Docsity
Docsity

Prepare-se para as provas
Prepare-se para as provas

Estude fácil! Tem muito documento disponível na Docsity


Ganhe pontos para baixar
Ganhe pontos para baixar

Ganhe pontos ajudando outros esrudantes ou compre um plano Premium


Guias e Dicas
Guias e Dicas

Protocolo Metodológico de Análise de Cobertura Jornalística, Slides de Jornalismo

Um protocolo metodológico de análise de cobertura jornalística com o objetivo de possibilitar a apreensão do acontecimento jornalístico em uma instância localizada entre o trabalho de bastidores da redação e as análises subseqüentes do conteúdo temático e do discurso no e sobre o mesmo acontecimento. O protocolo propõe uma abordagem menos fragmentária do fenômeno jornalístico, investigando não apenas nas narrativas produzidas, mas também nas estratégias e técnicas do processo produtivo da notícia.

O que você vai aprender

  • Quais são as três dimensões do conjunto de procedimentos e métodos específicos da prática jornalística?
  • Quais são os principais impasses para a qualificação das investigações desenvolvidas na pesquisa em jornalismo?
  • Como o processo jornalístico pode ser estudado a partir do produto publicado?
  • Por que há uma preponderância da análise da mensagem sobre as demais etapas do processo jornalístico?
  • Como é possível abordar de maneira menos fragmentária o fenômeno jornalístico?

Tipologia: Slides

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Birinha90
Birinha90 🇧🇷

4.6

(363)

224 documentos

1 / 19

Toggle sidebar

Esta página não é visível na pré-visualização

Não perca as partes importantes!

bg1
edição 10 | ano 5 | julho-dezembro 2011
18
Análise de cobertura jornalística: um protocolo metodológico
Gislene Silva1
Flávia Dourado Maia2
Resumo: O acontecimento jornalístico pode ser observado e analisado por meio das
marcas que o processo de produção da notícia deixa no próprio produto acabado.
Retomando apontamentos sobre alguns dos entraves teórico-metodológicos que
se interpõem à ampliação e ao aprimoramento das teorias do jornalismo, e sobre
a necessidade de abordagens menos fragmentárias do fenômeno jornalístico,
apresentamos um protocolo de análise de cobertura jornalística com o objetivo de
possibilitar a apreensão do acontecimento jornalístico numa instância localizada entre
o trabalho de bastidores da redação e as análises subseqüentes do conteúdo temático
e do discurso no e sobre o mesmo acontecimento. A base teórica buscamos em Quéré,
quando problematiza lugares da mídia para pensar o acontecimento3.
Palavras-chave: acontecimento jornalístico, cobertura jornalística, produção
jornalística, metodologia da pesquisa.
Abstract: The journalistic event can be observed and analysed through the signs the
process of news production leaves in its own finished product. Considering observations
on some of the theoretical and methodological obstacles placed in the improvement
and in the expansion of journalism theories and on the neeed for less fragmented
approaches of the journalistic phenomenon, we present a protocol of analysis of news
coverage in order to understand the journlistic event in the instance located between
the work behind the scenes of journalism and the subsequent analysis of the thematic
content and of the discourse in and on the same event. The theoretical basis was Quére,
when the author discusses the position of media to think the event.
Keywords: journalistic event, journalistic coverage, journalistic production, research
methodology.
pf3
pf4
pf5
pf8
pf9
pfa
pfd
pfe
pff
pf12
pf13

Pré-visualização parcial do texto

Baixe Protocolo Metodológico de Análise de Cobertura Jornalística e outras Slides em PDF para Jornalismo, somente na Docsity!

edição 10 | ano 5 | julho-dezembro 2011

Análise de cobertura jornalística: um protocolo metodológico

Gislene Silva^1 Flávia Dourado Maia^2

Resumo : O acontecimento jornalístico pode ser observado e analisado por meio das marcas que o processo de produção da notícia deixa no próprio produto acabado. Retomando apontamentos sobre alguns dos entraves teórico-metodológicos que se interpõem à ampliação e ao aprimoramento das teorias do jornalismo, e sobre a necessidade de abordagens menos fragmentárias do fenômeno jornalístico, apresentamos um protocolo de análise de cobertura jornalística com o objetivo de possibilitar a apreensão do acontecimento jornalístico numa instância localizada entre o trabalho de bastidores da redação e as análises subseqüentes do conteúdo temático e do discurso no e sobre o mesmo acontecimento. A base teórica buscamos em Quéré, quando problematiza lugares da mídia para pensar o acontecimento^3.

Palavras-chave : acontecimento jornalístico, cobertura jornalística, produção jornalística, metodologia da pesquisa.

Abstract : The journalistic event can be observed and analysed through the signs the process of news production leaves in its own finished product. Considering observations on some of the theoretical and methodological obstacles placed in the improvement and in the expansion of journalism theories and on the neeed for less fragmented approaches of the journalistic phenomenon, we present a protocol of analysis of news coverage i n order to understand the journlistic event in the instance located between the work behind the scenes of journalism and the subsequent analysis of the thematic content and of the discourse in and on the same event. The theoretical basis was Quére, when the author discusses the position of media to think the event.

Keywords : journalistic event, journalistic coverage, journalistic production, research methodology.

DOSSIÊ Limites e possibilidades das práticas jornalística e imagética

Ao tratar da dupla natureza do acontecimento, como fato e sentido, Louis Quéré levanta questões a respeito do lugar da mídia na configuração das coisas que acontecem, introduzindo reflexões sobre o acontecimento jornalístico. Na contraposição e diálogo entre G. H. Mead e H. Arendt, Quéré explicita a dualidade do acontecimento, que se daria “tanto a explicação causal do acontecimento e a construção do seu passado e do seu futuro, como o seu poder de esclarecimento e a fonte de inteligibilidade que ele constitui.” (QUÉRÉ, 2005, p. 6). Na observação de J. Rebelo, dessa dualidade resulta que o acontecimento seja simultaneamente explicável e explicativo. Explicável através da produção de narrativas, de estórias que origina. Explicativo pelo poder que transporta, enquanto revelador daquilo que (trans)forma, ou pode (trans)formar, nas pessoas e nas coisas (REBELO, 2006, p. 19). Queremos dizer, como pressuposto central deste trabalho, que muito do explicável dos acontecimentos publicados na imprensa poderia ser investigado não exclusivamente nas narrativas produzidas, mas também no que poderíamos chamar de narrativas da própria produção do acontecimento jornalístico, ou seja, nas estratégias e técnicas do processo produtivo da notícia.

De início, estudar o acontecimento jornalístico exige problematizar técnicas e métodos de investigação empregados nos estudos sobre a mídia noticiosa. Entre os principais impasses para a qualificação das investigações desenvolvidas na pesquisa em jornalismo podemos destacar a ausência de menção aos métodos empregados e as frequentes confusões entre opções teóricas e opções metodológicas; as dificuldades de sistematizar os procedimentos metodológicos e as inconsistências entre a metodologia pretendida e a metodologia praticada (SILVA, 2008); a “insipiência do discurso sobre os métodos” (QUADROS e BENETTI, 2007); a escassez de metodologias próprias, que permitam estudar o jornalismo como objeto científico particular; a preponderância de problemas de pesquisa formulados a partir do arcabouço teórico de outras áreas; o não desenvolvimento de estratégias metodológicas híbridas ou adaptadas para o estudo do jornalismo, que consigam estabelecer

DOSSIÊ Limites e possibilidades das práticas jornalística e imagética

Tal recorrência comum à AC e à AD pode ser associada, também, ao locus do objeto empírico. Segundo Silva (2008), há, nos estudos dos produtos, indícios da preponderância da análise da mensagem sobre as demais etapas do processo jornalístico, tendência que estaria ligada, de um lado, à pouca tradição de pesquisas de recepção e produção jornalística no país; e, de outro, a fatores de ordem mais pragmática – como acesso ao objeto, custos e tempo de duração da investigação –, que tornariam o trabalho com textos jornalísticos mais conveniente^5. Por trás dessas opções estaria ainda uma razão de ordem epistemológica: a tendência à fragmentação do processo jornalístico segundo o esquematismo dos modelos de comunicação tradicionais, que separam produção (emissão), produto (meio/mensagem) e consumo (recepção) em categorias estanques, como apontam Escosteguy (2007) e Silva (2008).

Em resumo, a falta de preocupação com metodologias mais apropriadas conduz à repetição de fórmulas metodológicas sem as considerações e adaptações necessárias. Aplicadas indistintamente a perguntas de pesquisa variadas e com escopos os mais diversos, essas fórmulas acabam por compor um quadro limitado de respostas, quase sempre circunscritas ao domínio do meio/mensagem, e também por encobrir a deficiência das metodologias de pesquisa em jornalismo.

Com o objetivo de chamar atenção para a pertinência de abordagens menos fracionárias do jornalismo como objeto de estudo, queremos dar relevo aqui à construção do acontecimento jornalístico pelas estratégias e técnicas de apuração e composição visíveis no texto. Para isso estamos propondo um protocolo metodológico de análise de cobertura jornalística em textos impressos, capaz de mostrar a viabilidade de se investigar no produto publicado elementos do processo de elaboração do acontecimento como notícia, um método de investigação complementar aos estudos de newsmaking realizados nas redações e às análises de conteúdo e de discurso dos textos. Trata-se de inversão inspirada também em Quéré. Só que não estamos preocupadas, por enquanto, em tematizar o acontecimento jornalístico, voltando ao contexto que o produziu

Análise de cobertura jornalística: um protocolo metodológico Gislene Silva & Flávia Dourado Maia

para esclarecê-lo, e nem focadas na ação desse acontecimento em modificar inteligibilidades, projetando nova luz sobre o que lhe precedeu ou estar por vir. A significação constitui o próprio contexto de sentido. E esse contexto de sentido pode começar a ser observado, antecipadamente, nas decisões editoriais que deixam suas marcas no produto, no acontecimento publicado.

O processo no produto

O desenvolvimento de um método específico para estudar a produção a partir do produto requer, primeiramente, a adoção de uma perspectiva teórico- metodológica mais aberta, que não restrinja o olhar sobre o objeto às diretrizes do modelo fragmentário de processo jornalístico, no qual produção, produto e recepção são tomados como categorias estanques. Mais além, requer que se desvincule a noção de produto da noção de mensagem e que se rompa com a matriz conceitual que tende a reduzir uma à outra.

As limitações dos enfoques fracionários do jornalismo já vêm sendo apontadas por autores filiados aos Estudos Culturais, que reivindicam uma abordagem mais global e totalizante do processo jornalístico, como fazem Escosteguy (2007), Strelow (2007) e Santi (2010). Inspirados no circuito cultural de Richard Johnson (2000)^6 , esses pesquisadores propõem um método para analisar cada um dos momentos do processo jornalístico, procurando explorar as conexões entre um segmento e outro. O recorte epistemológico demarcado aí representa um passo relevante para as pesquisas em jornalismo; contudo, investe ainda em cada ponto do circuito separadamente: a produção continua a ser encarada como uma instância circunscrita às rotinas produtivas, o produto segue sendo associado quase que exclusivamente à mensagem e a recepção permanece atrelada prioritariamente à construção de sentidos.

Insistir no modelo segmentário de processo jornalístico implica corroborar a ideia de que cada momento do circuito revela dados somente sobre si mesmo, ou, conforme afirma Johnson, que “os processos desaparecem nos produtos” de

Análise de cobertura jornalística: um protocolo metodológico Gislene Silva & Flávia Dourado Maia

ainda que de maneira desordenada, descontínua, metodologicamente inadequada ou mesmo inconsciente. Ao comentar a quantidade expressiva de trabalhos científicos que vêm se valendo de produtos para investigar o processo de produção, Silva atenta para a necessidade de se repensar os métodos tradicionalmente utilizados nesses casos e de se desenvolver uma ferramenta metodológica voltada para esse fim, “como seria o caso de uma metodologia própria para a análise de cobertura jornalística, quer dizer, quando o texto publicado pode revelar aspectos do processo produtivo da notícia, sem passar pela estreita compreensão do que entendemos por newsmaking” (SILVA, 2008, p. 10).

Sabe-se, de saída, que nem todos os aspectos implicados no processo produtivo podem ser acessados através do produto. Após ser recortado em torno da produção, o objeto jornalismo continua a desdobrar-se em diferentes esferas de análise, como demonstra Guerra (2000). De acordo com o autor, o conjunto de procedimentos e métodos específicos da prática jornalística – o fator operacional^7 – pode ser abordado a partir de três dimensões: a (1) normativa, a (2) técnica e a (3) organizacional. A primeira refere-se às determinações legais e aos princípios éticos a serem observados no exercício profissional, que funcionam como um parâmetro de qualidade e como um instrumento pedagógico. A segunda subdivide-se em (a) técnico-procedimental, ligada à atuação dos jornalistas no sentido de materializar os preceitos normativos que regem as relações entre sujeitos (jornalistas entre si, jornalistas com as fontes, jornalistas com o público e jornalistas com as pessoas-tema das notícias); e (b) técnico- metodológica, relativa ao processo de composição do produto propriamente dito, ou seja, ao conjunto das ações implicadas nas relações sujeito-objeto (jornalista- acontecimento e jornalista-produto), como estratégias de apuração, práticas de captação das informações, elaboração e formatação do texto jornalístico e apresentação do produto no conjunto do veículo. A terceira, por fim, diz respeito à racionalização do trabalho no contexto geral da organização jornalística e pode

DOSSIÊ Limites e possibilidades das práticas jornalística e imagética

ser traduzida nas rotinas produtivas - pauta, reportagem, edição, veiculação, prazos, cronogramas, quadro de funcionários, divisão e atribuição de tarefas, demandas comerciais, entre outros.

Tomando a categorização de Guerra (2000) como referência, é possível demarcar a área de abrangência do protocolo de análise de cobertura jornalística. A dimensão normativa não pode ser abordada pelo método por centrar-se no deve-ser – numa projeção de modelo ideal de jornalismo, que não corresponde, necessariamente, às práticas produtivas empregadas no dia-a-dia da profissão. A dimensão técnico-procedimental também não se situa dentro do campo de alcance do protocolo por envolver dilemas e escolhas de natureza ética concernentes às relações entre sujeitos, elementos que até poderiam ser inferidos com base no produto, mas que dificilmente estariam explícitos a ponto de serem objetivamente identificados^8. As demais dimensões se mesclariam no que propomos como método de análise de cobertura. Embora as formas como as organizações jornalísticas administram e planejam internamente as atividades produtivas sejam mais adequadamente captadas por meio do acompanhamento das rotinas de trabalho, ou entrando em contato com os profissionais da redação, elas deixam suas marcas no produto pronto. Além das marcas da dimensão organizacional, também as da dimensão técnico-metodológica são perceptíveis no produto, naqueles aspectos diretamente vinculados às técnicas e às práticas específicas de produção do material informativo.

Ao reconstituir, através de marcas deixadas no produto, o caminho percorrido pelo jornalista e pelo veículo para apurar e relatar as informações, o método que propomos quer observar as estratégias de cobertura expressas no material jornalístico. Por isso, a abrangência do protocolo varia em proporção direta à manifestação do modus operandi no produto analisado. Esse atrelamento sinaliza, a um só tempo, para um ponto fraco da proposta metodológica, a dependência do grau de exposição do processo produtivo no texto, e para um de seus pontos fortes, a propriedade para fomentar debates acerca da (a)

DOSSIÊ Limites e possibilidades das práticas jornalística e imagética

de estudo a partir de uma lente diferente. O primeiro, mais específico, funciona como uma teleobjetiva : recai exclusivamente sobre a matéria jornalística

  • tomada de forma isolada –, explorando indícios do método de apuração e da estratégia de cobertura em close-up. O segundo corresponde a uma lente normal , de alcance médio, pois que oferece uma visão um pouco mais aberta do objeto, agora enfocando não só o texto, mas o conjunto amplo do produto, como localização na página, diagramação, foto etc. E o terceiro atua como uma grande angular – não capta detalhes, mas oferece um plano geral do objeto, captando aspectos da dimensão organizacional e do contexto sócio-histórico- cultural em que se insere a produção jornalística.

Cabe ressalvar que os dois primeiros níveis constituem a espinha dorsal do protocolo, uma vez que são fundamentais para a análise do processo produtivo a partir do produto e que podem ser suficientemente contemplados por meio da definição de categorias. Já o último nível é complementar, visto que tem por objetivo contextualizar os dados obtidos nos níveis 1 e 2, além de requerer a combinação com outros métodos, como newsmaking tradicional ou survey.

1º nível – Marcas da apuração

1) Assinatura:

  • Local (repórter da matriz da redação);
  • Correspondente;
  • Enviado especial;
  • Colaborador;
  • Agência de notícias;
  • Não assinado. 2) Local de apuração/acesso do jornalista ao local do acontecimento: é preciso buscar vestígios desse item no contexto geral da notícia, mas a assinatura (item 1) pode ajudar.

Análise de cobertura jornalística: um protocolo metodológico Gislene Silva & Flávia Dourado Maia

  • Interno (redação) ou indefinido : quando não há, no texto, indícios de que o jornalista tenha se deslocado para o local do acontecimento;
  • Externo: quando o jornalista faz a apuração in loco. Trata-se do local específico do acontecimento ou da cidade, estado, país ou continente em que o fato ocorre. Entre as questões que se pode levantar estão: algum profissional da redação foi mobilizado? Foi preciso deslocar alguém? Em que dia em relação ao acontecimento a pessoa foi deslocada? O veículo dispõe de redações/sucursais em diversos locais? O veículo publica textos que não foram produzidos por jornalistas da redação? O veículo conta com marcadores ou setoristas? Tais aspectos ajudam a entender, por exemplo, por que determinados acontecimentos e/ou locais foram cobertos e outros deixados de fora e como essas estratégias moldam os acontecimentos cobertos.

3) Origem da informação: trata das fontes consultadas. Como há inúmeras formas de classificá-las, sugere-se aqui uma tipificação que mescla três critérios principais 10 : (a) a forma como a informação foi obtida (direta ou indiretamente); (b) a natureza das fontes (humana, documental ou eletrônica); e (c) a posição das fontes no contexto dos acontecimentos (no caso de fontes humanas), ou seja, o lugar a partir do qual a fonte fala para dar as informações. Acredita-se que tais critérios atendem bem ao objetivo de analisar os esforços de apuração dos jornalistas.

  • Informações de primeira mão : são obtidas diretamente pelos autores do texto e podem ser fornecidas por fontes de naturezas diversas (inclusive por meio de declarações publicas em coletivas de imprensa e eventos em geral), entre as quais destacam-se:  Fontes do poder público : gozam do status de Estado – são ligadas diretamente aos três poderes, ao Ministério Público ou a autarquias (ex.: polícia, exército, deputado, prefeito, Ibama, Funai, IBGE e Petrobrás). (Não incluídas as assessorias de imprensa, advogados ou familiares que representam ou falam em nome destas fontes);

Análise de cobertura jornalística: um protocolo metodológico Gislene Silva & Flávia Dourado Maia

Publicações científicas: informações de caráter científico retiradas de publicações legitimadas pela comunidade científica;  Documentos impressos e eletrônicos: estatísticas, bases de dados, documentos públicos, pessoais e institucionais, arquivos históricos etc.;  Ciberespaço: informações obtidas na internet, que podem ou não ser respaldadas por uma instituição ou instância do poder público e podem ou não ser imputadas a uma pessoa específica^11 ;  Reedição: quando se utilizam informações de segunda mão de origens diversas, especialmente de agências de notícias e de outros veículos, para produzir um texto próprio;  Republicação: publicação de conteúdo de outros veículos, como é o caso da Carta Capital, que publica textos traduzidos da revista inglesa The Economist. É importante procurar traços de material fornecido pelas assessorias de imprensa e registrar se o jornalista-narrador também atua como fonte ao utilizar informações que observou diretamente.

2º nível – Marcas da composição do produto

4) Gênero jornalístico/natureza do texto informativo:

  • Nota;
  • Notícia;
  • Fotonotícia/fotolegenda;
  • Entrevista;
  • Reportagem;
  • Reportagem especial/dossiê.

DOSSIÊ Limites e possibilidades das práticas jornalística e imagética

5) Localização do texto no veículo/destaque:

  • Página par ou ímpar  Quadrante superior direito/esquerdo, inferior direito/ esquerdo;  Metade superior ou inferior;  Página inteira;  Várias páginas (quantas).
  • Editoria/caderno ou seção.
  • Manchete, chamada de capa ou apenas texto.

6) Recursos visuais/adicionais: próprios de agência de notícias, de assessoria de imprensa ou de outra fonte (conforme a classificação do item 3);

  • Gráfico ou tabela;
  • Boxe;
  • Infográfico;
  • Imagem não-fotográfica (como ilustrações e montagens);
  • Fotografia.

3º nível – Aspectos do contexto de produção

7) Caracterização contextual:

  • Contexto interno : caracterização visual, editorial e organizacional do veículo/empresa. Pode incluir aspectos como perfil da redação, rotinas produtivas, orientações editoriais expressas, tiragem, área de abrangência, estrutura de produção própria, público-alvo, formato do produto, se produto segmentado/dirigido.
  • Contexto externo : caracterização do tema/acontecimento/assunto específico da cobertura e da conjuntura sócio-histórico-cultural envolvente.

DOSSIÊ Limites e possibilidades das práticas jornalística e imagética

agora, para estudar a configuração do acontecimento jornalístico pelas estratégias e técnicas de apuração, composição e disposição para a leitura. Como destaca Quéré, os media têm papel decisivo “enquanto suportes, por um lado, da identificação e da exploração dos acontecimentos, por outro, do debate público através do qual as soluções são elaboradas ou experimentadas” (QUÉRÉ, 2005, p. 22). O que propomos aqui é trilha pequena frente à grandiosidade desse percurso de duplicidade proposto por Quéré, aquela encruzilhada entre “compreender o acontecimento, compreender segundo o acontecimento”. Mas não deixa de ser um dos acessos à complexidade do que nomeamos como acontecimento jornalístico.

Análise de cobertura jornalística: um protocolo metodológico Gislene Silva & Flávia Dourado Maia

Referências

ESCOSTESGUY, Ana Carolina. “Circuitos de cultura/circuitos de comunicação: um protocolo analítico de integração da produção e da recepção”. Comunicação, Mídia e Consumo , São Paulo, vol. 4, n. 11, nov. 2007, p. 115-133.

GADINI, Sérgio. “Dilemas da pesquisa no jornalismo contemporâneo: da abrangência midiática à ausência de métodos específicos de investigação”. III Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, Florianópolis, 2005. Anais eletrônicos.

GUERRA, Josenildo. “Ensaio sobre o jornalismo: um contraponto ao ceticismo em relação à tese de mediação jornalística”. IX Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, Porto Alegre, 2000. Anais eletrônicos.

HOHLFEDLT, Antonio; STRELOW, Aline. “Metodologias de pesquisa. O estado da arte no campo do Jornalismo: os núcleos de pesquisa da Intercom”. V Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, Aracaju, 2007. Anais eletrônicos.

JOHNSON, Richard. “O que é, afinal, Estudos Culturais?”. In: SILVA, Tomas (Org.). O que é, afinal, Estudos Culturais? Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 7-131.

KOVACH, Bill; ROSENSTIEL, Tom. Os elementos do jornalismo: o que os jornalistas devem saber e o público exigir. São Paulo: Geração Editorial, 2004.

LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001.

MACHADO, Marcia Benetti; LAGO, Cláudia. Metodologias de pesquisa em jornalismo. Petrópolis: Vozes, 2007.

MAIA, Marta Regina. “A regra da transparência como elementos de democratização no processo da produção jornalística”. Brazilian Journalism Research , Brasília, vol. 1, n. 1, p. 213-152, semestre 2, 2008.

PONTE, Cristina. Crianças em notícia: a construção da infância pelo discurso jornalístico (1970-2000). Lisboa: ICS, 2005.

QUÉRÉ, Louis. “Entre facto e sentidos: a dualidade do acontecimento”. Revista Trajectos , Lisboa, n.6, p. 59-76, 2005.

Análise de cobertura jornalística: um protocolo metodológico Gislene Silva & Flávia Dourado Maia

5 Silva afirma que o trato com textos jornalísticos é mais vantajoso em todos os quesitos: “acesso ao objeto de trabalho – é mais viável gravar telejornais e radiojornais, guardar exemplares de revistas, recortar jornais impressos ou arquivar páginas da internet do que conseguir autorização das empresas para se pesquisar dentro das redações ou mesmo a disponibilidade dos profissionais para entrevista e do que também entrevistar leitores; custos da pesquisa – é mais barato investigar produtos do que processo de produção ou modos de recepção, posto que muitos dos resultados divulgados em congressos ou publicados são fruto de trabalho individual e não do de equipes; tempo de duração da pesquisa – trabalhos que resultam de dissertações e teses ou que envolvam pesquisadores de diferentes instituições e/ou contam com fomento costumam trazer investigações com procedimentos metodológicos mais múltiplos ou mesmo investidos em mais de uma instância do processo jornalístico” (2008, p. 6-7).

6 Concebido dentro da tradição dos Estudos Culturais, o circuito é pensado para explicar a dinâmica entre produção, circulação e consumo de produtos culturais simbólicos. Sua representação esquemática circular resume-se basicamente em (1) produção (2) textos (3) leituras (4) culturas vividas (1) produção (2) textos ... Para Johnson (2000), o circuito só pode ser entendido em sua complexidade se cada uma dessas etapas forem analisadas separadamente e relacionadas umas com as outras.

7 Para Guerra (2000), o objeto jornalismo pode ser analisado ainda pelo fator pragmático, associado ao sentido e à finalidade da atividade jornalística, isto é, ao compromisso dos jornalistas com seu público.

8 O exemplo dado por Guerra para explicar a dimensão técnico-procedimental ajuda a elucidar esse ponto: “se num conflito as partes envolvidas devem ser ouvidas igualmente, o modo como ‘concretizar’ essa orientação é tarefa de uma técnica que orienta os procedimentos: pode-se ouvir as partes numa mesma edição, ou pode-se primeiro publicar a denúncia e, na edição seguinte, garante-se o mesmo espaço e destaque ao acusado para sua defesa” (2000, p. 4). Como definir, com base no produto, se o jornalista/ veículo ouviu as duas fontes em momentos diferentes ou para uma mesma edição por motivações éticas, políticas, econômicas ou por falta de opção? Responder com propriedade esta pergunta baseando-se no texto exigiria uma incursão na análise discursiva.

9 Ponte (2005) propõe um Protocolo de Análise de Conteúdo detalhado para investigar a construção da infância pelo discurso jornalístico. Embora apóie-se apenas em variáveis temáticas e formais e concentre- se no estudo da mensagem, o roteiro elaborado pela autora ajuda a pensar o protocolo de análise de cobertura jornalística.

10 Entre outros critérios possíveis de classificação estão os sugeridos por Sousa (2004): (1) segundo a proveniência (externas ao veículo, internas ou mistas), (2) segundo o índice de pró-atividade (ativas ou passivas), (3) segundo o estatuto (oficiais estatais, oficiais não-estatais, oficiosas ou informais), (4) segundo a frequência das contribuições (estáveis/permanentes ou pontuais/circunstanciais), (5) segundo a origem geográfica (locais, regionais, nacionais ou internacionais); e por Lage (2001), que divide as fontes em (6) oficiais, oficiosas ou independentes, (7) primárias ou secundárias e (8) testemunhas ou experts.

11 As informações podem ser atribuídas a uma instituição, instância do poder público ou pessoa específica quando são extraídas, por exemplo, de sites e blogs oficiais ou de redes sociais comprovadamente mantidas pela fonte em questão (caso do Twitter, Facebook, Orkut, entre outros).