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métodos de exercícios técnicos que foram publicados no Brasil, como O pianista virtuoso de. Charles-Louis Hanon (1928), os Estudos técnicos diários de Oscar ...
Tipologia: Exercícios
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João Pessoa Março/
Dissertação apresentada ao programa de Pós- Graduação em Música da Universidade Federal da Paraíba – UFPB – como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Música, área de concentração em Práticas Interpretativas (Piano).
João Pessoa Março/
Dedico este trabalho aos meus pais Ana Virgínia e Manoel, exemplos de amor, a quem devo toda minha existência.
“Nihil in intellectu nisi prius fuerit in sensu”. Não há nada no intelecto que não tenha, antes, passado pelos sentidos. ARISTÓTELES (384 a.C-322 a.C)
Em que pese ser um tema bastante antigo no âmbito da pedagogia pianística, o uso dos exercícios de técnica ainda provoca debates e constantes divergências de opinião entre os pianistas e professores de piano mundo afora. Com a finalidade de fornecer mais material para discussão, este trabalho tem por objetivo investigar como um grupo de professores de piano da cidade do Recife (docentes ou ex-docentes das duas principais escolas de música públicas da cidade: Conservatório Pernambucano de Música e Universidade Federal de Pernambuco) utiliza esse material, ou se o rejeita completamente na sua prática pedagógica. Para coletar essas informações, optamos pelo uso de entrevistas semi-estruturadas. Neste trabalho podemos encontrar, como embasamento teórico do tema proposto, um histórico da técnica pianística, onde se discutem aspectos ligados à pedagogia pianística e às chamadas Escolas de Técnica Pianística; relatos de importantes pianistas do século XX e XXI e suas posturas acerca da utilização dos exercícios técnicos, e uma comparação analítica entre suas opiniões e as dos professores do Recife entrevistados. À guisa de conclusão do trabalho vemos que a utilização de exercícios técnicos ainda é um tema controverso no meio pianístico, cercado de desacordos, de divergências conceituais e diversidade de opiniões.
Palavras-chave: pedagogia do piano; técnica pianística; piano no Recife.
INTRODUÇÃO
A técnica pianística é um tema que vem sendo discutido pelos estudiosos do piano desde o surgimento desse instrumento. Ainda assim, novas discussões seguem tomando forma no que tange à formulação de uma suposta maneira correta ou mais adequada de se tocar piano. Apesar de ser um assunto antigo, as metodologias de ensino do piano, e especificamente do ensino da técnica, ainda são objeto de intensas discussões, tanto entre pianistas, quanto entre os demais profissionais que estudam a fisiologia humana aplicada à performance pianística. Envolto em discussões apaixonadas, muitas vezes quase doutrinárias, o ensino de exercícios de técnica tende a provocar, entre os pianistas, atitudes quase automáticas de repúdio ou apreço, sem que muitas vezes – mesmo após os incontáveis trabalhos feitos ao longo das últimas décadas – o assunto seja devidamente esclarecido e debatido. Se for possível considerar o ensino de instrumentos musicais como ainda fortemente baseado na intuição, na tradição oral e nas tradições conservatoriais de tantos professores, os exercícios de técnica para piano representam o núcleo dessa tendência. Interessado em oferecer mais material para debate, procuro, neste trabalho, identificar e compreender a forma como um grupo de professores de piano da cidade do Recife aborda o uso de exercícios de técnica pianística. Para tal, escolhi sete professores de piano da cidade adotando critérios que basearam-se em local de docência (as duas principais escolas de música da cidade: a Universidade Federal de Pernambuco e o Conservatório Pernambucano de Música), em experiência profissional (docência e produção artística) e na projeção de alunos, quer seja a nível artístico, quer seja a nível acadêmico. Para aproximar-me de suas práticas pedagógicas no que concerne aos exercícios de técnica optei pelo uso de entrevistas semi-estruturadas. É importante ressaltar que não é intenção deste trabalho traçar juízos de valor acerca das metodologias de trabalho de nenhum desses profissionais, mas tão somente compreender suas formas de ensinar – no que tange ao (des)uso de exercícios na técnica pianística (LEITE, 2012) – e situá-las num contexto histórico da pedagogia pianística. A problemática desta pesquisa surgiu a partir de minha experiência como aluno de piano. Após um período tendo aulas de teclado em Bogotá, na Colômbia, ingressei numa escola de música em Brasília, onde tive as primeiras orientações diretamente voltadas ao piano. Nesse momento tomei conhecimento da existência dos exercícios para piano, mas o
fato de não ter sido submetido a eles causou-me certa estranheza, e um sentimento de que poderia progredir mais, pianisticamente, caso tivesse um contato direto com esse material. Anos depois, como estudante do Curso de Extensão da UFRJ, aprofundei meus estudos, passando a lidar com o repertório tradicional para piano. As dúvidas a respeito do não uso dos exercícios de piano em minha formação continuaram. Foi também nessa altura que comecei a ter contato com as mais diversas – e por vezes apaixonadas – opiniões de pianistas acerca do uso de exercícios técnicos. Já como aluno de graduação, estudei um semestre como bolsista CAPES na East Carolina University (Greenville, NC, EUA) onde pude conhecer melhor alguns métodos de exercício de piano, estimulado principalmente por minha professora, que realizava aulas em grupo semanais nas quais exigia de seus alunos escalas, arpejos e exercícios do método “O Pianista Virtuoso” de C. L. Hanon. Nas provas semestrais de piano nessa instituição constavam, não apenas o repertório do semestre, como também escalas e arpejos estudados previamente e escolhidos por meio de sorteio. Ao retornar ao Brasil, e especialmente após o fim da graduação, iniciei uma pesquisa a respeito dos usos de exercícios de técnica, escalas e arpejos na formação pianística, submetendo-me a vários deles para expandir meu conhecimento acerca desses métodos e compreender sua função e aplicação na formação do pianista. A partir da suposição de que tais exercícios poderiam ser de utilidade para algumas pessoas e não para outras, e de que pudesse haver inúmeras maneiras de abordá-los, decidi por aprofundar minhas pesquisas como aluno do programa de pós-graduação em música da Universidade Federal da Paraíba, tomando como universo de pesquisa sete professores de piano do Recife, minha cidade de formação acadêmica e de sólida tradição no ensino desse instrumento. Na tentativa de investigar o tema proposto, este trabalho se inicia com uma discussão acerca dos conceitos de “técnica”, “exercício técnico”, “estudo”, “método”, bem como uma investigação bibliográfica sobre as mudanças organológicas, interpretativas e pedagógicas que afetaram diretamente o piano ao longo do tempo. No primeiro capítulo também foram abordados o surgimento e as mudanças sofridas pelos quatro principais personagens que nortearam a vida pianística dos séculos XIX e XX: o compositor como criador, e principalmente, o intérprete como recriador, o pedagogo como educador e o teórico do piano enquanto cientista; e de que maneira essas quatro figuras se influenciaram. No segundo capítulo são apresentados relatos de pianistas dos séculos XX e XXI acerca do uso de exercícios de técnica pura, sessão na qual se pode notar a variedade de
CAPÍTULO 1
Com a finalidade de compreendermos a variedade de abordagens pedagógicas ao piano – e, por conseguinte, a diversidade de concepções técnicas existentes – é pertinente nos aproximarmos das mudanças na organologia, no ensino do piano e nas decisões interpretativas ao longo de sua existência. A ausência de unanimidade na definição de técnica pianística nos leva a uma aproximação, na literatura, dos diferentes conceitos nesse sentido. O dicionário Aurélio (1999) define técnica como “1. A parte material ou conjunto de processos de uma arte; 2. Maneira, jeito ou habilidade especial de executar ou fazer algo; 3. Prática”. Segundo Chiantore (2001, p. 19), técnica é, dentre outras coisas, um “conjunto de procedimentos e recursos de que se serve uma ciência ou uma arte”^1. José Alberto Kaplan (1987, p. 18) e Antonio de Sá Pereira (1964, p. 10) afirmam que técnica são procedimentos para que a realização de determinada atividade seja feita com o intuito de se obter o melhor resultado com o menor esforço possível. Para Sá Pereira (1964, p. 11), técnica é a “disciplina de movimentos, experiência adquirida quanto à melhor maneira de coordenar os movimentos e evitar co-inervações desnecessárias”^2. Já para Kaplan, “o critério de avaliação da eficiência de uma técnica é o tempo e a energia empregados na consecução do objetivo a ser alcançado (grifos do autor)”. Ao abordar o termo técnica dentro do contexto musical, Sônia Cava (2008, p. 13) define a técnica como “o conjunto de elementos ou meios pelos quais é proporcionada a possibilidade de realizar-se a execução da obra musical dentro do significado que lhe imprimiu o compositor”. Richerme (1997, p. 14) apresenta a expressão técnica ergonômica , e a elucida como sendo a que apresenta um perfeito entrosamento anatômico, fisiológico e mecânico do aparelho fisiológico executante e o instrumento, bem como uma adequação de sua metodologia aos objetivos propostos, visando permitir ao homem bem-estar fisiológico e psicológico. Silva (2012, p. 2) diferencia técnica pura de técnica aplicada. Para ela, técnica pura é o “termo técnico usado para designar o estudo dos mecanismos de execução do instrumento, sem aplicação a uma obra ou trecho musical”. Fazem parte desse grupo de materiais alguns métodos de exercícios técnicos que foram publicados no Brasil, como O pianista virtuoso de Charles-Louis Hanon (1928), os Estudos técnicos diários de Oscar Beringer (1996), os
(^1) Original: “Conjunto de procedimientos y recursos de que se sirve una ciencia o un arte”. Todas as traduções deste trabalho são de autoria nossa. 2 Sá Pereira (1964, p. 28-29) define co-inervação como “a excessiva contração de músculos que não deveriam ser ativados”, isto é, a contração simultânea de músculos opostos: de músculos agonistas e antagonistas.
Exercícios de técnica para piano de Ondine de Mello (1999), A técnica diária do pianista de Ettore Pozzoli (1976), o primeiro volume^3 da Escola das oitavas de Theodor Kullak^4 , entre outros. A técnica aplicada , ainda segundo a autora, “ocorre quando os mecanismos adquiridos no estudo de técnica pura são aplicados na execução de uma peça musical” (SILVA, 2012, p. 2), isto é, diferentemente do primeiro termo, que engloba um tipo de material específico, a técnica aplicada consiste em conjuntos de estratégias de estudo de que um músico se utiliza para dominar determinada passagem. Trata-se da seleção de trechos tecnicamente desafiadores ou não, seguida de uma análise estratégica, de forma a desenvolver no aluno as habilidades motoras e musicais necessárias à execução do excerto em questão. Fazem uso desse conceito trazido por Silva os músicos que trabalham a técnica a partir do repertório a ser estudado, escolhendo determinada passagem musical considerada difícil e aplicando-lhe diversas estratégias para assegurar uma execução satisfatória em termos musicais e técnicos. Tais estratégias envolvem estudar o trecho em questão em várias tonalidades, com variação rítmica, com mais apoio, mais lentamente, mais articuladamente, com exagero de movimentos visando compreendê-los com mais clareza, dentre inúmeras outras possibilidades constantes do conhecimento e necessidade do pianista. Para George Kochevitsky (1902-1993), “a diversidade de conceitos musicais resulta na diversidade de significados técnicos, e há tantas técnicas corretas quanto há diferentes intenções artísticas^5 ” (1967, p. 14). Podemos depreender, portanto, que o termo técnica aborda uma gama de sensações complexas e especializadas, percepções cinestésicas, movimentos coordenados, além de uma atitude física e mental que possibilite ao pianista lançar mão de todas as ferramentas necessárias para transmitir ao público, como intérprete-recriador, uma mensagem codificada (ou transmitida) por um compositor. Em se tratando de um conjunto de habilidades, a técnica pianística está longe de enquadrar-se em uma padronização. Nunca será única. Por ser utilizada por homens para exprimir seus sentimentos e emoções por meio de um instrumento musical, será, consequentemente, sempre passível de diferentes pontos de vista e interpretações de acordo com as necessidades, visões e preferências individuais. Outros dois termos que também merecem nossa atenção – posto que geralmente relacionados ao tema “técnica pianística” – são estudo e exercício. O Dicionário de Música ,
(^3) Vale notar que o primeiro volume da Escola das oitavas de Theodor Kullak é composto por exercícios de técnica pura envolvendo oitavas. Já o segundo volume do mesmo método consta de pequenos estudos baseados em oitavas. 4 O método Escola das oitavas de T. Kullak foi publicado no Brasil pela editora Ricordi de São Paulo como parte da “Coleção didática de obras mestras”, no entanto o ano de 5 publicação não foi informado na edição. Original: “Diversity of musical conceptions calls for diversity of technical means, and there are as many correct techniques as there are different artistic intentions”.
e aperfeiçoar uma determinada faceta da técnica na performance e que apresenta algum interesse musical^6 ”. Borba e Lopes Graça (1956) afirmam que o estudo “difere do exercício pela sua concepção artística mais elevada, a sua forma própria e o seu quê de expressividade e estilo”. Para Leite (2012, p. 8), o estudo é uma composição completa, criada com o desígnio de melhorar a técnica de um instrumentista através do isolamento de, usualmente, uma dificuldade específica, requerendo do executante não só uma aplicação mecânica, mas também uma interpretação musical. É lícito afirmar, portanto, que o gênero estudo é, por definição, música , na medida em que, como linguagem musical, traz consigo um discurso artístico carregado de emoções e intenções, indo além do mero treinamento motor do aparato pianístico^7. Mostrando ainda mais variedade de uso e de compreensão dos termos ora tratados, Brody e Tarrue ( apud LEITE, 2012, p. 12) afirmam que, na década de 1840, as edições voltadas a amadores – que tinham como finalidade o preparo físico – passaram a ser chamadas de exercícios; enquanto aquelas destinadas a profissionais, indicadas para quem tocava em público, eram chamadas de estudos. É importante ressaltarmos que mesmo hoje as definições de estudo e exercício não são unívocas. Em todas as épocas há prelúdios, tocatas, scherzi que poderiam claramente enquadrar-se como estudos, bem como estudos que pouco têm de virtuosismo técnico, podendo se passar por prelúdios, tocatas, fantasias ou qualquer outro gênero. Conforme já dito, o exercício normalmente consiste numa passagem ou figura curta a ser repetida ad libitum , quer seja: (1) inalterada, (2) com variações rítmicas, melódicas e harmônicas, (3) em diferentes graus da escala e/ou (4) em várias tonalidades. Essa distinção com relação ao estudo pode ser claramente ilustrada através dos Studien nach Capricen von Paganini op. 3 (1832) de Robert Schumann (1810-1854), que são precedidos por curtos exercícios ( Übungen) baseados nas dificuldades técnicas dos estudos em si. Na figura 1 abaixo, vemos uma escala cromática em terças, que o autor recomenda como exercício preparatório para o Estudo N. 4 (FIG. 2), obra esta que traz terças consecutivas como importante problema técnico. No entanto, o prefaciador da edição de 1882 desses estudos ressalta:
(^6) “An instrumental piece, usually of some difficulty and most often for a stringed keyboard instrument, designed primarly to exploit and perfect a chosen facet of performing technique, but the better for having some musical interest”. 7 O termo “aparato pianístico” é usado no meio acadêmico para referir-se a todas as estruturas anatômicas empregadas ao tocar piano, quais sejam: músculos, ossos, tendões e articulações das costas, ombros, braços, antebraços, cotovelos, punhos, mãos e dedos. Não podemos nos esquecer, é claro, conforme nos sugere Richerme (1997, p. 205), do uso da parte inferior do corpo (pés e pernas) como elementos a serem considerados como parte do aparato pianístico, geralmente omitidos pela literatura.
Os exemplos [exercícios] que cremos ser necessário adicionar são apenas um convite à imitação. O editor aconselha que mesmo os executantes mais avançados só toquem raramente os exercícios dos Métodos de Piano. Melhor será que eles próprios os inventem e os utilizem nos prelúdios [caprichos], os quais, dessa forma, se tornarão ainda mais variados e vivos (SCHUMANN, Prefácio, 1882).^8
FIGURA 1 – Exercício recomendado para o Estudo Op. 3 N. 4 de Robert Schumann.
FIGURA 2 – Estudo Op. 3 N. 4 de Robert Schumann.
Os exercícios de técnica, como vimos, focam-se diretamente naquele aspecto específico em que o aluno está deficiente ou deseja aprimorar-se tecnicamente, conforme a figura 3, onde se observam as seguintes dificuldades: execução de arpejos, escalas e polirritmia.
FIGURA 3 – Exercício 1a dos 51 Exercícios de Johannes Brahms (1833-1897).
(^8) “Les exemples que nous avons cru devoir ajouter ne sont que pour inviter à l'imitation. L'editeur conseille même aux exécutants avancés de ne jouer que rarement les exercices dans les Méthodes de Piano. Ils féront mieux d'en inventer eux-mêmes pour s'en servir dans les préludes qui n'en deviendront que plus variés et plus vifs”.