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Análise da Intencionalidade e Aceitabilidade em Piadas de Humor Negro: Rafinha Bastos, Resumos de Linguística

Uma análise da intencionalidade e aceitabilidade em piadas de humor negro, utilizando o caso de rafinha bastos como exemplo. O texto discute as teorias de koch e travaglia sobre a textualidade e coerência, além dos fatores pragmáticos de intencionalidade e aceitabilidade na comunicação. O autor analisa uma piada de rafinha bastos sobre wanessa camargo e sua filha, que gerou polêmica e um processo judicial.

O que você vai aprender

  • Por que a piada de Rafinha Bastos sobre Wanessa Camargo foi considerada ofensiva?
  • Qual é a intenção do humorista Rafinha Bastos na piada sobre Wanessa Camargo?
  • Como a sátira de Rafinha Bastos sobre o incidente gerou aceitabilidade e entendimento do público?

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Havaianas81
Havaianas81 🇧🇷

4.6

(34)

219 documentos

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IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação
Múltiplos Olhares
05, 06 e 07 de junho de 2013
ISSN: 1981-8211
1
ANÁLISE DOS FATORES DE INTENCIONALIDADE E ACEITABILIDADE EM
PIADAS DE HUMOR NEGRO
Renata Kelen da ROCHA (UEM)
1
Introdução
“Entende-se por textualidade uma dupla estrutura, isto é, uma estrutura a ser
abordada tanto sob aspecto lingüístico como sob o aspecto social...(SCHMIDT, 1993, p.
164). O autor ressalta que a textualidade é uma estrutura necessária, a título de forma
normativa, em tudo o que se queira expressar comunicativamente e em todos os sistemas de
comunicação verificados. Além disso, ela é o modo de manifestação social universal,
válido para qualquer língua e para a efetivação de qualquer tipo de comunicação.
Sendo assim, Koch e Travaglia (1997) definem textualidade como aquilo que faz de
uma sequência linguística um texto e não apenas uma sequência ou um amontoado
aleatório de frases ou palavras, pois os “textos são seqüências de signos verbais
sistematicamente ordenados” (FÁVERO E KOCH, 2000, p. 19) que podem ser oral ou
escrito (BRANDÃO, 2004). Citando Charolles (1987a), Koch e Travaglia (1997, p. 31)
afirmam que um conjunto de frases só se torna um texto a partir do uso da coerência, pois
“o fundamental para a textualidade é a relação coerente entre as ideias” (VAL, 1997, p. 10).
Segundo Koch e Travaglia (1997) a coerência tem a ver com a boa formação do
texto, mas num sentido distante de gramática usada no nível da frase, pois ela está ligada a
boa formação em termos da interlocução comunicativa, estabelecendo-se assim, na
interação, na interlocução, em uma situação comunicativa entre dois usuários, contribuindo
para que o haja sentido no texto. Desta forma, Beaugrande e Dressler (1996, p. 84) definem
essa continuidade de sentidos como a base de coerência, ou seja, um texto faz sentido,
porque há uma continuidade de sentidos entre os conhecimentos ativados pelas expressões
do texto.
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Renata Kelen da Rocha é graduanda do ano do Curso de Letras com Habilitação em Francês da
universidade Estadual de Maringá-UEM.
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Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981-

ANÁLISE DOS FATORES DE INTENCIONALIDADE E ACEITABILIDADE EM PIADAS DE HUMOR NEGRO

Renata Kelen da ROCHA (UEM) 1

Introdução “Entende-se por textualidade uma dupla estrutura, isto é, uma estrutura a ser abordada tanto sob aspecto lingüístico como sob o aspecto social...” (SCHMIDT, 1993, p. 164). O autor ressalta que a textualidade é uma estrutura necessária, a título de forma normativa, em tudo o que se queira expressar comunicativamente e em todos os sistemas de comunicação verificados. Além disso, ela é o modo de manifestação social universal, válido para qualquer língua e para a efetivação de qualquer tipo de comunicação. Sendo assim, Koch e Travaglia (1997) definem textualidade como aquilo que faz de uma sequência linguística um texto e não apenas uma sequência ou um amontoado aleatório de frases ou palavras, pois os “textos são seqüências de signos verbais sistematicamente ordenados” (FÁVERO E KOCH, 2000, p. 19) que podem ser oral ou escrito (BRANDÃO, 2004). Citando Charolles (1987a), Koch e Travaglia (1997, p. 31) afirmam que um conjunto de frases só se torna um texto a partir do uso da coerência, pois “o fundamental para a textualidade é a relação coerente entre as ideias” (VAL, 1997, p. 10). Segundo Koch e Travaglia (1997) a coerência tem a ver com a boa formação do texto, mas num sentido distante de gramática usada no nível da frase, pois ela está ligada a boa formação em termos da interlocução comunicativa, estabelecendo-se assim, na interação, na interlocução, em uma situação comunicativa entre dois usuários, contribuindo para que o haja sentido no texto. Desta forma, Beaugrande e Dressler (1996, p. 84) definem essa continuidade de sentidos como a base de coerência, ou seja, “um texto faz sentido, porque há uma continuidade de sentidos entre os conhecimentos ativados pelas expressões do texto”.

(^1) Renata Kelen da Rocha é graduanda do 1º ano do Curso de Letras com Habilitação em Francês da universidade Estadual de Maringá-UEM.

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981- Além disso, Koch e Travaglia (1995, p. 59) apontam que “é indiscutível a importância dos elementos lingüísticos do texto para o estabelecimento da coerência”. Assim, Koch e Travaglia (1999, p. 48) asseguram que cada fator se relaciona com outros. Portanto, o princípio conversacional, como apresentado por Grice (1975), e o da cooperação de Charolles e Franck afetam o estabelecimento da coerência, então, esses princípios apresentam usuários cooperativos crentes que uma sequência linguística foi criada para ser um texto coerente, explicando assim, os fatores: intencionalidade e aceitabilidade. “Entre os cincos fatores pragmáticos estudados por Beaugrande e Dressler (1983), os dois primeiros se referem aos protagonistas do ato de comunicação: a intencionalidade e a aceitabilidade” (apud VAL, 1997, p. 10). A intencionalidade diz respeito ao empenho de construir um discurso coerente, coeso e capaz de atingir os objetivos que o emissor tem em uma situação comunicativa estabelecida (VAL, 1997), concerne ao “valor ilocutório do discurso, elemento de maior importância no jogo de atuação comunicativa” ((VAL, 1997, p.11). Além disso, ela tem por meta “informar, ou impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou ofender, etc., e é ela que vai orientar a confecção do texto” (VAL, 1997, p. 10-11). Sendo assim, “o produtor de um texto tem, necessariamente, determinados objetivos ou propósitos, que vão desde a simples intenção de estabelecer ou manter contato com o receptor até a de levá-lo a partilhar de suas opiniões” (KOCH e TRAVAGLIA, 1995, p. 79). Já a aceitabilidade, é relativa à expectativa do recebedor de que o “conjunto de ocorrências com que se defronta seja um texto coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor” (VAL, 1997, p. 11). Koch e Travaglia (1995, p. 79) mostram que, segundo o Principio Cooperativo de Grice, o que rege a comunicação humana é a cooperação. Grice (1975, 1978, apud VAL, 1997, p. 11) estabelece estratégias máximas conversacionais, normalmente adotadas pelos produtores para alcançar a aceitabilidade do recebedor. Segundo ele, essas estratégias estão ligadas à necessidade de cooperação (no sentindo do produtor responder aos interesses de

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981- expressões pejorativas, com a cantora Wanessa Camargo e seu filho que ainda não havia nascido. O comentário rendeu ao apresentador diversos transtornos, já que acarretou um processo judiciário que exigia indenização a cantora, seu marido e ao nascituro. Bastos foi suspenso do programa que fazia parte, e posteriormente, a causa foi julgada e Rafael penalizado a pagar 150 mil reais por danos morais à família. Como o rapaz afirmou, em entrevista no programa De Frente com Gabi , transmitido pelo SBT, no dia 25 de março de 2012, devido seu tipo de trabalho, o que acontece em sua vida é “combustível para seu trabalho”, sendo assim, o assunto e toda a polêmica que envolveu Wanessa Camargo também serviu para que ele fizesse uma sátira sobre a situação, em forma de vídeo, transmitido pelo canal YouTube.

1.2. Análise do texto com foco na intencionalidade e aceitabilidade “Rafinha” Bastos é um humorista que faz uso do humor negro. André Breton (1997) afirma que o humor negro é “[...] inimigo mortal do sentimentalismo, que parece estar perpetuamente à espreita e de um capricho efêmero, quase sempre passa por poesia, e em vão insiste em infligir à mente seus velhos artifícios [...]” (apud MAGALHÃES, 2008). Por conta de seu teor, suas anedotas tem tido grande repercussão entre a população brasileira, tanto na mídia quanto entre internautas. Então, nos propomos a analisar, com vista na Intencionalidade e Aceitabilidade , uma das piadas que mais chamou atenção nesses tempos, e também uma sátira resultada de toda polêmica que envolveu o artista. A piada que nos referimos aconteceu no dia 19 de setembro de 2011, no programa "CQC", depois que Marcelo Tas comentou sobre a beleza da grávida Wanessa Camargo " Gente, que bonitinha que tá a Wanessa Camargo grávida! ". Bastos, em seguida, acrescentou, gesticulando para dar ênfase: “Eu comeria ela e o bebê, não tô nem aí! Tô nem aí!”. Segundo Koch e Travaglia (1995, p. 80), não existem textos neutros, pois há sempre uma intenção ou objetivo da parte do produtor de um texto, tendo isso em vista, é possível notar que o humorista ao dizer: “comeria ela e o bebê” faz uso do disfemismo, para que de maneira sarcástica ou chula, haja referencia a um determinado tema, então, ao empregar o

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981- “ela e o bebê”, a intencionalidade de “Rafinha” Bastos era dar ênfase a beleza da cantora, gerando o riso dos telespectadores. Para Possenti, (1998) a piada desperta interesse porque quase sempre é veículo de um discurso proibido, subterrâneo, não oficial. O autor afirma que é certo que o humorista tenha necessidade de um tema, e, de alguma forma, de um tema proibido ou controlado por regras sociais de bom comportamento (evitar preconceito, reprimir desejos sexuais etc), mas “a menção do tema não é necessariamente uma piada” (POSSENTI, 1998, p. 46). Reforçando isso, Jô Soares (2011) salienta que "há uma linha tênue entre humor e a grossura. Se tem graça, é humor. Se não tem, vira grossura". É possível afirmar, segundo Beaugrande e Dressler (apud Koch e Travaglia, 1997, p. 79) que “para que uma manifestação lingüística constitua um texto, é necessário que haja a intenção do emissor de apresentá-la e a dos receptores de aceitá-la como tal”. Sendo assim, a piada feita por Rafael Bastos não acionou o principio de aceitabilidad, porque mesmo que os ouvintes/leitores inferissem seus conhecimentos lingüísticos, de mundo e pragmáticos e, ainda assim, houvesse a cooperação pressuposta que o recebedor tem com o emissor, a piada continuaria sendo julgada como de baixo calão, com teor injurioso “de escabroso tema, consistindo em brutal afirmação televisiva”, conforme foi apontado no processo jurídico. Além disso, essa piada, segundo a decisão judicial, é uma lesão à dignidade e agressão à honra alheia a qual fere o comando, posto na Constituição Federal (art. 221, inc. IV), que manda os programas de televisão respeitar "os valores éticos e sociais da pessoa e da família". Toda a polêmica rendeu diversos assuntos, entre eles, um vídeo produzido por “Rafinha” ironizando todo o assunto que o envolveu. Nesta produção, Bastos está em uma churrascaria e é abordado pelo garçom que oferece serviços alusivos ao acontecido, como por exemplo, o garçom propõe: “ Baby Beef” e Rafael responde: “Baby? Ah... Baby não. Não vou comer não. Obrigada, viu?!”. Novamente, o garçom volta e pergunta: “Fraldinha?” e o humorista, com expressão assustada diz: “Fraldinha? Fraldinha não, amigo. Fraldinha... Obrigado!” Por fim, há a seguinte sequência: “ O senhor vai querer alguma coisa pra... bebe? ” [marca de oralidade na pronúncia do verbo beber ] Rafael, contrariado balbucia: “Bebe... hã...”.

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981- está inserida – uma sociedade conservadora e marcada por princípios familiares – , contribuiu para que a polêmica atingisse grande repercussão, ou seja, vai muito além da palavra e de seu valor semântico, existe também um fator extralingüístico que deve ser levado em conta na elaboração de um discurso. Para comprovar isso, na sátira, mesmo tendo o tema idêntico, concebida pela mesma pessoa e com a mesma intenção da piada, houve aceitabilidade e entendimento dos recebedores, pois “Rafinha” Bastos fez uso de uma abordagem mais reservada e com viés diferente para causar o riso do público que acompanhava o desfecho da intriga.

Referências

BEAUGRANDE, Robert de; DRESSLER, Wolfgang. Introduction to Text Linguistics. 8. impression. London and New York: Longman, 1996.

BRANDÃO, Helena H. N. Analisando o discurso_. Museu da Língua Portuguesa_. Estação da Luz. Disponível em: <www.museudalinguaportuguesa.org.br/files/mlp/texto_1.pdf>. Acesso em: 22 jan.

Caso Wanessa Camargo: Justiça condena Rafinha Bastos por danos morais. Disponível em: < http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI148238,31047- Caso+Wanessa+Camargo+Justica+condena+Rafinha+Bastos+por+danos+morais>. Acesso em: 11 de nov. 2012.

Dicionário Online de Português. Disponível em: http://www.dicio.com.br/satira/. Acesso em: 20 de Nov. 2012

FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore G. Villaça. Lingüística Textual: Introdução. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2000.

Jô Soares sobre Rafinha: 'Se tem graça, é humor. Se não, vira grossura'. Disponível em: < http://ego.globo.com/famosos/noticia/2011/10/jo-soares-sobre-rafinha-se-tem-graca-e-humor- se-nao-vira-grossura.html>. Acesso em: 11 de nov. 2012.

KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A Coerência Textual. 6. ed. São Paulo: Ed. Contexto. 1995.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e Coerência. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1997.

Múltiplos Olhares 05, 06 e 07 de junho de 2013 ISSN: 1981- KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Texto e Coerência. 6. ed. São Paulo: Cortez, 1999.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Introdução à lingüística textual: trajetória e grandes temas. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

MAGALHÃES, Helena Maria Gramiscelli. Aprendendo com humor: o gênero humor e o subgênero humor negro. Anais do CELSUL 2008. Minas Gerais: Faculdade de Educação - Universidade Federal de Minas Gerais, 2008. Disponível em: http://www.celsul.org.br/Encontros/08/aprendendo_com_humor.pdf. Acesso em: 11 de nov.

Polêmica entre Wanessa Camargo e Rafinha Bastos vai parar na Justiça. Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI143154,71043- Polemica+entre+Wanessa+Camargo+e+Rafinha+Bastos+vai+parar+na+Justica>. Acesso em: 11 de nov. 2012.

POSSENTI, Sírio. Os Humores da Língua: Análise lingüísticas de piadas. São Paulo: Mercado de Letras, 1998.

Sátira com piada polêmica de Wanessa Camargo. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=IG3YzsOJVzs. Acesso em: 11 de nov. 2012.

SCHMIDT, Siegfried J. Lingüística e Teoria de Texto. Tradução de Ernst F. Schurmann. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, 1973.

VAL, Maria da Graça Costa. Redação e Textualidade. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

Wanessa se pronuncia sobre piada de Rafinha Bastos. Disponível em: <http://natelinha.uol.com.br/noticias/2011/10/24/apos-muita-polemica-wanessa-se-pronuncia- sobre-piada-de-rafinha-bastos-081436.php>. Acesso em: 7 de nov. 2012.