









Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Prepare-se para as provas
Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity
Prepare-se para as provas com trabalhos de outros alunos como você, aqui na Docsity
Os melhores documentos à venda: Trabalhos de alunos formados
Prepare-se com as videoaulas e exercícios resolvidos criados a partir da grade da sua Universidade
Responda perguntas de provas passadas e avalie sua preparação.
Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium
Comunidade
Peça ajuda à comunidade e tire suas dúvidas relacionadas ao estudo
Descubra as melhores universidades em seu país de acordo com os usuários da Docsity
Guias grátis
Baixe gratuitamente nossos guias de estudo, métodos para diminuir a ansiedade, dicas de TCC preparadas pelos professores da Docsity
negros nas Am&ricas, observa-se a persistência de um corpus lingüistico de origem africana como meio de transmissão simbólica dos seus valores.
Tipologia: Resumos
1 / 17
Esta página não é visível na pré-visualização
Não perca as partes importantes!
ETNOLOGIA DA FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DA U F B ~.
(1) M. Herskovits, "The Process o£ Cultural Change", pb. in Ralph Linion (ed.), The Science of Man in the World Crisis (N.Y.,pig. 143-170. 19451, pág. 168. (2) B.^ Malinowski, 'The^ Problem of Meaning in Primitive Language", in^ C.^ ZC. Ogden and I.A. Richards, T h e Meaning of Meaning (N.Y.,^ 9.a^ ed.,^ 1953). phg. 296-336. (3) A propósito do conceito de "nação" nos candomblks da hhi, com esse mes- mo titulo. veja-se a comunica@o de Vivaldo da Costa Lima ao Coidquio Negritude e
Haiti e a "lengua de santeros" de Cuba (4), compreende um vocabulário especifico de evidente origem africana e de aspecto mágico semântico. São palavras que descrevem a ordem social do grupo, objetos ritualís- ticos e sagrados, cozinha ritualística; cânticos e expressões referentes a crenças, a costumes específicos, cerimbnias e ritos mágicos, todas apoin- das num tipo consuetudinário de comportamento bem conhecido clus participantes desses cultos por experiência pessoal.
tica mais do que a tradução verbal de cada palavra ou expressão, coisa
fator determinante de ascensão sócio-religiosa dentro do grupo e 30 domínio apenas dos mais antigos e hierarquicamente superiores nas ca- sas de culto. Importa saber, por exemplo, para que "santo" está sendo
significa literalmente a "cantiga", dentro do que Jakobson consideroti de aspecto conativo e não referencial da mensagem, neste caso também para a divindade, desde quando a orientação da mensagem para o des- tinatário encontra a sua forma mais pura no vocativo e nas sentenças imperativas que diferem fundamentalmente das sentenças afirmativas porque, do ponto de vista lógico, estas podem e aquelas não podeili ser submetidas A prova de verdade (5). Sendo assim, mesmo que se considerem essas manifestações como realidades brasileiras, na medida em que foram recriadas e remoldadas no Brasil, o repertório lingüistico específico das suas cerimbnias ritua- listicas 6 preservado estranho ao domínio da lingua portuguesa, por- que nele se acha implicita a noção maior de segredo dos cultos. E se a língua não relata a realidade, mas cria-a subjetivamente, qualquer mu-
uma mudança na imagem dessa realidade. Vale lembrar, de passagem, que a mudança do uso do latim para as várias línguas pátrias nas cerimônias da Igreja Católica Romana fez-se acompanhar da mudança de alguns dos seus cerimoniais litúrgicos, como no caso, por exemplo, da função conativa para mais referencial durante n celebração da missa, comportamento esse que chegou a ser interpre- tado popularmente como uma dessacralização da Igreja. Por outro lado, convém ainda notar que as manifestações folclóricas de influência afri- ,.ma, como a capoeira e o maculelê, por estarem de certa forma asso- ciadas aos aspectos de caráter religioso afro-brasileiro, conservam também
(4) Cf. M. Herskovits, Life in a Haitian Vallcy, Alfred A. Knopf - N.Y., Lon- don, 1937; Lydia Cabrera, E1 Monte Miami, Florida, 1968 e AnagB, Vocabuln~ioLi- cumi La Habana, 1941. (s) R.^ Jakobson,^ Lingüistica^ e^ Comunicaçao,^ E d.^ Cultnx^ Ltda., 2.a^ ed.,^ revista, SSo Paulo 19ô4 pág. 127.
gem popular da Bahia - a linguagem das camadas humildes da sacie
dos chamados cultos afro-brasileiros - e no falar mais educado, de pes-
Feira de Santana, no interior do Estado (10).
atC princípios do século XIX, em conseqüência do tráfico intensivo e
tes etnias ainda vivos na cidade do Salvador - pelos seus cálculos, cer-
(10) Estes dados foram tirados do fichário já organizado pela A. para a elabo- q á o do LCxico de Africanfsmos dcr Bahia. (11) Prefácio de Homero Pires, pb.^ pela Cia.^ Ed.^ Nacional, série^ 5.a^ da^ Bm- siliana, vol. 9, 1.a ed. 1933, 2.a ed. 1935 e 3.8 ed. 1945, todas esgotadas. As nossas referências s%opara a edição de 1945.
Bahia (Rito NagG) (B) :
(12) Nina,^ em ogã no candomblé do Gantois. Lembramos ainda de Edison Car- neiro. Roger Bastide. Presentemente entre os nomes internacionais temos Jorge Amado, CaribC e o prbprio Pierre Verger. Além disso, tém sido cada vez mais fre- quentes as viagens de alguns' chefes e membros importantes desses cultos, não d I? Ni- gGria, como a Dacar e ao Daomé, inclusive com passagens pagas pelo Governo Bra- sileiro. V. ainda V. da Costa Lima, "Os Obás de Xang6" in Afro-Asia. pb. CEAO, U.F.Ba. nP 213. 1966. (13) Pb. Cia. Ed. Nacional. São Paulo. 1961, tradução de Maria Isaura de Queiroz, pág. 24.
guns angolas e congos nas vizinhanças da cidade, mas que não havin chegado a estender suas pesquisas até eles (pág. 193). Na época de Nina, a evidente predominância numérica dos povos de cultura iorubá em Salvador, devia-se à sua chegada maciça e re-
feito em intensidade crescente, entre a Baía de Benim e a cidade do
greiro, decretada no Brasil a partir de 1830 ( 9 , o que facilitou, sem dúvida alguma, a concentração dos iorubás e nagôs em trabalhos do-
"Frequência de Ofícios Grupados", encontrados no estudo de Maria José de Souza Andrade sobre A Mão-de-obra Escrava em Salvador de 1811 a 1860, todo ele baseado em inventário do século passado (15). Nina ainda conta que esses africanos possuíam os mais numerosos "cantos" ou sítios especiais de reuniões em várias ruas e praças principais da cidade
entre e sobre os africanos da cidade do Salvador e adjacências, até onde sua fama e influencia pudessem alcançar. Quanto aos bantos e jejes - principalmente os bantos que foram
numerosas e sucessivas - aconteceu-lhes exatamente o contrário durante os dois séculos precedentes à chegada maciça dos iorubá. Desembarcados em Salvador, mas como se destinavam sobretudo para os trabalhos rri- rais, terminavam sendo reagrupados e misturados indistintamente entre si e com escravos aborígenes, a fim de evitar-se que a concentração maior de africanos de uma mesma procedência étnica nas senzalas próximas às fazendas e engenhos que se encontravam espalhados, aqui e acolá, em áreas interioranas, isoladas e de difícil acesso, desse motivo a re- beliões que pusessem seriamente em perigo a segurança dos seus proprie- tários, numericamente inferiorizados. Do outro lado, em Africa, enquanto na zona sul da Costa Oci- dental, a organização do tráfico orientou a busca de mão-de-obra escra- va para as aldeias isoladas do interior, onde, por isoladas, as culturas bantos permaneciam arcaizantes, conservadoras, sem grandes influências mútuas, no Golfo da Guin.6 as condições em que o tráfico se estabeleceu posteriormente, permitiu a vinda para o Brasil de um contingente de povos que se achavam concentrados em territórios mais próximos entre
(14) Cf. Pierre Verger.^ O^ Fumo^ du^ Bahia .e o^ trdfico^ de^ escravos^ do^ Golfo de Benim, CEAO, U. F. B a. , Serie Estudos. na0 6, 1966. (E) Dissertaqáo de Mestrado em^ Ciências Humanas apresentada^ à^ U^ .F.Ba..^ eni setembro de 1975. ( 16 ) V. Nina. o p. cit. píig. 79.
nários (17).
século passado. As condições sócio-econômicas do Brasil na época -
com o mundo exterior - demandavam uma concentração grande de mão-
peito e a confiança universais dos negros da Bahia. Peclreiro e
(i?) V.^ The Rev.^ Samuel Johnson,^ The HUtory^ of^ the^ Yoruba,^ C. S. S.^ Book- shops. rep. 1969, Lagos; W. J. Argyle. The Fons of Dahomqi, Claredon Press Oxford, 1966. (18) Ashley Montagu, Man in Process, A Mentor Book, pb., by New American Library, U.S.A.. 1961 pig. 24. (19) Pb.^ Museu do Estado^ da^ Bahia,^ n.0^ 8, 1948, pAg.^ 102.
fato na Bahia, sobre o que tambem põe dúvidas Vivaldo da Costa Lima quando discute o conceito de "nação" no candomble (22). Voltando de novo ao problema na Bahia, basta& que os pesquisa- dores, durante as suas descrições etnográficas estivessem atentos para as diferenças de procedência formais da terminologia religiosa dos cultos alio-brasileiros, ao ter em mente que o candomblé pode compreender elementos de diversas origens. Neste caso descobririam que a terminolo- gia e estratificação dos grupos de iniciação ou "barcos" na Bahia, me+ mo em "nações" que se dizem "queto puro" é de origem fon e não
. (^) iorubá, bem como os nomes dos instrumentos musicais sagrados: os três atabaques (rum, rumpi, 1é ou runlé) e o gã, idiofone de uma só câmpa-
colhimento dos iniciando, ou runcd; algumas evidências lingüísticas, en- tre tantas outras, que por si só permitiriam encontrar sobretudo o mo- delo de organização religiosa dos "conventos" daomeanos (23) , Por outro lado, o conhecimento empírico da lingua iorubá por parte de alguns - a única língua africana que mereceu até agora duas peque-
importante membro de uma das maiores "casasde-santo" de "nação" queto da cidade de Salvador (M), e também a Introdução ao Estudo Gramatical da Lingua Yorubd, esta em segunda publicação em 1975 (25), alem de um curso regular de iorubá ministrado no Centro de Estudos Afro-Orientais, de 1961 a 1963, e agora reiniciado - contribuiu para distorcer mais ainda o entendimento das influências africanas n:i Bahia. Diferentemente das línguas européias, ditas de acento intensivo, O iorubá, além de se prestar à formação das mais complexas frases nomi- nais e verbais, de que não vamos falar agora, é uma língua tonal de três registros musicais, alto, baixo e médio, que se combinam de ma- neira variada (26). A troca de posição em qualquer um desses registro numa iinica palavra acarreta a modificação do significado dessa pala- vra, do mesmo modo como acontece com a troca de timbre das
nimos do tipo "sêde"/"séde", "rêis"/"réis", etc. Compare-se, em iorubá. "wb" (leia-se com 8, fechado) , olhar para e "wó" (leia-se com o aberto) ,en-
(22) Op. cit. (23) V. Herskovits, op. cit., 1938: Ceoffrey Corer, op. cit., e Akindblb et Agues. so, Contribution a I%tude de i' Histoire de I'Ancien Royaume de Porto Novo, LEaii- Dakar, 1953 e Terminologia Religiosa e Falar Cotidiano de um grupo de Culto Afro- Brasileiro, tese de mestrado que a A. aprseentou A U.F. Ba., em 1971. (24) Deoscbredes M. dos Santos (Didi). "açobá" do Axk Apb Afonjh. V. ainda L'. da Costa Lima, Os Obds de Xangô, op. cit. (25) V. Edson Nunes da Silva. publicado pela U.F.Ba., 1." ed. em 1958. (26) V. a discussão de lingua tonal e não-tonal em nosso artigo Etndnimos Afri- mnos e Formar Ocorrentes no Brasil, in Afro-Asia, pb. CEAO, U.F. Ba. 1968, phgs. 63-82.
de significado se estabelece apenas pela diferença no tom com que & pronunciada a vogal final - u: em tom alto (representado na escrita do iorubá pelo sinal diacrítico - f -) quando quer dizer cidade, e em tom baixo (indicado na escrita do iorubá pelo sinal diacritico - \ -) quando quer dizer tambor. Sendo assim, a acomodação de tons e de timbre numa mesma pa- !ama permite chegar-se a qualquer étimo a que se queira induzir, e m b e ra ele seja completamente falso ou fantasioso, como atribuir a ebó, ofe- renda, que vem do iorubá "ebo" (com o mesmo significado e pronun- ciado também com as vogais abertas), o mesmo étimo da palavra ebô - iguaria de milho branco entre os candomblés - que vem d o iorubá "ègbo", pasta de milho, mas, como na Bahia, pronunciado com as vogais fechadas; ou, então, ir também buscar para ebó, oferenda, um outro etimo "egbò" que em iorubá significa raiz e difere de "ègbo", milho tri- turado, porque esta tem a primeira e não a última vogal em tom baixo, sob a alegação de que tanto milho quanto raízes são encontrados em to- das as oferendas ou despachos. De erros iguais a esses - o primeiro tirado de O Elemento Afro- Negro na Língua Portuguêsa, de Jacques Raimundo, e o segundo de A Influência Africana n o Português do Brasil, de Renato Mendonça, li- vros publicados pela primeira vez em 1933, no mesmo ano de Os Afri- canos n o Brasil - não faltam exemplos recentes entre os vários autores de estudos afro-brasileiros e africanistas no Brasil, apesar de todo o vo- lume de informações científicas de que se dispõe hoje sobre Africa e lin- guas africanas. De sua parte, lingüístas e filólogos brasileiros apresen- taram sempre uma tendência a minimizar a influhcia das línguas afri- canas no Português do Brasil, considerando este capítulo da história de nossa língua como praticamente estudado e encerrado - embora cri- ticando os erros metodológicos dos poucos que se dedicaram episódic;i ou romanticamente a tratar do assunto - ao limitar aquela influêncin ;i alguns empréstimos léxicos que, como declara Arlindo de Souza, "a bem da ciência filológica vão se tornando cada vez mais reduzidos." (x)
1973, quarenta anos depois da primeira edição, desta vez publicado pelil
tuto Nacional do Livro), sem uma revisão sequer, ainda trazendo a divisão tradicional das línguas africanas em dois grupos distintos "su- daneses e bantos", uma noção completamente superada desde 1955 com os estudos de Joseph Greenberg, que as coloca a todas num grupo por ele denominado de Congo- Cordofaniano ( 2 3. Além do mais, no livro de Mendonça se encontra também um mapa da "Distribuição do Ele- mento Negro no Brasil Colonial e Imperial", mapa esse freqüente-
(27) A^ Lingua^ Portuguesa^ no^ Brasil,^ Editora^ Fundo^ de^ Cultura^ S/A,^ Rio^ de a Taiieiro. 1960. 1.a^ ed.^ brasileira... -^ pzle.^ 116. (28j V. ~ t u d i e sin African Linguistic Classification Compass Publishing Company U.S.A.. 1955.
provavelmente porque se tratava, segundo ele, de "uma espécie de
patois abastardado do português e de outras línguas africanas" (pág. 221). Por outro lado, na sua obra as palavras e expressões do iorubA aparecem frequentemente associadas aos aspectos etnográficos das ma- nifestações de religiosidade popular. Como os estudos de antropologia afro-brasileira que se seguiram têm tratado geralmente da influência cultural iorubá na Bahia em termos quase de "sobrevivência" e, ao falarem dos candomblés queto ou na@, consideram-nos como "os mais puros", isto (^) é, os que mais zelosamente preservaram o seu modelo ancestral, guardando com a língua o segredo d o culto, concluiu-se forçosamente pela noção errada de que o iorub no Brasil seria uma lingua de aspecto sagrado, e de uso restrito aos candomblés da Bahia. Neste caso interessaria mais a antropólogos e aos estudos de dialetologia africana, porque, ao contrário ds línguas bantos. o iorubá não havia chegado a se "profanizar" a ponto de contribuir significativamente com empréstimos léxicos ao português falado n a Brasil. I No entanto. a interferência africana no Brasil não se limita tão s6 aos empréstimos léxico-culturais nem às manifestações dos candom- blés, embora possamos hoje sobrepor a influência religiosa àquelas in- fluências por "ação urbana" e por "ação rural" de que fala Serafim d a Silva Neto, "ações" essas que, segundo o mesmo autor, deixaram "cicatrizes da tosca aprendiazgem que da língua portuguêsa, por causa de sua misera condição social, fizeram os negros e os índios" (30) Restam-nos, então, as perguntas: 1. Que cicatrizes são essas, e como.
popular do Brasil "foi mais profunda que a do Tupi, embora menos extensa", como quer Gladstone Chaves de Melo? (31) São questões ainda em aberto nos estudos brasileiros. Obviamente, em
disciplinar, o que significa estar sujeita ao concurso de diferentes técni-
interesse pelos estudos afro-brasileiros e pelo conhecimento maior da lingua do Brasil nos vários níveis de seus diferentes falares regionais. No entanto, se continuar a faltar ao antropólogo um embasamento liii- güístico e noções de línguas africanas, pelo menos daquelas que foram faladas pelas etnias numérica ou culturologicamente superiores no Bra- sil, e, aos lingüistas, um embasamento antropológico e o conhecimento, mesmo que teórico, de línguas africanas, dificilmente encontraremos respostas adequadas para essas questões, a não ser através da literatura em língua estrangeira, se esses autores estrangeiros não se deixarem levar
(30) Em^ Introdução^ ao^ Estudo^ da^ Lfnguu Portuguesa^ no^ Brasil,^ Instituto^ Na- cional do Livro, Rio de Janeiro, 1963, pAg. 110. (31) Em A Lingua d o Brasil, Livraria Agir Editora. Rio de Janeiro, 1943, pAg. 59.
por informações distorcidas da bibliografia afro-brasileira disponível, sem falar da dificuldade posta pela falta de domínio da língua portuguesa por parte desses autores estrangeiros. Não estamos insinuando que antropólogos "se convertam" (^) à liii- giiistica ou lingüistas "se convertam" à antropologia, nem tampouco que lingüistas e antropólogos se tomem especialistas em línguas africanas para então se dedicarem ao estudo das manifestações culturais brasileiras de influência africana ou h investigação de certos falares dialetais do Bra- sil. Digo apenas que tanto uns quanto outros falam de universais de linguagem e de cultura, e ambos estão a lidar com evidências empíricas subjacentes às quais interagem fatores de ordem sócio-antropológica e etnolingüística; por isso mesmo lembro a lição que nos dá Nina Kodri- gues ao compreneder a complexidade do problema e a limitação de suas conclusões sem o concurso da lingüistica, quando diz textualmenre no capítulo que ele dedica a línguas e dialetos africanos no Brasil (pág 206) :
"Não sou filólogo nem possuo infelizmente em lingüística os conhecimentos indispensáveis para apontar, no rico material de estudos fornecidos pelas línguas africanas no Brasil, todo o proveito que nêle se deve encerrar. Nem a isso me proponlio. e tão somente nêste particular me limitarei a coligir documen- tos destinados a estudo e oportunamente trabalhados pelos há- beis na especialidade. Mas aos cientistas pátrios, o interêsse do estudo das lin- guas africanas faladas no Brasil se oferece sob aspectos diver- sos, entre os quais se salientam o do conhecimento científico dessas línguas, e da indução que elas permitem tirar para o co- nhecimento das nações negras que as falavam, o da influência por elas exercida sôbre a língua portuguêsa falada no Brasil"
Esta posição, não sendo nova, como se vê, tem sido reiterada através dos tempos com freqüência cada vez maior, o que lhe empresta uma le- gitimidade indiscutível, não só pelo número de pronunciamentos. como pela categoria dos que os têm feito. Na última reunião da Associação Brasileira de Lingüística, realizada em Belo Horizonte (julho de 1975), Yonne de Freitas Leite, do Museu Nacional e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, proferiu uma
clarações que fizera em Florianópolis por ocasião da última reunião da Associação Brasileira de Antropologia (dezembro de 1974) quanto à falta de diálogo que se observa entre lingüistas e antropólogos no Brasil, declarações essas que foram então secundadas pelas de Vivaldo da Costa Lima, da Universidade Federal da Bahia. Naquela conferência, Yonne de Freitas Leite considera curioso o fato de no seu trato diário com antropólogos e estudantes de pós-graduação
"....aqui, ao contrário de outros meios, o que a acultu-
guists as to the contribution of different African ethnicities to the pre-
(32) Conferencia realizada para o I Seminhrios de Cultura da Cidade de Sal- vador, organizados pela Prefeitura Municipal do Estado da Bahia em junho de 1975.
rèvéle souvent supérieur au peuplement portugais.