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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
ANNA CAROLINA CARRIJO GUIMARÃES
CARACTERIZAÇÃO DOS NOMES COLETIVOS EM PORTUGUÊS –
ASPECTOS ESTRUTURAIS
UBERLÂNDIA
ANNA CAROLINA CARRIJO GUIMARÃES
CARACTERIZAÇÃO DOS NOMES COLETIVOS EM PORTUGUÊS – ASPECTOS
ESTRUTURAIS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito parcial para obtenção do título de mestre em Lingüística.
Área de concentração: Lingüística
Orientadora: Profa. Dra. Waldenice Moreira Cano
Uberlândia
À minha mãe, pelo estímulo e compreensão.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, por me possibilitar caminhos possíveis para a
realização de meus propósitos.
À minha mãe, pelos ensinamentos, companheirismo e dedicação.
À Viviane, pela constante e especial amizade.
A toda minha família, em especial à tia Sonia, pelo exemplo e ensinamentos.
À professora Waldenice, por quem tenho grande apreço e amizade.
Résumé
Caractérisation des noms collectifs en portugais: aspects structurels.
Le but de ce travail est présenter une proposition de considération des noms collectifs
distincte de celle habituellement présentée par les grammaires normatives et par les rares
études linguistiques qui s’occupent de la question. Dans ce travail-ci, on discourra sur
quelques procès de quantification dans le portugais, traduits par traits de singularité et
pluralité, et sur la façon comme les noms collectifs sont marqués de manière singulier par un
trait quantitatif spécifique qui y impose un comportement syntactique/ sémantique
caractéristique de cette sous-classe. Notre recherche se fonde sur les discussions autour des
aspects quantitatifs des noms et sur la description du comportement morphosyntactique des
collectifs, proposés par Bosque (1999). Notre perspective d’analyse considère la pertinence de
définir les noms collectifs dans l’entrecroisement d’aspects syntactiques et sémantiques et,
dans ce sens-là, on proposera une approche de définition et analyse de ces noms distincte de la
présentation faite par la majorité des grammaires normatives brésiliennes, qui les définissent
en considérant seulement l’aspect sémantique de ces lexies.
Mots-clés : Noms collectifs. Procès de quantification. Pluralité.
Lista de quadros
I. Introdução
As gramáticas normativas brasileiras, conforme a tradição de estrutura de gramática
normativa, demonstram vasto interesse pela organização do léxico em classe de palavras. É
notório que, para tal organização, a maioria das gramáticas normativas privilegia critérios
morfológicos e semânticos para a estruturação lexical. Conforme aponta Câmara Jr. (1999),
há em princípio três critérios para classificar os vocábulos de uma língua: o formal ou
mórfico, o semântico e o sintático. Segundo o autor, o critério mórfico e o semântico estão
intimamente ligados e parecem ser o fundamento primário da classificação (p.38).
Todavia, em várias ocorrências, apenas a forma e o sentido não nos permitem definir
com clareza a classe gramatical de um conjunto de lexias, pois o léxico não se manifesta
apenas no eixo paradigmático da forma e conteúdo, mas também no eixo das sucessões
sintagmáticas, o que, por diversas vezes, afeta tanto a forma quanto o sentido das lexias de
uma língua.
Nesta medida, a divisão das palavras em classes, exposta na maioria das gramáticas
normativas, não deixa de apresentar pontos incoerentes e conflituosos em relação aos critérios
priorizados na classificação morfológica das palavras, tanto na divisão do léxico, quanto na
organização estrutural de uma classe: suas subclassificações; os processos de recategorização
morfológica e léxica; os processos flexionais; a atuação sintática.
Nesse sentido, a apresentação dos nomes coletivos (doravante NC), objeto de estudo
deste trabalho, nas gramáticas normativas brasileiras e nos poucos estudos lingüísticos sobre
esses nomes no Brasil, apontam o anteriormente exposto: a falta de critérios ou incoerência de
critérios na categorização e análise dessas lexias. Após a investigação sobre NC nas
gramáticas normativas (doravante GN) e estudos lingüísticos sobre essa subclasse, notamos a
complexidade de classificar esses nomes apenas utilizando o critério semântico. Ao tentar
definir a categoria dos NC, deparamo-nos com a complexidade de caracterizá-los, pois, para
entendê-los, é necessário considerar aspectos gramaticais importantes, como a quantificação
no português, os processos flexionais da língua, e a concordância.
Parece ser incoerente nossa afirmação acima de que as GN têm demonstrado pouco
interesse pelos NC, pois é muito raro não encontrarmos, em uma gramática, referências a
esses nomes. Todavia, o que salientamos anteriormente é o fato de as GN não se preocuparem
em analisar os NC por meio de critérios coerentes, para a tentativa de uma definição plausível
para essas unidades léxicas. As GN apresentam uma definição de coletivos e uma lista de
nomes que elas consideram como pertencentes a essa categoria e não esclarecem o porquê de
se considerar como NC as unidades apresentadas; quais critérios elas privilegiaram para a
definição de coletivo; qual comportamento morfológico, sintático e semântico desses nomes.
Tem nos inquietado o fato de em certas situações marcarmos nominalmente uma
coletividade. Se essa necessidade existe e marcamos por meio do léxico certos conjuntos,
então, a nosso entender, a gramática da língua também deve se organizar de forma singular
para estruturar essa nomeação. A língua portuguesa, em um grande número de ocorrências,
possibilita a flexão de número, o que torna mais interessante o fato de haver palavras para
nomear coletividade apesar da opção categorial, a flexão de número – que é um modo de
marcar a quantidade de elementos apresentados no discurso (no caso do português o plural
marca recorrentemente mais de um elemento) – à disposição dos falantes que queiram pontuar
que a referência do nome expresso não é individual.
Em termos gerais, as GN definem os coletivos como nomes que, estando no singular,
fazem referência a um conjunto, o que possibilita a interpretação de que o coletivo também se
refere a mais de um elemento , como o plural dos nomes. As GN não apontam quantos
elementos são necessários para a formação de um conjunto, o que em uma primeira
observação, não demonstra a pertinência de se considerar NC, já que o falante tem à sua
disposição um modo produtivo de marcar flexionalmente quando um nome refere-se a mais
de um elemento, ou a um conjunto.
De acordo com as definições recorrentes de coletivos, esses nomes estão no singular,
assim como os nomes individuais – aqueles que no singular se referem a um único elemento.
Nesse sentido, em relação à categoria gramatical, os NC se confundem com os nomes
individuais, já que ambos estão no singular. Outro traço definitório do coletivo é o fato de
esses nomes referirem-se a uma coletividade. Os nomes genéricos – aqueles que nomeiam
toda uma classe de elementos, como a palavra homem = a raça humana , na maioria das
ocorrências, apresentam-se no singular e fazem referência a mais de um elemento, a toda uma
Na primeira frase, uma interpretação possível é “os soldados despediram-se uns dos
outros”. Já na segunda, essa interpretação não é aceitável, pois a única possibilidade é que “o
exército viu ou visitou (algo, alguém) pela última vez antes de se retirar”. Como o plural
“soldados” não necessariamente agrega os indivíduos em conjunto, podemos considerar o
plural dessa lexia como sendo distributivo, ou seja, distribui a marca de plural para todos os
indivíduos representados pelo nome, sem agrupá-los em um conjunto indissociável, o que faz
com seja possível interpretarmos o caráter de reciprocidade na frase a.
Na segunda frase, o nome exército tem o comportamento típico dos coletivos, pois não
considera individualmente cada elemento do grupo nomeado, e, desse modo, não permite
reciprocidade entre o conjunto.
Os NC também não podem ser confundidos com os nomes individuais, apesar de ser
recorrente a apresentação de ambos no singular. Os nomes individuais, geralmente, não
podem se pluralizar sem perder sua característica de nome individual, enquanto que os
coletivos, por diversas vezes, podem ser pluralizados sem perderem a característica de
coletivo; além de a referência de cada um desses nomes ser distinta: enquanto os nomes
individuais referem-se a um elemento, os nomes coletivos referem-se a um grupo.
Em relação aos nomes genéricos, ainda é possível apontar a pertinência de se
considerar a subclasse NC, pois enquanto os nomes genéricos referem-se a toda a classe que
nomeiam (como “homem”, que se refere a toda a raça humana; “quadrúpede”, que se refere a
todo indivíduo de uma espécie, que tem quatro pés), os nomes coletivos não representam toda
uma classe, ao contrário, eles se referem a uma parte da classe que nomeiam, a um
agrupamento de elementos que a compõe.
Conforme o referido anteriormente, as GN sequer discorrem sobre a pertinência de se
considerar os NC frente as possíveis categorias dos nomes. Bosque (1999) pontua que, para
entendermos o que é um coletivo, é necessário que as discussões não apresentem apenas
questionamentos sobre a natureza do objeto nomeado, mas principalmente apresentem
questionamentos sobre as propriedades gramaticais desses nomes. Para o autor, as reflexões
do tipo A) abaixo são as mais recorrentes sobre a natureza dos NC:
A) O objeto descrito consta realmente de um conjunto de elementos mais básicos que o compõe? Trata-se de partes de uma entidade superior ou de uma soma ou agregação de elementos individuais? (1999, p.34, tradução nossa)
No entanto, o autor propõe reflexões do tipo B) abaixo para que se possa tentar
interpretar com clareza as características dos NC:
B) Como não classificamos objetos, e sim palavras, que propriedades gramaticais caracterizam os nomes coletivos como classe lingüística? (1999, p.34, tradução nossa)
Notamos que a maioria dos estudos brasileiros sobre coletivos atem-se a questões do
tipo A), o que justifica o fato de esses estudos priorizarem o critério semântico para
caracterização e seleção de unidades léxicas coletivas. O critério semântico, tão questionado
por nós, em relação aos coletivos, trata da questão entre nome e referente, ou seja, da questão
entre o nome e o conjunto de elementos a que ele se refere. Não duvidamos que esse critério
seja também importante e necessário para analisar os coletivos, porém, a dificuldade está no
fato de dar prioridade a ele, pois nos impõe considerar uma exaustiva lista de palavras como
sendo NC. Apenas o dicionário Houaiss apresenta uma lista de aproximadamente 1690
unidades consideradas pelo dicionário como sendo NC.
Nossas indagações sobre os NC questionam se esses nomes são considerados como tal
por apenas terem como referente um conjunto. Como apontado por Bosque, classificamos
palavras, não objetos, e, nesse sentido, especulamos se não haveria um traço gramatical
específico que marcasse singularmente os NC, além da referência de conjunto. Questionamos
se em todas as ocorrências, um nome considerado como pertencente à classe dos coletivos,
mantém suas características semânticas que o definem como tal, ou pode, dependendo do
contexto, atuação sintática, mudança de sentido, deixar de ser um NC.
Nesse sentido, nossas indagações presentes nesse trabalho a respeito dos NC parece-
nos pertinente em relação ao que a literatura gramatical e lingüística têm apresentado em
1.2. Objetivos
Constitui-se o objetivo principal deste trabalho caracterizar e definir os NC na
interface entre critérios semânticos e sintáticos que possibilitem identificar a pertinência de se
considerar os nomes coletivos, além de apontar os aspectos gramaticais que particularizam
essas lexias frente a outras categorias nominais.
É também nosso intuito investigar a lista de coletivos do dicionário Houaiss,
verificando a ocorrência desses nomes no Dicionário de Usos do Português, a fim de definir
quais lexias esse dicionário apresenta como sendo utilizadas no léxico atual do português. À
luz da caracterização de NC que iremos propor, redefiniremos do corpus coletivo do
dicionário Houaiss quais lexias devem, a nosso entendimento, ser consideradas como
coletivos, mediante aos critérios de definição desses nomes, por nós apresentados, e a
inserção deles no Dicionário de Usos do Português. A comparação do corpus do Houaiss com
o Dicionário de Usos faz-se necessária, pois esse dicionário poderá nos apontar se todas as
lexias apresentadas pelo Houaiss são atualmente consideradas como coletivos e se estão em
uso na língua.
Os NC de que iremos tratar nesse trabalho são aqueles opacos quanto ao processo de
formação. Para os coletivos enquanto estrutura complexa, dos quais, por meio de regras de
análise da estrutura do nome, conseguimos perceber um processo de derivação sufixal que
formou o NC, alguns autores, como CORREA (1999, 2004), propõem considerações a
respeito de como tratar esses nomes, priorizando o processo de formação dessas palavras.
Nesse sentido, optamos por analisar os NC opacos quanto ao processo de formação ou já
lexicalizados, pois notamos que esses nomes carecem de um tratamento mais coerente do que
o recorrentemente apresentado.
A concretização de tais objetivos implica em uma abordagem dos NC, em certa
medida, distinta da apresentada recorrentemente nas GN. Em nosso entendimento, faz-se
necessário rever, sempre que possível, os critérios que escolhemos e privilegiamos para
caracterizar e ensinar uma classe morfológica, sem jamais acreditarmos ter a palavra final em
relação à estrutura gramatical de uma língua, pois, como referido anteriormente, classificamos
palavras e não objetos, e as palavras, conforme salienta Drummond (2004), “têm mil faces
secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível que
lhe deres: Trouxeste a chave?
apontoado apostemeira araçazal aranheiro aranhol arapatizal arboreto arcaboiço arcabouço arcada arcaria arecal areópago argumentação armada armadura armamento armaria armentio armento arméu arquipélago arrazoado arrecife arrozal arrozeira arsenal artilharia artilheria arvoredo asneirada aspirantada assembléia assistência associação astronímia
atilho atlas auditório aveal avelal avelanal avelar aveleiral avenal aviação avifauna azambujal azeredo azervada azinhal azinheiral babaçual babaçuzal bacabal bacalhoada bacelada bacelia bacia bacorada bacoral bacurizal badaladal badanagem bagaçada bagaçeira bagada bagagem bagoeirada bagualada bagulhada baianada
baixeiro baixela bala balame balatal balaustrada balcedo balconagem baleal balhana bambual bamburral bambuzal bananal bananeiral banca bancada bancaria banda bandada bandão bandeira bandidagem bando bandalhal baralho barbearia bardia baronagem baronato baronia barracame barreira barrilada basbacaria bastio
batalhão batatada batatal batateira bategaria bateria baunilhal bazarucada beataria beatério beberronia belezaria beliscadeira beribada berivada bestaria bestiagem bestiame beterrabal betuleto bezerrada biblioteca bichanada bicharada bicharedo bicharia bicheira bicheza bichice bilhetada bilontragam biribada birivada biscoitada biscoutada bispado
bloco boataria bobageira bobajada bobiciada bodarrada bodegada boiada boiama boizama bolada bolo bolotada bombardaria bombaria bonecada boninal bonzaria borbulhaço borbulhagem bordoeira borregada borreagem bosque bosquete bostelo bosto bouça braçada braçado braço braseira braseiro brasido brasileirada brejeirada
breviário brioteca buchada bufê bugalhal bugiada bugrada bugraria bulário buquê buracada buracama buraqueira buraqueiro burar buritizal burizal burrada burrama burricada buseirada buseiro butiatuba butiazal buxal caatingal cabaçal cabelame cabeleira cabilda cabo caboclada cabrada cabralhada cabroada cabroeira
cabrual cacada cacaria cacaria cacaual caceia cacho cachorrada cacoal cadeia cadeiral caderno cafagestada cafeeiral cafelana cafezal cafife cáfila cafraria caiçarada caimbezal cainça cainçada cainçalha caipirada caitocaria caixaria caixeirada caixilharia caixotaria cajual cajueiral cajuzal câmara camarazal cambada
cambuizal cambulhada canalhada canaria canastrada canavial cancioneiro canelal cangaceirada cangalhada canhameiral canhameiro canhonada canhoneio caniçada caniçal canzoada canzoeira capadaria capadoçada capangada capangagem capela capelada capinal capineira capineiro capinzal capitulada capituval capoeira capoeirada caqueirada caraguatal caraguatazal carandal