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Análise do filme Entre les murs, Manuais, Projetos, Pesquisas de Sociologia

Análise do filme Entre les murs elaborada para aula relativa a sociologia no ensino superior.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2021

Compartilhado em 19/08/2024

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joao-vitor-876 🇧🇷

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João Vitor Martins dos Santos
Logo no início do filme Entre les murs, do diretor Laurent Cantet, ao receber
a lista de alunos no primeiro dia de aula estes são taxados aos novos professores
como bem-comportados, malcomportados, muito malcomportados, um exemplo do
que reporta TRAGTENBERG (1985) sobre a escola: “As normas pedagógicas têm o
poder de marcar, salientar os desvios, reforçando a imagem de alunos tidos como
“problemáticos”, estigmatizados como “o negrão”, o “índio”, o “maloqueiro” ou o
morador da “favela”.” Que será revisto adiante.
Além disso, o emprego de expressões de desaprovação pelos atores reforça
a ideia negativa que eles possuem sobre o aluno. Visto que, o material de análise é
composto de diferentes tipos de linguagens, à primeira vista verbal, sonora e visual;
tentarei o emprego superficial da Análise Crítica do Discurso (ACD) para
complementar este estudo. A ACD proporciona também a possibilidade de
“interpretação dos processos de interação (e de produção e interpretação do texto),
fase que objetiva especificar quais e de que modo as convenções são utilizadas”
(REIS, 2010).
Em seguida, outra cena que se destaca, enquanto os alunos entram na
sala, o professor repreende Arthur por usar boné, mas não os garotos negros que
vem em seguida. Proponho a seguinte possibilidade para isso: o professor receoso
de tais alunos por serem taxados de problemáticos evita a criação de confronto,
enquanto mantém-se, porém, dominante em relação aos outros alunos.
Ao reforçar as normas de horário da escola o professor recorre à competição
com outras escolas para exemplificar o porquê eles deveriam chegar no horário.
Uma visão Marxista de tal fato, reforça a ideia da escola como uma fábrica, é
inadmissível que se perca horas de trabalho, o aluno tem que render. Ao que é
claramente contestado pela aluna que apresenta o fato de nunca terem tido uma
hora de aula, apenas 55 minutos. A expressão do professor e sua ação, levar a mão
a cabeça, apresentar uma postura embaraçada e uma certa incerteza de como agir,
pois “o estrado que o professor utiliza acima dos ouvintes, estes sentados em
cadeiras linearmente definidas próximas a uma linha de montagem industrial,
configura a relação “saber/poder” e “dominante/dominado”. (TRAGTENBERG,
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João Vitor Martins dos Santos Logo no início do filme Entre les murs, do diretor Laurent Cantet, ao receber a lista de alunos no primeiro dia de aula estes são taxados aos novos professores como bem-comportados, malcomportados, muito malcomportados, um exemplo do que reporta TRAGTENBERG (1985) sobre a escola: “As normas pedagógicas têm o poder de marcar, salientar os desvios, reforçando a imagem de alunos tidos como “problemáticos”, estigmatizados como “o negrão”, o “índio”, o “maloqueiro” ou o morador da “favela”.” Que será revisto adiante. Além disso, o emprego de expressões de desaprovação pelos atores reforça a ideia negativa que eles possuem sobre o aluno. Visto que, o material de análise é composto de diferentes tipos de linguagens, à primeira vista verbal, sonora e visual; tentarei o emprego superficial da Análise Crítica do Discurso (ACD) para complementar este estudo. A ACD proporciona também a possibilidade de “interpretação dos processos de interação (e de produção e interpretação do texto), fase que objetiva especificar quais e de que modo as convenções são utilizadas” (REIS, 2010). Em seguida, há outra cena que se destaca, enquanto os alunos entram na sala, o professor repreende Arthur por usar boné, mas não os garotos negros que vem em seguida. Proponho a seguinte possibilidade para isso: o professor receoso de tais alunos por serem taxados de problemáticos evita a criação de confronto, enquanto mantém-se, porém, dominante em relação aos outros alunos. Ao reforçar as normas de horário da escola o professor recorre à competição com outras escolas para exemplificar o porquê eles deveriam chegar no horário. Uma visão Marxista de tal fato, reforça a ideia da escola como uma fábrica, é inadmissível que se perca horas de trabalho, o aluno tem que render. Ao que é claramente contestado pela aluna que apresenta o fato de nunca terem tido uma hora de aula, apenas 55 minutos. A expressão do professor e sua ação, levar a mão a cabeça, apresentar uma postura embaraçada e uma certa incerteza de como agir, pois “o estrado que o professor utiliza acima dos ouvintes, estes sentados em cadeiras linearmente definidas próximas a uma linha de montagem industrial, configura a relação “saber/poder” e “dominante/dominado”. (TRAGTENBERG,

1985). Logo, segundo essa perspectiva, o professor deveria ser o detentor do saber e não corrigido por uma aluna. Quando discutem o significado de algumas palavras, Esmeralda diz que todos sabem o que significa “Austríaco”, enquanto Wey desconhece. Isso demonstra a ideia que se tem de não haver diferenças culturais nas salas de aula, o que é irreal, visto a diversidade de países/culturas de origem dos alunos representados no filme. A obra mostra como isso frequentemente não é reconhecido quando os alunos indagam ao professor o motivo de ele sempre citar nomes como “Bill” nos exemplos e não nomes como Aïiïssata que são mais próximos de sua realidade ao que o professor responde com uma desculpa irrelevante. Retornando ao que foi dito por TRAGTENBERG (1985) sobre estigmatização do aluno, outro momento bastante evidente é quando Khoumba levanta a mão para responder a uma pergunta ao passo que o professor começa a caçoar sobre a improbabilidade daquela resposta estar certa. Durante esta cena, é questionado o porquê de aprenderem o pretérito do indicativo, visto que não o usariam, pois ninguém mais falava assim. Neste momento o professor tenta explicar que há mais formas de registro da língua e que eles devem sabê-la e saber usá-la. Porém, se mantêm desvalorizando o vocabulário dos alunos, demonstrando a visão de uma escola Compensatória: “[...] a escola, reconhecendo a existência de diferenças e não de “deficiências” linguísticas, pode e deve promover a aquisição da linguagem socialmente prestigiada, para que, através de um bidialetalismo funcional, o aluno possa adaptar-se às exigências da sociedade tal como ela é.” (SOARES, 2000) A última cena que pretendo debater é a dos alunos se levantando para saudar o diretor. Como proposto por TRAGTENBERG (1985): “a instituição disciplinar que consiste na utilização de métodos que permitem um controle sobre o corpo do cidadão através dos exercícios de utilização do tempo, espaço, movimento, gestos e atitudes, com uma única finalidade: produzir corpos submissos, exercitador e dóceis.”