos no dossel. Assim, para compensar esse aumento em produção de

níveis de 0,8% do peso corporal. Segundo os Autores, acima desse valor, embora possa melhorar o ganho, esses são, aparentemente, menores. As modificações em desempenho animal em resposta ao uso de suplementação são variáveis em função da quantidade e da qualidade da forragem, do tipo e da quantidade de suplemento utilizado. A suplementação em pasto deve atender às exigências dos animais, complementando o valor nutritivo da forragem disponível, de forma a atingir o desempenho desejado (DA SILVA et al., 2008). Espera-se, assim, um aumento no consumo do pasto. Para tanto, o conhecimento da estrutura da vegetação, composição química, notadamente das frações dos compostos nitrogenados e de carboidratos, e as variações observadas ao longo do ano são imprescindíveis para a formulação de suplementos que otimizem o consumo, a digestibilidade da forragem e, consequentemente, o desempenho animal (REIS et al., 2009). Mesmo em um pasto com alto valor nutritivo, uma estrutura inadequada pode reduzir o consumo de forragem (POPPI et al., 1987) e limitar as respostas ao suplemento utilizado. A presença de alta proporção de colmos, associada à baixa densidade de folhas dificulta a apreensão, causando decréscimo no peso dos bocados, acarretando baixo consumo de forragem (STOBBS, 1973). Ao analisar os teores de proteína, a fração fibrosa e a digestibilidade in vitro da matéria orgânica (Tabela 9) do capim-marandu manejado em quatro alturas (10, 20, 30 e 40 cm) sob lotação contínua, observa-se que há tendência de redução do valor nutritivo da dieta dos animais com o acréscimo na altura do dossel. No entanto, o desempenho animal responde de forma inversa, ou seja, há aumento do ganho de peso em reposta a elevação da altura de pastejo. Isto indica que o valor nutritivo não é o limitante quando em condição de baixa oferta de forragem e sim o consumo de forragem pelos animais (SARMENTO, 2003). No entanto, isso não implica que ao adicionar nutrientes oriundos da suplementação das dietas dos animais não se possa ter efeito sobre o desempenho (REIS et al., 2009).

Tabela 9. Valor nutritivo de amostra de pastejo simulado e ganho de peso de novilhas mantidas em pastos de capim-marandu manejado com quatro alturas de pastejo durante o verão. Variável

Altura do pasto (cm) 10 20 30 40 PB (%) 13,7 a 12,7 b 12,4 b 11,3 c FDN (%) 60,8 b 61,8 a 62,2 a 61,9 a FDA (%) 28,1 b 28,8 a 29,2 a 29,0 a DIVMO (%) 67,0 a 66,0 a 65,5 a 64,8 a GMD (g/dia) 190 c 510 b 750 ab 930 a Fonte: Adaptado de ANDRADE (2003).

O efeito da estrutura do pasto e de seu valor nutritivo também foi descrito por Santos et al. (2009b). Os Autores avaliaram o desempenho de bovinos mantidos em pastagens diferidas de capim Brachiaria decumbens e suplementados com: 74,7% de fubá de milho; 10% de uréia; 0,3% de enxofre; 5% de fosfato bicálcico; e 10% de mistura mineral. Os Autores relataram desempenhos de 0,692; 0,518; 0,390 e 0,445 kg/animal.dia para períodos de diferimento de 73, 103, 131 e 163, respectivamente. Certamente, esse padrão foi reflexo da diminuição nos teores de proteína bruta, fibra em detergente neutro, matéria seca potencialmente digestível (SANTOS et al., 2009b), na elevação no número de perfilhos reprodutivos e mortos, na massa de colmo morto e no declínio na massa de lâmina foliar verde (SANTOS et al., 2009a), características desfavoráveis a produção animal. Assim, além da quantidade e das características nutricionais do suplemento fornecido aos animais em pastejo, a quantidade, a qualidade e a estrutura da forragem disponível são fatores que interfere diretamente no desempenho animal. Embora o intuito seja aumentar o consumo de forragem e, consequentemente, o desempenho animal com a suplementação, esse objetivo nem sempre é alcançado. Comumente, o maior desempenho animal é alcançado pelo maior consumo de concentrado e redução no consumo do pasto, em um mecanismo denominado efeito substitutivo. Esse efeito tem sido descrito na literatura como pouco benéfico, já que resulta em um aumento no consumo de concentrado e, por conseguinte, elevação no custo de produção.