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: Nos últimos anos, o tema diálogo tem ganho popularidade entre os profissionais das mais variadas disciplinas e tem sido tratado como um certo tipo de conversa que pode ser alcançada ao seguir-se determinadas fórmulas, ou passos, pré-estabelecidos. Esse breve artigo faz uma reflexão sobre o diálogo como uma atividade natural e espontânea, indicando um processo relacional – colaborativo. A partir dessa perspectiva, o diálogo requer uma mudança na forma como pensamos sobre nós mesmos.
Tipologia: Esquemas
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rESUMo: nos últimos anos, o tema diálogo tem ganho popularidade entre os profissionais das mais variadas disciplinas e tem sido tratado como um certo tipo de conversa que pode ser alcançada ao seguir-se determinadas fórmulas, ou passos, pré-estabelecidos. esse breve arti- go faz uma reflexão sobre o diálogo como uma atividade natural e espontânea, indicando um processo relacional – colaborativo. a partir des- sa perspectiva, o diálogo requer uma mudança na forma como pensamos sobre nós mesmos, sobre nossos colegas de trabalho, nosso mundo em geral e, mais importante, nossa maneira de ser e de nos transformar. o artigo sugere alguns pontos a considerar ao fazermos essa mudança de paradigma, ou seja, do diálogo como técnica ou método terapêutico para um processo mais natural e espontâneo entre seres humanos.
palavras-Chave: diálogo, diálogo colaborati- vo, processo dialógico colaborativo.
aBStraCt: dialogue has gained popularity with professionals from a variety of disciplines over the last several years, and has mostly been ap- proached as a certain kind of conversation that can produced by following pre-scripted formulas or steps. This brief article proposes dialogue as a natural and spontaneous activity referred to as a collaborative-relational process. dialogue from this perspective requires a shift in orientation about how we think about ourselves, the people we work with, what we do together, our world in general, and importantly our ways of being and becoming. The article suggests a few things to consider in making a shift from thinking of dialo- gue as a therapeutic technique or method to dia- logue as a more natural and spontaneous process of one human being in relation with another.
KEywordS: dialogue, collaborative-dialogue, collaborative-dialogic process.
Na literatura, o diálogo é frequentemente apresentado como algo a ser aprendido e é acompanhado por fórmulas ou passos a serem seguidos. Tal perspectiva reduz o diálogo a uma atividade prescrita e puramente técnica. Considero mais útil pen- sar o diálogo como uma filosofia, não no sentido de um corpo de conhecimento, mas como uma forma de conversação consigo mesmo ou com o outro, na qual pensamos e debatemos juntos a respeito de um assunto, trocando significados e compreensões. O diálogo como filosofia evoca a concepção de diálogo dos antigos gregos. Fi- losofia para os gregos não era um conhecimento descoberto ou estabelecido, mas uma busca contínua e um amor pelo conhecimento. Para os primeiros gregos, gerar espaço e processo para a criatividade e a mudança era mais importante que o produto final (tal como consenso ou solução). Os gregos são descritos como tendo um espaço para o diálogo e como participantes do processo de diálogo. Um espaço poderia ser um local metafórico ou literal onde as pessoas podiam se co- nectar, conversar e se engajar em uma investigação mútua e compartilhada umas com as outras. Através de uma troca dinâmica, significados e compreensões são continuamente interpretados, reinterpretados, clarificados, revisados e expandi- dos. O processo de diálogo envolve a nossa imersão na perspectiva do outro e a
harlene anDerSon, PhD. Psicóloga, membro fundador do Houston Galveston Institute e do Taos Institute.
recebido em: 01/09/ aprovado em: 12/10/
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tentativa de dar sentido à mesma. Uma novidade de sentido e entendimen- to – seja em termos de pensamento, sentimentos, emoção, ação ou sensa- ção – emerge nesse processo que pode levar a oportunidades não contempla- das anteriormente. Isso implica que o diálogo é um processo dinâmico e ge- rador, e a transformação é sua marca inerente. A teoria de Mikhail Bakhtin dos seres humanos como seres dialógicos influencia minha visão de diálogo. Se- guindo Bakhtin, vejo o diálogo como algo sempre aberto e nunca finalizado, porque estamos constantemente em diálogo uns com os outros, com nos- sos mundos e conosco. Essa multipli- cidade de vozes e perspectivas é crítica no desenvolvimento do conhecimen- to. Michel Holquist (2002) chama as contribuições de Bakhtin a respeito do diálogo de dialogismo. Holquist (2002) sugere que o dialogismo é “uma teoria do conhecimento orientada pragmati- camente, mais especificamente, é uma das várias epistemologias modernas que buscam compreender o compor- tamento humano através do uso que os seres humanos fazem da lingua- gem” (p.15). A filosofia do diálogo de Bakhtin propõe que o “self ” é dialógi- co – isto é, ser humano é um evento dialógico e relacional. A relação entre o self e o outro é uma relação dinâmi- ca e reciprocamente determinada (pp. 19-21). Os significados, percepções e entendimentos que temos de nossos selves, de nossa vida, eventos e tudo o mais, emergem continuamente nos e apenas nos relacionamentos. Também sou influenciada por John Shotter^1 (1993, 2008, 2014); assim como Bakhtin, ele enfatiza o aspec- to relacional do diálogo (a natureza dialógica do self), a multiplicidade de vozes e perspectivas (polifonia), e a ideia de que cada afirmação é em res-
posta à outra afirmação anterior. Para mim, Bakhtin e Shotter apresentam o diálogo como um processo natural e espontâneo e não algo que pode ser planejado, determinado, controlado ou manipulado. É tolice pensar que podemos tentar planejar ou estruturar antecipadamente o diálogo – é difícil planejar por haver conflito e incoerên- cias, tentar fazê-lo apenas restringiria o diálogo. Portanto, diálogo é um pro- cesso “sem esforço” – sempre se trans- formando e, consequentemente, cheio de incertezas. Isso nos sugere estarmos dispostos a sermos conduzidos de di- versas maneiras, de acordo com nosso uso das palavras cuidadosamente es- colhidas e a maneira como as expres- samos. O que indica que o diálogo é sempre ético e político. O diálogo é uma atividade relacio- nal e colaborativa, influenciada pelos múltiplos contextos e discursos nos quais acontece e a relação entre os parceiros dialógicos ou conversacio- nais (Anderson, 1997). Wittgenstein descreve relação e conversação como caminhando de mãos dadas: os tipos e a qualidade das conversações que nós temos uns com os outros informam e formam os tipos de relação que temos entre nós, e vice-versa. O diálogo pro- move em seus participantes um senso de mutualidade, isto é, respeito genu- íno e interesse sincero em relação ao outro. Quando uma pessoa está envol- vida em diálogo, como na terapia, cada participante contribui com sua voz, o que gera um senso de pertencimento e autoria. Cada participação contribui para o que está sendo criado e, por sua vez, leva a um senso de responsabili- dade compartilhada. O diálogo requer um interesse sin- cero no(s) outro(s): acreditando real- mente que nunca podemos conhecer plenamente os outros e suas situações, não importando se já os conhecemos
(^1) Sou principalmente influenciada pela incorporação e expansão feitas por Shotter ao longo do tempo dos esforças de pensadores críticos com Bakhtin, Merleau-Ponty, Wittgenstein, entre outros, e sua mais recente análise do trabalho de Barad, Bertau e Lipari. Veja Shotter (2014).
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dução para as considerações a seguir (Anderson, 1988, 2012). Sempre achei útil me considerar tanto anfitriã como convidada em uma conversa. Recebo o outro e simultaneamente sou rece- bida pelo outro. Quero ser uma boa anfitriã, uma que valoriza e respeita os convidados, tanto por palavras quanto por modos; que acredita que eles têm algo de valor a compartilhar. Igual- mente como convidada, não quero ser intrusiva, não quero que o outro se sin- ta interrogado ou tenha sua privacida- de invadida. O que é importante para mim como convidada é falar e agir de uma maneira tal que, se a ocasião per- mitir, seja convidada novamente e seja bem recebida. E vice-versa, como anfi- triã, quero falar e agir de tal modo a ter um outro convite meu aceito. Implícita nessa metáfora está a noção de que re- lacionamentos e conversas caminham lado a lado: o modo como recebemos e cumprimentamos cada um influencia o tipo e a qualidade do relacionamen- to e da conversação que podemos ter. Sempre sugiro que meus alunos pen- sem sobre como essa metáfora pode ser aplicada aos relacionamentos e conversas com seus clientes. Quando ouço a pergunta anterior- mente citada, também penso sobre o cliente e o terapeuta encontrando-se como estrangeiros em uma terra es- trangeira, da qual ambos não conhe- cem o território, a língua ou os costu- mes um do outro. Devemos sempre nos lembrar que aquilo que para nós é familiar (o processo terapêutico, por exemplo) geralmente não o é para o cliente. Podemos facilmente nos es- quecer que estamos tão acostumados a fazer o que fazemos e sermos influen- ciados pelos nossas teorias que sim- plesmente dirigimos no piloto auto- mático. Em outras palavras, esquecer que não existe a necessidade de pensar antes de agir ou falar, ou mesmo que
temos que manter em mente que cada relacionamento é único e deve ser tra- tado como tal. Abaixo uma lista de itens que acho úteis ao convidarmos o outro ao diá- logo.
1 – Convidar e manter um diálogo co- laborativo requer uma mudança de orientação.
2 – O diálogo requer um projeto cola- borativo.
o fazer e o estar em terapia dialógica colaborativa Bruno Lenzi
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3 – O diálogo é uma atividade natural, espontânea que ocorre momento a mo- mento.
4 – As diferenças são fundamentais ao diálogo.
5 – O diálogo requer:
6 – Ações que não são convidativas ao diálogo:
eSPeranÇa DaqUele qUe ConVIDa ao DIÁloGo
Em suma, aquele que convida – o tera- peuta – espera engajar-se com o outro