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A psicologia evolutiva estudada por tooby, cosmides, hamilton, trivers e williams busca explicar os mecanismos psicológicos universais dos humanos, baseados em adaptações evolutas do cérebro. O texto critica o conceito de ambiente de adaptação evolutiva (aae) e questiona a existência de órgãos mentais específicos para cada domínio.
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Tipologia: Exercícios
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Javier Vernal Universidade Federal de Santa Catarina Resumo: A psicologia evolutiva ou psicologia evolucionista tem por objetivo explicar o comportamento humano a partir de uma perspectiva evolutiva e descobrir os módulos mentais que constituem a natureza humana universal. Segundo a psicologia evolutiva, os problemas adaptativos que o cérebro humano evoluiu para resolver são aqueles do ambiente ancestral no qual evoluiu. Porém, a psicologia humana está em constante evolução, portanto é um erro acreditar que nossas mentes estão adaptadas exclusivamente aos problemas enfrentados pelos nossos ancestrais no ambiente de adaptação evolutiva. Palavras-Chave: Psicologia Evolutiva. Natureza Humana Universal. Ambiente de Adaptação Evolutiva. Abstract: Evolutionary psychology aims to explain human behavior from an evolutionary perspective and to find out the mental modules that constitute the universal human nature. According to evolutionary psychology, the adaptive problems that the human brain evolved to solve are those of the past environment in which it evolved. However, human psychology is in constant evolution, therefore it is a mistake to believe that our minds are exclusively adapted to the problems faced by our ancestors in the environment of evolutionary adaptedness. Keywords: Evolutionary Psychology. Universal Human Nature. Environment of Evolutionary Adaptedness. Introdução A psicologia evolutiva surgiu nos anos 80 do século XX com o objetivo de procurar os mecanismos psicológicos evolutivos que seriam a base da mente e do comportamento universais dos humanos. Os psicólogos evolutivos propõem uma teoria geral sobre a maneira
em que a seleção natural equipou aos humanos para tomar decisões sobre assuntos essenciais para seu sucesso reprodutivo. Ainda que a psicologia evolutiva estude o comportamento e a psicologia humana desde uma perspectiva evolucionista, os pesquisadores envolvidos nessa disciplina procuraram desde o começo se diferenciar da sociobiologia humana, portanto evitando qualquer associação com Edward O. Wilson e tendo como ponto de partida os trabalhos de William Hamilton, Robert Trivers e George Williams. Existem numerosos e diversos campos de pesquisa que abordam o comportamento humano desde uma perspectiva evolutiva, como a etologia humana, a ecologia comportamental humana e a antropologia evolucionista. Porém, o termo psicologia evolutiva vem sendo utilizado para designar as pesquisas que têm como objetivo descobrir os órgãos mentais que constituem nossa natureza humana universal e articular como esses órgãos mentais agem para resolver problemas específicos. Essa linha de pesquisa tem adquirido grande atenção tanto na média popular quanto na área acadêmica, já que promete revelar as explicações evolutivas que permitiriam responder porque desejamos nos relacionar sexualmente com algumas pessoas e não com outras, porque nos casamos com certas pessoas, porque somos infiéis, e porque nos preocupamos por nossos filhos, dentre outros comportamentos. Dentro do grupo de pesquisadores que aderem a essa perspectiva encontram-se os psicólogos David Buss, Leda Cosmides, Martin Daly, Steven Pinker e Margo Wilson, e os antropólogos Donald Symons e John Tooby. Neste texto não pretendo criticar a hipótese da psicologia evolutiva sobre a existência de numerosos órgãos mentais geneticamente especializados que constituiriam a mente humana universal, nem é meu objetivo mostrar que a teoria da psicologia evolutiva sobre a natureza humana universal está errada e que a idéia de uma natureza humana é incompatível com um entendimento evolutivo genuíno de nossa espécie. Dirijo minha crítica ao conceito de ambiente de adaptação evolutiva (AAE) ao qual a psicologia evolutiva se acha intimamente ligada e o utiliza para fornecer suas explicações sobre as origens de certos comportamentos humanos.
humano e o ambiente atual (Cosmides, Tooby e Barkow, 1992, p.5). Segundo Cosmides e Tooby (1997, p.85), “nossos crânios modernos albergam uma mente da Idade da Pedra”. O terceiro conceito é o da existência de órgãos ou módulos mentais específicos para cada domínio, que representam as soluções evolutivas para problemas enfrentados por nossos ancestrais. Como os problemas adaptativos variavam constantemente, devem ter surgido adaptações psicológicas específicas para cada problema. Portanto, os psicólogos evolutivos afirmam que a mente humana deve consistir de órgãos mentais ou módulos geneticamente determinados, cada um dos quais estaria especializado em resolver um problema adaptativo específico, exatamente como o corpo humano está composto por diversos órgãos funcionalmente especializados. Esses órgãos mentais constituiriam a natureza humana universal. Segundo os psicólogos evolutivos, devido a que nossos órgãos mentais evoluíram para resolver os problemas adaptativos enfrentados pelos nossos ancestrais no Pleistoceno, e como consequência de que o ambiente no qual vivemos na atualidade difere enormemente de aquele habitado por nossos ancestrais, é impossível estudar a evolução da mente humana estudando o comportamento e a cognição humana em nossos ambientes modernos. Portanto, a metodologia utilizada pela psicologia evolutiva para testar suas hipóteses é identificar os problemas adaptativos enfrentados pelos nossos ancestrais no AAE, inferir os mecanismos psicológicos que devem ter evoluído para resolver os mesmos e por último conduzir estudos que determinem se de fato os humanos possuem tais mecanismos psicológicos. Segundo Buller (2005, p.92), o principal problema da psicologia evolutiva situa-se nesse último passo, no processo de confirmação da existência dos mecanismos psicológicos inferidos. Geralmente falta evidência que mostre que os humanos de fato possuem esses mecanismos psicológicos. No referente ao AAE, Buller alerta para o fato de que não sabemos quais foram os problemas que enfrentaram nossos ancestrais durante o Pleistoceno, e não podemos inferir do modo de vida de alguns grupos de caçadores-recolectores atuais os problemas que
enfrentaram nossos ancestrais (Buller, 2005, p.94). Nada garante que a vida social desses grupos remanescentes não tenha se modificado significativamente durante os últimos 10. anos. Por outro lado, existe uma variação considerável entre os grupos remanescentes, o que implica que não é obvio qual deveria ser o grupo escolhido para fazer a pretendida inferência. O ambiente de adaptação evolutiva (AAE) Existe uma grande facilidade com a qual podem se inventar todo tipo de histórias sobre nosso passado evolutivo. As hipóteses evolutivas que podem ser apresentadas para explicar cada traço de nosso comportamento em termos evolutivos só dependem da capacidade de imaginação do pesquisador envolvido no estudo. Pouco é o que se sabe sobre o modo de vida dos nossos ancestrais no Pleistoceno, nem sabemos a quantidade de espécies do gênero Homo , portanto é muito difícil reconstruir as pressões seletivas as quais eles estavam sujeitos. O conceito de AAE gerou um grande conjunto de histórias evolutivas especulativas que permitiram que vários comportamentos humanos atuais pudessem ser considerados como uma adaptação a esse ambiente ancestral e, portanto, explicados nesse contexto. A noção estereotipada do AAE implica que o ambiente habitado pelos caçadores- recolectores do Pleistoceno apresentava pouca variabilidade no tempo e no espaço, o qual é considerado falso por muitos pesquisadores, já que nossos ancestrais além de habitar as savanas, também se encontravam nos desertos, perto dos rios, em locais costeiros, nas florestas e no Ártico (Laland e Brown, 2002, p.178). Alguns pesquisadores das áreas da arqueologia e da antropologia acreditam que o Homo erectus e os Neandertais tinham hábitos totalmente diferentes aos dos caçadores-recolectores modernos (Laland e Brown, 2002, p.178) e, portanto, não podem ser inferidos a partir desses últimos, comportamentos característicos do Pleistoceno. Mais ainda, os grupos de caçadores-recolectores que podem ser achados na atualidade também diferem nos seus modos de vida, então não haveria uma única maneira de viver da qual partir para fazer a inferência. Por outro lado, a análise comparativa das habilidades animais sugere que muitos comportamentos animais e traços
2002, p. 181). A teoria da construção de nichos estabelece uma relação de mão dupla entre os organismos e o ambiente. Os organismos devem lidar com as mudanças que eles mesmos produzem ao ambiente. No caso dos humanos, nossas capacidades de aprendizagem e culturais nos permitem sobreviver e nos desenvolver em uma ampla gama de ambientes. Segundo Laland e Brown (2002, p. 182), essa capacidade adaptativa sugere que mais que estarmos adaptados a um determinado ambiente, estamos adaptados a uma variedade de ambientes construídos por nós e por nossos ancestrais, que incluem não somente o ambiente físico, mas também o ambiente social humano. Provavelmente, a única virtude do conceito de AAE esteja na possibilidade de reconhecer que os humanos, como todas as outras espécies, apresentam características que seriam adaptações a ambientes passados que não são de utilidade nos modos de vida contemporâneos. Psicologia evolutiva aplicada Segundo os psicólogos evolutivos, nos homens teriam evoluído preferências para se relacionar sexualmente com mulheres jovens, enquanto que nas mulheres teriam evoluído preferências por homens com bom status. Não somente teriam evoluído essas classes de preferências, como também os modos de detecção dos indivíduos pertencentes a esses grupos. Esses pesquisadores afirmam ter evidências empíricas avassaladoras que confirmam essas hipóteses. Os psicólogos evolutivos descrevem a situação da mulher durante a história evolutiva. Tendo ela que amamentar seu filho era incapaz de realizar outras tarefas necessárias para sua supervivência e a da criança. Segundo eles, na mulher teriam evoluído mecanismos para identificar e preferir homens com bom status que fossem capazes de fornecer recursos tanto a ela quanto a seu filho. A extraordinária dependência de cuidado parental da criança humana teria exercido uma forte pressão para o surgimento nas mulheres de preferências e formas de identificação de homens com bom status que fornecessem investimento parental elevado. No
caso dos homens, suas preferências teriam evoluído para escolher mulheres com máximo potencial reprodutivo. Como consequência do alto investimento parental fornecido pelos homens durante a história evolutiva, neles também teriam evoluído mecanismos para selecionar as mulheres com as quais terem filhos. Portanto, devido ao fato de que ambos os sexos proviam diferentes formas de investimento parental durante a história evolutiva humana, os psicólogos evolutivos afirmam que em cada sexo evoluíram mecanismos que levassem a preferir como parceiros aqueles membros do outro sexo que mostrassem características de serem capazes de prover as formas de investimento parental próprias de cada sexo especializadas durante a história evolutiva humana (Kenrick e Keefe, 1992, p.78). Assim, as mulheres teriam evoluído preferências por homens com bom status capazes de controlar recursos em diversas situações (Ellis, 1992, p.268), enquanto que os homens dariam preferência a mulheres que apresentassem características associadas a um alto valor reprodutivo ou fertilidade, como pele clara e macia, cabelo brilhante, bom tom muscular e determinada distribuição corporal da gordura (Buss, 1999, p.139). Portanto, de acordo com Buss (1994, p.51), a evidência mostra que universalmente, isto é, em todos os continentes, em todos os sistemas políticos, em todos os grupos raciais e em todas as religiões, os homens preferem mulheres jovens como esposas e as mulheres procuram recursos financeiros no parceiro. Segundo os psicólogos evolutivos, essas preferências são adaptações. Porém, Buller (2005, p.208) distingue duas hipóteses nesse tipo de afirmação. A primeira é sobre o quê as pessoas preferem e a segunda é sobre porque o preferem. O porquê poderia ser respondido na base de que esses comportamentos são adaptações, é isso o que afirmam os psicólogos evolutivos. Mas responder o porquê, como aponta Buller (2005, p.209), significa aceitar que os psicólogos evolutivos têm boas evidências sobre o quê preferem as pessoas, e sobre todo tipo de comportamentos em geral, e que essas evidências
frequencia dessas características nas populações humanas. Tem havido uma significante evolução adaptativa nas características fisiológicas e morfológicas humanas nos últimos milhares de anos, e existem boas evidências de que as mudanças ambientais em andamento continuam a guiar a evolução adaptativa naquelas características. Devido a que a evolução do comportamento humano é orientada em grande parte pela vida social humana, as mudanças profundas na vida social humana nos últimos milhares de anos também estariam orientando a evolução nas características psicológicas humanas que continua em andamento. Resumindo, as populações humanas têm estado evoluindo desde o AAE e continuam a evoluir, portanto os humanos atuais não representam o produto final da evolução humana, mas o estado presente do processo evolutivo. Referências BULLER, David J. (2005). Adapting minds. Evolutionary psychology and the persistent quest for human nature. Cambridge: MIT Press. BUSS, David M. (1994). The evolution of desire: strategies of human mating. New York: Basic Books. BUSS, David M. (1999). Evolutionary psychology: the new science of the mind. Boston: Allyn and Bacon. COSMIDES, Leda; TOOBY, John; BARKOW, Jerome H. (1992). The adapted mind: evolutionary psychology and the generation of culture. New York: Oxford University Press. COSMIDES, Leda; TOOBY, John; BARKOW, Jerome H. (1997). “The modular nature of human intelligence”. In SCHEIBEL, A.B. and SCHOPF, J.W. (eds.), The origin and evolution of intelligence (pp.71-101). Sudbury, MA: Jones and Bartlett. KENRICK, Douglas T.; KEEFE, Richard C. (1992). “Age preferences in mates reflect sex differences in reproductive strategies”. Behavioral and Brain Sciences 15: pp.75-133.
LALAND, Kevin N.; ODLING-SMEE, John; FELDMAN, Marcus F. (2000). “Niche construction, biological evolution and cultural change”. Behavioral and Brain Sciences 23: pp.131-175. LALAND, Kevin N.; BROWN, Gillian R. (2002). Sense and nonsense: evolutionary perspectives on human behaviour. New York: Oxford University Press. TOOBY, John; COSMIDES, Leda (1990). “The past explains the present: emotional adaptations and the structure of ancestral environments”. Ethology and Sociobiology 11: pp.375-424. TOOBY, John; COSMIDES, Leda (1992). “The psychological foundations of culture”. In BARKOW, J.H.; COSMIDES, L.; TOOBY, J. (eds.), The adapted mind: evolutionary psychology and the generation of culture (pp.19-136). New York: Oxford University Press. VERNAL, Javier (2011). “Continuidades animais. argumentos contra a dicotomia humano/animal não humano”. Interthesis (no prelo).