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Análise Semantica de Textos: Procedimentos, Análises e Ensino, Notas de aula de Linguística

Análises de textos realizadas por guimarães, onde ele discute o conceito de texto, a interpretação e o papel do semanticista na compreensão de textos. Ele destaca a importância de considerar as relações entre enunciados e o contexto histórico-político na construção de sentidos. O autor também discute a noção de recorte e a importância de interpretar textos relativamente aos recortes identificados.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Florentino88
Florentino88 🇧🇷

4.7

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Resenha:
Análise de texto – Procedimentos, Análises, Ensino
Marcelo Lima Calixto 1
O percurso da caminhada se inicia propondo como um semanticista pode se interessar
pelo texto e trazer para a análise desses textos os desenvolvimentos dos estudos da sig-
nificação, contribuindo para os modos de ler sustentadamente um texto, estabelecendo o
lugar dos estudos semânticos e desenvolvendo procedimentos próprios para a interpreta-
ção e compreensão do texto. Ao percorrer suas análises, percebemos o quanto o autor se
deixa expor ao inesperado, nos mostrando o lugar do texto para a prática da reflexão, para
o desenvolvimento da vida intelectual. Vamos percorrer juntos essa caminhada em busca
dos sentidos que os textos produzem.
Na primeira parte da obra, Guimarães apresenta o Norte de seu trabalho: o que ele
chama de fundamentos, onde vai estabelecer o que é texto e nos apresentar, num segun-
do momento, os procedimentos que irão guiar suas análises de texto. No primeiro texto
intitulado “O que é texto”, Guimarães inicia o percurso para delinear o conceito de texto.
Inicialmente traz a definição de Benveniste e utiliza-se do exemplo de um mapa de uma
cidade para elucidar o conceito de texto na visão da teoria da enunciação, que define o
mesmo como uma unidade no sentido, finita e que tem como característica integrar enun-
ciados. Ao desenvolver seu conceito de texto, Guimarães destaca que um dos aspectos
importantes que devem ser considerados na composição do texto é que “seus enunciados
se reportam sempre a enunciados de outras enunciações anteriores, de outros textos "(p.
27)", ou seja, em seu entendimento um texto sempre pronuncia outros textos ou elemen-
tos destes textos, agregando-os e os transformando. Salienta que um texto se apresenta
como uma versão de outro texto ou de si mesmo e traz como exemplo dessa afirmação
as orações ritualizadas das práticas religiosas. Ao final desse primeiro texto, o autor sa-
lienta que tais análises não só permitirão compreender como os textos mostram o seu
funcionamento, mas também pensarmos de modo muito específico como se constituem
os sentidos, uma vez que os entendemos realizados nos acontecimentos em que os textos
são enunciados e no modo como constituem e são constituídos por enunciados.
No segundo texto, dessa primeira parte, intitulado “Análise de texto Estabelecendo o
Procedimento”, dentro de sua posição de semanticista (que é a de se colocar na posição
de dizer como os sentidos podem ser interpretados), Guimarães define como paradigma
de suas análises o entendimento de que a interpretação é uma atribuição de sentido que o
analista faz aos enunciados e ao texto considerando a relação de associação que constitui
texto e sua relação com a exterioridade. Dentro desse estabelecimento de procedimento
incorpora o lugar do que ele chama de leitor-semanticista, aquele que teria a capacidade
de considerar o processo enunciativo, de caráter histórico político, na constituição do
sentido, ou seja, significa poder dizer como um texto se concebe enquanto texto e de apontar
que existem funcionamentos linguísticos próprios para isso. Para Guimarães o sentido de
uma expressão linguística se estabelece pelo acontecimento da enunciação2, ou seja, para
que um certo tipo de sequência linguística seja enunciado é necessário que constitua texto.
1 Professor do IFRS e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS.
2 Essa concepção semântica foi desenvolvida na obra intitulada “Semântica do acontecimento”.
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Resenha:

Análise de texto – Procedimentos, Análises, Ensino

Marcelo Lima Calixto 1 O percurso da caminhada se inicia propondo como um semanticista pode se interessar pelo texto e trazer para a análise desses textos os desenvolvimentos dos estudos da sig- nificação, contribuindo para os modos de ler sustentadamente um texto, estabelecendo o lugar dos estudos semânticos e desenvolvendo procedimentos próprios para a interpreta- ção e compreensão do texto. Ao percorrer suas análises, percebemos o quanto o autor se deixa expor ao inesperado, nos mostrando o lugar do texto para a prática da reflexão, para o desenvolvimento da vida intelectual. Vamos percorrer juntos essa caminhada em busca dos sentidos que os textos produzem. Na primeira parte da obra, Guimarães apresenta o Norte de seu trabalho: o que ele chama de fundamentos, onde vai estabelecer o que é texto e nos apresentar, num segun- do momento, os procedimentos que irão guiar suas análises de texto. No primeiro texto intitulado “O que é texto”, Guimarães inicia o percurso para delinear o conceito de texto. Inicialmente traz a definição de Benveniste e utiliza-se do exemplo de um mapa de uma cidade para elucidar o conceito de texto na visão da teoria da enunciação, que define o mesmo como uma unidade no sentido, finita e que tem como característica integrar enun- ciados. Ao desenvolver seu conceito de texto, Guimarães destaca que um dos aspectos importantes que devem ser considerados na composição do texto é que “seus enunciados se reportam sempre a enunciados de outras enunciações anteriores, de outros textos "(p. 27)", ou seja, em seu entendimento um texto sempre pronuncia outros textos ou elemen- tos destes textos, agregando-os e os transformando. Salienta que um texto se apresenta como uma versão de outro texto ou de si mesmo e traz como exemplo dessa afirmação as orações ritualizadas das práticas religiosas. Ao final desse primeiro texto, o autor sa- lienta que tais análises não só permitirão compreender como os textos mostram o seu funcionamento, mas também pensarmos de modo muito específico como se constituem os sentidos, uma vez que os entendemos realizados nos acontecimentos em que os textos são enunciados e no modo como constituem e são constituídos por enunciados. No segundo texto, dessa primeira parte, intitulado “Análise de texto Estabelecendo o Procedimento”, dentro de sua posição de semanticista (que é a de se colocar na posição de dizer como os sentidos podem ser interpretados), Guimarães define como paradigma de suas análises o entendimento de que a interpretação é uma atribuição de sentido que o analista faz aos enunciados e ao texto considerando a relação de associação que constitui texto e sua relação com a exterioridade. Dentro desse estabelecimento de procedimento incorpora o lugar do que ele chama de leitor-semanticista , aquele que teria a capacidade de considerar o processo enunciativo, de caráter histórico político, na constituição do sentido, ou seja, significa poder dizer como um texto se concebe enquanto texto e de apontar que existem funcionamentos linguísticos próprios para isso. Para Guimarães o sentido de uma expressão linguística se estabelece pelo acontecimento da enunciação^2 , ou seja, para que um certo tipo de sequência linguística seja enunciado é necessário que constitua texto. 1 Professor do IFRS e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFRGS. 2 Essa concepção semântica foi desenvolvida na obra intitulada “Semântica do acontecimento”.

144 — Conexão Letras, Porto Alegre, v. 14, n. 22, p. 143-147, jul-dez. 2019. CALIXTO, Marcelo Lima Ao analisar um texto, o autor leva em consideração: a) a noção de recorte (que ele foi buscar no interior da Análise do Discurso) como um fragmento do acontecimento da enunciação, como formas linguísticas que parecem como associadas em virtude de terem uma mesma relação com o acontecimento; b) a interpretação do texto parte dessa noção de recorte e chega-se a uma interpretação do texto relativamente à caracterização desse recorte, retor- na-se a um outro recorte e constituímos uma nova interpretação de texto, agora levando em consideração os dois recortes, e assim sucessivamente; c) interpretar é construir sentidos aos elementos e ao todo do texto, considerando as familiaridades que marcam a integração dos elementos ao texto e de acordo com a posição teórico-metodológica assumida. Portanto, interpretar não se trata de uma decodificação, mas de considerar o funcionamento da lingua- gem dentro das condições em que os acontecimentos enunciativos se realizam. A partir da segunda parte da obra, Guimarães inicia os processos de análise. Suas análises iniciam em torno de três textos que constituem a História do Brasil. No primeiro texto analisado, intitulado “A proclamação da República”, Guimarães nos brinda com o documento que “deu origem” ao nascimento da república brasileira, identificando no mesmo a força performativa^3 de instalação de um novo regime político. A análise do texto se dará através de três recortes, o primeiro tratará dos vocativos, o segundo, que será articulado ao primeiro, é o modo de constituição da performatividade do texto e o terceiro recorte será do sentido da palavra “povo”. O primeiro recorte, o vo- cativo “concidadãos”, divide o texto em quatro partes. Para desenvolver essa análise nos é apresentado o seu funcionamento, chamando a atenção do leitor para a particularidade desse vocativo destacar-se pelo uso do ponto de exclamação e por ser um enunciado que emerge apresentando a relação de enunciação. Para posicionar-se nessa relação de enunciação, esse enunciado “concidadãos” será parafraseado como segue: a) “ Eu falo a vocês os [meus] concidadãos ”, onde a cena enunciativa instalada contribui para conceber lugares sociais de sujeitos diversos, o que nos leva a compreender que o vocativo é bem mais do que estabelecer relação com o interlocutor, mas a constituição dessa relação, pois designa o alocutário do texto e os elementos da configuração da cena enunciativa e, consequentemente, estabelecendo politicamente os sentidos. A enunciação do texto se apresenta como se dando do lugar do cidadão para o cidadão, significando essa ligação como incontestável. b) “A deposição do imperador e extinção da monarquia é uma revo- lução nacional” , onde revolução é determinada pelo sentido de deposição do imperador e eliminação da monarquia e, essa cena enunciativa apresenta-se como se fosse a orga- nizadora do texto. Origina-se dessa cena enunciativa a performatividade do texto e essa relação carrega uma simultaneidade: de um lado a cena em que o lugar social do locutor configura-se numa relação de cidadão - cidadão, e de outro o lugar social do locutor é o das forças armadas estabelecendo a relação forças armadas – povo, ou seja, o povo fica de fora do lugar que estabelece uma legalidade política. Seguindo em seu trabalho de análise, Guimarães faz um recorte mais específico dessa análise de performatividade, um recorte histórico, mostrando como se configura esse lugar na chamada Proclamação da República, na qual a cidadania se vê formulada e instabilizada pelo lugar que a formula. O segundo texto, “ ‘Desordem’ no Congresso”, é um texto que produz sentido pela maneira como trabalha com a Bandeira Brasileira. Guimarães considera três recortes em 3 A ideia de performativo vem da teoria dos atos de fala que foi elaborada inicialmente por John L. Austin e desenvolvida posteriormente por J.R. Searle

146 — Conexão Letras, Porto Alegre, v. 14, n. 22, p. 143-147, jul-dez. 2019. CALIXTO, Marcelo Lima de acontecimento, pois rezar é ser agenciado de um lugar universal na temporalidade eterna de Deus. O acontecimento de rezar se manifesta enquanto neutro ao espaço da enunciação, tornando-se irrelevante tanto à língua, como à história e ao tempo. A per - formatividade do texto se constitui pelo comprometimento do fiel enquanto fiel pela manifestação da crença que o representa como cristão. No terceiro texto, intitulado “Os sentidos de uma canção de Bandeira”, a análise agora será de um texto literário, especificamente a “Última Canção do Beco”, de Ma - nuel Bandeira. Guimarães propõe tomar os seguintes recortes: as reescriturações da palavra “beco; a constituição da cena enunciativa; a designação de “Beco”; e aspectos da construção dos versos e estrofes. As reescriturações da palavra Beco se dão por substituições opostas: é reescrito por esta casa e meu quarto , por especificação e por Lapa por generalização, mostrando que o movimento do texto se fecha sobre si mesmo, pois aquilo a que se refere é a quem se fala. Quando o Beco é o referido, as característi - cas são afetivas, já quando ele é o interlocutor, seus predicados são objetivos, sociais. A construção dos versos se dá numa relação de sentidos, o interno e o de fora. Apresenta um texto cuja construção é fortemente estruturada e concomitantemente quebrada, ou seja, é a relação entre o modelo e sua quebra que nos oferece a força dos sentidos no poema. Na quarta parte da obra, Guimarães se dedica ao texto na escola. Em “Estudando com Textos”, o autor parte do princípio de que o Homem é um ser da linguagem e desde sempre está exposto à relação com textos, mas a relação com os textos escritos tomou contornos que produziram um imaginário sobre a finitude do texto. Mas a pro - posta de Guimarães não trata do texto por uma condição de completude. São sugeridas atividades, que segundo o autor, serão capazes de desenvolver nos alunos a capacidade de compreender e poder pensar sobre um texto, de poder falar sobre ele e de poder produzir diferentes textos, nas condições mais diversas. O texto é compreendido como unidade de sentido integrada por enunciados, onde dois aspectos fundamentais são colocados no centro da questão do ensino: o funcionamento do enunciado e o fato de que os enunciados são produzidos por sua relação de integração com o texto. Um enun - ciado tem a particularidade de possuir uma consistência interna e uma independência relativa, além do chamado funcionamento gramatical ser inseparável da produção do sentido. Existem elementos no texto que nos mostram como se dá a articulação dos enunciados com o texto, sendo isto decisivo para se poder compreender e interpretar o que diz um texto. O essencial a se observar no texto não é se ele é correto, segundo um padrão linguístico normatizado, mas de considerar como ele faz sentido. Esse texto coloca em discussão o ensino através dos diferentes gêneros textuais e lembra que o en - sino que toma como central a questão dos gêneros é um ensino que se configura como do mesmo tipo que aquele ligado ao ensino da gramática normativa. O que interessa observar é a relação entre língua e enunciação que aparece nas enunciações específicas de textos particulares, considerando seus modos de circulação, além do que a questão do texto é relativa ao modo de estar em sociedade hoje. Apresenta como movimentos a serem considerados: o professor analisa um texto; os alunos analisam um texto, a produção de outros textos e mostrar que um texto traz muitos sentidos. É significativo saber encontrar nos textos os aspectos relevantes tanto para sua interpretação como para ensinar a pensar a partir dos textos, sendo dessa forma possível fazer ler e com - preender bem os textos e a partir disso é possível escrever ou dizer conteúdos escritos.

Conexão Letras, Porto Alegre, v. 14, n. 22, p. 143-147 jul-dez. 2019. — 147 Resenha: Análise de texto – Procedimentos, Análises, Ensino Dentro da conclusão de sua obra, Guimarães retoma as práticas sugeridas e envolvi- das na análise de textos de modo objetivo, demonstrando como é importante encontrar os recortes. Guiar-se por suas descrições é o fundamento dessa prática. Percebemos que as análises feitas, a partir do lugar de leitura do semanticista da enunciação, não se limita nem a seguir a linearidade nem a referencialidade do texto, mas a necessidade de observar as relações transversais que a integração dos enunciados ao texto constituem em virtude de sua enunciação. Os textos não podem ser tomados como modelos, mas como aconte- cimentos específicos que trabalham o tempo todo o já realizado e o ainda não realizado. Analisar textos é um caminho para se pensar sobre as questões que nos interessam. Finalmente, cabe destacar os aportes trazidos em “Análise de texto – Procedimentos, Análises, Ensino”, não só pela heterogeneidade dos diálogos entre as diferentes con- cepções epistêmicas, mas a forma como essas diferentes concepções contribuem para a construção do campo de investigação. Referências GUIMARÃES, Eduardo. Análise de texto: procedimentos, análises, ensino. Campinas: RG Editora, p. 160, 2011. Recebido em: 11/06/2019; Aceito em: 21/06/