Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Conceitos Básicos em Parasitologia: Infecções, Infestações, Vetores e Parasitas, Esquemas de Parasitologia

Conceitos básicos em parasitologia, incluindo definições de infecções, infestações, vetores e parasitas, além de discutir hospedeiros definitivos, intermediários, profilaxia e patogenia. O texto também aborda diferentes tipos de inflamação, células matadoras naturais e mecanismos de escape dos parasitas.

Tipologia: Esquemas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Fatima26
Fatima26 🇧🇷

4.6

(195)

226 documentos

1 / 54

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
APOSTILA DE PARASITOLOGIA
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13
pf14
pf15
pf16
pf17
pf18
pf19
pf1a
pf1b
pf1c
pf1d
pf1e
pf1f
pf20
pf21
pf22
pf23
pf24
pf25
pf26
pf27
pf28
pf29
pf2a
pf2b
pf2c
pf2d
pf2e
pf2f
pf30
pf31
pf32
pf33
pf34
pf35
pf36

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Conceitos Básicos em Parasitologia: Infecções, Infestações, Vetores e Parasitas e outras Esquemas em PDF para Parasitologia, somente na Docsity!

APOSTILA DE PARASITOLOGIA

I – INTRODUÇÃO À PARASITOLOGIA

Parasitologia é uma ciência que se baseia no estudo dos parasitas e suas relaçoes com o hospedeiro, englobando os filos Protozoa (protozoários), do reino Protista e Nematoda e Platyhelminthes (platelmintos) e Arthropoda (artrópodes), do reino Animal. Ao iniciar o estudo da parasitologia é conveniente que você se lembre de alguns dos conceitos básicos utilizados na Parasitologia. Portanto, vamos a eles:

agente etiológico = é o agente causador ou o responsável pela origem da doença. pode ser um vírus, bactéria, fungo, protozoário ou um helminto. endemia - quando o número esperado de casos de uma doença é o efetivamente observado em uma população em um determinado espaço de tempo. doença endêmica - aquela cuja incidência permanece constante por vários anos, dando uma idéia de equilíbrio entre a população e a doença. epidemia - é a ocorrência, numa região, de casos que ultrapassam a incidência normalmente esperada de uma doença. infecção - é a invasão do organismo por agentes patogênicos microscópicos. infestação - é a invasão do organismo por agentes patogênicos macroscópicos. vetor - organismo capaz de transmitir agentes infecciosos. 0 parasita pode ou não desenvolver- se enquanto encontra-se no vetor. hospedeiro - organismo que serve de habitat para outro que nele se instala encontrando as condições de sobrevivência. o hospedeiro pode ou não servir como fonte de alimento para a parasita. hospedeiro definitivo - é o que apresenta o parasito em fase de maturidade ou em fase de atividade sexual. hospedeiro intermediário - é o que apresenta o parasito em fase larvária ou em fase assexuada. profilaxia - é o conjunto de medidas que visam a prevenção, erradicação ou controle das doenças ou de fatos prejudiciais aos seres vivos.

I.1 - CONCEITOS GERAIS EM PARASITOLOGIA MÉDICA As primeiras conceituações de parasitismo o caracterizavam como uma relação desarmônica , portanto unilateral, onde o parasita obrigatoriamente trazia prejuízos ao seu hospedeiro. Como esta definição se mostrou falha, principalmente em razão de nem sempre se conseguir demonstrar danos determinantes de sinais e/ou sintomas , no hospedeiro, a mesma foi sendo abandonada pela maioria dos profissionais da área e substituída por outras mais coerentes com os conceitos mais modernos. Atualmente, parasitismo é principalmente conceituado como a “relação entre dois elementos de espécies (ou grupo e espécie, no caso dos vírus) diferentes onde um destes, apresenta uma deficiência metabólica ( parasita ) que faz com que se associe por período significativo a um hospedeiro ( hospedador ), visando suprir tal carência ”.

I.2 - CAMPO DA PARASITOLOGIA 1- Sentido amplo (lato senso): Fazem parte, todos os vírus, algumas espécies de: Bactérias, Fungos, Protozoários, Platelmintos, Nematelmintos, Artrópodes e de Algas microscópicas. 2 - Sentido estrito (estrito senso): Onde por razões convencionais são alocados somente algumas espécies de: Protozoários, Helmintos e Artrópodes compreendendo também em algumas instituições de ensino o estudo dos Fungos parasitas.

I.3 - ADAPTAÇÃO PARASITÁRIA A perda parcial de um ou mais sistemas metabólicos e da capacidade de utilizar outra fonte nutricional no meio ambiente externo , em todo seu ciclo de vida ou em parte dele, faz com que o parasita se instale em seu hospedeiro e dependa da sobrevida deste, principalmente se tratando dos endoparasitas , em que, caso ocorra morte do hospedador, o parasita normalmente também sucumbe. Como estratégia de sobrevivência e transmissão , o parasita “busca” reduzir sua capacidade de agressão em relação ao seu hospedeiro, o que se dá por seleção natural, no sentido de uma melhor adaptação a determinado(s) hospedeiro(s). Neste caso, quanto maior for à agressão , menos adaptado é este parasita a espécie que o hospeda, e consequente possibilidade de morte deste, o que tende com o passar dos anos à seleção de amostras (cepas) menos virulentas para este hospedador.

I.9 - TIPOS DE HOSPEDEIRO

1- Ciclo heteroxeno :

  • Definitivo : Quando o parasita se reproduz neste, de forma sexuada e/ou é encontrado em estágio adulto.
  • Intermediário : Se o parasita no hospedeiro só se reproduz de forma assexuada ou se encontra exclusivamente sob forma larvar (helmintos). Obs.: Se um protozoário não apresenta em seu ciclo reprodução sexuada em nenhum dos hospedeiros , estes são conhecidos como hospedeiro vertebrado e invertebrado respectivamente. 2- Paratênico ou de transporte - Quando no mesmo, não ocorre evolução parasitária , porém, o hospedeiro não esta apto a destruir o parasita rapidamente, podendo assim, ocorrer posterior transmissão em caso de predação por espécie hospedeira natural. Obs. Não é um verdadeiro caso de parasitismo.
  1. Reservatório : É representado pelo (s) hospedeiro (s) vertebrado (s) natural (is) na região em questão. Obs.: O termo vetor é utilizado como sinônimo de transmissor , representado principalmente por um artrópode ou molusco ou mesmo determinado veículo de transmissão, como água ou alimentos, que possibilite a transmissão parasitária. Alguns autores utilizam o termo vetor biológico quando ocorre no interior deste animal a multiplicação e/ou o desenvolvimento de formas do parasita (se constituindo em hospedeiro) e vetor mecânico nas situações onde não existem tais condições, transmitindo assim o parasita com a mesma forma de desenvolvimento de ciclo que chegou ao mesmo, não sendo portanto um hospedeiro.

I.10 - INFECÇÃO x INFESTAÇÃO Existem dois parâmetros em que se baseia a classificação: localização e dimensão. O primeiro sugerido por uma reunião de especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS), é o mais utilizado atualmente.

1- Localização: Infestação : Localização parasitária na superfície externa ( ectoparasitas ). P.e. Carrapatos e piolhos. Infecção : Localização interna parasitária (endoparasitas). P.e. Giardia lamblia e Schistosoma mansoni. Por esta definição, infecção seria a penetração seguida de multiplicação (microrganismo) ou desenvolvimento (helmintos) de determinado agente parasitário. 2- Dimensão: Infestação : Corresponde ao parasitismo por metazoários. P.e. Enterobius vermicularis e Schistosoma mansoni. Infecção : Definida pelo parasitismo por microrganismos. P.e. Giardia lamblia e Trypanosoma cruzi. Em conseqüência, infecção seria a penetração seguida de multiplicação de microrganismo. Obs. Existe ainda um sentido não parasitário para o termo infestação , que corresponde à presença de número considerável no meio ambiente externo de animais e/ou vegetais não desejados pelo ser humano. P.e. Infestação de cobras, lacraias, ervas daninhas e etc.

I.11 - CONTAMINAÇÃO 1- Biológica : É a presença de agentes biológicos no meio ambiente externo, fômites ou na superfície externa ou interna sem causar no momento, infecção ou infestação. P.e. Lesão cutânea contaminada por bactéria, bolsa de sangue contaminada por Trypanosoma cruzi. 2- Não biológicas : É a presença de elementos químicos e físicos no meio ambiente ou no interior de seres vivos. P.e. Mercúrio nos tecidos de mariscos, radio-isótopos no meio ambiente. Obs.: Em razão de alguns especialistas por não considerarem os vírus seres vivos e sim partículas, é denominada sua presença em determinado ser, não uma infecção, mas sim contaminação.

I.12 - MECANISMOS DE INFECÇÃO (MECANISMOS DE TRANSMISSÃO) Para que seja definido tal mecanismo, deve ocorrer análise quanto à porta entrada no organismo do hospedeiro ( via de infecção ) e neste momento se ocorreu ou não gasto de energia pelo parasita ( forma de infecção ). 1- Forma de Infecção (Forma de transmissão)

  • Passiva - Quando não existe gasto de energia para a invasão.
  • Ativa - Caso ocorra dispêndio energético para tal fim. 2- Via de Infecção (Via de transmissão ou porta de entrada)
  • Oral (per os)
  • Cutânea (per cuten)
  • Mucosa (per mucus)
  • Genital (per genus ) 3- Principais mecanismos de infecção *Passivo oral. P.e. Ascaris lumbricoides. *Passivo cutâneo P.e. Gên. Plasmodium *Ativo cutâneo P.e. Trypanosoma cruzi *Ativo mucoso P.e. T. cruzi *Passivo genital P.e. Trichomonas vaginalis 4- Mecanismos particulares : Em alguns casos, para que fique mais claro o real mecanismo de infecção, empregamos expressões características como:
  • Transplacentário
  • Transmamário
  • Transfusional
  • Por Transplantação.

I.13 - MECANISMOS DE AGRESSÃO E RESPOSTA ÀS PARASITOSES 1- Patogenia e manifestações clínicas ao parasitismo É o conjunto de mecanismos lesionais respectivos determinados no decorrer do parasitismo ao organismo parasitado, incluindo-se também as agressões determinadas pela reação do hospedeiro. Porém, é importante ser lembrado que não é obrigatória a relação entre patogenia e manifestações clínicas (sinais e ou sintomas), que são os paradigmas da doença propriamente dita. Para que ocorra doença, as lesões determinadas devem ultrapassar a capacidade homeostática do hospedeiro. Os seguintes fatores devem ser avaliados para que surja tal desequilíbrio: A. Parasita: Virulência, carga parasitária infectiva e porta de entrada utilizada. B. Hospedeiro : Mecanismos de resistência a este parasita. 2- Mecanismos gerais de agressão dos parasitas Os danos determinados na dinâmica da relação Hospedeiro-Parasita podem de forma genérica ser classificados em: A. Diretos - Determinados pelo parasita e substancias por ele secretados. B. Indiretos - Quando acarretados pela reação do hospedeiro ao parasitismo.

Mecanismos:

Espoliativo : É o determinado por perda de substâncias nutritivas pelo organismo do hospedeiro, podendo o mesmo ser acarretado por perda direta de nutrientes (P.e. Gên. Taenia ), tecidos sólidos ou hematofagismo (P.e. ancilostomídeos). Enzimático : É determinado pela liberação de secreções enzimáticas produzidas por parasitas, que determinam destruição tecidual de extensão variável. P.e. Entamoeba histolytica e larvas infectante de ancilostomídeos. Inflamatório/hipersensibilizante : A maioria dos mecanismos acima leva a uma resposta inflamatória de forma indireta ou diretamente por liberação de substâncias que ativam esses mecanismos. Incluiremos aqui a hipersensiblidade que se constitui também em elemento gerador de resposta inflamatória. P.e. Larvas de helmintos que fazem ciclos pulmonares. Imunodepressor : É determinado por metabólitos liberados pelo parasita ou por outros mecanismos que possam reduzir a capacidade de resposta defensiva do hospedeiro. P.e. Leishmania donovani Neoplásico : Algumas Parasitoses crônicas, através de liberação de metabólitos ou reações inflamatórias crônicas ou de sua conseqüência, podem levar a gênese de tumores malignos. P.e. Schistosoma haematobium e neoplasia de bexiga. Obs.: Quando temos uma resposta do organismo do hospedeiro ao parasitismo, sem que ocorra consequente manutenção da homeostase , surge, em função desse desequilíbrio, o que denominamos manifestações clínicas (sinais e/ou sintomas) da parasitose em questão.

B.4 Cílios: A presença, e conseqüente movimentação celular em determinadas mucosas, como a do trato respiratório, determina remoção de elementos inanimados (poeira e vírus), ou biológicos (bactérias, larvas de helmintos e protozoários) aderidos ao muco. B.5 Microbiota: Tal como acontece no tegumento cutâneo, nos segmentos onde existe microbiota (cavidade oral, vagina, intestino grosso), a mesma pode atuar competindo com patógenos das seguintes formas: 1) Produzindo catabólitos, que determinam redução do pH , como ocorre na cavidade vaginal, onde os bacilos de Doderlein utilizam o glicogênio proveniente de células descamativas e produzem ácido lático que determina faixa de pH entre 3.8 a 4.2; 2) Por competição por fonte nutricional ; 3) Ligação a receptores de superfície utilizados por patógeno; e 4) Por produção de substância(s) que tenha(m) ação deletérica(s) sobre espécies patogênicas.

C. Fagócitos Profissionais Grande número de tipos celulares tem a capacidade fagocitária, porém, em sua maioria, o fazem de forma sistemática e não especializada. Quando a fagocitose é feita de forma defensiva, tais células são denominadas fagócitos profissionais , sendo representadas pelas seguintes células:

C.1 Neutrófilos: Existem, predominantemente, em nível de medula óssea e circulação sangüínea. O potencial microbicida destas células é assegurado pela existência de grande quantidade de enzimas lisossomiais e sua grande mobilidade, peróxidos e aldeídos, que apresentam alto poder microbicida. Quando ocorre qualquer dano tecidual, ou liberação de substâncias quimiotáticas, outras para neutrófilos, estas células abandonam o pool circulante e migram por diapedese para o tecido lesado. Em muitos casos, onde a atividade dos neutrófilos é requisitada, sua vida média, pela grande atividade metabólica, se restringe a poucas horas após sua ativação.

C.2 Eosinófilos: Estas células apresentam potencial fagocitário bem inferior ao dos neutrófilos, porém, em menor escala , apresentam-se com capacidade microbicida por mecanismos análogos aos dos neutrófilos.

C.3 Macrófagos (M s): Pelos conhecimentos atuais, os monócitos circulam e vão progressivamente se localizar em vários sítios anatômicos, onde se diferenciam em células especializadas, sendo, portanto, precursores de todos os outros macrófagos. Os fagócitos mononucleares se distribuem no organismo constituindo o chamado Sistema Fagocitário Mononuclear (SFM), que, no passado, era chamado de Sistema Retículo Endotelial (SRE), que tem como elementos: M onócitos, células de Kupffer, M s gânglionares, M s peritoniais, M s endotélio dos sinusóides esplêmicos, M s alveolares, M s lâmina própria intestinal, M s de medula óssea, histiócitos, osteoclastos e micróglia. O potencial microbicida dos M s é determinado pela presença de enzimas e outras substâncias como os peróxidos em seu citoplasma, porém, ao contrário dos neutrófilos , depende, significativamente, para uma maior eficiência destrutiva, da ativação determinada, principalmente, por linfócitos T. Outro fator de relevância, destas células, é sua capacidade potencial de apresentação antigênica.

D. Resposta inflamatória É definida como um complexo processo defensivo local , acionado por injúria determinada por agentes biológicos e/ou físicos e/ou químicos, caracterizado por seqüência de fenômenos irritativos , vasculares , exsudativos , degenerativo-necróticos e de reparo. A fagocitose de patógenos é facilitada pela presença, na membrana, dos macrófagos, de receptores para Fc, de IgG e para C3b. Quando o fenômeno se apresenta em intensidade significante , ocorre exteriorização da inflamação por: dor , rubor , calor , tumor (aumento do volume da área) e frequentemente por alteração da função local. Do ponto de vista cronológico, existem dois tipos de inflamação : D.1 Aguda: É a que ocorre na fase inicial de contato com o agente e existe um predomínio de neutrófilos. D.2 Crônica: Quando a causa injuriante não é eliminada em período inicial, ocorre uma mudança no tipo celular predominante, onde agora se é encontrado em maior número os mononucleares ( linfócitos e M s ) e uma tendência, em várias situações, a formação de granulomas e/ou células gigantes, bem como processos fibróticos em escala variada.

E. Células Matadoras Naturais (“Natural Killer Cell” - NK) A ação das células NK parecem se dar a partir de alterações de permeabilidade da membrana plasmática da célula alvo , determinando poros de membrana. Os principais elementos de atuação são os microrganismo e células neoplásicas.

F. Sistemas de Amplificação Biológica São encontrados como sistemas de relevância no campo da amplificação das respostas defensivas, principalmente no que se refere a inflamação de sistemas de grande relevância como: Complemento , Coagulação sanguínea , Cininas vasoativas e outros de menor importância. Será destacado a seguir o sistema Complemento , pela sua importância em processos de agressão/defesa determinados por parasitas.

F.1 Sistema Complemento É um sistema enzimático sob forma de zimogênios (forma inativa), até serem ativados em sistema de cascata. Existem duas vias para sua ativação inicial:

1. Via clássica onde se destacam os Ac das classes IgM e IgG , e mais raramente outros elementos como produtos bacterianos; 2. Via alterna (alternativa) , para a qual são encontradas variedade de substâncias químicas ativadoras de origem biológia e com menor intensidade a própria via clássica. As principais ações biológicas do sistema estão relacionadas ao fomento de fenômenos inflamatórios onde se destacam: a degranulação de mastócitos e basófilos (C3a e C5a ), a opsonização (C3b) e a possível lise de membrana, ou parede bacteriana pelo complexo C7, C8 e C9.

  1. 2 MECANISMOS DE RESISTÊNCIA ESPECÍFICOS São os compreendidos pela ação de linfócitos ditos T e B e suas consequências específicas, que participam da resposta imunológica propriamente dita, determinando como já assinalado o fenômeno da memória imunológica. É importante assinalar, que tais mecanismos, na maioria dos casos, têm sua ação final ligada a interações relacionadas às células e demais componentes do sistema de resistência inespecífico. A resposta imune de determinado hospedeiro , não necessáriamente leva a um aumento de resistência , podendo em alguns casos ser relevante no que se refere ao aspecto diagnóstico e/ou prognóstico para determinada parasitose.

I.14 - MECANISMOS DE ESCAPE PARASITÁRIOS Os parasitas utilizam o organismo de seus hospedeiros como meio ambiente vital, este reage por vários mecanismo já descritos, a essa invasão. Para tentarem reduzir a sua taxa de mortalidade, os parasitas se utilizam um ou vários dos mecanismos de escape à resistência do hospedeiro, dos quais foram selecionados abaixo os mais importantes: 1- Localização estratégica : Se dá quando determinado agente se localiza em local de difícil acesso quanto as respostas defensivas do hospedeiro. Em nível intracelular (formas amastigotas de T. Cruzi e do gênero Leishmania ) e em luz intestinal (adultos de Ascaris lumbricoides ). 2- Espessura de tegumento externo: Os helmintos adultos se utilizam de um tegumento espesso para dificultar a ação de Ac e complemento e células de defesa. P.e. Schistosoma mansoni e Wuchereria bancrofti****. 3- Rápida troca de membrana externa : A produção rápida e consequente perda da membrana externa anterior facilitam a eliminação de Ac, fatores de complemento e mesmo células de defesa. P.e. S. mansoni. 4- Máscara imunológica : Consiste na preexistência, adsorção ou mais raramente na produção pelo parasita de Ag do hospedeiro, reduzindo inicialmente a resposta aos mesmos. P.e. S. mansoni (adsorção) e T. Cruzi (preexistência). 5- Variação antigênica : Seria a alternância de produção de Ag parasitários, o que reduziria a capacidade de resposta protetora do hospedeiro. P.e. T. brucei. 6- Determinação de imunodeficiência ao hospedeiro por parte do parasita : Consiste em produção de substâncias ou degradação direta parcial significativa do sistema de resistência do hospedeiro. P.e. L. chagasi e L. donovani (ativação policlonal linfocitária).

  • Recuperação de helmintos adultos ou ovos na superfície cutânea: A Técnica da fita adesiva (papel celofane ou método de Grahan) detecta principalmente adultos e ovos de Enterobius vermicularis e mais raramente ovos de Taenia sp.
  • Inoculação de material suspeito de conter o parasita (sangue ou macerado tecidual) em animais de laboratório (hamster, gerbilídeos e camundongos) como exemplificado para Leishmania e mais raramente Toxoplasma gondii, ou xenodiagnóstico ( T. Cruzi ). Essa forma diagnóstica raramente é empregada na rotina diagnóstica, exceto em instituições de ensino e pesquisa. Outra forma é tentativa de cultivo do parasita a partir de materiais biológicos (P.e. sangue, biópsias e liquor), porém este método não é utilizado com frequência na rotina diagnóstica , em protozoologia e helmintologia, como em ocorre em bacteriologia e micologia. O uso de culturas em meios próprios, principalmente em instituições acadêmicas, pode determinar o diagnóstico de algumas infecções por protozoários (P.e. T. vaginalis, T. cruzi).

2- Pesquisa de Antígenos parasitários Atualmente através de técnicas como a imunofluorescência direta e enzimaimuno ensaio (ELISA) , poderemos detectar Ag de vários parasitas, como a Entamoeba histolytica entre outros, não só em nível fecal como em vários tecidos e líquidos corpóreos (P.e. liquor).

3- Pesquisa de Anticorpos anti-parasitários A positividade por estes métodos, principalmente representados pelas reações de hemaglutinação, imunofluorescencia indireta, enzimaimuno ensaio (ELISA) , e em menor escala a Reação de Fixação de Complemento, Contra-Imunoeletroforese e as provas de Imunodifusão , detectam possível resposta imune aos antígenos testados , porém não diagnosticam obrigatoriamente uma infecção presente, podendo ser inclusive resultado de reação cruzada com antígenos encontrados em diferentes agentes infecciosos ou estruturas químicas pertencentes a outros elementos que entraram previamente em contato com o sistema imune do hospedeiro. Para debelar estes resultados considerados como falso-positivos, o título de Ac e a classe(s) de Imunoglobulina detectada(s) (IgG e/ou IgM) detectados nos métodos citados acima são de grande ajuda, bem como a sorologia pareada (comparação com no mínimo de duas semanas de intervalo, utilizando-se a mesma técnica, dos títulos encontrados). Estes testes são usados principalmente nas infecções por T. gondii, T. cruzi e gênero Leishmania entre outras.

4- Pesquisa de fragmentos específicos de ADN parasitário Atualmente existem provas de biologia molecular utilizadas em Parasitologia Médica, onde por sua automação, alta sensibilidade e reprodutibilidade, se destacam a Reação em Cadeia da Polimerase ( Polymerase Chain Reaction - PCR ), que é utilizada principalmente onde outras técnicas apresentam dificuldade diagnóstica para detecção da real presença do parasita. Esta técnica é atualmente, uma opção diagnóstica para várias infecções parasitárias, como nas determinadas por T. cruzi, Gênero Leishmania e Cryptosporidium parvum.

5- Intradermorreação (IDR) para pesquisa de reatividade mediada por linfócitos T A base desta reação é a medição da área afetada pela inflamação mediada por LT, observada após 48 a 72 h pós-introdução do Ag específico do parasita alvo, em nível intradérmico. Esta reação não revela necessáriamente parasitismo presente, mas sim resposta ao Ag problema, podendo a mesma ser fruto de infecções passadas pelo agente ou mesmo por reações cruzadas com o Ag introduzido. Por essas razões a IDR é considerada um teste prognóstico. Utilizamos a IDR com maior frequência, em leishmaniose tegumentar e em algumas micoses.

6- Imagens A análise dos resultados obtidos por métodos que determinam imagens (diagnóstico por imagem), representados por exames de radiologia convencional, tomografia computatorizada, ressonância magnética, cintilografia e ultra-sonografia, podem em algumas infecções por helmintos, tais como larvas dos gêneros Taenia (cisticerco) e Echinococcus (cisto hidático) e em determinados casos de parasitismo por adultos A. lumbricoides podem determinar o diagnóstico etiológico específico. É possível também, com a análise das imagens obtidas nos exames, ajudar na avaliação das condições do indivíduo parasitado (estagio da doença) ou mesmo sugerir diagnósticos em função das alterações encontradas.

I.17 - EPIDEMIOLOGIA GERAL DAS INFECÇÕES PARASITÁRIAS

A epidemiologia destas doenças é definida como o conjunto de fatores de importância no estudo dos determinantes e a frequência de uma doença parasitária, a nível local, regional e mundial. São fatores de importância neste campo : Distribuição geográfica , mecanismo(s) de transmissão, presença ou não de reservatórios , estudo do ciclo vital do parasita na região ( doméstico e/ou peri-domiciliar e/ou silvestre ), migrações das populações atingidas (internas e externas), se há caráter endêmico , se existem casos de epidemia , sua incidência e prevalência , se a infectividade ou virulência são influenciadas por faixa etária , sexo ou grupo étnico , hábitos culturais das populações alvo, profissões/atividades de maior risco para que ocorra transmissão, existência de diferenças significativas entre as cepas parasitárias. A transmissão e dispersão de cada agente etiológico da parasitose dependem de uma série de fatores , denominados em seu conjunto como ecossistema parasitário. Os componentes do mesmo variam com o parasita em questão , não apresentando sempre todos os componentes a seguir descritos. De forma genérica constam principalmente do(s) mecanismo(s) de transmissão (infecção), em caso de mais de um mecanismo a importância epidemiológica, se existem diferenças sazonais ou regionais; A(s) forma(s) parasitária(s) infectante(s) respectiva(s); As condições do meio ambiente : a descrição do ambiente infectivo (a temperatura, índice pluviométrico, tipo de solo, ambiente hídrico); Veículos de transmissão : água, alimentos, fômites, vetor (es) mecânico(s); Caso ocorra presença de transmissor (es) biológico: como este se infecta, seus hábitos (nutricionais, refugio, dispersão), longevidade, grau de susceptibilidade a esta infecção, condições de sobrevivência, população, espécies mais importantes; Possível presença de reservatório(s) não humano(s) e hospedeiros paratênicos ; hábitos das populações humanas de relevância na transmissão. As infecções parasitárias se comportam como qualquer ecossistema dinâmico , onde na decorrência de mudanças de seus componentes , pode ocorrer uma redução ou aumento do número da população parasitária. O sedentarismo humano , a exploração dos recursos ambientais e seus desdobramentos geram modificações no meio ambiente e suas consequências podem alterar esse ecossitema hospedeiro-parasita. A construção de grandes estradas, a implantação de cidades ou loteamentos em matas, alterações de percurso de rios, açudes e a caça ou a redução por outras formas de reservatórios silvestres podem fomentar de forma direta ou indireta o parasitismo humano e sua epidemiologia. Por essas razões, seria de suma importância o estudo prévio do impacto ambiental de cada das alterações pretendidas, mas infelizmente a maioria dos países que se encontram nessas condições de modificações ambientais instala tal estudo de forma desordenada e com a principal preocupação situada no lado econômico imediato , como ocorre no Brasil. As infecções determinadas pela ingestão de água contaminadas com formas parasitárias é facilitada por fatores relacionadas a falta de educação/condicões sanitárias satisfatórias como exemplificado pelo nosso país onde, 90% do esgoto produzido não é tratado. Aproximadamente 51% da população urbana brasileira (cerca de 39 milhões de pessoas) não são atendidas por rede de esgotos e 15 milhões de pessoas não têm em suas residências água fornecida por rede pública.

1- ALGUMAS DEFINIÇÕES EM EPIDEMIOLOGIA

  • Antroponose: Infecção transmitida exclusivamente entre os homens.
  • Endemia : É quando determinada infecção tem sua transmissão mantida em determinada área de forma regular em relação ao número de casos esperado.
  • Epidemia : É a ocorrência em determinado local, região ou país de número de casos autóctones superior ao esperado para aquela época do ano.
  • Fômite: É qualquer objeto, vestimenta ou afim que possa por estar contaminado e consequentemente veicular determinada forma parasitaria que possibilite transmissão do mesmo. P.e. Roupas íntimas, material para exames clínicos e seringas.
  • Incidência : É a frequencia (número de casos novos ) que uma doença ocorre num determinado período de tempo.
  • Portador são : Qualquer animal vertebrado, incluindo o homem que se apresenta infectado, porém, sem qualquer manifestação clínica presente.
  • Prevalência : É o número total de casos de determinada doença ( novos e antigos ) que ocorreram em período de tempo definido.
  • Zoonose: Infecção transmitida em condições naturais entre outros animais vertebrados e o

II - ACAROLOGIA E ENTOMOLOGIA

1- Introdução

Além de atuarem como vetores dos agentes causadores destas enfermidades, os insetos também são reportados como vetores mecânicos (transportadores) de diversos outros agentes sejam eles bacterianos, fúngicos, virais, protozoários ou helmintos. Dentre o vocabulário utilizado para descrever os insetos e os ácaros como agentes envolvidos na transmissão de agentes infecciosos, temos os seguintes termos:

  • Vetor: diz-se daquele inseto ou ácaro no qual ocorre alguma das fases do ciclo evolutivo de um microorganismo infeccioso;
  • Transportador: diz-se daquele inseto no qual não ocorre o desenvolvimento biológico (divisão, multiplicação, mudança de fase evolutiva etc) de um agente infeccioso. Neste caso subentende-se transmissão do tipo mecânica.

2 - Insetos importantes na Medicina Humana

Na saúde humana, diversos insetos atuam como vetores de agentes infecciosos, como por exemplo: malária, Doença de Chagas, filarioses, oncocercose e leishmanioses. Para ter-se uma noção do impacto e importância destas enfermidades humanas, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) dentro das oito doenças que mais afetam a população mundial atualmente, as cinco citadas encontram-se incluídas. Completando este grupo, incluiríamos amebíase, hanseníase e tuberculose. Como agentes espoliadores, estressantes e/ou vetores de agentes infecciosos humanos temos moscas, mosquitos, pulgas, piolhos e barbeiros, respectivamente, Ordens Díptera (Sub- ordens Cyclorrapha e Nematocera), Siphonaptera, Anoplura e Hemíptera (Sub-ordem Reduviidae).

2.1- Ordem Díptera

2.1.1- Moscas Na família Muscidae, a Musca domestica é conhecida como veiculadora de ovos e larvas de helmintos ( Ascaris lumbricoides , Trichuris trichiuris , Enterobius vermiculares , Taenia solium e ancilostomídeos) e protozoários ( Entamoeba histolytica , Giardia intestinalis e Cryptosporidium parvum ), ocasionando dentre os exemplos listados quadros clínicos de parasitoses intestinais de maior ou menor gravidade dependendo da carga parasitária, do agente infeccioso e do hospedeiro (idade, estado nutricional, resposta imune etc).

2.1.2- Mosquitos Na sub-ordem Nematocera, temos representantes de importância médica na família Simulidae ( Simulium sp.) vetor da larva da Onchocerca volvulus , na família Psychodidae, sub- família Phlebotominae ( Lutzomyia sp.) vetores dos agentes das leishmanioses tegumentares (p. ex. Leishmania braziliensis , Leishmania mexicana e Leishmania amazonensis ) e da leishmaniose visceral ( Leishmania chagasi ), e nas tribos Anophelini e Culicini, vetores dos plasmódios causadores da malária ( Plasmodium vivax , Plasmodium falciparum , Plasmodium ovale e Plasmodium malarie ) e de alguns vírus como o da Febre Amarela, p. ex. 2.2- Ordem Hemíptera Na Ordem Hemíptera, sub-ordem Reduviidae, comumente conhecidos como barbeiros, temos os vetores dos tripanosomas, causadores das tripanosomíases, dentre as quais temos em nosso país a Doença de Chagas ocasionada pelo Trypanosoma cruzi.

2.3- Ordem Siphonaptera A Pulex irritans juntamente com a Xenopsyla queops apresentam-se como os representantes da ordem Siphonaptera de maior importância para a saúde humana. Isto deve-se ao fato destas atuarem como vetor de agentes infecciosos de graves enfermidades, como p.ex., a peste bubônica causada pela Yersinia pestis e transmitida pela pulga do rato ( Xenopsyla queops ). Também deve ser considerada a ação deletéria da Tunga penetrans , levando a um quadro clínico comumente conhecido como “bicho de pé”.

2.4- Ordem Anoplura Somente os piolhos sugadores apresentam-se como importantes devido a espoliação e irritação de agentes infecciosos importantes para os humanos. São eles o Pediculus humanus e o Pediculus capitatis , respectivamente conhecidos como piolho da cabeça e piolho do corpo. O Phithrus pubis , é uma pulga que ocorre na área genital ocasionando um quadro conhecido vulgarmente como “chato”, transmitido mais comumente pela relação sexual.

3- Ácaros importantes na Medicina Humana Na Ordem Acari temos de importância médica sarnas e carrapatos, ocasionando respectivamente casos de parasitismo cutâneo (p.ex. escabiose causada pelo Sarcoptes scabiei ) ou quadros de envolvimento sistêmico (p.ex. Febre maculosa causada pela Rickettsia rickettsii , Doença de Lyme causada pela Borrelia burgdorferi e a Ehrlichiose causada pela Ehrlichia sp.). Apesar das enfermidades que podem ser transmitidas por carrapatos, o que é mais observado são as lesões inflamatórias devido a fixação de larvas e ninfas na pele dos humanos e da tentativa sem sucesso da retirada destes agentes. Para a fixação, o carrapato após localizar um local com características adequadas ao seu desenvolvimento, como p. ex.: espessura, irrigação, proteção e temperatura local, introduz o seu aparelho bucal (hipóstoma) na pele do hospedeiro. Quando da tentativa de retirada deste agente, pode ocorrer quebra na base do aparelho bucal, o qual permanecerá introduzido na derme e atuará como corpo estranho, levando a uma reação inflamatória variável dependendo do hospedeiro.

4- Insetos importantes na Medicina Veterinária Na Medicina Veterinária os insetos e ácaros adquirem grande importância seja devido às questões de saúde animal e/ou saúde pública no caso daquelas enfermidades de caráter zoonótico, ou no caso daquelas enfermidades que afetam as criações do ponto de vista econômico. Dentre as perdas de produção podemos citar a queda na produção de carne, leite e ovos, p. ex., a danificação do couro, o gasto com medicamentos e assistência médico veterinária, perda de crias e a morte do animal. Os diferentes agentes infecciosos podem atuar como vetores de outras enfermidades (p.ex. carrapatos atuando como vetores da Babesiose bovina), ou simplesmente atuando como fator de estresse e ou espoliante de nutrientes (p.ex. moscas e mosquitos).

4.1- Insetos importantes na Medicina Veterinária Dentre os insetos importantes como agentes comprometedores da produção animal temos as moscas, as mutucas, as pulgas, piolhos mastigadores e piolhos sugadores, respectivamente Ordem/sub-ordem: Díptera/Cyclorrapha, Díptera/Tabanidae, Siphonaptera, Anoplura e Mallophaga.

4.1.1- Moscas de importância Médico Veterinária Na sub-ordem Cyclorrapha temos as famílias Muscidae com Musca domestica , Stomoxys calcitrans , Cochlyommia hominivorax , Cochlyommia macellaria , Haematobia irritans , Crysomia spp., Phania spp. e Lucilia spp. Todas estas moscas apresentam algum fator que ocasiona queda na produção seja pela espoliação e/ou irritação do animal ou pela veiculação de outros agentes. A Stomoxys calcitrans é uma mosca de hábitos hematófagos, espoliando e provocando estresse no animal pelo mesmo tentar se livrar deste agente incômodo interrompendo constantemente a alimentação e o descanso além de poder atuar como veiculador (transportador) de parasitas sanguíneos. Esta mosca realiza a oviposição em matéria vegetal em decomposição e fezes de eqüinos. Introduzida há menos de vinte anos em nosso país, a Haematobia irritans apresenta um elevado potencial comprometedor da produção bovina nacional. Esta pequena mosca hematófaga além de estressar o animal e atuar espoliando sangue, também pode atuar assim como outros insetos hematófagos como veiculadores mecânicos de diversos agentes infecciosos, especialmente aqueles de desenvolvimento sanguíneo. A Haematobia possui como característica a realização de vôos muito curtos, realizando a postura em fezes recém-defecadas (15- minutos). Quanto às moscas não hematófagas, a Musca domestica é uma mosca de característica não hematófaga, porém apresenta uma grande capacidade de veiculação de outros agentes infecciosos. No caso da pecuária bovina, por exemplo, atua possibilitando a ocorrência de casos de mamite e onfaloflebite pela veiculação de bactérias.

vulgarmente conhecido como “bicho de pé”, que dependendo do animal, do local de instalação deste inseto e do grau de infestação pode comprometer a produção. Dentre as pulgas também merece citação a Ctenocephalides spp., que acomete principalmente cães e gatos. Esta pulga espolia pelo ato do repasto sanguíneo, atua estressando o animal e pode veicular biologicamente o Dipylidium caninum , um helminto que apresenta em uma de suas fases de desenvolvimento uma larva cisticercóide no tecido muscular da pulga, a qual quando é ingerida possibilita a infecção intestinal de cães e crianças por esta tênia. Os membros das famílias Anoplura e Mallophaga, conhecidos como piolhos picadores- sugadores e mastigadores, respectivamente, agem principalmente espoliando e irritando os animais, em especial bovinos, cães, aves e suínos. Nos suínos, o Haematopinus suis , desenvolve-se principalmente em criações não tecnificadas devido a não adoção de medidas eficientes de controle e sanidade. Nas aves especialmente nas de atividades de postura, piolhos mastigadores do gênero Melopon alimentam- se na base das penas ocasionando uma atividade muito intensa da ave no sentido de eliminar estes insetos. Nos bubalinos piolhos picadores-sugadores como o Haematopinus sp., espoliam e irritam os animais levando a queda de produção. Normalmente estes insetos ocorrem em unidades de produção que apresentam falhas graves no sistema de manejo dos animais. Nos cães, piolhos mastigadores do gênero Trichodectes canis , podem ocorrer em altas infestações podendo inclusive levar o animal ao óbito.

5- Ácaros de importância Médico Veterinária Dentre os ácaros de importância médica veterinária temos sarnas e carrapatos. Estes organismos atuam com agentes espoliantes e irritativos levando a queda de produção acentuada, além de no caso dos carrapatos atuarem como vetores biológicos de diversas enfermidades, principalmente aquelas ocasionadas por parasitas sanguíneos (hemoparasitos).

5.1- Sarnas de importância Médico Veterinária Tanto as sarnas superficiais da família Sarcoptidae quanto as sarnas profundas da família Psoroptidae, p. ex., ocasionam quadros clínicos de relativa importância devido a irritação e inflamação local desencadeada pelas diversas fases evolutivas destes agentes. Na família Sarcoptidae, o Sarcoptes scabiei pode parasitar praticamente todos os mamíferos domésticos, sendo no entanto mais comum em cães e bovinos, ocorrendo principalmente na região dorsal, pescoço e região da barbela. Em gatos e coelhos, a Notoedres cati desenvolve-se na região da orelha, estendendo pela face, ao redor dos olhos e focinho. Em aves, temos como exemplo de sarna profunda, a Knemidocoptes sp. , a qual é de grande importância, devido ao seu aspecto irritativo principalmente naqueles animais criados a solta e/ou sob condições inadequadas. Dentre as sarnas superficiais em nosso meio temos a ocorrência de Psoroptes equi , Otodectes sp. e Chorioptes bovis , sendo mais comum nos eqüinos a Psoroptes e a Otodectes.

5.2- Carrapatos de importância Médico Veterinária Temos de importância veterinária tanto os carrapatos moles quanto os carrapatos duros, sendo os primeiros representantes da família Argasidae e os outros da família Ixodidae. Na família Argasidae, temos no Brasil de ocorrência em aves criadas a solta em pequenas e grandes propriedades e raramente em plantéis avícolas, de carrapatos dos gêneros Argas miniatus e Ornithodorus sp. Estes ácaros buscam os animais quando da realização da hematofagia (repasto sanguíneo) nas suas diferentes fases evolutivas (larva, ninfa e adulto), não permanecendo por períodos muito longo sobre estes animais, retornando para locais de proteção (gretas e buracos em instalações, p.ex.) após repletos de sangue. Faz-se interessante citar que uma fêmea de Argas miniatus pode permanecer por períodos de até cinco anos sem realizar a hematofagia, mostrando- se desta maneira ser um agente de difícil erradicação após instalado. Os carrapatos da família Ixodidae são os mais conhecidos dentre este grupo por serem agentes de ocorrência mais comum, atuando como ectoparasitos de grande importância em animais domésticos e silvestres. O Boophilus microplus é um carrapato que permanece sobre um hospedeiro, na maioria das vezes bovinos, desde a infestação deste animal na fase de larva, passando por ninfa e indo até a fase adulta, quando após a fecundação e repasto sanguíneo, a fêmea desprende-se caindo no solo aonde realiza a postura de ovos (aproximadamente 3. ovos/fêmea). Por esta característica, este carrapato é considerado um carrapato de um hospedeiro. Durante a fase de larva e ninfa, este carrapato pode transmitir hemoparasitos

sanguíneos dentre os quais merece citação Babesia bovis , Babesia bigemina e Anaplasma marginale , ocasionando quadros clínicos conhecidos comumente no meio rural em nosso país como babesiose, anaplasmose, tristeza parasitária bovina ou tristezinha. Também pode transmitir a ehrlichiose ocasionada pela Ehrlichia bovis. Estas enfermidades são relativamente graves em nosso país, podendo inclusive levar ao óbito dos animais infectados. O carrapato Boophilus microplus também é muito importante se considerarmos somente a realização de repasto sanguíeno, com cada fêmea ingerindo entre 0,5-1,0 ml de sangue. Nos eqüinos, os carrapatos do gênero Amblyomma cajennense são muito comuns em nosso meio, sendo conhecidos vulgarmente como carrapatos estrela devido a aparência conferida pelo escudo dorsal ornamentado na fase adulta nos machos desta espécie. É considerado assim como o Rhipicephalus sanguineus – carrapato vermelho do cão – um carrapto de três hospedeiros. Esta classificação deve-se ao fato de realizar as mudas (larva para ninfa e ninfa para adulto) fora do hospedeiro retornando ao mesmo animal ou a outro para a continuação do seu desenvolvimento evolutivo. Uma fêmea realiza a postura de aproximadamente 5 a 8.000 ovos, os quais irão dar origem as larvas. Neste gênero, as larvas são de baixa especificidade parasitária podendo parasitar indivíduos de diversas espécie (homem, cão, eqüino, bovino etc), sendo de intensa atividade e conhecidas como micuins. Nos eqüinos também são observadas infestações freqüentes por outro carrapato, o Anocentor nitens , o qual é um carrapato de um hospedeiro como o Boophilus microplus e tem como preferência de local para o seu desenvolvimento o pavilhão auricular. Devido às lesões ocasionadas pela picada deste carrapato, clinicamente observasse alteração na estrutura da cartilagem, provocando a “quebra” da orelha. Além da espoliação sanguínea, os carrapatos ocasionam prejuízos consideráveis para a produção animal, com perda do couro, produção de carne e leite, gastos com medicamentos e assistência médico-veterinária e perda de animais principalmente pelos hemoparasitos transmitidos.

III – PROTOZOOLOGIA

A- INTRODUÇÃO

Protozoários são seres unicelulares, na maioria heterótrofos, mas com formas autotróficas e com mobilidade especializada. Esta última serviu de critério para sua taxonomia. A maioria deles é muito pequena, medindo de 0,01 mm a 0,05 mm aproximadamente, sendo que algumas exceções podem medir até 0,5 mm como, por exemplo, os foraminíferos. Sua forma de nutrição é muito diferenciada, pois podem ser predadores ou filtradores, herbívoros ou carnívoros, parasitas ou mutualistas. A digestão é intracelular, por meio de vacúolos digestivos, sendo que o alimento é ingerido ou entra na célula por meio de uma "boca", o citóstoma. A célula é muito especializada, e cada organela tem uma função vital. O sistema locomotor é um dos mais especializados, com flagelos, cílios, membranas ondulantes, cirros ou pseudópodes. Há um sistema hidrostático, constituído de vacúolos pulsáteis que eliminam o excesso de água que entra na célula por osmose nos protozoários dulcicolas, estabelecendo assim o equilíbrio osmótico. O citoesqueleto também é especializado para manter a forma da célula, emissão de pseudópodes, locomoção, movimentação de vacúolos digestivos, entre outras funções necessárias. Pode haver exoesqueleto em algumas espécies. Estes organismos estão presentes em todos os ambientes por causa de seu tamanho reduzido e produção de cistos resistentes. Quanto à sistemática, podem ser divididos, a grosso modo, em quatro grupos distintos: flagelados, amebóides, formadores de esporos e ciliados. Dependendo da sua atividade fisiológica, algumas espécies possuem fases bem definidas: -Trofozoíto: é a forma ativa do protozoário, na qual ele se alimenta e se reproduz. -Cisto: é a forma de resistência ou inativa.

B - PROTOZOOSES

1 - LEISHMANIOSES As leishmanioses são causadas por diferentes espécies de protozoários do gênero Leishmania , e transmitidas pela picada de um mosquito da sub-família Phlebotominae. A leishmaniose apresenta três formas clínicas mais comuns:

  • Leishmaniose cutânea; que causa feridas na pele.

binária, podendo seguir dois caminhos, de acordo com a espécie do parasito. As leishmanias do “complexo brasiliensis” vão migrar para as regiões do piloro e do íleo (seção peripilária). Nestes locais elas se transformam de promastigotas para paramastigotas, aderindo ao epitélio do intestino do inseto. Nas leishmanias do “complexo mexicana” o mesmo fenômeno ocorre, porém a fixação das paramastigotas se dá no estômago do inseto. Novamente se transformam em promastigotas e migram para a região da faringe do inseto. Neste local se transformam novamente em paramastigotas e à partir daí vão se transformando em pequenas promastigotas infectantes, altamente móveis, que se deslocam para o aparelho bucal do inseto. Ciclo no vertebrado: O inseto, na sua tentativa de ingestão de sangue, injeta as formas promastigotas no local da picada. Dentro de 4 a 8 horas estes flagelados são interiorizados pelos macrófagos teciduais. Rapidamente as formas promastigotas se transformam em amastigotas, que são encontradas no sangue 24 horas após a fagocitose. As amastigotas resistem à ação destruidora dos macrófagos e se multiplicam intensamente, até ocupar todo o citoplasma. O macrófago se rompe, liberando as amastigotas, que vão penetrar em outros macrófagos, iniciando a reação inflamatória.

Patogenia: No início da infecção, as células destruídas pela probóscida do inseto e a saliva inoculada atraem para a área células fagocitárias mononucleares, como os macrófagos. Ao serem fagocitadas, as formas promastigotas se transformam em amastigotas e sofrem divisões binárias sucessivas; mais macrófagos são atraídos para o local, onde se fixam e são infectados.A lesão inicial é manifestada por um infiltrado inflamatório composto principalmente de linfócitos e macrófagos na derme, estes últimos abarrotados de parasitos. Um amplo aspectro de formas pode ser visto na LTA, variando de uma lesão auto-resolutiva a lesões desfigurantes. Esta variação está intimamente ligada ao estado imunológico do paciente e às espécies de Leishmania. Epidemiologia:

  • A LTA é primariamente uma enzootia (doença cujos hospedeiros são somente animais) de animais silvestres.
  • A transmissão ao homem ocorre quando este adentra a mata para realizar suas atividades. Neste caso a doença se transforma numa zoonose (doença cujo ciclo envolve os animais e o homem).
  • O homem pode ser considerado como hospedeiro acidental da Leishmania e a LTA pode ser considerada uma doença de caráter ocupacional.

Profilaxia:

  • Evitar as picadas de flebotomíneos através de medidas de proteção individual: repelentes, telas de mosquiteiro de malha fina e embebidos em inseticida piretróide (bednets).
  • Em áreas de colonização recente, recomenda-se a construção de casas a uma distância de pelo menos 500 m da mata, devido a baixa capacidade de vôo dos flebotomíneos.
  • Vacinação: em fase final de testes (Leishvacin ).

Diagnóstico: a) Diagnóstico Clínico

  • Baseado na característica da lesão e em dados epidemiológicos.

b) Diagnóstico laboratorial

  • Pesquisa do parasito: Exame direto de esfregaços corados: após anestesia local, retira-se um fragmento das bordas da lesão e faz-se um esfregaço em lâmina, corado com derivados de Romanowsky, Giensa ou Leishman. Cultura: pode ser feita a cultura de fragmentos de tecido ou de espirados da borda da lesão. Inóculo em animais: o hamster é o animal mais utilizado para o isolamento de Leishmania. Inocula- se, por via intradérmica, no focinho ou nas patas, um triturado do fragmento com solução fisiológica.
  • Métodos imunológicos: Teste intradérmico de Montenegro: é o mais utilizado no país para levantamentos epidemiológicos, avalia a hipersensibilidade retarda do paciente. Inocula-se 0,1 ml de antígeno no braço do paciente, e no caso de reações positivas, verifica-se o estabelecimento de uma reação inflamatória local que regride depois de 72 horas. Reação de Imunofluorescência indireta (RIFI): teste bastante usado, com alta sensibilidade, porém apresenta reação cruzada para outros tripanossomatídeos.

Tratamento:

  • Introduzido pelo médico brasileiro Gaspar Vianna, em 1912, com o uso de uma antimonial tártaro hermético.
  • Atualmente é utilizado um antimonial pentavalente, o Glucantime.
  • Somente a forma difusa não responde bem ao tratamento.
  • Imunoterapia: a Leishvacin, vacina utilizada para imunoprofilaxia, vem sendo usada no tratamento de pacientes que não respondem bem ao tratamento com resultados promissores.

1.2 - LEISHMANIOSE LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA (LVC) A Leishmaniose visceral canina (LVC) ou calazar é uma enfermidade infecciosa generalizada, crônica, caracterizada por febre, hepatoesplenomegalia, linfadenopatia, anemia com leucopenia, edema e estado de debilidade progressivo, levando o paciente ao óbito se não for submetido ao tratamento específico.

Agente etiológico:

  • Leishmania chagasi

Morfologia:

  • Semelhante a LTA

Ciclo: O ciclo é do tipo heteroxeno e envolve como transmissor as fêmeas do mosquito Lutzomyia longipalpis. O ciclo é semelhante a da LTA, com o inseto ingerindo as formas amastigotas durante o seu repasto sanguíneo e sofrendo divisões e transformações dentro do inseto. A figura abaixo representa o ciclo da LVC:As formas promastigotas injetadas pela picada do flebotomíneo são fagocitadas por macrófagos, transformam-se em amastigotas e reproduzem-se dentro dos macrófagos. Quando os macrófagos estão densamente parasitados rompem-se e as amastigotas são fagocitadas por outros macrófagos.

Patogenia: As formas amastigotas se multiplicam rapidamente no local da picada do mosquito. Pode se desenvolver no local um nódulo, o leishmanioma, que não se ulcera como na L TA. A partir daí ocorre a visceralização das amastigotas, ou seja, a sua migração para as vísceras, principalmente os órgãos linfóides. Os órgãos ricos em células do SMF são mais densamente parasitados, como a medula óssea, baço, fígado e linfonodos. A via de disseminação das leishmanias pode ser hematogênica e/ou linfática. A Leishmania chagasi raramente tem sido encontrada no sangue periférico humano, embora nos canídeos este achado seja frequente.

Aspectos clínicos: Alterações esplênicas: a esplenomegalia (aumento do baço) é o achado mais importante e destacado do calazar. Alterações hepáticas: outra característica marcante do calazar, as alterações hepáticas causam disproteinemia, que leva ao edema generalizado e a ascite, comuns na fase final da doença. Alterações no tecido hemocitopoético: uma das mais importantes é a enemia. A medula óssea é usualmente encontrada densamente parasitada.