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Guias e Dicas
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Doenças de Morangueiro: Causas, Sintomas e Controle, Provas de Cultura

Este documento discute as principais doenças que afetam a produtividade e a qualidade do morango, incluindo antracnose, podridão do colo e mancha-foliar. Apresenta as condições ambientais favoráveis à ocorrência dessas doenças, os sintomas e as estratégias de controle. Além disso, discute o papel do controle fitossanitário no diagnóstico rápido e correto dos agentes causais.

O que você vai aprender

  • Quais são as principais doenças que afetam a raiz e a coroa do morango?
  • Quais são os sintomas da antracnose do morango?
  • Quais são as condições ambientais favoráveis à ocorrência de antracnose no morango?
  • Quais são as principais doenças que afetam a produtividade e a qualidade do morango?
  • Quais são as estratégias de controle para a antracnose do morango?

Tipologia: Provas

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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CAPÍTULO
17 Doenças causadas por
fungos e bactérias
Bernardo Ueno
Hélcio Costa
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CAPÍTULO^17

Doenças causadas por

fungos e bactérias

Bernardo Ueno

Hélcio Costa

416 M O R A N G U E I R O

indicou que a incidência de pragas e doenças, por ordem de importância, é a principal di-

ficuldade enfrentada pelos produtores (HENZ, 2010). Muitas dessas doenças causam sérias

perdas na cultura, fazendo com que, em algumas situações e em certas regiões do Brasil,

ocorra um gasto estimado de 30 a 40 aplicações de fungicidas, perfazendo um total de 35 kg

a 45 kg do produto comercial por hectare (ZAMBOLIM; COSTA, 2006). Em virtude dessa alta

dependência de agrotóxicos de parte da cultura do morangueiro, segundo Zambolim e

Costa (2006), os frutos podem apresentar alto índice de resíduos de agroquímicos, que colo-

cam em risco a saúde dos consumidores, além de desequilibrar o meio ambiente. Além disso,

aqueles autores descrevem que, quando os agroquímicos são empregados isoladamente ou

em misturas sem registro, em excesso e sem nenhum critério, podem, com isso, reduzir a

população dos inimigos naturais das pragas, de insetos polinizadores e de microrganismos

benéficos do rizoplano e do filoplano, além de colocar em risco a saúde do homem, deixar

resíduos no solo acima dos limites permitidos e concorrer com a agressão ao meio ambiente.

Considerando que o morangueiro é suscetível a muitas doenças e que as condições

de clima nas principais regiões produtoras são favoráveis ao desenvolvimento da maio-

ria dos patógenos mais importantes, é fundamental conhecer essas doenças para que se

possam adotar medidas de manejo adequadas para o seu controle. O sucesso do controle

fitossanitário das doenças de morangueiro depende do diagnóstico rápido e correto do

agente causal (UENO, 2004). Para isso, é importante o reconhecimento dos sintomas das

principais doenças que ocorrem na cultura do morango. Quando surgirem dúvidas quanto

aos sintomas observados no campo e dificuldades na sua identificação, é importante con-

sultar um técnico especializado no assunto, ou, então, se não for possível, enviar o material

contaminado para um laboratório especializado em diagnóstico de doenças em plantas.

É preciso que o produtor de morango sempre faça um monitoramento contínuo da la-

voura, pois isso facilitará a detecção precoce de qualquer anormalidade no morangueiro.

Assim, poderá tomar as medidas adequadas de controle da doença.

Para identificar as doenças do morangueiro, sugerem-se várias publicações sobre

o assunto, escritas por especialistas das principais regiões produtoras. Entre eles, citam-

se: Rebelo e Balardin (1997), de Santa Catarina; Ronque (1998), do Paraná; Fortes e Couto

(2003), do Rio Grande do Sul; Tanaka et al. (2000, 2005), de São Paulo; Zambolim e Costa

(2006) e Dias et al. (2007), do Espírito Santo e de Minas Gerais, respectivamente. No exterior,

destacam-se o Compendium of strawberry diseases, da American Phytopathological Society

(APS) (MASS, 1998); Handley e Pritts (1998), dos EUA; e Giménez et al. (2003), do Uruguai.

Muitas das informações descritas neste capítulo têm como origem as publicações citadas.

CAPÍTULO 17 Doenças causadas por fungos e bactérias 417

Aqui serão descritas as principais doenças que ocorrem no Brasil, bem como as táti-

cas para seu manejo. Estão agrupadas, em alguns casos, de acordo com o órgão da planta

infectado, para facilitar a compreensão e as recomendações de manejo.

Principais doenças de folhas,

pecíolos, estolhões e flores

Mancha-angular (Xanthomonas fragariae)

A mancha-angular é causada pela bactéria Xanthomonas fragariae Kennedy & King.

Essa doença vem ocorrendo com alta incidência em algumas áreas do Brasil. Em 2006, por

exemplo, foram identificadas em diversas lavouras do sul de Minas Gerais, onde ocasionou

sérios danos. O surgimento de epidemias da doença está ligado à origem da muda, que vem

contaminada pela bactéria, pois sempre há relatos de surgimento de novos surtos em algu-

mas localidades (ZAMBOLIM; COSTA, 2006). A título de exemplo, cita-se o caso do Estado do

Espírito Santo, onde a doença foi introduzida em 2003, em mudas infectadas provenientes

de Minas Gerais e, ainda nesse mesmo ano, foi erradicada (COSTA; VENTURA, 2004a, 2004b).

Entretanto, essa bactéria voltaria a ser detectada em uma lavoura daquele estado, em 2006,

no Município de Castelo, na região do Forno Grande, em mudas provenientes da Argentina,

sendo a lavoura totalmente erradicada. Mesmo com o trabalho de vigilância fitossanitária,

detecção e erradicação, feito pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito

Santo (Idaf ), a doença foi constatada nos anos de 2009 e 2011. Ademais, a doença tem se

manifestado em outras regiões produtoras de morango no Brasil.

Os sintomas típicos de mancha-angular surgem, inicialmente, na forma de peque-

nas pontuações, de aspecto encharcado, na superfície inferior das folhas, que depois se

ampliam, adquirindo o formato angular, geralmente delimitado pelas nervuras da folha.

As lesões são translúcidas quando vistas com luz transmitida, mas são verde-escuras

quando vistas com luz refletida (Figura 1). Em condições úmidas, nessas lesões, muitas

vezes, é possível observar a exsudação bacteriana, que depois seca e forma uma película

esbranquiçada. As lesões posteriormente tornam-se necróticas, com coloração castanho-a-

vermelhada, e podem coalescer, cobrindo grande parte da folha. Um halo clorótico pode

circundar a lesão. Na fase final da lesão, os sintomas podem ser confundidos com outros,

próprios de manchas foliares causadas por Mycosphaerella fragariae e Diplocarpon earliana.

CAPÍTULO 17 Doenças causadas por fungos e bactérias 419

inicial, após o transplantio no campo e no final do cultivo (Tabela 1). Quando as temperatu-

ras estão elevadas, danos superiores a 30% podem ocorrer, inclusive na fase de produção

de mudas (viveiros). A redução da área fotossintetizante provocada pelas manchas pode

ser responsável por perdas da ordem de 10% a 100%, dependendo da suscetibilidade da

variedade e das condições ambientais (TANAKA et al., 2005). Em virtude da sua importância

histórica no País, a maioria dos fungicidas registrados para o morangueiro faz recomenda-

ção de controle da mancha de Mycosphaerella (AGROFIT, 2016).

Os sintomas mais evidentes da mancha foliar são lesões nas folhas; no entanto,

as lesões geralmente se desenvolvem em frutos, cálices, pedúnculos, pecíolos e esto-

lhos. Lesões em folhas são inicialmente pequenas, cor púrpura-escuro, arredondadas ou

irregulares (Figura 2). Depois, essas manchas ficam com diâmetro de 3 mm a 6 mm. Em

folhas mais velhas, o centro da lesão muda de cor, de marrom para branco-acinzentada,

e, finalmente, para branca. A borda em torno da lesão necrótica ganha cor púrpura-aver-

melhado a marrom-ferrugem. Essas lesões, quando em grande número, podem coalescer,

ocupando grande parte do limbo foliar, e podem até causar a seca da folha. A expressão

dos sintomas pode variar de acordo com a cultivar de morango (por exemplo, em algumas

cultivares muito suscetíveis, o centro da lesão permanece com cor marrom-clara, em vez de

se tornar branca) e com a temperatura (em clima quente e úmido, formam-se lesões de cor

marrom-ferrugem, sem a borda púrpura-avermelhado e sem centro necrótico de cor clara,

nas folhas jovens) (MAAS, 1998). A mancha de Mycosphaerella pode ser confundida com o

sintoma inicial de lesão causada por Phomopsis obscurans e Gnomonia comari.

A disseminação de conídios do fungo ocorre por respingos de água (chuva ou irri-

gação). O fungo pode sobreviver na forma de conídios, em lesões de folhas vivas, escleró-

cios e ascósporos, que são formados em restos de cultura. A doença pode ocorrer durante

todo o ciclo da cultura, pois os conídios são produzidos em uma faixa de temperatura

que varia de 15 °C a 25 °C; entretanto, é na faixa de 20 °C a 25 °C que se verifica a sua

maior incidência (DIAS et al., 2007). Elliott (1988), em condições artificiais de laboratório,

mostrou que a temperatura ótima para a germinação de conídios de M. fragariae é de

22,4 °C, e que a umidade relativa necessária para que ocorra a germinação de conídios

deve ser acima de 98%. Carrise et al. (2000) informaram que a temperatura ótima para

a infecção de M. fragariae é de 25 °C, e que o tempo de molhamento foliar mínimo é

de 12 horas. Os maiores danos ocorrem quando são empregados espaçamentos me-

nores, irrigação por aspersão e adubação nitrogenada em excesso (ZAMBOLIM; COSTA,

2006). No Brasil, nas regiões onde se adota o cultivo do morangueiro em túnel baixo,

420 M O R A N G U E I R O

Tabela 1. Etiologia, ciclo de relação patógeno-hospedeiro e manejo recomendado para as doenças do

Doença

Patógeno Etiologia Sobrevivência Disseminação Fungos Flor-preta Colletotrichum acutatum

Restos culturais Hospedeiros alternativos

Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação

Mancha de Mycosphaerella

Mycosphaerella fragariae

Restos culturais Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação Vento

Mancha de Gnomonia

Gnomonia comari Restos culturais Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação

Mancha de Pestalotia

Pestalotia longisetula

Restos culturais Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação Vento

Mancha de Dendrofoma

Phomopsis obscurans

Restos culturais Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação

Oídio Podosphaera aphanis (Oidium sp.)

Restos culturais Mudas infectadas Vento

422 M O R A N G U E I R O

Tabela 1. Continuação.

Doença

Patógeno Etiologia Sobrevivência Disseminação Mancha de Diplocarpon

Diplocarpon earlianum

Restos culturais Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação

Murcha de Verticillium

Verticillium dahliae Microescleródios Restos culturais (contaminados)

Implementos agrícolas Água de irrigação e chuva Mudas infectadas

Murcha de Sclerotinia

Sclerotinia sclerotiorum

Escleródios Restos culturais Hospedeiros alternativos

Água de irrigação e chuva Implementos agrícolas Mudas infectadas

Murcha de Sclerotium

Sclerotium rolfsii Escleródios Restos culturais Hospedeiros alternativos

Água de irrigação e chuva Implementos agrícolas Mudas infectadas

Murcha de Phytophthora

Phytophthora cactorum

Clamidósporos Oósporos Restos culturais

Água de irrigação e chuva Implementos agrícolas Mudas infectadas

Antracnose do rizoma

Colletotrichum fragariae

Restos culturais Hospedeiros alternativos

Mudas infectadas

Podridão das raízes

Pythium sp. Fusarium sp. Phytophthora sp. Rhizoctonia sp.

Oósporos Clamidósporos Escleródios Restos culturais

Água de irrigação e chuva Implementos agrícolas Mudas infectadas

CAPÍTULO 17 Doenças causadas por fungos e bactérias 423

Táticas de manejo Condições favoráveis Temperatura: 24 ºC a 28 ºC Alta umidade relativa Excesso de nitrogênio

Mudas sadias Rotação de culturas (2 anos) Fungicidas após monitoramento Evitar irrigação por aspersão Temperatura: 21 ºC a 24 ºC pH do solo: 6,5 a 7, Estresse hídrico Solos com baixo teor de matéria orgânica

Mudas sadias Rotação de culturas (> 3 anos) com gramíneas (ex.: milho) Cultivares resistentes Solarização e biofumigação em reboleiras Temperatura de 16 ºC a 22 ºC Alta umidade do solo Alta densidade de plantas Excesso de nitrogênio

Mudas sadias Rotação de culturas (milho, sorgo) Roguing das plantas infectadas

Temperatura de 20 ºC a 24 ºC Alta umidade do solo Excesso de nitrogênio Solos muito cultivados

Mudas sadias Rotação de culturas Roguing das plantas infectadas

Temperatura 16 ºC a 22 ºC Alta umidade do solo Solos compactados Excesso de nitrogênio Canteiros baixos

Mudas sadias Rotação de culturas Canteiros altos e com declividade Roguing das plantas infectadas Evitar solos muito argilosos Temperatura de 21 ºC a 27 ºC Excesso de irrigação Excesso de nitrogênio

Mudas sadias Rotação de culturas (> 2 anos) Evitar irrigação por aspersão Cultivares resistentes Temperatura variável, a depender do fungo Alta umidade do solo Solos compactados Excesso de nitrogênio Estresse hídrico e canteiros baixos

Mudas sadias Rotação de culturas (2 anos) Evitar solos muito compactados Evitar estresse nas mudas no momento do transporte Continua...

CAPÍTULO 17 Doenças causadas por fungos e bactérias 425

Táticas de manejo Condições favoráveis Temperatura variável, a depender do fungo Ferimentos nos frutos Alta umidade relativa Excesso de nitrogênio Excesso de plantas nos canteiros Frutos muito maduros Tipo de embalagem Armazenamento em locais de altas temperaturas

Rotação de culturas Adubação equilibrada (K, Ca) Irrigação por gotejamento Remoção de folhas e frutos doentes Limpeza dos canteiros Cobertura morta nos carreadores Limpeza diária do material utilizado na colheita Evitar colher frutos muito maduros Resfriamento rápido dos frutos Evitar ferimentos nos frutos e colher pela manhã ou à tardinha Evitar espaçamentos pequenos entre as plantas/maior arejamento à cultura Cultivo em túneis Controle biológico

Temperatura de 18 ºC a 22 ºC Alta umidade relativa Excesso de nitrogênio

Mudas sadias Rotação de culturas (2 anos) Evitar irrigação por aspersão Cultivo em túneis

Temperaturas mais altas Mudas sadias e indexadas Roguing imediato das plantas infectadas

Temperatura variável, a depender do nematoide Solos arenosos

Mudas sadias Rotação de culturas Uso de plantas antagônicas (ex.: crotalária, mucuna, tagetes) Solarização e matéria orgânica Alqueive Cultivares resistentes

Temperatura variável, a depender do vírus envolvido

Mudas sadias e indexadas Roguing imediato das plantas infectadas

426 M O R A N G U E I R O

Foto: Hélcio Costa

Foto: Bernardo Ueno

Foto: Bernardo Ueno

Foto: Bernardo Ueno

Figura 2. Sintomas de mancha de Mycosphaerella ( Mycosphaerella fragariae ) em folhas e pedúnculo de morangueiro.

com cobertura plástica (cultivo protegido), a ocorrência de mancha de Mycosphaerella

tem sido muito baixa nos últimos anos, fato esse também observado no Uruguai, por

Giménez et al. (2003). As cultivares de dias neutros Diamante, Aromas e San Andreas vêm

apresentando, em experimentos conduzidos no Estado do Espírito Santo, alta severidade

da doença, bem como a cultivar Dover, principalmente em cultivos orgânicos (COSTA

et al., 2011).

Mancha de Dendrofoma (Phomopsis obscurans)

A doença é causada pelo fungo Phomopsis obscurans (Ellis & Everh.) Sutton [syn.

Dendrophoma obscurans (Ellis & Everh.) H. W. Anderson]. Ela ocorre em todas as regiões que

cultivam morangueiro. Além de causar danos em folhas, pecíolos e estolhos, pode causar

428 M O R A N G U E I R O

provocar lesões em pecíolos, pedúnculos, estolhos, cálice e frutos, formando lesões depri-

midas alongadas e escuras nos três primeiros órgãos.

O fungo sobrevive na forma de micélio ou picnídios em lesões de folhas velhas.

Em áreas novas, o inóculo pode ser introduzido por mudas contaminadas. A infecção

primária ocorre no início do ciclo de morangueiro, pela disseminação de conídios, por

meio de respingos de água de chuva ou irrigação. Deve-se tomar mais cuidado no mo-

rangueiro na primavera, em folhas maduras, e, no período final de verão e outono, em

cultivares de dia neutro, como Selva, Seascape e Aromas (GIMÉNEZ et al., 2003).

Mancha de Diplocarpon (Diplocarpon earlianum)

A mancha de Diplocarpon é causada pelo fungo Diplocarpon earlianum (Ellis & Everh.)

F. A. Wolf [anamorfo: Marssonina fragariae (Lib.) Kleb.]. Está amplamente distribuída no

mundo. Essa doença pode causar perdas severas, dependendo de vários fatores epidemio-

lógicos, como a susceptibilidade da cultivar, o tipo de sistema de cultivo e as condições

climáticas da época. As lesões iniciais da doença podem ser confundidas com a mancha de

Mycosphaerella.

Nas folhas, os sintomas são numerosas manchas pequenas, de forma irregular, com

1 mm a 5 mm de diâmetro, cor púrpura ou castanho-uniforme, em contraste com a mancha

de Mycosphaerella, na qual o centro da lesão tem cor branca ou cinza-claro, e a borda é

bem definida. As manchas coalescem de forma irregular quando eles são numerosos, e a

superfície foliar tem cor púrpura a vermelho-brilhante. Conforme a doença progride, folhas

afetadas ficam de cor castanha e secam; as margens enrolam-se para cima e assumem a apa-

rência de uma folha queimada. Por essa razão, essa doença recebe o nome de “folha-quei-

mada”. Outra característica dessa doença, que a diferencia da mancha de Mycosphaerella,

é a formação de acérvulos escuros, com massa de conídios brilhantes, nas lesões na face

superior; em folhas bem velhas, com manchas, pode haver a formação de apotécios na face

superior. Além das folhas, o fungo pode causar lesões a pecíolos, pedúnculos, pedicelos,

sépalas, pétalas, estames, pistilos e frutos. Sintomas de sépalas queimadas, que resultam

em cálices secos, causam perdas no mercado, pelo aspecto visual dos frutos.

As folhas mortas, que foram infectadas no ciclo anterior, servem como fonte de inó-

culo primária. Os conídios produzidos em acérvulos são dispersos por respingos de água

de chuva ou de irrigação. O período de molhamento mínimo para infecção varia de 5 horas

CAPÍTULO 17 Doenças causadas por fungos e bactérias 429

a 15 horas, dependendo da idade da folha e da temperatura (de 15 °C a 30 °C) (ZHENG;

SUTTON, 1994). Folhas com 14 a 17 dias após a emergência são mais suscetíveis ao fun-

go. A formação de acérvulos ocorre de 10 a 25 dias após a infecção, quando as condições

ambientais são favoráveis (MAAS, 1998). Nos cultivos de primavera e verão, com cultivares

de dia neutro, como Selva, Seascape e Aromas, deve-se tomar mais cuidado, pois elas são

suscetíveis ao fungo (GIMÉNEZ et al., 2003).

Flor-preta (Colletotrichum acutatum)

A flor-preta ou antracnose é causada pelo fungo Colletotrichum acutatum J. H.

Simmonds. A antracnose do morangueiro, causada por C. acutatum, foi descrita pela pri-

meira vez na Austrália (SIMMONDS, 1965), mas foi a partir de 1983 que os relatos sobre os

sérios danos da doença começaram a ser descritos, como o de Smith e Black (1986) nos

EUA.

No Brasil, apesar de existirem relatos sobre a ocorrência de antracnose com sintomas

de flor-preta (HENZ; REIFSCHNEIDER, 1990; IGARASHI, 1984), o agente causal só foi correta-

mente identificado em 1992, por Henz et al. (1992).

Essa doença é, atualmente, considerada a mais importante do morangueiro, pois

pode causar danos muito severos nas lavouras conduzidas em campo aberto, principal-

mente na região Sudeste, entre os meses de setembro e dezembro, em virtude da presença

de chuvas constantes nesse período. No Estado do Espírito Santo, a doença foi observa-

da pela primeira vez em 1994, em mudas infectadas provenientes de São Paulo (COSTA;

VENTURA, 2006a). No Rio Grande do Sul, antes da adoção de cultivo sob túnel de lona plás-

tica, essa era considerada a principal doença. Entretanto, com a mudança na tecnologia

de produção, agora a doença só representa problema em cultivo aberto, mas, mesmo no

sistema anterior, pelo fato de a irrigação ser por gotejamento, a doença não se dispersava

facilmente. Além disso, nos últimos anos, as mudas usadas na região são praticamente to-

das importadas da Argentina ou do Chile, que são isentas do patógeno. Em muitas regiões

onde ocorrem surtos dessa doença, ela está associada à introdução de mudas infectadas

por C. acutatum (UENO, 1996). Entre alguns exemplos relatados no Brasil, além do Espírito

Santo, citado acima, têm-se Paraná (UENO, 1996), São Paulo (DIAS, 1993) e Distrito Federal

(HENZ et al., 1992).

CAPÍTULO 17 Doenças causadas por fungos e bactérias 431

da folha do morangueiro” (TANAKA et al., 1996a) (Figura 5). No morangueiro, C. acutatum

é considerado um patógeno primariamente necrotrófico, pois causa lesões necróticas nos

diferentes órgãos da planta que ele ataca (PERES et al., 2005).

Segundo Howard et al. (1992), a infecção de folhas por outros fungos

(C. gloeosporioides e C. fragariae) causadores de antracnose em morangueiro, diferen-

temente de C. acutatum, resulta em mancha circular oleosa, de cor escura, denominada

mancha preta (Figura 5C e 5D).

A ocorrência da flor-preta na cultura do morangueiro é favorecida por temperaturas

entre 25 °C e 30 °C e por alta umidade (TANAKA et al., 1994). Períodos chuvosos de 2 dias ou

mais são extremamente favoráveis ao rápido desenvolvimento da doença, principalmente

em cultivares suscetíveis (HOWARD et al., 1992). Em frutos imaturos, temperatura em torno

Fotos: Bernardo Ueno

Figura 5. Sintomas de antracnose: mancha irregular da folha ( Colletotrichum acutatum ) (A e B); mancha preta da folha ( Colletotrichum fragariae ) (C e D).

A

C

B

D

432 M O R A N G U E I R O

de 25 °C e 13 horas de umidade contínua são condições suficientes para causar infecção em

mais de 80% dos morangos (WILSON et al., 1990).

O inóculo primário de C. acutatum, em área sem histórico de ocorrência da antrac-

nose, é proveniente de mudas contaminadas pelo patógeno (HOWARD et al., 1992). Muitas

vezes é difícil a detecção da presença de plantas infectadas no viveiro, pois frequentemente

as plantas não apresentam sintomas. Apesar de as plantas estarem com infecção latente,

os sintomas de antracnose somente aparecem quando ocorrem condições climáticas fa-

voráveis ao desenvolvimento da doença (SIMPSON et al., 1994). Nas áreas onde já ocorreu

a doença, a fonte de inóculo primário pode ser o próprio solo ou restos de cultura, pois o

patógeno pode sobreviver por mais de 9 meses nesses locais (EASTBURN; GUBLER, 1990).

Em frutos infectados ou mumificados, o patógeno consegue sobreviver por mais de 2 anos

(WILSON et al., 1992). Com o desenvolvimento da doença, pecíolos, estolhos e folhas in-

fectados servirão de fonte de inóculo para outras partes da planta, como flores e frutos.

Ensaios feitos por Leandro et al. (2003) mostraram que conídios de isolados de C. acutatum

oriundos de morango podem germinar, formar apressórios e multiplicar-se sobre os fo-

líolos, na temperatura de 25 °C e com molhamento foliar contínuo de 12 horas, além de

conseguirem sobreviver em folhas assintomáticas de morangueiro por 8 semanas.

Segundo Freeman (2008), C. acutatum de morango pode sobreviver em várias es-

pécies de plantas cultivadas, como pimenta, tomate, berinjela, feijão e espécies de plantas

daninhas, sem causar sintomas da doença, indicando que eles podem servir como reserva-

tório de inóculo potencial de infecção entre os ciclos de cultivo do morangueiro. Além dos

citados acima, outros hospedeiros alternativos são citados, como: Carica papaya, Juglans

regia, Malus silvestris, Solanum tuberosum, Coffea arabica, Zinia spp., Citrus sp., Hevea spp.,

Cornus florida, Salvinia molesta e Anemone sp. (ZAMBOLIM; COSTA, 2006). Silva (2008) per-

cebeu em ensaios de inoculação cruzada com C. acutatum isolados de morango em frutos

de pimenta, verdes e maduros, pimentão-verde, maçã, pêssego e mamão, que eles repro-

duziram lesões e esporulações similares aos dos isolados do hospedeiro específico para

alguns dos isolados testados. Portanto, a presença dos hospedeiros acima citados deve ser

considerada no momento da escolha da área de plantio e, com mais rigor, na instalação de

viveiros comerciais.

A disseminação do patógeno pode ser rápida quando não é feito um controle efetivo

da doença por meio da aplicação preventiva de fungicidas e da remoção de folhas, flores

e frutos doentes, visando reduzir o potencial de inóculo dentro da cultura (HOWARD et al.,

1992). Respingos de chuvas são muito eficientes na dispersão de esporos de C. acutatum