Baixe Doenças de Morangueiro: Causas, Sintomas e Controle e outras Provas em PDF para Cultura, somente na Docsity!
CAPÍTULO^17
Doenças causadas por
fungos e bactérias
Bernardo Ueno
Hélcio Costa
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indicou que a incidência de pragas e doenças, por ordem de importância, é a principal di-
ficuldade enfrentada pelos produtores (HENZ, 2010). Muitas dessas doenças causam sérias
perdas na cultura, fazendo com que, em algumas situações e em certas regiões do Brasil,
ocorra um gasto estimado de 30 a 40 aplicações de fungicidas, perfazendo um total de 35 kg
a 45 kg do produto comercial por hectare (ZAMBOLIM; COSTA, 2006). Em virtude dessa alta
dependência de agrotóxicos de parte da cultura do morangueiro, segundo Zambolim e
Costa (2006), os frutos podem apresentar alto índice de resíduos de agroquímicos, que colo-
cam em risco a saúde dos consumidores, além de desequilibrar o meio ambiente. Além disso,
aqueles autores descrevem que, quando os agroquímicos são empregados isoladamente ou
em misturas sem registro, em excesso e sem nenhum critério, podem, com isso, reduzir a
população dos inimigos naturais das pragas, de insetos polinizadores e de microrganismos
benéficos do rizoplano e do filoplano, além de colocar em risco a saúde do homem, deixar
resíduos no solo acima dos limites permitidos e concorrer com a agressão ao meio ambiente.
Considerando que o morangueiro é suscetível a muitas doenças e que as condições
de clima nas principais regiões produtoras são favoráveis ao desenvolvimento da maio-
ria dos patógenos mais importantes, é fundamental conhecer essas doenças para que se
possam adotar medidas de manejo adequadas para o seu controle. O sucesso do controle
fitossanitário das doenças de morangueiro depende do diagnóstico rápido e correto do
agente causal (UENO, 2004). Para isso, é importante o reconhecimento dos sintomas das
principais doenças que ocorrem na cultura do morango. Quando surgirem dúvidas quanto
aos sintomas observados no campo e dificuldades na sua identificação, é importante con-
sultar um técnico especializado no assunto, ou, então, se não for possível, enviar o material
contaminado para um laboratório especializado em diagnóstico de doenças em plantas.
É preciso que o produtor de morango sempre faça um monitoramento contínuo da la-
voura, pois isso facilitará a detecção precoce de qualquer anormalidade no morangueiro.
Assim, poderá tomar as medidas adequadas de controle da doença.
Para identificar as doenças do morangueiro, sugerem-se várias publicações sobre
o assunto, escritas por especialistas das principais regiões produtoras. Entre eles, citam-
se: Rebelo e Balardin (1997), de Santa Catarina; Ronque (1998), do Paraná; Fortes e Couto
(2003), do Rio Grande do Sul; Tanaka et al. (2000, 2005), de São Paulo; Zambolim e Costa
(2006) e Dias et al. (2007), do Espírito Santo e de Minas Gerais, respectivamente. No exterior,
destacam-se o Compendium of strawberry diseases, da American Phytopathological Society
(APS) (MASS, 1998); Handley e Pritts (1998), dos EUA; e Giménez et al. (2003), do Uruguai.
Muitas das informações descritas neste capítulo têm como origem as publicações citadas.
CAPÍTULO 17 Doenças causadas por fungos e bactérias 417
Aqui serão descritas as principais doenças que ocorrem no Brasil, bem como as táti-
cas para seu manejo. Estão agrupadas, em alguns casos, de acordo com o órgão da planta
infectado, para facilitar a compreensão e as recomendações de manejo.
Principais doenças de folhas,
pecíolos, estolhões e flores
Mancha-angular (Xanthomonas fragariae)
A mancha-angular é causada pela bactéria Xanthomonas fragariae Kennedy & King.
Essa doença vem ocorrendo com alta incidência em algumas áreas do Brasil. Em 2006, por
exemplo, foram identificadas em diversas lavouras do sul de Minas Gerais, onde ocasionou
sérios danos. O surgimento de epidemias da doença está ligado à origem da muda, que vem
contaminada pela bactéria, pois sempre há relatos de surgimento de novos surtos em algu-
mas localidades (ZAMBOLIM; COSTA, 2006). A título de exemplo, cita-se o caso do Estado do
Espírito Santo, onde a doença foi introduzida em 2003, em mudas infectadas provenientes
de Minas Gerais e, ainda nesse mesmo ano, foi erradicada (COSTA; VENTURA, 2004a, 2004b).
Entretanto, essa bactéria voltaria a ser detectada em uma lavoura daquele estado, em 2006,
no Município de Castelo, na região do Forno Grande, em mudas provenientes da Argentina,
sendo a lavoura totalmente erradicada. Mesmo com o trabalho de vigilância fitossanitária,
detecção e erradicação, feito pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito
Santo (Idaf ), a doença foi constatada nos anos de 2009 e 2011. Ademais, a doença tem se
manifestado em outras regiões produtoras de morango no Brasil.
Os sintomas típicos de mancha-angular surgem, inicialmente, na forma de peque-
nas pontuações, de aspecto encharcado, na superfície inferior das folhas, que depois se
ampliam, adquirindo o formato angular, geralmente delimitado pelas nervuras da folha.
As lesões são translúcidas quando vistas com luz transmitida, mas são verde-escuras
quando vistas com luz refletida (Figura 1). Em condições úmidas, nessas lesões, muitas
vezes, é possível observar a exsudação bacteriana, que depois seca e forma uma película
esbranquiçada. As lesões posteriormente tornam-se necróticas, com coloração castanho-a-
vermelhada, e podem coalescer, cobrindo grande parte da folha. Um halo clorótico pode
circundar a lesão. Na fase final da lesão, os sintomas podem ser confundidos com outros,
próprios de manchas foliares causadas por Mycosphaerella fragariae e Diplocarpon earliana.
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inicial, após o transplantio no campo e no final do cultivo (Tabela 1). Quando as temperatu-
ras estão elevadas, danos superiores a 30% podem ocorrer, inclusive na fase de produção
de mudas (viveiros). A redução da área fotossintetizante provocada pelas manchas pode
ser responsável por perdas da ordem de 10% a 100%, dependendo da suscetibilidade da
variedade e das condições ambientais (TANAKA et al., 2005). Em virtude da sua importância
histórica no País, a maioria dos fungicidas registrados para o morangueiro faz recomenda-
ção de controle da mancha de Mycosphaerella (AGROFIT, 2016).
Os sintomas mais evidentes da mancha foliar são lesões nas folhas; no entanto,
as lesões geralmente se desenvolvem em frutos, cálices, pedúnculos, pecíolos e esto-
lhos. Lesões em folhas são inicialmente pequenas, cor púrpura-escuro, arredondadas ou
irregulares (Figura 2). Depois, essas manchas ficam com diâmetro de 3 mm a 6 mm. Em
folhas mais velhas, o centro da lesão muda de cor, de marrom para branco-acinzentada,
e, finalmente, para branca. A borda em torno da lesão necrótica ganha cor púrpura-aver-
melhado a marrom-ferrugem. Essas lesões, quando em grande número, podem coalescer,
ocupando grande parte do limbo foliar, e podem até causar a seca da folha. A expressão
dos sintomas pode variar de acordo com a cultivar de morango (por exemplo, em algumas
cultivares muito suscetíveis, o centro da lesão permanece com cor marrom-clara, em vez de
se tornar branca) e com a temperatura (em clima quente e úmido, formam-se lesões de cor
marrom-ferrugem, sem a borda púrpura-avermelhado e sem centro necrótico de cor clara,
nas folhas jovens) (MAAS, 1998). A mancha de Mycosphaerella pode ser confundida com o
sintoma inicial de lesão causada por Phomopsis obscurans e Gnomonia comari.
A disseminação de conídios do fungo ocorre por respingos de água (chuva ou irri-
gação). O fungo pode sobreviver na forma de conídios, em lesões de folhas vivas, escleró-
cios e ascósporos, que são formados em restos de cultura. A doença pode ocorrer durante
todo o ciclo da cultura, pois os conídios são produzidos em uma faixa de temperatura
que varia de 15 °C a 25 °C; entretanto, é na faixa de 20 °C a 25 °C que se verifica a sua
maior incidência (DIAS et al., 2007). Elliott (1988), em condições artificiais de laboratório,
mostrou que a temperatura ótima para a germinação de conídios de M. fragariae é de
22,4 °C, e que a umidade relativa necessária para que ocorra a germinação de conídios
deve ser acima de 98%. Carrise et al. (2000) informaram que a temperatura ótima para
a infecção de M. fragariae é de 25 °C, e que o tempo de molhamento foliar mínimo é
de 12 horas. Os maiores danos ocorrem quando são empregados espaçamentos me-
nores, irrigação por aspersão e adubação nitrogenada em excesso (ZAMBOLIM; COSTA,
2006). No Brasil, nas regiões onde se adota o cultivo do morangueiro em túnel baixo,
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Tabela 1. Etiologia, ciclo de relação patógeno-hospedeiro e manejo recomendado para as doenças do
Doença
Patógeno Etiologia Sobrevivência Disseminação Fungos Flor-preta Colletotrichum acutatum
Restos culturais Hospedeiros alternativos
Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação
Mancha de Mycosphaerella
Mycosphaerella fragariae
Restos culturais Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação Vento
Mancha de Gnomonia
Gnomonia comari Restos culturais Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação
Mancha de Pestalotia
Pestalotia longisetula
Restos culturais Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação Vento
Mancha de Dendrofoma
Phomopsis obscurans
Restos culturais Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação
Oídio Podosphaera aphanis (Oidium sp.)
Restos culturais Mudas infectadas Vento
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Tabela 1. Continuação.
Doença
Patógeno Etiologia Sobrevivência Disseminação Mancha de Diplocarpon
Diplocarpon earlianum
Restos culturais Mudas infectadas Respingos de chuva e irrigação
Murcha de Verticillium
Verticillium dahliae Microescleródios Restos culturais (contaminados)
Implementos agrícolas Água de irrigação e chuva Mudas infectadas
Murcha de Sclerotinia
Sclerotinia sclerotiorum
Escleródios Restos culturais Hospedeiros alternativos
Água de irrigação e chuva Implementos agrícolas Mudas infectadas
Murcha de Sclerotium
Sclerotium rolfsii Escleródios Restos culturais Hospedeiros alternativos
Água de irrigação e chuva Implementos agrícolas Mudas infectadas
Murcha de Phytophthora
Phytophthora cactorum
Clamidósporos Oósporos Restos culturais
Água de irrigação e chuva Implementos agrícolas Mudas infectadas
Antracnose do rizoma
Colletotrichum fragariae
Restos culturais Hospedeiros alternativos
Mudas infectadas
Podridão das raízes
Pythium sp. Fusarium sp. Phytophthora sp. Rhizoctonia sp.
Oósporos Clamidósporos Escleródios Restos culturais
Água de irrigação e chuva Implementos agrícolas Mudas infectadas
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Táticas de manejo Condições favoráveis Temperatura: 24 ºC a 28 ºC Alta umidade relativa Excesso de nitrogênio
Mudas sadias Rotação de culturas (2 anos) Fungicidas após monitoramento Evitar irrigação por aspersão Temperatura: 21 ºC a 24 ºC pH do solo: 6,5 a 7, Estresse hídrico Solos com baixo teor de matéria orgânica
Mudas sadias Rotação de culturas (> 3 anos) com gramíneas (ex.: milho) Cultivares resistentes Solarização e biofumigação em reboleiras Temperatura de 16 ºC a 22 ºC Alta umidade do solo Alta densidade de plantas Excesso de nitrogênio
Mudas sadias Rotação de culturas (milho, sorgo) Roguing das plantas infectadas
Temperatura de 20 ºC a 24 ºC Alta umidade do solo Excesso de nitrogênio Solos muito cultivados
Mudas sadias Rotação de culturas Roguing das plantas infectadas
Temperatura 16 ºC a 22 ºC Alta umidade do solo Solos compactados Excesso de nitrogênio Canteiros baixos
Mudas sadias Rotação de culturas Canteiros altos e com declividade Roguing das plantas infectadas Evitar solos muito argilosos Temperatura de 21 ºC a 27 ºC Excesso de irrigação Excesso de nitrogênio
Mudas sadias Rotação de culturas (> 2 anos) Evitar irrigação por aspersão Cultivares resistentes Temperatura variável, a depender do fungo Alta umidade do solo Solos compactados Excesso de nitrogênio Estresse hídrico e canteiros baixos
Mudas sadias Rotação de culturas (2 anos) Evitar solos muito compactados Evitar estresse nas mudas no momento do transporte Continua...
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Táticas de manejo Condições favoráveis Temperatura variável, a depender do fungo Ferimentos nos frutos Alta umidade relativa Excesso de nitrogênio Excesso de plantas nos canteiros Frutos muito maduros Tipo de embalagem Armazenamento em locais de altas temperaturas
Rotação de culturas Adubação equilibrada (K, Ca) Irrigação por gotejamento Remoção de folhas e frutos doentes Limpeza dos canteiros Cobertura morta nos carreadores Limpeza diária do material utilizado na colheita Evitar colher frutos muito maduros Resfriamento rápido dos frutos Evitar ferimentos nos frutos e colher pela manhã ou à tardinha Evitar espaçamentos pequenos entre as plantas/maior arejamento à cultura Cultivo em túneis Controle biológico
Temperatura de 18 ºC a 22 ºC Alta umidade relativa Excesso de nitrogênio
Mudas sadias Rotação de culturas (2 anos) Evitar irrigação por aspersão Cultivo em túneis
Temperaturas mais altas Mudas sadias e indexadas Roguing imediato das plantas infectadas
Temperatura variável, a depender do nematoide Solos arenosos
Mudas sadias Rotação de culturas Uso de plantas antagônicas (ex.: crotalária, mucuna, tagetes) Solarização e matéria orgânica Alqueive Cultivares resistentes
Temperatura variável, a depender do vírus envolvido
Mudas sadias e indexadas Roguing imediato das plantas infectadas
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Foto: Hélcio Costa
Foto: Bernardo Ueno
Foto: Bernardo Ueno
Foto: Bernardo Ueno
Figura 2. Sintomas de mancha de Mycosphaerella ( Mycosphaerella fragariae ) em folhas e pedúnculo de morangueiro.
com cobertura plástica (cultivo protegido), a ocorrência de mancha de Mycosphaerella
tem sido muito baixa nos últimos anos, fato esse também observado no Uruguai, por
Giménez et al. (2003). As cultivares de dias neutros Diamante, Aromas e San Andreas vêm
apresentando, em experimentos conduzidos no Estado do Espírito Santo, alta severidade
da doença, bem como a cultivar Dover, principalmente em cultivos orgânicos (COSTA
et al., 2011).
Mancha de Dendrofoma (Phomopsis obscurans)
A doença é causada pelo fungo Phomopsis obscurans (Ellis & Everh.) Sutton [syn.
Dendrophoma obscurans (Ellis & Everh.) H. W. Anderson]. Ela ocorre em todas as regiões que
cultivam morangueiro. Além de causar danos em folhas, pecíolos e estolhos, pode causar
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provocar lesões em pecíolos, pedúnculos, estolhos, cálice e frutos, formando lesões depri-
midas alongadas e escuras nos três primeiros órgãos.
O fungo sobrevive na forma de micélio ou picnídios em lesões de folhas velhas.
Em áreas novas, o inóculo pode ser introduzido por mudas contaminadas. A infecção
primária ocorre no início do ciclo de morangueiro, pela disseminação de conídios, por
meio de respingos de água de chuva ou irrigação. Deve-se tomar mais cuidado no mo-
rangueiro na primavera, em folhas maduras, e, no período final de verão e outono, em
cultivares de dia neutro, como Selva, Seascape e Aromas (GIMÉNEZ et al., 2003).
Mancha de Diplocarpon (Diplocarpon earlianum)
A mancha de Diplocarpon é causada pelo fungo Diplocarpon earlianum (Ellis & Everh.)
F. A. Wolf [anamorfo: Marssonina fragariae (Lib.) Kleb.]. Está amplamente distribuída no
mundo. Essa doença pode causar perdas severas, dependendo de vários fatores epidemio-
lógicos, como a susceptibilidade da cultivar, o tipo de sistema de cultivo e as condições
climáticas da época. As lesões iniciais da doença podem ser confundidas com a mancha de
Mycosphaerella.
Nas folhas, os sintomas são numerosas manchas pequenas, de forma irregular, com
1 mm a 5 mm de diâmetro, cor púrpura ou castanho-uniforme, em contraste com a mancha
de Mycosphaerella, na qual o centro da lesão tem cor branca ou cinza-claro, e a borda é
bem definida. As manchas coalescem de forma irregular quando eles são numerosos, e a
superfície foliar tem cor púrpura a vermelho-brilhante. Conforme a doença progride, folhas
afetadas ficam de cor castanha e secam; as margens enrolam-se para cima e assumem a apa-
rência de uma folha queimada. Por essa razão, essa doença recebe o nome de “folha-quei-
mada”. Outra característica dessa doença, que a diferencia da mancha de Mycosphaerella,
é a formação de acérvulos escuros, com massa de conídios brilhantes, nas lesões na face
superior; em folhas bem velhas, com manchas, pode haver a formação de apotécios na face
superior. Além das folhas, o fungo pode causar lesões a pecíolos, pedúnculos, pedicelos,
sépalas, pétalas, estames, pistilos e frutos. Sintomas de sépalas queimadas, que resultam
em cálices secos, causam perdas no mercado, pelo aspecto visual dos frutos.
As folhas mortas, que foram infectadas no ciclo anterior, servem como fonte de inó-
culo primária. Os conídios produzidos em acérvulos são dispersos por respingos de água
de chuva ou de irrigação. O período de molhamento mínimo para infecção varia de 5 horas
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a 15 horas, dependendo da idade da folha e da temperatura (de 15 °C a 30 °C) (ZHENG;
SUTTON, 1994). Folhas com 14 a 17 dias após a emergência são mais suscetíveis ao fun-
go. A formação de acérvulos ocorre de 10 a 25 dias após a infecção, quando as condições
ambientais são favoráveis (MAAS, 1998). Nos cultivos de primavera e verão, com cultivares
de dia neutro, como Selva, Seascape e Aromas, deve-se tomar mais cuidado, pois elas são
suscetíveis ao fungo (GIMÉNEZ et al., 2003).
Flor-preta (Colletotrichum acutatum)
A flor-preta ou antracnose é causada pelo fungo Colletotrichum acutatum J. H.
Simmonds. A antracnose do morangueiro, causada por C. acutatum, foi descrita pela pri-
meira vez na Austrália (SIMMONDS, 1965), mas foi a partir de 1983 que os relatos sobre os
sérios danos da doença começaram a ser descritos, como o de Smith e Black (1986) nos
EUA.
No Brasil, apesar de existirem relatos sobre a ocorrência de antracnose com sintomas
de flor-preta (HENZ; REIFSCHNEIDER, 1990; IGARASHI, 1984), o agente causal só foi correta-
mente identificado em 1992, por Henz et al. (1992).
Essa doença é, atualmente, considerada a mais importante do morangueiro, pois
pode causar danos muito severos nas lavouras conduzidas em campo aberto, principal-
mente na região Sudeste, entre os meses de setembro e dezembro, em virtude da presença
de chuvas constantes nesse período. No Estado do Espírito Santo, a doença foi observa-
da pela primeira vez em 1994, em mudas infectadas provenientes de São Paulo (COSTA;
VENTURA, 2006a). No Rio Grande do Sul, antes da adoção de cultivo sob túnel de lona plás-
tica, essa era considerada a principal doença. Entretanto, com a mudança na tecnologia
de produção, agora a doença só representa problema em cultivo aberto, mas, mesmo no
sistema anterior, pelo fato de a irrigação ser por gotejamento, a doença não se dispersava
facilmente. Além disso, nos últimos anos, as mudas usadas na região são praticamente to-
das importadas da Argentina ou do Chile, que são isentas do patógeno. Em muitas regiões
onde ocorrem surtos dessa doença, ela está associada à introdução de mudas infectadas
por C. acutatum (UENO, 1996). Entre alguns exemplos relatados no Brasil, além do Espírito
Santo, citado acima, têm-se Paraná (UENO, 1996), São Paulo (DIAS, 1993) e Distrito Federal
(HENZ et al., 1992).
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da folha do morangueiro” (TANAKA et al., 1996a) (Figura 5). No morangueiro, C. acutatum
é considerado um patógeno primariamente necrotrófico, pois causa lesões necróticas nos
diferentes órgãos da planta que ele ataca (PERES et al., 2005).
Segundo Howard et al. (1992), a infecção de folhas por outros fungos
(C. gloeosporioides e C. fragariae) causadores de antracnose em morangueiro, diferen-
temente de C. acutatum, resulta em mancha circular oleosa, de cor escura, denominada
mancha preta (Figura 5C e 5D).
A ocorrência da flor-preta na cultura do morangueiro é favorecida por temperaturas
entre 25 °C e 30 °C e por alta umidade (TANAKA et al., 1994). Períodos chuvosos de 2 dias ou
mais são extremamente favoráveis ao rápido desenvolvimento da doença, principalmente
em cultivares suscetíveis (HOWARD et al., 1992). Em frutos imaturos, temperatura em torno
Fotos: Bernardo Ueno
Figura 5. Sintomas de antracnose: mancha irregular da folha ( Colletotrichum acutatum ) (A e B); mancha preta da folha ( Colletotrichum fragariae ) (C e D).
A
C
B
D
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de 25 °C e 13 horas de umidade contínua são condições suficientes para causar infecção em
mais de 80% dos morangos (WILSON et al., 1990).
O inóculo primário de C. acutatum, em área sem histórico de ocorrência da antrac-
nose, é proveniente de mudas contaminadas pelo patógeno (HOWARD et al., 1992). Muitas
vezes é difícil a detecção da presença de plantas infectadas no viveiro, pois frequentemente
as plantas não apresentam sintomas. Apesar de as plantas estarem com infecção latente,
os sintomas de antracnose somente aparecem quando ocorrem condições climáticas fa-
voráveis ao desenvolvimento da doença (SIMPSON et al., 1994). Nas áreas onde já ocorreu
a doença, a fonte de inóculo primário pode ser o próprio solo ou restos de cultura, pois o
patógeno pode sobreviver por mais de 9 meses nesses locais (EASTBURN; GUBLER, 1990).
Em frutos infectados ou mumificados, o patógeno consegue sobreviver por mais de 2 anos
(WILSON et al., 1992). Com o desenvolvimento da doença, pecíolos, estolhos e folhas in-
fectados servirão de fonte de inóculo para outras partes da planta, como flores e frutos.
Ensaios feitos por Leandro et al. (2003) mostraram que conídios de isolados de C. acutatum
oriundos de morango podem germinar, formar apressórios e multiplicar-se sobre os fo-
líolos, na temperatura de 25 °C e com molhamento foliar contínuo de 12 horas, além de
conseguirem sobreviver em folhas assintomáticas de morangueiro por 8 semanas.
Segundo Freeman (2008), C. acutatum de morango pode sobreviver em várias es-
pécies de plantas cultivadas, como pimenta, tomate, berinjela, feijão e espécies de plantas
daninhas, sem causar sintomas da doença, indicando que eles podem servir como reserva-
tório de inóculo potencial de infecção entre os ciclos de cultivo do morangueiro. Além dos
citados acima, outros hospedeiros alternativos são citados, como: Carica papaya, Juglans
regia, Malus silvestris, Solanum tuberosum, Coffea arabica, Zinia spp., Citrus sp., Hevea spp.,
Cornus florida, Salvinia molesta e Anemone sp. (ZAMBOLIM; COSTA, 2006). Silva (2008) per-
cebeu em ensaios de inoculação cruzada com C. acutatum isolados de morango em frutos
de pimenta, verdes e maduros, pimentão-verde, maçã, pêssego e mamão, que eles repro-
duziram lesões e esporulações similares aos dos isolados do hospedeiro específico para
alguns dos isolados testados. Portanto, a presença dos hospedeiros acima citados deve ser
considerada no momento da escolha da área de plantio e, com mais rigor, na instalação de
viveiros comerciais.
A disseminação do patógeno pode ser rápida quando não é feito um controle efetivo
da doença por meio da aplicação preventiva de fungicidas e da remoção de folhas, flores
e frutos doentes, visando reduzir o potencial de inóculo dentro da cultura (HOWARD et al.,
1992). Respingos de chuvas são muito eficientes na dispersão de esporos de C. acutatum