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O buraco jugular é um orifício da base do crânio localizado na fossa craniana posterior, ... apófise ou processo intrajugular, que possibilita a sua.
Tipologia: Notas de estudo
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VOL 56. Nº4. DEZEMBRO 2018 155 RESUMO O buraco jugular é um orifício da base do crânio localizado na fossa craniana posterior, entre o osso occipital e a porção petrosa do osso temporal, e que se situa superior e lateralmente ao buraco magno. É atravessado por estruturas vasculares e nervosas de grande importância clínica, e cuja lesão resulta em manifestações clínicas otorrinolaringológicas, tomando o seu conjunto a designação de síndrome do buraco jugular ou síndrome de Vernet. Com este trabalho pretende-se fazer uma revisão anatómica das origens, trajeto e distribuição dos nervos glossofaríngeo (IX par), vago (X par) e espinhal (XI par), bem como uma caracterização da sua fisiologia, de modo a facilitar a compreensão das manifestações clínicas resultantes da sua lesão. Palavras-chave: base do crânio, buraco jugular, glossofaríngeo, vago, espinhal, síndrome de Vernet ABSTRACT The jugular foramen is a hole in the base of the skull located in the posterior cranial fossa, between the occipital bone and the petrous portion of the temporal bone, which lies above and laterally to the foramen magnum. It is crossed by vascular and nervous structures of great clinical importance, and whose lesion results in clinical otorhinolaryngological manifestations, taking as a whole the designation of jugular hole syndrome or Vernet's syndrome. Keywords: skull base, jugular foramen, glossopharyngeal nerve, vagus nerve, accessory nerve, Vernet syndrome INTRODUÇÃO O buraco jugular (BJ) é um orifício ósseo da base do crânio, localizado na fossa craniana posterior, anteriormente ao osso occipital, posteriormente à porção petrosa do osso temporal, superior e lateralmente ao buraco magno1, (ou foramen magnum ) (Fig. 1). Constitui um ponto de passagem de numerosas estruturas neurovasculares de grande importância clínica, que podem, assim, sofrer lesão em diversas patologias congénitas, vasculares, traumáticas ou tumorais, manifestando-se sob a forma de vários síndromes clínicos. Este trabalho tem como objetivo fazer uma revisão anatómica das origens, trajeto e distribuição dos nervos glossofaríngeo (IX par), vago (X par) e espinhal (XI par), bem como uma caracterização da sua fisiologia, de modo a facilitar a compreensão das manifestações clínicas resultantes da sua lesão. Rita Gama Interna de Formação Específica em Otorrinolaringologia do CHVNGE- Portugal Francisco Monteiro Interno de Formação Específica em Otorrinolaringologia do CHVNGE – Portugal Bruno Domingues Interno de Formação Específica em Otorrinolaringologia do CHVNGE - Portugal Nuno Barros Lima Assistente Hospitalar de Otorrinolaringologia do CHVNGE - Portugal Manuel Sousa Assistente Hospitalar de Otorrinolaringologia do CHVNGE - Portugal Fernanda Castro Assistente Hospitalar de Otorrinolaringologia do CHVNGE - Portugal Artur Condé Diretor do serviço de Otorrinolaringologia do CHVNGE - Portugal Correspondência Rita Gama Rua Eduardo Santos Silva nº 96 1º ESQ 4200-282 Porto, Portugal ritagama55@hotmail.com Telemóvel: 910372964 Artigo recebido a 14 de Fevereiro de 2019. Aceite para publicação a 21 de Julho de 2019.
Rita Gama Francisco Monteiro Bruno Domingues Nuno Barros Lima Manuel Sousa Fernanda Castro Artur Condé ARTIGO DE REVISÃO REVIEW ARTICLE FIGURA 1 Vista superior da estrutura óssea da base do crânio
156 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL 1.Estrutura óssea: O buraco jugular apresenta, no seu bordo superior, uma apófise ou processo intrajugular, que possibilita a sua divisão em duas porções, uma anteromedial ou petrosa, e uma postero-lateral ou sigmoideia^3 (Fig. 2); a porção petrosa contém o final do seio petroso inferior, assim como os IX, X e XI pares cranianos que aí o atravessam. Estas estruturas formam assim a pars nervosa do buraco. espinhal por um septo de dura-máter, designado septo intrajugular^3. De uma perspectiva endocraniana, todos os nervos caminham na porção anterior do buraco, a parte petrosa. Ao longo do trajeto caudal destes nervos, o vago e o espinhal vão-se deslocando posteriormente, de tal modo que, de uma perspetiva extracraniana, estes últimos situam-se na porção posterior do buraco, mais próximos da veia jugular interna e do nervo hipoglosso do que do nervo glossofaríngeo. A noção anatómica deste trajeto é fundamental na topografia clínica das lesões das estruturas descritas. Os pares cranianos que atravessam o BJ são, não só anatomicamente relacionados na sua saída da base do crânio, como também partilham origens nucleares comuns, assim como distribuições finais muito próximas, o que dificulta a sua distinção ao exame objetivo. 1.2.1.Nervo glossofaríngeo O nervo glossofaríngeo ou IX par é um nervo misto, ou seja, tem componentes motor, sensitivo e autonómico. Relativamente à sua origem, este nervo apresenta 3 núcleos: motor principal, sensitivo e parassimpático. O núcleo motor localiza-se no núcleo ambíguo, e daí saem fibras eferentes motoras para o músculo estilofaríngeo. Relativamente aos núcleos sensitivos, um deles é o núcleo do trato solitário, que recebe aferentes sensitivos relativos ao paladar do 1/3 posterior da língua, valéculas e face lingual da epiglote; já a informação sensitiva somática da mucosa faríngea termina no núcleo do trato espinhal do trigémio. O núcleo parassimpático designa-se por núcleo salivar inferior, e emite eferentes para a glândula parótida, estimulando a secreção glandular. Estas fibras percorrem vários nervos diferentes: saem do nervo glossofaríngeo com o nervo timpânico, e atingem o gânglio ótico atraves do nervo pequeno petroso. As fibras pós- ganglionares dirigem-se para a parótida por intermédio do nervo auriculotemporal da divisão mandibular do trigémio (V3). Este nervo sai da base do crânio pelo buraco jugular, situando-se anteriormente ao vago e ao espinhal. Apresenta a este nivel dois núcleos - um superior ou de Ehrenritter e um inferior ou de Andersch^4. Ao longo do seu trajeto vai emitindo ramos colaterais, nomeadamente nervo timpânico, ramos faríngeos, amigdalinos e carotídeos, para terminar com fibras sensitivas para vários pontos da orofaringe. O nervo timpânico (ou de Jacobson) entra na caixa do tímpano através do canalículo timpânico, dividindo-se em vários ramos que formam, no promontório, o plexo timpânico. É responsável pela transmissão de fibras sensitivas do ouvido médio e fibras parassimpáticas para a glândula parótida. Este nervo é responsável pelo fenómeno de otalgia referida que pode verificar-se na patologia orofaríngea. É o local de acometimento nos casos de paragangliomas timpânicos. Emite ainda ramos faríngeos, que incluem fibras FIGURA 2 Imagem esquemática do Buraco Jugular. VJI- veia jugular interna A porção sigmoideia, mais larga e ovóide, contém a transição do seio sigmóide para a veia jugular interna, na forma de golfo jugular, bem como alguns ramos meníngeos das artérias occipital e faríngea ascendente; as estruturas aqui contidas formam a pars vascularis do buraco jugular. Na parede lateral da porção sigmoideia pode identificar-se o canalículo mastoideu, que é percorrido pelo nervo auricular ou de Arnold do vago. Na protuberância carotídea (entre o canal carotídeo e o buraco jugular), encontramos o canalículo timpânico, percorrido pelo nervo timpânico ou de Jacobson, ramo do glossofaríngeo2,3. 1.1.Porção sigmoideia ou venosa ( Pars vascularis ) O segmento venoso do BJ é o seu mais volumoso componente. Corresponde à confluência dos seios venosos cerebrais, nomeadamente do seio petroso inferior anteriormente e do seio sigmóide posteriormente, que aqui forma o golfo jugular; esta constitui uma dilatação venosa, que forma a transição entre a componente intracraniana destes seios venosos e o trajeto extracraniano da veia jugular interna. 1.2.Porção petrosa ou nervosa ( Pars nervosa ) Esta porção é constituída por três pares cranianos muito importantes, que são o nervo glossofaríngeo, o nervo vago e o nervo espinhal. O BJ é recoberto por dura-máter e os nervos cranianos passam através dela, estando o glossofaríngeo separado dos nervos vago e
158 REVISTA PORTUGUESA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL do nervo glossofaríngeo, do n. de Jacobson ou do n. de Arnold, e ainda no promontório ou no golfo da jugular^8. As segundas lesões tumorais mais frequentes são os schwanomas7,9, neste caso dos IX, X ou XI pares cranianos; as terceiras lesões mais frequentes são os meningiomas, a maioria localizados entre o BJ e o canal carotídeo. A localização e extensão de cada uma destas lesões determina o padrão de achados físicos, de acordo com as estruturas afectadas. Qualquer lesão, intra ou extracraniana, que afete as estruturas que atravessam o BJ, manifesta-se com um conjunto de sinais e sintomas que constituem o Síndrome do Buraco Jugular ou Sindrome de Vernet^10. Apresentam-se com sintomas como disfagia (IX e X), disfonia (X), xerostomia (por redução da secreção parotídea (IX) e omalgia, torcicolo e limitação dos movimentos do membro superior (por lesão do XI par). à raiz craniana, da qual se separa pouco depois para inervar o musculo esternocleidomastoideu (ECM) e parte superior do músculo trapézio. A porção periférica deste nervo é facilmente danificada numa biópsia ganglionar ou em cirurgias no triângulo posterior do pescoço. Este nervo tem, assim, como função principal a motricidade dos músculos trapézio e ECM. A sua lesão tem como manifestações as descritas na tabela 3. De referir que estes aspetos clínicos acabam por passar despercebidos na maioria dos casos. 2.Patologia do buraco jugular A patologia desta estrutura é relativamente rara e é, na grande maioria dos casos, histologicamente benigna6,7. Os paragangliomas são os tumores mais comuns do BJ (Tabela 4). Podem ter várias localizações, como ao longo do trajeto TABELA 2 Função e manifestações da lesão do X par craniano TABELA 3 Função e manifestações da lesão do XI par craniano TABELA 4 Principais causas de patologia do Buraco Jugular Nervo Função Lesão N. Vago (X)
VOL 56. Nº4. DEZEMBRO 2018 159 nervos podem acontecer em qualquer ponto deste trajeto, e portanto afetar conjuntos de nervos diferentes, originando síndromes como o de Jackson (lesão dos X, XI e XII), o de Schmidt (X e XI) e o de Tappia (X e XII), com manifestações clínicas que podem ser muito difíceis de isolar^2. CONCLUSÕES O conhecimento da anatomia dos IX, X e XI pares cranianos é fundamental para a prática da especialidade, visto serem responsáveis pela inervação de grande parte das estruturas anatómicas da cabeça e pescoço. O reconhecimento da sua fisiologia permite concluir a sua importância e, consequentemente, o tipo de implicações que terá a sua lesão; mesmo em casos em que a etiologia da lesão não é do foro da Otorrinolaringologia, as manifestações clínicas são praticamente sempre sinais e sintomas otorrinolaringológicos. Protecção de pessoas e animais Os autores declaram que os procedimentos seguidos estavam de acordo com os regulamentos estabelecidos pelos responsáveis da Comissão de Investigação Clínica e Ética e de acordo com a Declaração de Helsínquia da Associação Médica Mundial. Na maioria das vezes, dada a proximidade das estruturas na base do crânio, qualquer lesão que provoque este conjunto de sintomas pode facilmente afetar também outras estruturas e, assim, dificultar o diagnóstico diferencial10,11. As manifestações clínicas das diferentes lesões variam consoante as estruturas afetadas, tomando designações de diferentes síndromes, como descrito na tabela 5.