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algumas observações sobre as proparoxítonas e o sistema, Manuais, Projetos, Pesquisas de Latim

ARAUJO & OLIVEIRA (2006) mostraram como as palavras proparoxítonas têm sido tratadas nos trabalhos que discutem o acento primário no português do Brasil ( ...

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2022

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Cadernos de Estudos Lingüísticos 50(1) Jan./Jun. 2008
Cad.Est.Ling., Campinas, 50(1):69-90, 2008
ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE AS PROPAROXÍTONAS E O SISTEMA
ACENTUAL DO PORTUGUÊS
GABRIEL ANTUNES DE ARAUJO
(USP)
ZWINGLIO O. GUIMARÃES-FILHO
(USP)
LEONARDO OLIVEIRA
(UNICAMP)
MÁRIO EDUARDO VIARO
(USP)
ABSTRACT: In Brazilian Portuguese, words with antepenultimate syllable stress are regarded as
exceptions to lexical stress rules. Evidence for their exceptionality has been given in the literature: the
late introduction of these words in the language, the predominant occurrence of the antepenultimate
syllable stress in low frequency words, and the tendency of the language to shift stress to the penultimate
syllable. Using a corpus of 18,413 words with antepenultimate stress and their respective phonological
transcription from the Houaiss dictionary (HOUAISS & VILLAR 2001), we argue that these claims are not
always accurate and that words with antepenultimate stress are a long established and consistent
pattern in the language. Furthermore, we show that stress shift to the penultimate syllable is not the
rule, but it is only one possibility, restricted by the phonotactics of the language, and that preservation
of antepenultimate stress is far more frequent. The data and analyses presented in this paper argue that
prediction of lexical stress in Brazilian Portuguese must include words with the antepenultimate pattern,
as there is no evidence that they are either disappearing in the language or being avoided by speakers.
0. INTRODUÇÃO
O objetivo deste texto é ampliar o estudo publicado por ARAUJO & OLIVEIRA (2006),
utilizando, para tanto, um corpus amplo, com 18.413 palavras proparoxítonas, todas
presentes no Dicionário Houaiss (HOUAISS & VILLAR 2001, doravante DH). Naquele estudo,
os autores apresentam uma análise baseada em um corpus de 316 palavras proparoxítonas
e 319 paroxítonas escolhidas aleatoriamente. Dessa forma, com base em uma amostra
significativamente mais ampla, pretendemos verificar a validade dos argumentos
apresentados naquele artigo.
ARAUJO & OLIVEIRA (2006) mostraram como as palavras proparoxítonas têm sido
tratadas nos trabalhos que discutem o acento primário no português do Brasil (doravante
PB). Ao defenderem que as proparoxítonas pertencem à gramática do português, embora
sejam freqüentemente desconsideradas ou rejeitadas nas análises, os autores afirmam que
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Cadernos de Estudos Lingüísticos 50(1) − Jan./Jun. 2008

Cad.Est.Ling., Campinas, 50(1):69-90, 2008

ALGUMAS OBSERVAÇÕES SOBRE AS PROPAROXÍTONAS E O SISTEMA

ACENTUAL DO PORTUGUÊS

GABRIELANTUNES DE ARAUJO

(USP)

ZWINGLIO O. GUIMARÃES-FILHO

(USP)

LEONARDO OLIVEIRA

(UNICAMP)

MÁRIO EDUARDO VIARO

(USP)

ABSTRACT : In Brazilian Portuguese, words with antepenultimate syllable stress are regarded as exceptions to lexical stress rules. Evidence for their exceptionality has been given in the literature: the late introduction of these words in the language, the predominant occurrence of the antepenultimate syllable stress in low frequency words, and the tendency of the language to shift stress to the penultimate syllable. Using a corpus of 18,413 words with antepenultimate stress and their respective phonological transcription from the Houaiss dictionary (HOUAISS & VILLAR 2001), we argue that these claims are not always accurate and that words with antepenultimate stress are a long established and consistent pattern in the language. Furthermore, we show that stress shift to the penultimate syllable is not the rule, but it is only one possibility, restricted by the phonotactics of the language, and that preservation of antepenultimate stress is far more frequent. The data and analyses presented in this paper argue that prediction of lexical stress in Brazilian Portuguese must include words with the antepenultimate pattern, as there is no evidence that they are either disappearing in the language or being avoided by speakers.

0. INTRODUÇÃO

O objetivo deste texto é ampliar o estudo publicado por ARAUJO & OLIVEIRA (2006), utilizando, para tanto, um corpus amplo, com 18.413 palavras proparoxítonas, todas presentes no Dicionário Houaiss (HOUAISS & VILLAR 2001, doravante DH). Naquele estudo, os autores apresentam uma análise baseada em um corpus de 316 palavras proparoxítonas e 319 paroxítonas escolhidas aleatoriamente. Dessa forma, com base em uma amostra significativamente mais ampla, pretendemos verificar a validade dos argumentos apresentados naquele artigo. ARAUJO & OLIVEIRA (2006) mostraram como as palavras proparoxítonas têm sido tratadas nos trabalhos que discutem o acento primário no português do Brasil (doravante PB). Ao defenderem que as proparoxítonas pertencem à gramática do português, embora sejam freqüentemente desconsideradas ou rejeitadas nas análises, os autores afirmam que

ARAUJO, GUIMARÃES-FILHO, OLIVEIRA E VIARO − Algumas observações sobre...

qualquer teoria sobre o acento deveria, necessariamente, levar em consideração o estatuto dessas palavras. A partir do DH, foi construído um corpus com 150.875 palavras. Trata-se, portanto, de um corpus de língua escrita composto de verbetes não-lematizados. Foram eliminadas, manualmente, palavras constituídas por abreviações, siglas, elementos de composição e estrangeirismos não adaptados ao português (como aardvark , por exemplo), bem como os homônimos e as palavras hifenizadas, formadas por justaposição. Este corpus foi trabalhado com o uso de programas computacionais, desenvolvidos na plataforma MatLab ( The MathWorks, Inc. , 1984-2002)^1. O programa permitiu que as palavras fossem separadas em sílabas, tivessem a sílaba tônica localizada e qualificada, transcritas em alfabeto fonético, transliteradas em uma notação fonológica, e permitiam, ainda, localização e manipulação artificial das epênteses. Para casos complexos de transliteração, como os oferecidos pelos grafemas x , e , o , utilizamos a ortoépia fornecida pelo dicionário. As separações e transcrições fonéticas foram submetidas, por amostragem, a uma verificação manual de 2.500 palavras (13,6% do corpus das proparoxítonas) e, por meio dela, pode-se estipular que a margem de erro foi inferior a 0,5%. O texto está organizado da seguinte forma: inicialmente, as principais descrições das proparoxítonas no PB serão resumidas. Em seguida, mostraremos que essas descrições falham ao desconsiderar as proparoxítonas como um traço marcante da língua. Essa rejeição se baseia normalmente nos processos de redução (síncope e apócope) que as transformam em paroxítonas e na suposta baixa freqüência das proparoxítonas. Apresentaremos, para tal, uma análise dos contextos fônicos em que poderiam ocorrer as reduções, levando-se em conta as 18.413 palavras proparoxítonas do corpus. A freqüência de uso das proparoxítonas foi avaliada, dessa vez, considerando-se sua ocorrência em páginas da internet em português indexadas pelo site de buscas Google. Ao mesmo tempo, mostraremos que os processos de redução são restritos e não gerais, como defendido na literatura. Em seguida, apresentaremos dados que demonstrarão que a introdução de palavras proparoxítonas na língua se deu, sobretudo, nos século XIII e XIX e não somente no século XVI. Posteriormente, abordaremos a questão da qualidade das vogais na sílaba tônica das proparoxítonas. E, por fim, no sumário e nas conclusões, discutiremos o tema da percepção na manutenção do acento proparoxítono no português.

1. AS PROPAROXÍTONAS

A literatura que trata do acento lexical no PB (cf. CÂMARA JR 1970, LEITE 1974, ANDRADE 1994, BISOL 1992, 1994, MATEUS 1996, MASSINI-CAGLIARI 1999, CAGLIARI 1999, SÂNDALO 1999, LEE 1995, 2004, AMARAL 2002, inter alios ) afirma, em geral, que o acento na penúltima sílaba é o padrão, enquanto que acentos na última (oxítona) e na antepenúltima (proparoxítona) sílabas são desvios. CÂMARA JR (1970) afirma que o acento é distintivo e imprevisível.

(^1) Trabalho desenvolvido por Zwingli o Guimarães-Filho e Leandro Mariano (ambos do Instituto de Física da USP), integrados no grupo de Morfologia Histórica do Português (GMHP), liderado por Mário Eduardo Viaro (http://www.usp.br/gmhp).

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indicam que cerca de 62% das palavras lematizadas do DH são paroxítonas (este percentual sobe para 72% quando se consideram também os verbetes flexionados). Após avaliar a análise de BISOL (1994) e propor sua própria análise, LEE (1995: 152-165) afirma que as proparoxítonas, sobretudo aquelas terminadas em sílabas pesadas, continuam problemáticas por se tratarem de um padrão excepcional. Como solução temporária, Lee assume que essas palavras são marcadas na representação subjacente, ou seja, marcadas no Léxico. LEE (2004) mostra que o processo de síncope — o apagamento de fonema no interior da palavra — poderia sugerir que as proparoxítonas são comumente rejeitadas no português. Essa noção é crucial para se desqualificar as proparoxítonas na teoria do acento de Lee, pois, mostrando que as proparoxítonas tendem à síncope, restariam à análise apenas as paroxítonas e as oxítonas. Baseado em MASSINI-CAGLIARI (1999), assume não só que as sílabas finais são extramétricas, ao lado do processo de síncope, mas também mostra uma tendência das proparoxítonas tornarem-se paroxítonas.

(3) cor(re)go có rre → [«kø‰g¨] fósf(o)ro fós.fo → [«føsf‰¨] abób(o)ra → [a«bøb‰á] cf. abobrinha óc(u)los → [«økl¨s] cf. oclinhos (adaptado de LEE 2004: 5)

Uma outra hipótese, amplamente aceita, sugere que as palavras proparoxítonas entraram na língua portuguesa na Renascença (século XVI) graças ao uso de termos eruditos do latim e do grego (cf. WILLIAMS 1975:28-29). Pretendemos avaliar essa hipótese cruzando dados das proparoxítonas com as datas da informação etimológica do DH. Dessa forma, pode-se concluir que a literatura, de uma forma geral, ‘resolve’ a questão das palavras proparoxítonas considerando-as exceções às regras de acento^2. Os argumentos comumente apresentados baseiam-se, sobretudo, na:

(4) a baixa freqüência absoluta (em relação às não-proparoxítonas) b síncope da vogal na sílaba pós-tônica ou extrametricalidade da vogal/sílaba final c introdução tardia na língua (século XVI)

Para avaliarmos cada um desses argumentos, foi analisada uma amostra de 18. proparoxítonas. As informações diacrônicas, no entanto, foram obtidas das 10.590 palavras da amostra que possuíam datação. Tendo em mãos essa lista com as datas de introdução na língua, fornecidas pelo DH, as proparoxítonas foram avaliadas com o auxílio de programas na linguagem MatLab , com respeito à:

(^2) A raiz dessa rejeição, no entanto, não se sustenta cientificamente, como veremos, e sua causa talvez possa ser encontrada na tradicional exclusão in limine das proparoxítonas nas regras de acentuação gráfica, formalizada por meio da frase ‘todas as proparoxítonas são acentuadas’.

Cadernos de Estudos Lingüísticos 50(1) − Jan./Jun. 2008 (5) a Síncope : a mudança do acento proparoxítono para paroxítono a partir da queda da vogal pós-tônica. b Consoantes circunvizinhas à vogal acentuada. c Introdução na língua : a data do primeiro registro escrito, segundo o DH. Uma vez que muitas palavras foram registradas somente pelo século de aparição nos documentos, trabalhamos apenas com os séculos. d Freqüência de uso normalizada da ocorrência da palavra no corpus de páginas em português do banco de dados do Google^3 no dia 18/7/2006. e Qualidade da vogal acentuada.

2. APAGAMENTO VOCÁLICO E CONTEXTO FÔNICO

Defenderemos que, a princípio, as palavras proparoxítonas não deveriam ser estranhas ao PB, pois havia proparoxítonas no latim e muitas das palavras proparoxítonas do português são originárias de empréstimos do latim e do grego. A gramática histórica nomeia estes empréstimos como eruditismos. Uma vez que a mudança do acento na antepenúltima para a penúltima sílaba foi comum na passagem do latim para o português, alguns autores generalizaram essa regra e passaram a defender que a mudança ainda é amplamente ativa no PB. MASSINI-CAGLIARI (2007, no prelo) afirma que o padrão acentual proparoxítona é excepcional no Português Arcaico: “Como exemplos de nomes proparoxítonos mapeados no corpus de cantigas religiosas, podem ser citados: prologo, angeo, espirito, dicipolo, ydolo, letera, filosofo, poboo, crerigo, paravoa, sabado, camara, lampada, Evora, folego, duvida, citola, perigoo, vespera , Pascoa, Theophilo , etc. Note-se que todas essas palavras são proparoxítonas terminadas em duas sílabas leves. Entretanto, há também casos (raríssimos) de proparoxítonas em que uma das duas últimas sílabas é pesada, porque

travada por consoante — exemplos: Locifer, mercores, Princeps^4 , omees/omees. ” Ademais,

MASSINI-CAGLIARI (2007) acrescenta que “processos fonológicos que transformam antigas proparoxítonas em paroxítonas são bastante atestados” nas Cantigas de Santa Maria, como por exemplo: perigo vs periglo , perigoo ; poboo vs. pobro e poblo. Indicando as sílabas leves por L e as pesadas por P, as palavras proparoxítonas são formadas por sete categorias (contando-se somente as três sílabas finais), como em (6). O negrito indica o acento tônico. Convém mencionar que o padrão P PP não foi encontrado no corpus.

(^3) A contagem do algoritmo de busca não é muito precisa acima de 100 mil ocorrências absolutas, conforme discutido na literatura (cf. http://itre.cis.upenn.edu/~myl/languagelog/archives/002373.html). (^4) No entanto, é preciso perceber que a palavra Locifer pode ser oxítona, uma vez que a passagem dos u para o são incomuns nas tônicas, mas comuns nas pretônicas. Nas Cantigas de Santa Maria 27: 6, os três primeiros pés dos versos hendecassílabos apontam para a situação átona, átona, tônica : “Vencer dev’ a Madre daquel que deitou/ Locifer do Ceo, e depois britou/ o ifern’ e os santos dele sacou, / e venceu a mort’ u por nos foi morrer”. Uma das formas antigas, citadas no DH, é Lucifel (e não há, de fato, no nosso corpus , proparoxítonas terminadas em l ). Para que a palavra Princeps seja proparoxítona é necessário postular a ocorrência do fenômeno da epêntese já no português medieval. Nas Cantigas de Santa Maria , apenas aparece a forma no plural princepes , que não tem a última sílaba pesada (METTMANN 1959).

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tónica dos proparoxytonos latinos”. Assim, havia a tendência da supressão da vogal nuclear silábica medial e a posterior silabificação à esquerda como em:

(7) → *cáldo → [«kaw.du] ‘caldo’ → *áutra → [«ow.t‰a] ‘outra’ → *sóldo → [«sow.du] ‘soldo’ → *vérde → [«ve‰.de] ‘verde’^7

Ou a supressão da vogal nuclear silábica medial e silabificação à direita:

(8) → *dómno → [«do~.nu] ‘dono’ → *másclo → [«ma.ßu] ‘macho’ → *sócro → [«so.g‰u] ‘sogro’ (exemplos adaptados de FERREIRA NETTO 2001)

LEE (2004) mostra que as mudanças (de acento antepenúltimo para acento penúltimo) em português podem ser explicadas em paralelo ao latim. Dessa forma, assume que a noção de síncope é crucial para se compreender as constantes reduções de proparoxítonas para paroxítonas. Baseado em MASSINI-CAGLIARI 1999, adota que as sílabas finais são extramétricas e propõe a derivação em (9), pois LEE considera que o pé em português é o troqueu silábico. Dessa maneira, a sílaba reduzida fica na posição fraca do pé, criando as condições para a ressilabificação e a alteração da posição do acento. Portanto, nos exemplos a seguir, a sílaba fraca do pé é apagada, como visto em (3), repetidas, parcialmente:

(9) córrego → [«kø‰g¨] fósforo → [«føsf‰¨]

Em primeiro lugar, devemos olhar para os dados de uma forma diferente. Em (10), há uma lista com exemplos, comumente citados (cf. FERREIRA NETTO 2001) com o objetivo de se provar que as proparoxítonas são reduzidas para paroxítonas:

(10) a abóbora → [a«bøb‰á] cf. abobrinha árvore → [«a‰v‰ˆ] cf. arvrinha fósforo → [«føsf‰¨] ?fosfrinho xícara → [«ßik‰á] cf. xicrinha chácara → [«ßak‰á] cf. chacrinha óculos → [«øklus] cf. oclinhos

(^7) Neste trabalho, o asterisco indica, normalmente, que a forma não foi atestada. Esse uso surgiu no gerativismo, para a indicação da agramaticalidade. Apenas neste exemplo está sendo usado com o sentido tradicional de palavra reconstruída (e, portanto, altamente provável). O uso ambíguo do símbolo advém da fusão de perspectivas até recentemente incompatíveis. Não se propôs nenhuma solução para resolver essa contradição.

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b cócegas → [«køská] cf. cosquinha física → [«fizgá] ??fisguinha pêssego → [«pezg¨] ?pesguinho música → [«muzgá] ?musguinha

c córrego → [«kø‰g¨] cf. corguinho

d número → [«nu~‰¨] cômodo → [«ko~d¨]

De fato, as palavras em (10) são reduzidas em diversas variantes do português, embora isso não ocorra em todas^8. Entretanto, os diminutivos listados em (10)a, por exemplo, são compartilhados por um grande número de falantes e oferecem forte apoio aos defensores da redução. Um outro olhar sobre os dados em (10) revela que o ambiente fônico de todas as palavras reduzidas permite que sejam ‘reduzíveis’ de maneira não-aleatória. A redução é, portanto, possível, havendo também uma ressilabificação em seguida. Se o elemento a ser ressilabificado é uma consoante /R/ ou /l/ no onset da sílaba final, a ressilabificação formará um onset complexo, desde que o onset da sílaba pós-tônica não-final seja uma oclusiva ou uma labiodental, como em (10) a. Porém, há a possibilidade de o elemento ser ressilabificado para a coda da sílaba tônica. Nesse caso, deve ser necessariamente uma dos quatro consoantes possíveis na posição de coda (cf. (10) b , c , d ), o que equivale, segundo a descrição de CÂMARA JR (1970), a um dos arquifonemas: /S, R, N, L/. Dessa forma, ocorre síncope em uma palavra com acento na penúltima sílaba (proparoxítona), nos seguintes casos: a sílaba pós-tônica é formada por uma consoante (oclusiva ou labiodental) e uma vogal e a sílaba pós-tônica final possui no onset uma consoante líquida (/R/ ou /l/). Nesse caso, a vogal da sílaba pós-tônica é apagada (síncope) e a consoante líquida é ressilabificada, formando um onset complexo (quando o onset complexo for possível).

(11) abóbora → [a«bøb‰á] cf. abobrinha óculos → [«øklus] cf. oclinhos

A sílaba pós-tônica não-final é formada por uma consoante e uma vogal, sendo que a consoante é um rótico /r/ ou /ä/. Nesse caso, a vogal da sílaba é apagada e o rótico é ressilabificado para a coda da sílaba tônica.

(^8) A variante em questão é corrente no português do Brasil. Há , também, algumas variantes do pb nas quais a síncope ocorre de uma maneira mais freqüente. Assim, em alguns falares de mg e no interior de sp, por exemplo, há apagamentos que envolvem tanto a vogal pós-tônica como a consoante do onset da sílaba final, como em época > [«´pá], bêbado > [«beb¨], cândida > [«ka~djá]/[«ka~dá], etc. Além disso, na região central de mg, há registros de apagamento completo de todas as sílabas pó s-tônicas (cf. Lee 2004).

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Um outro caso a ser considerado ocorre com palavras que possuem [s] ou [z] no onset da sílaba final seguidos de [i]. Nesse caso, a vogal final é apagada e a consoante [s] é ressilabificada para a coda da sílaba pós-tônica, gerando, portanto, uma paroxítona. Portanto, temos aqui um caso distinto dos apresentados acima, pois a redução em (16) ocorre devido ao apagamento da vogal da sílaba átona final (apócope). É o que ocorre com 611 palavras do corpus^12_._

(16) apólice [a«pølˆs] elefantíase [elefa~«tßiáz]

Consideramos também, por definição, que o processo de síncope não ocorre quando as consoantes /p t k b d g f v/ estiverem, após a realização da síncope, nas posições de coda da tônica e onset da pós-tônica não-final. Isso se dá pelo fato de essas consoantes não serem permitidas, no sistema do PB, se houvesse apagamento da vogal pós-tônica não-final, nem como coda da tônica, nem como segundo elemento de um onset complexo da pós-tônica resultante.

(17) médico *[«m´dk¨] bêbado *[«bebd¨] rápido *[«xapd¨] pênalti *[«penltˆ] época *[«´pká]

Por enquanto, os fatos apresentados não contrariam as afirmações de SÂNDALO (1999) e LEE (2004), pois suas descrições levantam pontos relevantes que devem ser considerados. De fato, a gramática normativa, como qualquer outro instrumento lingüístico, exerce pressão sobre a língua. No entanto, pessoas com baixa escolarização ou mesmo sem escolarização alguma também produzem palavras proparoxítonas. Além disso, o letramento, a universalização e a democratização do acesso à escola tenderiam, portanto, a aumentar a influência da gramática normativa e, por conseguinte, aumentar a ocorrência de proparoxítonas em muitas variantes. Possivelmente, os dois fatos (influência da gramática normativa e produção de proparoxítonas) não sustentam uma relação de causa e conseqüência. Por outro lado, o fenômeno de síncope ou redução vocálica no PB não parece estar relacionado também com a diminuição da freqüência das palavras proparoxítonas. A redução parece ser oriunda da possibilidade de estruturas silábicas menos marcadas prevalecerem em relação a estruturas mais marcadas. Nesse sentido, a proposta de LEE (2004) não menciona exemplos de reduções que ocorrem quando a consoante na sílaba pós-tônica não é ressilabificável, ou seja, distinta de /S, R, N, L/. Portanto, LEE (2004) não arrola exemplos como em (17), nos quais a síncope seria estruturalmente impossível nesses

(^12) Casos semelhantes a este mereceriam um estudo mais detalhado de fonética acústica, uma vez que também é possível imaginar casos de apócope do [i] após outras fricativas e africadas: cônjuge [«ko~ΩuΩ], tríade [«t‰iadΩ], pirâmide [pi«‰a~midΩ], satélite [sa«t´litß], tíquete [«tßikitß]. Um caso ainda mais complexo é o de cóccix [«køksiks][køkisi][«køkis].

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contextos. Os exemplos em (17) são de palavras proparoxítonas que provavelmente pertencem também à expressão de pessoas não-escolarizadas. Pode-se, inclusive, afirmar que todas são, possivelmente, comuns ou familiares a todos os falantes. Portanto, alguns dos argumentos comumente utilizados para desqualificar as proparoxítonas (pressão da gramática, origem erudita, baixa freqüência) não podem ser aplicados nesses casos. Posto isto, nos voltamos para a possibilidade estrutural da sílaba formada em casos de apagamento ou manutenção da estrutura silábica nas palavras proparoxítonas e verificamos a natureza do cluster complexo (no onset da pós-tônica) ou do elemento formador de coda nas palavras proparoxítonas, nos casos de síncope. Do total de 18.413 palavras com acento antepenúltimo no corpus , cerca de dois terços das palavras proparoxítonas não formam clusters válidos quando é feito o apagamento mecânico da vogal da sílaba pós-tônica, como em rápido > * p.d o , calotípico > * calotí p.c o , haféfobo > * hafé f.b o. O apagamento da vogal da sílaba pós-tônica gera sílabas com codas válidas em 4.287 casos ou 23,2% do total, como em física > s. ca , anisúrico > anisú r****. c o , gênese > n.s e. Em 439 casos, ou 2,4% do total, a sílaba pós-tônica não-final é formada somente por uma vogal. Por fim, são geradas palavras cuja sílaba pós-tônica possui um onset válido, como em abóbora

abó. br a , próspero > prós. pr o , útero > ú. tr o em 2.158 (11,7%) dos casos, resultando em sílabas inválidas em 62,7 % das palavras, conforme apresentado na TABELA 1. Há, ainda, os casos em que o apagamento da vogal da sílaba pós-tônica não-final gera uma seqüência de coda possível seguida por um onset complexo permitido, como em périplo > r.pl o. Nesse caso, o onset supercomplexo formado por três consoantes, rpl , como em * pé. rpl o , não é possível em português.

Tabela 2. Validade dos clusters produzidos por síncope da vogal pós-tônica.

Para avaliar a confiabilidade desta análise, um segundo método foi utilizado para comparação, com o uso de um programa de identificação de encontros consonantais passíveis de epêntese^13. Nesse método, verificou-se se, após a síncope forçada da pós-tônica não final, a transcrição automática gerava uma epêntese no local da vogal apagada, sendo considerados reduzíveis por síncope apenas os casos em que não ocorria epêntese. Obtivemos resultados similares aos obtidos pela análise de clusters válidos: 67,5% de reduções inválidas e 32,5% de reduções válidas. Portanto, os dados sugerem que

(^13) O programa identificava os encontros consonantais resultantes depois do apagamento da vogal pós-tônica, como p.t, g.b, d.f , etc., onde o ponto representa a divisão silábica entre os elementos da coda e do onset.

Freqüência Relativa

Número de ocorrências Síncope gera clusters inválidos 62,7% 15. Síncope gera codas válidas na sílaba tônica 23,2% 4. Síncope gera onsets válidos para sílaba pós-tônica 11,7% 2. Sílaba pós-tônica intermediária é do tipo V (portanto, não-apagável) 2,4%^439 TOTAL 100% 18.

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3. INTRODUÇÃO TARDIA

Uma vez que o português pode ser rastreado diacronicamente, por meio de registros escritos e reconstruções, até o latim vulgar, é possível, teoricamente, usar fontes históricas para localizar a primeira aparição de uma determinada palavra desde os primórdios de seu uso. Se a hipótese da entrada na língua no século XVI justifica a excepcionalidade das proparoxítonas (posteriores às mudanças fonológicas que alteraram a posição do acento na palavra), dois fatos estatísticos são esperados: primeiro, a data média da primeira documentação na língua para palavras proparoxítonas deverá ser maior do que para palavras não-proparoxítonas; e, em segundo lugar, a distribuição empírica das palavras com acento na antepenúltima deverá apresentar uma transição evidente ou um pico no século XVI, que corresponde à data da suposta introdução da maioria dessas palavras. Os gráficos da FIGURA 1 mostram a evolução temporal do número de palavras criadas em cada século, presentes no DH, de acordo com a tonicidade. Foi utilizada uma escala vertical logarítmica porque a introdução de novas palavras registradas no português no século XIX é quase uma ordem de grandeza superior à dos demais séculos, fazendo que o gráfico em escala linear se torne ilegível. Uma forma interessante de discutir estes dados se dá por meio da relação entre as produtividades relativas de cada uma das tonicidades ao longo dos séculos (cf. FIGURA 2). As barras verticais no gráfico da FIGURAS 2 correspondem aos desvios padrão dos percentuais apresentados. Estes desvios padrão foram determinados considerando que as palavras contidas no DH correspondem a uma amostra das palavras portuguesas existentes e, portanto, sujeitas a flutuações amostrais.

IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX

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Século

Número de palavras novas (escala logarítmica)

oxítonas paroxítonas proparoxítonas

ARAUJO, GUIMARÃES-FILHO, OLIVEIRA E VIARO − Algumas observações sobre...

Figura 1 – Evolução temporal do número de palavras criadas em cada século de acordo com a tonicidade.

A data média da primeira documentação na língua das palavras proparoxítonas no DH é o ano de 1843, com uma dispersão (desvio-padrão) de 147 anos, enquanto as não-proparoxítonas têm como data média o ano de 1737 com uma dispersão de 218 anos. Assim, embora a primeira previsão seja numericamente correta, como mostra a FIGURA 1, tanto as proparoxítonas como as não-proparoxítonas entram na língua de forma regular em todos os séculos. Pode-se, inclusive, afirmar que há uma tendência para picos nos séculos XIII, XVI e XIX, tanto para as proparoxítonas quanto para as não-proparoxítonas. O primeiro pico está associado ao próprio surgimento do português como língua independente. O último pode estar ligado, entre outras coisas, às revoluções técnico-científicas, à explosão demográfica na Europa e na América e à consolidação da escolarização universal que promoveu um letramento em massa, resultando em um número maior de obras literárias e não-literárias impressas. A correlação entre Renascença e proparoxítonas não é estatisticamente evidente como mostra a FIGURA 2.

IX X XI XII XIII XIV XV XVI XVII XVIII XIX XX

100

101

102

103

104

105

Século

Número de palavras novas (escala logarítmica)

proparoxítonas não proparoxítonas

ARAUJO, GUIMARÃES-FILHO, OLIVEIRA E VIARO − Algumas observações sobre...

Tabela 3 – Distribuição estatística da freqüência de uso, de acordo com a base de páginas em português do Google , em termos da tonicidade das palavras.

Porém, um ponto que precisa ser esclarecido é se essa baixa freqüência de uso se deve ao fato da palavra ser proparoxítona ou as características das proparoxítonas, como, por exemplo, serem, em geral, palavras mais longas que as dos outros tipos (VIARO & GUIMARÃES- FILHO 2007). A relação entre tonicidade e o número de sílabas está apresentado na FIGURA

  1. A freqüência relativa de oxítonas diminui com o aumento do número de sílabas da palavra, ou seja, quanto maior o número de sílabas da palavra, menor a chance de ser oxítona, enquanto para as proparoxítonas ocorre o oposto. É curioso observar que a freqüência relativa de paroxítonas se mantém aproximadamente estável perto de 70% para palavras com quatro ou mais sílabas (GUIMARÃES-FILHO et alii 2006).

(^14) Foram denominadas Raras as palavras que ocorriam em menos de 10 páginas, Incomuns aquelas usadas em até 200 páginas, Comuns para até 20 mil páginas e Freqüentes para mais de 20 mil páginas (o maior número de ocorrências encontrado foi de 317 milhões para a preposição ‘ de ’). Pesquisas realizadas entre os dias 18 e 21 de julho de 2006.

Quartis de freqüência de uso^14 Raras Incomuns Comuns Freqüentes TODA A BASE 27,5 % 26,3 % 23,7 % 22,6 %

Raras Incomuns Comuns Freqüentes Monossílabos 0,0 % 0,2 % 4,4 % 95,4 % Oxítonas 21,1 % 27,2 % 26,1 % 25,6 % Paroxítonas 26,3 % 26,4 % 24,2 % 23,1 % Proparoxítonas 47,5 % 24,8 % 16,4 % 11,4 %

Raras Incomuns Comuns Freqüentes Não-proparoxítonas 24,7 % 26,5 % 24,7 % 24,1 % Proparoxítonas 47,5 % 24,8 % 16,4 % 11,4 %

Cadernos de Estudos Lingüísticos 50(1) − Jan./Jun. 2008

9sS

10sS

8Ss

Çta~¬~

2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 ou mais

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Número de Silabas

Freqüência relativa (%)

Oxítonas Paroxítonas Proparoxítonas

Raras Incomuns Comuns Freqüentes Trissílabos^ Proparoxítonas^ 17 %^ 26 %^ 28 %^ 29 % Não-proparoxítonas 25 % 24 % 22 % 29 % Tetrassílabos^ Proparoxítonas^ 41 %^ 27 %^ 17 %^ 14 % Não-proparoxítonas 28 % 28 % 24 % 20 % Pentassílabos^ Proparoxítonas^ 50 %^ 26 %^ 16 %^ 9 % Não-proparoxítonas 33 % 29 % 21 % 17 % Proparoxítonas 47,5 % 24,8 % 16,4 % 11,4 % TODOS Não-proparoxítonas 24,7 % 26,5 % 24,7 % 24,1 %

Figura 3 – Relação entre tonicidade e o número de sílabas. As barras verticais indicam os desvios padrão correspondentes às flutuações estatísticas amostrais.

Para avaliar a importância do número de sílabas da palavra na freqüência de uso, verificamos os casos dos trissílabos, tetrassílabos e pentassílabos:

Tabela 4 - Distribuição estatística da frequüência de uso em termos da tonicidade de acordo com o número de sílabas das palavras.

Estes resultados mostram que com o aumento do número de sílabas da palavra há uma tendência geral de reduzir a freqüência de uso que parece ser um pouco mais acentuado no caso das proparoxítonas, como por exemplo, as proparoxítonas no grupo das freqüentes passam de 29% no caso dos trissílabos para 9% no caso dos pentassílabos, enquanto no grupo das raras passam de 17% para 50%. Há ainda outros efeitos, como a data de criação da palavra, que também precisam ser investigados antes de se concluir que o fato da palavra ser proparoxítona influencia de maneira significativa a freqüência de uso da palavra. Os resultados parecem indicar a

Cadernos de Estudos Lingüísticos 50(1) − Jan./Jun. 2008 A TABELA 6 mostra a distribuição das sete vogais do PB na posição tônica.

Tabela 6 – Tipos de vogais tônicas nas palavras com acento antepenúltimo e não antepenúltimo com respectivas freqüências percentuais.

As maiores diferenças entre as duas categorias estão na distribuição das vogas médias altas [´, ø]. Para as palavras com acento na antepenúltima, 37,2% das vogais acentuadas são médias altas e para as com acento não-proparoxítono somente 10,4% das vogais acentuadas são médias altas. Dessa forma, palavras proparoxítonas têm 2,6 vezes mais chances de terem a vogal [´] na posição acentuada e 4,4 vezes mais chances de ter a vogal [ø] na posição acentuada do que palavras com acento não-proparoxítono. Isso sugere que há uma correlação entre acento e vogais médias abertas em palavras proparoxítonas (cf. WETZELS 1991, 1992). Essa correlação poderia ter uma motivação fonética, assumindo-se que a diferença de qualidade está relacionada à altura da vogal. Uma vez que as sílabas acentuadas são mais longas e permitem que a abertura da vogal seja mais longa e menos precisa, tais vogais poderiam ter surgido e ter permanecido restritas à posição tônica na maioria das variantes do português. No entanto, essa questão permanece em aberto. Interessante seria ainda observar qual a vogal que está na pós-tônica não-final. Em ordem decrescente de freqüência temos: /i/ (65,3%), /a/ (10,9%), /o/ (10,5%), /e/ (9,7%) e /u/ (3,6%). É curioso observar que, embora seja o caso mais freqüente, apenas 28% das palavras com vogal pós-tônica não-final /i/ são apagáveis (geram codas válidas ou onsets complexos válidos depois da síncope). Por outro lado, 81% dos casos com /u/ são apagáveis (para as demais vogais pós-tônicas os percentuais são: /o/ 38%, /a/ 49%, /e/ 70%).

6. SUMÁRIO E CONCLUSÕES

A dicotomia acento fonologicamente determinado vs. acento lexicalmente especificado pode ser mais bem avaliada quando dados morfológicos, históricos e de freqüência são agrupados em uma análise. Em relação às palavras proparoxítonas, os seguintes pontos são especialmente relevantes:

Vogal tônica Proparoxítonas Não-Proparoxítonas Oxítonas Paroxítonas i 26,5 % 22,5 % 28,3 % 7,9 % u (^) 2,6 % 4,7 % 5,0 % 3,8 % e 4,4 % 13,5 % 16,8 % 5,2 % « (^) 12,0 % 4,7 % 5,3 % 2,9 % o (^) 7,7 % 6,7 % 5,1 % 10,6 % ¿ (^) 25,2 % 5,7 % 6,9 % 2,7 % a 21,6 % 42,3 % 32,5 % 66,9 %

ARAUJO, GUIMARÃES-FILHO, OLIVEIRA E VIARO − Algumas observações sobre...

(20) a. Sempre existiram no português;

b. Palavras oxítonas e proparoxítonas, cujos padrões acentuais não são o canônico, são encontradas em todas as épocas e são criadas com freqüências proporcionais à sua representatividade no corpus ;

c. As reduções (proparoxítonas > paroxítonas) ocorrem em determinados contextos, embora haja também oxítonas que se transformam em paroxítonas e paroxítonas que se transformam em proparoxítonas;

d. Não há evidências que sustentam que os falantes evitem o uso das proparoxítonas ou que haja um direcionamento para uma mudança de posição de acento;

e. Empréstimos recentes sugerem que o princípio de conservação do acento ainda está ativo.

O objetivo deste artigo foi legitimar a presença de palavras proparoxítonas nas análises do sistema acentual do português do Brasil. Foi mostrado que essas análises desqualificam as proparoxítonas por não disporem de instrumentos que possibilitem uma explicação unificada para o fenômeno do acento lexical. Ao mesmo tempo, embora assumamos que, estatisticamente, as proparoxítonas sejam marginais no sistema — circa 12% do corpus de 150 mil palavras—, acreditamos que as análises deveriam considerá-las como parte do sistema. Procuramos mostrar que as reduções (síncope e apócope) que transformam palavras proparoxítonas em paroxítonas ocorrem sob certas circunstâncias, dentre elas a possibilidade de uma consoante em coda ou onset ser ressilabificada como segundo elemento de onset complexo ou como coda, que ocorrem apenas em cerca de 1/3 das proparoxítonas. Além disso, foi mostrado que explicações paralingüísticas como a pressão da gramática normativa, a origem erudita da palavra ou a baixa freqüência de uso não são causa nem conseqüência da existência ou da manutenção das proparoxítonas. No entanto, algumas questões se colocam para pesquisa futura. Certamente, proparoxítonas pertencem ao sistema do PB, embora, estatisticamente, o acento antepenúltimo seja minoritário, mas é necessário entender as razões pelas quais a consoante /l/ não é ressilabificada e não ocorre síncope quando ocupa a posição de onset na sílaba pós-tônica, apesar de /l/ (ou seu alofone [w]) ser uma consoante possível na posição de coda. A relação entre epêntese e as proparoxítonas também merece maior atenção, assim como a relação entre síncope e freqüência de uso. Por fim, os dados em (10) mostram que, comumente, são criados onsets complexos fora da posição do acento, como em chá [k‰] a , embora CRISTÓFARO-SILVA (2002) julgue que a posição tônica seja a ideal para onsets complexos, ao lembrar casos de apagamento do onset complexo como em problema → [po«b‰emá], ou de metátese do segundo elemento para a posição tônica, como em estupro → [is«t‰up¨]. A formação desses onsets complexos, entretanto, também mereceria uma investigação mais detalhada. Por fim, não podemos ainda nos esquecer de que o julgamento dos dados em aceitáveis ou não sempre foi problemático desde que surgiu o conceito de agramatical no gerativismo. Há um certo elemento subjetivo no julgamento da agramaticalidade, uma vez que isso