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Introdução à Antropologia: Ramificações e Atribuições, Esquemas de História

Este texto apresenta uma introdução abrangente à antropologia, explorando suas ramificações e atribuições ao longo da história. Aborda diferentes escolas de pensamento, como o evolucionismo social, o funcionalismo e a antropologia interpretativa, destacando seus principais representantes e contribuições para o estudo da cultura e da sociedade. O texto também discute a relevância da antropologia para compreender a diversidade cultural e as desigualdades sociais.

Tipologia: Esquemas

2024

Compartilhado em 06/12/2024

ozeas-pereira
ozeas-pereira 🇧🇷

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ANTROPOLOGIA
E CULTURA
Priscila Farfan Barroso
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Baixe Introdução à Antropologia: Ramificações e Atribuições e outras Esquemas em PDF para História, somente na Docsity!

ANTROPOLOGIA

E CULTURA

Priscila Farfan Barroso

O que é antropologia:

ramificações e atribuições

Objetivos de aprendizagem

Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„ Justificar a construção do pensamento antropológico. „ Definir as ramificações e atribuições da antropologia. „ Descrever os encaminhamentos da antropologia nas últimas décadas.

Introdução

Antropologia pode ser melhor compreendida enquanto disciplina cien- tífica a partir do seu desenvolvimento ao longo do tempo. Desde os primeiros viajantes que entraram em contato com outros povos até o intenso contato cultural permitido pela globalização, está em questão o modo como olhamos aqueles que são diferentes de nós. Assim, refletindo sobre esse olhar podemos conhecer e aprofundar a compreensão e o entendimento dos povos existentes. Neste capítulo, você aprofundará o seu conhecimento sobre a constru- ção do pensamento antropológico, além de conhecer suas ramificações e atribuições existentes. Com isso, perceberá quais são as possibilidades de aplicações conceituais em nosso cotidiano.

Construindo o pensamento antropológico

Você busca explicações para o que acontece no mundo? Você se questiona por que algo aconteceu de um jeito e não de outro? Você tem curiosidade sobre as formas de vida de outras culturas? Pensar sobre o que os homens fazem, como fazem e por que fazem, faz parte da racionalidade humana (Figura 1). Esses questionamentos possibilitam ao homem refletir sobre sua condição humana no mundo, e assim compreender modos de viver diferentes dos seus.

próximo dos animais do que dos humanos. O historiador e cronista português Gândavo (2004, p. 135) conta as impressões sobre os indígenas:

A língua que usam, por toda costa [...] Carece de três letras convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e essa maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.

Deste modo, a vida nos trópicos da América do Sul causava estranha- mento aos europeus que esperavam dominar esses povos e levar a verdadeira “civilização” a eles.

O livro do viajante de Hans Staden, Viagem ao Brasil, conta sobre o encontro com os indígenas na América do Sul, as relações entre esses povos com os portugueses e como se dava os ritos e cerimônias dos ditos “selvagens”. Em um dos trechos, ele apresenta a antropofagia presente nesses povos:

Voltando da guerra, trouxeram prisioneiros. Levaram-nos para sua cabana: mas a muitos feridos desembarcaram e os mataram logo, cortaram-nos em pedaços e assaram a carne [...] Um era português [...] O outro chamava-se Hyeronimus; este foi o assado de ontem. (STADEN, 1930).

Ramificações e atribuições da antropologia

Podemos dizer que a Antropologia tem ramificações com origens, caracterís- ticas, conceitos e representantes diferentes. Vamos chamar essas ramificações de “paradigmas” (OLIVEIRA, 1988), já que alguns não são escolas, propria- mente constituídas como tal, e assim, conseguimos agrupar seus elementos característicos para destacar a importância e contribuição de cada.

Evolucionismo Social

A partir de 1830, influenciada pelas ideias evolucionistas da Biologia, surge o embrião de uma antropologia evolucionista, na Inglaterra. O filósofo inglês Herbert Spencer foi um dos maiores influenciadores, pois apostava na escala

evolutiva ascendente, baseada na noção de “estágios”, de modo que todos os seres humanos, em sociedade, passariam por cada processo até que evoluíssem (BARNARD; SPENCER, 2002). Essas ideias foram apropriadas para o estudo do homem e reforçaram a explicação de que as sociedades passariam pelos mesmos estágios até que se alcançassem a “civilização”, sendo essa um processo unilinear. Assim, durante o século XIX, temos três representantes do evolucionismo social, são eles: Lewis Henry Morgan, Edward Burnett Tylor e James George Frazer. Morgan era norte-americano e trabalhou por muito tempo entre os Iroque- ses, que viviam no Lago Erie da América do Norte, e outros povos americanos, em contato com os nativos por meio da tradução de um intérprete. Ele investigou as formas de governo, o sistema de parentesco e questão da propriedade, a fim de estabelecer evidências na sistematização do progresso humano. O inglês Tylor realizou estudos comparativos a partir da ideia de uni- dade psíquica humana. Seu objetivo era dissecar a civilização em detalhes e classificá-los em graus apropriados, sendo que, para ele, era mais importante compreender a distribuição geográfica e histórica do que a vida dos nativos. Nesse sentido, o autor se apoiava em relatos de fenômenos das culturas aná- logas, que eram tomadas como evidências dessa progressão. Frazer era escocês, mas atuou como professor na Inglaterra. Ele queria encontrar leis gerais que pudessem ser presumidas de fatos particulares nas diferentes sociedades. Na sua obra O Ramo de Ouro (1890), ele estudou a magia nas sociedades primitivas como sendo o embrião de um processo contínuo e evolutivo para chegar no desenvolvimento da ciência, tal qual se dá nas sociedades contemporâneas.

Para conhecer mais sobre o pensamento do Evolucionismo cultural e suas ideias bases, você pode ler o livro Evolucionismo cultural de Castro, 2005.

Enquanto Malinowski aposta no aprofundamento de estudo sobre uma cultura, Radcliffe-Brown (2013) se baseia em uma perspectiva metodológica comparativa, uma vez que ele prefere traçar comparações entre o povo estu- dado e outros povos. Seu objetivo era realizar generalizações sobre a forma estrutural da sociedade e entender sua continuidade ao longo do tempo. Assim, Malinowski e Radcliffe-Brown rompem definitivamente com os fundamentos tradicionais da antropologia e adotam uma orientação sincrônica do estudo da sociedade, de maneira científica. Para o primeiro, deve-se analisar a totalidade dos aspectos da cultura nativa, como o pes- quisador a vê, com o objetivo de delinear as leis e padrões de todos os fenômenos culturais (MALINOWSKI, 1984). Já para o segundo, cabe o estudo da sociedade humana na perspectiva de seus fenômenos sociais, nos quais se buscam relações existentes – de caráter funcional - entre as formas de associação dos indivíduos, de modo a estabelecer características gerais das estruturas sociais apreendidas através de observações reais (RADCLIFFE-BROWN, 2013).

Culturalismo norte-americano

Franz Boas se opôs aos métodos dedutivistas das análises comparativas e defendeu o método da indução empírica, a fim de não enquadrar os fenômenos em um conceito que não lhe cabia. Assim, ele analisou os costumes semelhantes entre tribos vizinhas, para traçar paralelos considerando o contexto social na perspectiva histórica e geográfica. Logo, Boas preferiu elucidar o conceito de cultura de modo plural, holístico, integrado, de acordo com regiões culturais determinadas, para só então estabelecer leis gerais e generalizações teóricas. Ruth Benedict e Margereth Mead são discípulas de Boas e dão continuidade aos estudos de culturas particulares, a partir dos anos 20 nos Estados Unidos. Esses estudos levam em consideração a noção de cultura como transmissão geracional e a formação da personalidade na relação entre o indivíduo e o grupo. Em 1934, Benedict publica seu livro Padrões de cultura. Nele, aborda as configurações das feições culturais para compreender o papel da cultura na definição da personalidade. Mais tarde, Mead publica Sexo e Temperamento, em 1935, e apresenta a relação entre o temperamento e os diferentes papéis sexuais em termos de um padrão dominante.

Acesse o link a seguir e veja um dos documentários produzidos pela antropóloga Margaret Mead em sociedades das ilhas do Pacífico.

https://goo.gl/SbMweA

Estruturalismo

Em 1908, Claude Lévi-Strauss nasce em Bruxelas, mas é em Paris que ele será reconhecido como antropólogo renomado. Seus estudos buscavam a análise das estruturas da mente humana, a fim de evidenciar as estruturas das sociedades como relações constantes, apesar da diversidade e das diferenças entre elas. Assim, por meio das estruturas do inconsciente, estudadas nos fenômenos conscientes, Lévi-Strauss (1973) acessaria as leis gerais do pensamento humano e, nessa estrutura rígida e imutável, desvendada no plano lógico, estariam articuladas simbolismos e ação social. Um de seus estudos, As estruturas elementares do parentesco, de 1947, investigou as classificações definidas pelos membros de um grupo em relação ao sistema de parentesco e a aliança das sociedades, permeando questões que perpassariam das sociedades primitivas até as sociedades ditas contemporâneas. A proibição do incesto é explicada sociologicamente como um tabu que impediria os grupos de se fecharem entre si, de modo que a aliança entre os grupos proporia relações de consanguinidade. Ao mesmo tempo, a circulação de mulheres asseguraria a troca entre os indivíduos e os grupos.

Antropologia nas últimas décadas

Em 1973, Clifford Geertz publica A interpretação das culturas, fundando a Antropologia Interpretativa nos Estados Unidos, baseada no paradigma hermenêutico. Geertz se filiou às ideias de Evans-Pritchard, no que se referia

entre o antropólogo e seus interlocutores. Logo, a etnografia sobre o outro traz uma representação polifônica, através do discurso textual, implicando uma ética e uma estética metodológica para compreensão de determinada realidade. Marcus Georges escreve com Clifford A escritura da cultura, em 1986, para evidenciar a relação entre a antropologia e o colonialismo, questionando sobre as dimensões políticas e poéticas da etnografia. Deste modo, os autores defendem que os modos narrativos e os recursos retóricos, utilizados pelo antropólogo na escrita sobre o outro, também incidem na apresentação desse. Desde o século XIX, a Antropologia vem se firmando como uma disciplina científica difundida nas principais universidades existentes, tanto como curso de graduação, quanto como matéria introdutória a ser cursada nas diferentes áreas do conhecimento. Nesse sentido, como enfatiza Feldman-Bianco (2011, p. 4), a pesquisa antropológica é:

[...] extremamente relevante para desvendar problemáticas que estão na ordem do dia sobre a produção da diferença cultural e desigualdades sociais, saberes e práticas tradicionais, patrimônio cultural e inclusão social e, ainda, desenvolvimento econômico e social. No quadro da globalização contemporânea, além de contribuir cada vez mais para a formulação de políticas públicas e propostas para a sociedade, a antropologia apresenta os aparatos necessários para expor a dimensão humana da ciência, tec- nologia e inovação. Ao mesmo tempo, no curso de seus processos de transformação e internacionalização, surgem novos desafios e perspecti- vas para o ensino, a pesquisa e a atuação de antropólogos e antropólogas.

BARNARD, A. History and theory in anthropology. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. BARNARD, A.; SPENCER, J. Encyclopedia of cultural and social anthropology. London: Routledge, 2002. CLIFFORD, J. A experiência etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998. FELDMAN-BIANCO, B. A antropologia hoje. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 63, n. 2, abr. 2011. Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0009-67252011000200002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 21 ago. 2017.

GÂNDAVO, P. de M. de. A primeira história do Brasil: história da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos de Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

GEERTZ, C. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

GHIRALDELLI, P. A filosofia como passeio e como digestão. 2013. Disponível em: <http:// ghiraldelli.pro.br/filosofia/a-filosofia-como-passeio-e-como-digestao.html>. Acesso em: 21 ago. 2017.

LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia estrutural I. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1973.

MALINOWSKI, B. Argonautas do pacífico ocidental. São Paulo: Abril Cultural, 1984.

MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. São Paulo: E.P.U., 1974.

OLIVEIRA, R. C. de. O trabalho do antropólogo. 2. ed. Brasília: Paralelo 15; São Paulo: Editora Unesp, 2000.

OLIVEIRA, R. C. de. Sobre o pensamento antropológico. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro; Brasília: CNPq, 1988.

RADCLIFFE-BROWN, A. R. Estrutura e função na sociedade primitiva. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

SILVA, B. S. Documentário: estranhos no exterior: as correntes da tradição - Franz Boas. Boteco Literário, c2017. Disponível em: <http://botecosociologico.blogspot.com. br/2014/06/documentario-estranhos-no-exterior-as.html>. Acesso em: 24 ago. 2017.

STADEN, Hans. Viagem ao Brasil. Rio de Janeiro: Oficina Industrial Gráfica, 1930. Dis- ponível em: <https://tendimag.files.wordpress.com/2012/12/hans-staden-viagem- -ao-brasil-1930.pdf>. Acessado em: 21 ago. 2017.

Leituras recomendadas

BARTH, F. One discipline, four ways: british, german, french, and american anthropology. Chicago: The University of Chicago Press, 2005.

CASTRO, C. (Org.). Evolucionismo cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

FREEMAN, D. Margaret Mead and Samoa: the making and unmaking of an anthropo- logical myth. New York: Penguin Books, 1985.

OLIVEIRA, R. C. de. Evolucionismo cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.