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Um estudo histórico sobre a relação entre a língua brasileira de sinais (libras) e a língua de sinais francesa (lsf), investigando três dicionários selecionados para a análise de vinte sinais. O autor busca contribuir para a investigação de assuntos relacionados à estrutura das línguas de sinais, principalmente aos fenômenos de variação e mudança linguística. O texto oferece informações sobre a história da educação de surdos na frança e no brasil, as principais considerações de pesquisas linguísticas nas línguas de sinais e a influência da lsf na libras.
Tipologia: Notas de estudo
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Os estudos relacionados à surdez têm ganhado bastante notoriedade nas últimas décadas, graças às rigorosas investigações realizadas por profissionais envolvidos na área da linguagem. Nesse contexto, esta pesquisa justifica-se pela importância do resgate da história da língua de sinais e pela carência de evidências empíricas e teóricas na morfofonologia. Dessa
Neste trabalho, é pesquisada a relação histórica entre a língua de sinais francesa (LSF) e a língua brasileira de sinais (Libras) com a finalidade de verificar se há diferenças/mudanças nos parâmetros formadores dos sinais. Para tanto, lanço mão dos pressupostos teóricos e metodológicos de pesquisas de variação linguística para descrição e análise do corpus composto de vinte sinais, os quais foram comparados em três materiais: para visualizar os sinais da LSF, o dicionário online Sematos , e para os sinais da Libras; o dicionário Linguagem das Mãos , de 1969 e o dicionário digital Acesso Brasil. Vale ressaltar que os estudos da linguagem e surdez são um campo novo de investigação da linguística, cujo início se deu na década de 60, com os trabalhos do linguista norte-americano William Stokoe sobre a ASL, e de lá pra cá têm se tornado um ativo e diversificado objeto teórico. Nas línguas orais, as quais possuem a modalidade oral-auditiva, os sons articulados são percebidos pelos ouvidos. Já nas línguas de sinais, em virtude de sua modalidade espaço-visual, utilizam-se as mãos, pontos no espaço, expressões faciais e corporais no intuito de produzir os sinais linguísticos que, por sua vez, são percebidos pelos olhos. Logo, entende-se por sinais aquilo que é chamado palavra ou item lexical nas línguas faladas. As línguas de sinais são sistemas linguísticos naturais desenvolvidos e utilizados em todas as partes do mundo onde há pessoas surdas. Embora diferentes umas das outras, essas línguas, que foram expostas a diversificados tipos de comunidades e instituições, compartilham um significativo número de estruturas comuns. De um modo geral, os traços atribuídos às línguas naturais, segundo abordagem de Quadros e Karnopp (2004), são: flexibilidade, versatilidade, arbitrariedade, descontinuidade, criatividade, produtividade, dupla articulação, padrão de organização dos elementos, e dependência estrutural. Exemplo disso são as análises realizadas por Battison (1975), demonstrando que a estrutura da língua de sinais americana (ASL – American Sign Language )
é semelhante à das línguas faladas, e que sua fonologia e sintaxe estão sujeitas aos mesmos tipos de processo que operam nas línguas faladas/orais. Nessa perspectiva, Ferreira (2010) afirma que as línguas de sinais são resultado de uma inteligência coletiva, contendo toda a complexidade do sistema linguístico que serve como comunicação e como suporte à organização do pensamento humano. Para a autora, apesar das proibições e dos preconceitos de que têm sido alvo, as línguas de sinais resistiram heroicamente através dos tempos, comprovando a fortaleza de um sistema consistente. Para atender os objetivos desta pesquisa, este trabalho é dividido em quatro capítulos. O primeiro inicia-se com um relato histórico sobre a educação de surdos na França e no Brasil, bem como as principais considerações de pesquisas linguísticas nas línguas de sinais. O segundo segue com uma revisão de literatura dos estudos em torno da variação linguística, tais como variações regionais, sociais e aquelas relacionadas a mudanças históricas. Nesse, também são contempladas as características básicas da fonologia e da morfologia nas línguas de sinais. No terceiro capítulo, apresentamos os procedimentos metodológicos adotados para a coleta de dados. Na sequência, capítulo 4, é feita a análise comparativa, a discussão dos resultados e, por fim, as considerações conclusivas.
representada pelo mesmo sinal que designava chapéu de um homem, enquanto a forma feminina, une , foi expressa pelo sinal para de um chapéu de mulher. A mão levantada e arremessada uma vez para atrás do ombro indicava o passado simples, enquanto que o mesmo movimento repetido duas vezes ficou para o presente perfeito, e três vezes, o mais-que- perfeito. Alguns sinais de L'Épée vieram diretamente de seus alunos, mas outros ele compôs a partir do que ele considerava ser seus componentes conceituais. Essa versão codificada manualmente do francês, portanto, foi nada menos do que uma tentativa de colonização da linguagem dos surdos franceses. Sinais metódicos habilitavam alunos a transcrever sinais manuais em francês escrito e vice-versa, embora sem compreender o significado do que eles escreviam ou sinalizavam. Nas pesquisas de Saint-Loup (1989), em algum momento entre 1759 e 1771, o abade de L'Epée fundou a primeira escola pública para crianças surdas em Paris e, ao fazer isso, deu início a uma nova era da educação. Pela primeira vez, as crianças das classes mais humildes foram reunidas em um ambiente público, e reconhecidas e fortalecidas como um grupo social. Chefes de estado, realeza, intelectuais e observadores curiosos de todas as esferas da sociedade se reuniram na escola de Paris para testemunhar manifestações públicas em que os alunos apresentavam suas habilidades. Assim, o abade e seus alunos ganharam o apoio à causa de sua educação, convencendo o público simpático que, de fato, as crianças surdas poderiam ser instruídas formalmente, mesmo sendo diferentes dos ouvintes. As últimas décadas do século XVIII testemunharam a ascensão de outro educador surdo proeminente, o prussiano Samuel Heinicke, o qual estava convencido de que o discurso era necessário para o pensamento claro, e seus esforços de ensino, portanto, girava em torno da linguagem oral. Enquanto as escolas „gestualistas‟ instruíram seus alunos com um sistema de sinais de comunicação concebida para responder às suas necessidades específicas, o objetivo da escola oralista era para suprimir a língua de sinais dos alunos e instruí-los na língua falada. No início de 1780, Heinicke e L'Epée envolveram-se em um debate epistolar sobre os seus respectivos métodos. A controvérsia sobre os métodos de ensino e, finalmente, sobre os objetivos da educação de surdos viria a ser a questão mais importante que ainda prevalece nos princípios e práticas pedagógicas até a contemporaneidade (SAINT-LOUP, 1989). Em suma, a posição gestualista tomada por L‟Epée, que educou os surdos por meio de sinais, tornou-se conhecida como o método francês. Já o método da oralidade, o qual seria negar às pessoas surdas o acesso aos sinais, priorizando o ensino da fala, tornou-se conhecido como o método alemão.
Segundo Lane e Philip (1984), Pierre Desloges foi a primeira pessoa surda a publicar um livro com o objetivo de defender a tese de que a língua de sinais dos surdos era o veículo próprio para a sua instrução. Em sua obra Observations d'un sourd et muet , ele comenta que poucas pessoas têm uma noção da capacidades que os surdos têm em se comunicar com os outros em língua de sinais. Desloges, de acordo com Lane e Philip (1984), salientou que L'Epée não tinha inventado a língua de sinais. Ele também argumentou que havia diferenças entre os sinais naturais, que facilmente surgiram na sociedade surda, e os sinais metódicos de L‟Epée, o qual tentou fundir com a língua francesa, conforme às convenções dessa língua falada. Ao longo de seu livro, porém, Desloges não escondeu sua grande admiração pelo educador francês, já que era um método contra a pedagogia da língua falada para as pessoas não-ouvintes. De fato, as observações de Pierre Desloges são extremamente importantes para a história da comunidade surda francesa. Desloges ressaltou que essa cultura emergiria onde pessoas surdas reunidas interagissem socialmente. Além disso, embora ele apoiasse fortemente a educação para os surdos, ele não considerava a instituição educacional como um pré-requisito para a formação de uma cultura. Contudo, essa primeira fase de reconhecimento foi seguida por um novo período de negação, começando com a proibição de línguas de sinais no Congresso de Milão^1 ,em 1880, e indo até o “despertar surdo” em 1960-1980. Muitos alunos foram proibidos de usar sua língua potencial e obrigados a aprender a falar, independentemente de suas possibilidades para alcançar êxito nessa tarefa. Neste item, foi fornecido um relato histórico da LSF para situar o leitor quanto ao seu desenvolvimento. No próximo, 1.2, será também resgatado o valor histórico da Libras para a comunidade surda do Brasil.
(^1) O objetivo do Congresso era discutir a qualidade da Educação de Surdos e a escolha do método mais adequado no ensino. Foi votado o método oral, considerado superior ao método de sinais.
Prova de outro atrelamento histórico entre as línguas de sinais são os estudos realizados por Baker e Padden (1978), evidenciando a aparição de sinais cognatos na ASL. Nessa pesquisa, constatou-se que quase 60% dos sinais encontrados na ASL pareciam estar historicamente relacionados com a LSF. Além disso, a porcentagem restante também apresentava características e/ou empréstimos tanto da língua oral inglesa^5 , quanto de outras línguas de sinais encontradas até mesmo antes do contato com a LSF em 1817. De acordo com Albres (2005), a maior parte das línguas de sinais nasceu do contato entre duas ou mais línguas num processo de pidgin seguido de crioulização. Há de se considerar que muitas delas receberam empréstimos, por exemplo, das letras do alfabeto das línguas orais próprias de seu país. A fim de visualizar melhor a relação histórica entre as línguas de sinais citadas, vejamos o exemplo do conjunto de configurações de mão que representam manualmente, porém não diretamente, as letras do alfabeto das línguas orais. No quadro, a seguir, está o alfabeto soletrado (soletração manual) da Libras, LSF e ASL, respectivamente:
Quadro 1: Alfabeto Manual da Libras, LSF e ASL.
Como podemos observar na seleção de dedos utilizada para executar a datilologia, nota-se a semelhança entre várias delas. As cinco primeiras, por exemplo, apresentam o mesmo número e posição de dedos selecionados. Isso igualmente ocorre nas letras I, K, L, O, P, R, S, U, V, W, Y e Z. Ou seja, de um modo geral, das 26 letras que compõem o alfabeto manual, 17 são comuns nas três línguas de sinais em questão. As nove demais apresentam apenas pequenas mudanças em alguns dos traços paramétricos.
(^5) Para pesquisa complementar sobre a influência da LSF na ASL: Battison (1978).
É interessante mencionar o livro Iconographia dos signaes dos surdos-mudos^6 , cujo material foi produzido por Flausino José da Gama em 1875. Trata-se do primeiro documento a fazer algum tipo de descrição à língua de sinais do Brasil. No quadro 4, abaixo, é apresentado o alfabeto manual que encontramos na obra. Ao examiná-la, percebemos que há muita similitude entre as configurações de mão do alfabeto manual da LSF. Nessa perspectiva, Campello (2008) corrobora argumentando que a inspiração para o trabalho de Gama veio de um outro documento intitulado Iconographie des signes, o qual foi publicado pelo professor do Instituto de Paris, Pélissier, em 1856 na França.
Quadro 2: Dactilologia de Gama (1975)
Nesse contexto, Greenberg (1957) fornece quatro casos de semelhanças lexicais entre as línguas, apenas dois deles sendo relacionados historicamente: relações genéticas e empréstimo. Os outros dois casos são o simbolismo compartilhado – nos quais os vocabulários compartilham motivações similares, icônicas ou indicadoras - e, finalmente, o acaso. A partir da revisão de literatura para a elaboração deste trabalho, foi encontrada a investigação da pesquisadora surda Diniz (2011) que, em seu mestrado, traçou três categorias por meio de um estudo descritivo de mudanças fonológicas e lexicais na Libras. Esses conjuntos, por sua vez, serão melhor discutidos no último capítulo, pois servirão como base para a análise dos dados desta pesquisa.
(^6) A edição original encontra-se na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.