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Amor, Narcisismo e Dor: Um Estudo Psicanalítico, Notas de aula de Conflito

Um estudo sobre o amor, narcisismo e dor, baseado em textos de autores psicanalíticos, como freud, george eliot e nasio. O texto discute as diferentes formas de amor, a importância da dignidade e singularidade na relação amorosa, e o papel do narcisismo na formação da personalidade. Além disso, o documento aborda a dor que acompanha o amor e as maneiras de se proteger contra ela.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

PorDoSol
PorDoSol 🇧🇷

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Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul
Jornada de Estudos, Porto Alegre/RS, 12/04/2014
Euremilter Maria Mombach
Amor, Narcisismo e Dor
Uma criança abandonada, de súbito desperta, olhos arregalados
errando, temerosos, por todas as coisas à sua volta, e somente
que não pode ver os olhos acolhedores do amor (George Eliot).
Amor pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, atração,
apetite, paixão, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor
envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com
algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os
estímulos sensoriais e psicológicos necessários para a sua manutenção e
motivação. É tido por muitos como a maior de todas as conquistas do ser.
Considero que existem maneiras diferentes de amar, mas poucas
maneiras de amar que possibilita respeitar a dignidade e a singularidade que a vida
mais intima de cada um exige. Amar e ser amado pode provocar emoções intensas,
como alegria, prazer, esperança... Amar e amar-se pode significar a certeza de que
somos tão importantes, tão insubstituíveis em nossas afeições, que é impossível
libertar (se) e é imprescindível prender (se) o ser amado.
Mas, como falar de amor sem falar de dor?
Nasio (2007, p. 35) se refere ao amor como uma condição constitutiva da
natureza humana, o amor é sempre a premissa insuperável dos nossos sofrimentos,
quanto mais se ama, mais se sofre.
A dor de amar é uma lesão do laço íntimo com o outro, uma
dissociação brutal daquilo que é naturalmente chamado a viver
junto... Freud se questiona: qual o remédio que encontra quando
aborda o meio de proteger-se contra o sofrimento que nasce da
relação com o outro? Um remédio aparentemente muito simples, o do
amor ao próximo. De fato, para preservar-se da infelicidade, alguns
preconizam uma concepção de vida que toma como centro o amor, e
na qual se pensa que toda alegria vem de amar e ser amado. É
verdade confirma Freud que “uma atitude psíquica como essa é
muito familiar a nós todos”. Certamente, nada mais natural do que
amar para evitar o conflito com o outro. Vamos amar, sejamos
amados e afastaremos o mal. Entretanto, é o contrário que ocorre. O
clínico Freud constata: “Nunca estamos tão mal protegidos contra o
sofrimento como quando amamos, nunca estamos tão
irremediavelmente infelizes como quando perdemos a pessoa amada
ou o seu amor.” Acho essas frases são notáveis porque elas dizem
claramente o paradoxo incontornável do amor.
A dor que acompanha o amor para Nasio (2007), não é, pois a dor de perder,
mas de apertar ainda mais forte os laços com a representação do outro ausente
(que foi perdido ou ferido). A dor é gerada pelo recentramento e superinvestimento
do vínculo psíquico com o objeto, amor, dor e gozo se confundem. Amar o Outro
perdido certamente faz sofrer, mas esse sofrimento também acalma, pois ele faz
reviver o amado para nós.
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Círculo Psicanalítico do Rio Grande do Sul Jornada de Estudos, Porto Alegre/RS, 12/04/ Euremilter Maria Mombach

Amor, Narcisismo e Dor

Uma criança abandonada, de súbito desperta, olhos arregalados errando, temerosos, por todas as coisas à sua volta, e vê somente que não pode ver os olhos acolhedores do amor (George Eliot).

Amor pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, atração, apetite, paixão, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e enviar os estímulos sensoriais e psicológicos necessários para a sua manutenção e motivação. É tido por muitos como a maior de todas as conquistas do ser.

Considero que existem maneiras diferentes de amar, mas há poucas maneiras de amar que possibilita respeitar a dignidade e a singularidade que a vida mais intima de cada um exige. Amar e ser amado pode provocar emoções intensas, como alegria, prazer, esperança... Amar e amar-se pode significar a certeza de que somos tão importantes, tão insubstituíveis em nossas afeições, que é impossível libertar (se) e é imprescindível prender (se) o ser amado.

Mas, como falar de amor sem falar de dor? Nasio (2007, p. 35) se refere ao amor como uma condição constitutiva da natureza humana, o amor é sempre a premissa insuperável dos nossos sofrimentos, quanto mais se ama, mais se sofre.

A dor de amar é uma lesão do laço íntimo com o outro, uma dissociação brutal daquilo que é naturalmente chamado a viver junto... Freud se questiona: qual o remédio que encontra quando aborda o meio de proteger-se contra o sofrimento que nasce da relação com o outro? Um remédio aparentemente muito simples, o do amor ao próximo. De fato, para preservar-se da infelicidade, alguns preconizam uma concepção de vida que toma como centro o amor, e na qual se pensa que toda alegria vem de amar e ser amado. É verdade – confirma Freud – que “uma atitude psíquica como essa é muito familiar a nós todos”. Certamente, nada mais natural do que amar para evitar o conflito com o outro. Vamos amar, sejamos amados e afastaremos o mal. Entretanto, é o contrário que ocorre. O clínico Freud constata: “Nunca estamos tão mal protegidos contra o sofrimento como quando amamos, nunca estamos tão irremediavelmente infelizes como quando perdemos a pessoa amada ou o seu amor.” Acho essas frases são notáveis porque elas dizem claramente o paradoxo incontornável do amor. A dor que acompanha o amor para Nasio (2007), não é, pois a dor de perder, mas de apertar ainda mais forte os laços com a representação do outro ausente (que foi perdido ou ferido). A dor é gerada pelo recentramento e superinvestimento do vínculo psíquico com o objeto, amor, dor e gozo se confundem. Amar o Outro perdido certamente faz sofrer, mas esse sofrimento também acalma, pois ele faz reviver o amado para nós.

Em Psicanálise, o amor pela imagem de si mesmo, representa um modo particular de relação com a sexualidade. E foi em 1905, nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, que Freud utilizou a primeira vez o termo narcisismo onde fala dos “invertidos”, ainda não utilizando a palavra “homossexual”, e escreve “tomam a si mesmos como objetos sexuais, o semelhante será amado tal como sua mãe o amou”.

Segundo Roudinesco (1998) o termo narcisismo foi empregado pela primeira vez em 1887, por Alfred Binet, psicólogo francês, para descrever uma forma de fetichismo que consiste em se tornar a própria pessoa como objeto sexual. Na tradição grega o significado de narcisismo é o amor de um indivíduo por si mesmo. No mito – Narciso é de uma beleza ímpar que, ao ver sua imagem refletida na água, apaixona-se por esta imagem e mergulha os braços para abraçá-la. Até o fim do século XIX o termo narcisismo era caracterizado pelo o amor dedicado pelo sujeito a si mesmo.

O narcisismo do bebê segundo Freud (1996, p. 98), constrói-se a partir do narcisismo dos pais “o amor dos pais, tão comovedor e no fundo tão infantil, nada mais é senão o narcisismo dos pais renascido, o qual, transformado em amor objetal, inequivocamente revela sua natureza anterior”.

Freud chamou de narcisismo primário, a fase inicial da vida do bebê, onde a libido ainda não foi dirigida para fora (objeto) e a criança toma a si mesma como objeto de amor, esta fase ocorre entre a do auto-erotismo e a do amor objetal. Marcada pela necessidade de ser amado, e uma idealização de si, esta fase auto- erótica, expressa o primeiro modo de satisfação da libido, onde as pulsões buscam satisfação no próprio corpo, nesse período ainda não existe uma unidade do ego, nem uma diferenciação real do mundo.

Segundo Graña e Piva (2004): A partir do ponto de vista econômico pode-se entender que uma série de afetos sofridos e desorganizados primariamente pode ser compreendida como uma conseqüência do efeito do desligamento pulsional da pulsão de morte, e que sua manifestação destrutiva é observada no desinvestimento objetal. O “narcisismo negativo” proposto por Green (1986) expressa, a função de desinvestimento, cujo ponto central reside no papel do objeto primário: uma mãe não- empática incapaz de investir significativamente em seu filho. Quando se produz o desinvestimento por parte do objeto materno, ele coincide com a identificação inconsciente do filho com a “Mãe morta”, cujo traço é a depressão branca. O desinvestimento, sobretudo o afetivo, diz Green, constitui um “assassinato psíquico do objeto, ocorrido sem ódio”, e isso é compreensível porque é difícil o surgimento do ódio ante a aflição materna. Os afetos surgidos na raiz da depressão materna provocam no filho um estado de depressão primária e um luto patológico insuperável, produzindo uma alteração em sua economia pulsional, colocada no transtorno das pulsões de autoconservação. “O desenvolvimento do eu consiste num afastamento do narcisismo primário e gera uma intensa aspiração no sentido de reconquistá-lo. Este afastamento acontece por meio do deslocamento da libido para um ideal do eu imposto de fora”. A fase para designar a libido que converge ao ego pelas identificações, ou seja, a energia libidinal que é retirada dos objetos e introjetada no ego, Freud (1914) chamou de narcisismo secundário. Existindo nesta fase, uma idealização dos

poderosas necessidades humanas e é uma das principais transformações de que o mundo necessita.

Referências

CORDIÉ , A. Os atrasados não existem, psicanálise de crianças com fracasso escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

ELIA , L. O conceito de sujeito. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

FREUD , S. Sobre o narcisismo: uma introdução (1914), Vol. XIV. Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de S. Freud. Rio de Janeiro: Imago,

GRAÑA , R. B.; PIVA , A. B. S. (organizadores). A atualidade da psicanálise de adolescentes : formas do mal-estar na juventude contemporânea. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

NASIO , J.-D. Um psicanalista no divã. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.

______. A dor de amar. Rio de Janeiro: Zahar, 2007.

ROUDINESCO , E.; PLON , M. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.