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Costura e Criatividade: A Importância do Trabalho de Mulher, Notas de aula de Psicologia

Este documento discute pesquisas acadêmicas sobre a costura e sua relação com a criatividade, especialmente no contexto de terapias manuais. Ele aborda a história das mulheres na cidade, as motivações da mulher artesã e o papel simbólico da costura na vida. O texto também explora a invisibilidade do trabalho da mulher artesana e sua relação com o corpo.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Jacirema68
Jacirema68 🇧🇷

4.5

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PATRÍCIA ELIZABETH WIDMER
COSTA NETO
A trama em atitude simbólica:
um olhar da psicologia analítica de Jung sobre
mãos que costuram, bordam e tecem
São Paulo
2018
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

PATRÍCIA ELIZABETH WIDMER

COSTA NETO

A trama em atitude simbólica:

um olhar da psicologia analítica de Jung sobre

mãos que costuram, bordam e tecem

São Paulo

PATRÍCIA ELIZABETH WIDMER

COSTA NETO

A trama em atitude simbólica:

um olhar da psicologia analítica de Jung sobre

mãos que costuram, bordam e tecem

Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Psicologia da Aprendizagem e Desenvolvimento. Área de Concentração: Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Laura Villares de Freitas.

São Paulo

NETO, P. E. W. C. A trama em atitude simbólica : um olhar da psicologia analítica de Jung sobre mãos que costuram, bordam e tecem. Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Psicologia da Aprendizagem e Desenvolvimento.

Aprovado em:

Banca Examinadora

Prof. Dr. ___________________________

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Instituição: _________________________

Assinatura: _________________________

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Assinatura: _________________________

Instituição: _________________________

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Instituição: _________________________

Assinatura: _________________________

Instituição: _________________________

Assinatura: _________________________

DEDICATÓRIA

Para minha avó Vanda Hartung Widmer ( in memorian ), que me cobriu com os retalhos de seu amor, costurados à mão numa colcha de veludo colorido, e aqueceu o inverno da minha infância.

Para meu bisavô Paulo Otto Widmer, que, não querendo ser alfaiate, começou toda esta história.

E para suas filhas, minhas queridas tias-avós Hildegard, Vera, Wilma (in memorian) , Elfrida, Sônia, Wanda (in memorian) , Geni, Dora Ofélia, Olga e Norma, que são como aquelas tias de contos de fadas.

Porque o nome de um homem não é algo assim como casaco sobreposto que se possa puxar e repuxar, mas uma roupa bem ajustada, aderida como uma pele, que não se pode raspar e maltratar sem que se fira o próprio homem. Johann Wolfgang von Goethe (1749 -1832)

Sei que Deus mora em mim

Como sua melhor casa. Sou sua paisagem, Sua retorta alquímica E para sua alegria Seus dois olhos. Mas esta letra é minha.

Adélia Prado

RESUMO

NETO, P. E. W. C. A trama em atitude simbólica: um olhar da psicologia analítica de Jung sobre mãos que costuram, bordam e tecem. Tese apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Psicologia da Aprendizagem e Desenvolvimento.

No presente trabalho buscamos tecer um panorama, como uma grande colcha de retalhos, apontando possíveis sentidos para a costura, o bordado e a tecelagem, a partir do pano de fundo da psicologia analítica de Carl G. Jung. São comentadas pesquisas acadêmicas sobre tais atividades em diferentes épocas e contextos, alguns mitos e contos, materiais relativos a grupos de mulheres, fatos com caráter sociopolítico e dados de uma página virtual com o tema da costura. Buscamos destacar as diferentes possibilidades de atitude simbólica presentes nessas atividades, sobretudo considerando uma sociedade excessivamente patriarcal, que emudece e desvaloriza o trabalho manual, as mulheres e o princípio do feminino. Identificamos uma relação, pelo fio norteador estabelecido pelo símbolo e a função transcendente, entre tecido e texto, e nos interrogamos sobre peculiaridades da vida contemporânea, tão marcada por abstrações e virtualidades. Refletimos sobre os aspectos criativos das experiências com a costura em diferentes contextos e do que podemos considerar a sua reinvenção nos dias de hoje, incluindo simbolicamente uma dimensão regida por Eros sem que se perca a possibilidade de reflexão também sobre a realidade sem fio do homem virtual.

Palavras-chave: Costura. Psicologia Analítica. Atitude Simbólica. Psicologia Junguiana. Feminino.

LISTA DE FIGURAS

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1. APRESENTAÇÃO

Existe um quê de encantamento na experiência de costurar e bordar. Este texto se inicia com a recordação das primeiras experiências vividas em torno das linhas, tecidos e agulhas de costura quando eu ainda era menina e de todo o percurso que se foi alinhavando a partir dali, conduzindo-me na tessitura do encontro com a psicologia e a vida acadêmica. Cada ponto, cada nó e os fios da urdidura e da trama foram se entrelaçando na feitura desse tecido que ora se transforma em texto. Encontrei ao longo do percurso referências do entrelaçamento entre “texto” e “têxteis”, as quais apontam para narrativas do feminino. Busquei me impregnar das alegorias, símbolos e analogias relativas ao tema que foram se apropriando do meu discurso. Palavras como fio, costura, tecer, tecido, bordado e linha foram se incorporando ao meu vocabulário, sem que isso fosse um processo muito consciente ou racional. Elas aparecem na minha escrita, e não procurei evitá-las nem tampouco dar-lhes especial consideração.

Muitas são as histórias sobre as atividades têxteis, algumas mitológicas, outras contemporâneas, de cunho notadamente arquetípico. Outros exemplos, muitas outras histórias, poderiam ser contadas e, à medida que vou escrevendo, ainda surgem novas, que vão se somando às primeiras. Sempre que comento sobre o tema deste trabalho com outras mulheres, chegam-me mais e mais contribuições sobre o costurar, o bordar e o tecer. São histórias, lembranças de contos, de avós, tias e mães costureiras. Todas as mulheres parecem ter algo a dizer a respeito. Talvez isso tenha algo a dizer sobre todas nós.

Qual é o preço que pagamos por nossa inscrição em uma cultura que sacrifica a intuição e a criatividade, fazendo-nos abdicar de nossa conexão com a natureza cíclica da vida, esta que obedece a um tempo tão particular? Um tempo que é Cronos, em sua dimensão cronológica e quantitativa, associado ao trabalho das moiras, as tecelãs do destino, mas que também é Kairós, aquele tempo indeterminado do encantamento, no qual algo de especial acontece; o “tempo entre costuras”, o tempo da espera, que nos fascina e também nos incomoda, pois no momento atual, que encontra no capitalismo sua forma máxima de expressão, time is money (ou “tempo é dinheiro”). Durante a leitura dos textos de apoio, uma frase de Almeida (2003) permaneceu comigo, inspirando indagações, acordando-me no meio da noite: “O que tecem as filhas de Penélope”? (p. 2).

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Impulsionada por tais questões, visito produções acadêmicas que discutem diferentes aspectos relacionados ao costurar em áreas diversas do conhecimento, tais como ciências sociais, moda e design , história econômica, semiótica e enfermagem, para em seguida analisar as referências ao tema encontradas na psicologia junguiana. Teço algumas considerações sobre as aproximações entre o costurar, o bordar e o tecer, percorrendo a simbologia do fio, do tear e da agulha desde o seu surgimento e em diferentes culturas, a fim de buscar nos mitos e contos populares as bases arquetípicas dessas atividades. Falo também dos diferentes usos que a costura foi recebendo, especialmente pelas mãos das mulheres, e que foi extrapolando seu significado utilitário para representar uma narrativa, uma forma de contar o que não poderia ser dito de outra maneira.

Procuro estabelecer as bases teóricas nas quais se apoia este trabalho, explicitando os conceitos de símbolo e função transcendente na visão da psicologia de C. G. Jung e outros autores junguianos e pós-junguianos. Exploro também o conceito de feminino não apenas para falar sobre a psicologia da mulher, mas também para me referir ao feminino como princípio arquetípico, presente na psique e na cultura.

Visito ainda as diferentes representações simbólicas da costura e do costurar a partir do arcabouço teórico escolhido, utilizando como ilustração para a discussão teórica alguns dos comentários de leitores da página Outras Costuras. A página foi criada por mim na rede social Facebook , durante o período de realização deste trabalho. Nessa página virtual, foram publicados poemas e imagens que têm como referência a costura, o bordado, a tecelagem e o feminino.

Romanyshyn (2007) compara o trabalho do pesquisador a uma jornada de individuação, utilizando para isso o mitologema de Orfeu Despedaçado. Penso que cada pesquisa ou cada pesquisador precisa descobrir o mito que embasa sua história. O meu certamente tem a ver com a costura – a costura de si, as costuras da vida, as tessituras que vamos realizando na construção desse imenso tecido coletivo ao qual pertencemos e também em nossos avessos, nos pontos escondidos, mal arrematados, aqueles que julgamos que ninguém irá ver, os pedaços remendados de nós mesmos, pois como disse Guimarães Rosa (1968): “Viver é um rasgar-se e remendar-se” (p. 76).

O presente texto é uma tentativa de dar sentido aos retalhos tecidos em torno do tema da costura. Os retalhos temáticos formam aquilo que na confecção de um quilt é chamado de “bloco”. Alguns dos retalhos encontrados puderam ser discutidos de modo mais aprofundado,

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2. O FIO DA MEADA: UMA RELAÇÃO TRANSFERENCIAL – COSTURANDO A

MINHA HISTÓRIA

Ainda bem menina, sentada no chão do quarto ao som da máquina de costura, eu recolhia os retalhos que se avolumavam, em busca dos meus tesouros. Naquela época, agulhas e linhas eram proibidas, ferramentas de trabalho em que eu não podia relar, e mesmo o uso das tesouras era restrito. Assim, era preciso encontrar o retalho perfeito, quase como um jogo de quebra-cabeças. Era necessário que cada retalho tivesse o formato e tamanho adequados para se transformarem em calças, saias, blusas, trajes comuns e de baile a vestir um universo em miniatura. Os pedaços de tecido, sobras de roupas confeccionadas para a família e alguns clientes, eram cobiçados por seu formato, cor, textura e beleza. Alguns, para serem coletados, exigiam horas de espera e observação silenciosa ou mesmo um momento de distração da costureira, sempre preocupada que alguma manga de camisa ou peça de arremate terminasse amarrada ao corpo de uma das bonecas.

As horas passavam compridas nessas tardes de fantasia, em jogos de montar e desmontar enredos e ensaiar a vida. Da avó da infância, sobraram as saudades, as memórias, a máquina de costura e o cobertor de veludo, todo feito de retalhos, que decora a casa até hoje.

Na adolescência, os tecidos estavam novamente lá, nas hoje quase extintas lojas de bairro, onde as donas de casa se serviam de seus estoques, já que era comum costurar para a família, e algumas faziam ainda uma renda extra, com a qual reforçavam o orçamento familiar. Somente no centro comercial perto de casa, havia três dessas lojas. Lá era possível encontrar desde os tecidos mais ordinários, para vestir o dia-a-dia, até os mais finos, para ocasiões de gala. Ao lado das lojas de tecido, instalavam-se as de aviamentos, parada igualmente obrigatória para as mulheres costureiras. Naquela época, eu não cobiçava vitrines, mas desejava ardentemente as revistas de moda e as prateleiras, onde repousava a matéria-prima do que poderia vir a se realizar de uma forma concreta, transformando em matéria o desejo.

Mãe e avó costureiras se esforçavam para dar vida aos modelos criados num verdadeiro e delicado exercício de imagem-ação. Eu desenhava os modelos, no entanto, o que poderia ser um talento a ser desenvolvido acabou bloqueado pelo preconceito e a luta contra os estereótipos profissionais aos quais as mulheres estavam submetidas. Era o final da década

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de 70, e as mulheres queriam mais. Já não bastava ser enfermeira, secretária, professora, costureira, dona de casa. Havia um mundo a conquistar.

Escolhida a psicologia, vieram o vestibular e os anos de estudos universitários. Também as amizades eternas, as passageiras, os namorados, o companheiro escolhido, o casamento. Tudo acontecendo tão rápido e intensamente parecia deixar para trás a menina dos retalhos.

Na época em que já atuava como psicóloga hospitalar, em uma unidade de atendimento a portadores de malformações craniofaciais, dei os primeiros passos em direção ao resgate da vida acadêmica, com a montagem do setor de estágio e pesquisa em psicologia. Começava ali a retomada de um sonho da época de formatura e nascia uma pesquisadora, pois foi a partir da perda daquele trabalho, sonhado e gestado com tanto afeto, que se transformou em oportunidade o que poderia ter sido uma crise profissional.

Passado o desapontamento inicial, decidi retomar os projetos que haviam ficado por tanto tempo guardados à espera de uma oportunidade. Inscrevi-me para a seleção, como aluna especial, na disciplina “A psicologia analítica de Jung na atualidade”, oferecida pelo programa de pós-graduação em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Daquela época de mudança de direção ou, quem sabe, retomada de percurso, guardo o seguinte sonho, que me foi muito significativo:

“Estou em uma casa muito antiga, cujas paredes estão cobertas por estantes de livros. Sinto que estou naquele lugar para estudar ou participar de um grupo de estudos. Retiro um grande livro de uma das estantes. É um livro de Jung, muito antigo. Um livro que contém mistérios... Sinto-me em dúvida se eu realmente deveria estar ali. Uma senhora baixinha, de cabelos bem brancos presos em um coque, se aproxima de mim. Ela tem um xale negro sobre os ombros, segura em meu braço e me diz: ‘Seu trabalho vai ser o melhor!’.” Nessa mesma ocasião, encontrei novamente os retalhos de tecido. Pensava em preencher o tempo e descobrir uma nova ferramenta terapêutica, enquanto me dedicava a estudar e escrever o projeto de pesquisa. A visita de uma tia muito querida, madrinha de batismo, adicionou retalhos de uma história de família da qual eu não tinha conhecimento. Contou-me sobre meu bisavô materno, suíço de Zurique, que pertencia a uma família na qual o ofício de alfaiate era transmitido de pai para filho. Não desejando esse futuro para si, ele

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narrativa? Que sentido ou sentidos produzem as mulheres que se reúnem hoje em grupos para costurar, tecer e bordar?

Todas as perguntas vão-se amontoando como os retalhos no chão do quarto de costura. Há que se aprender a conviver com a aparente desordem e ir juntando as pontas, discriminando aos poucos o que pertence ao quê. Como o movimento de vai e vem da agulha de costura ou dos pentes do tear, meus questionamentos foram tecendo perguntas, que no decorrer da pesquisa intencionei responder. Não observo outro modo de buscar essas respostas que não seja partindo de uma construção interna, diretamente implicada na pesquisa, a partir do envolvimento com meu objeto de estudo tão atual e ao mesmo tempo tão profundamente enraizado em minha história de vida.

Diz Jung (1921-2012): A individuação em geral é o processo de formação e particularização do ser individual e, em especial, é o desenvolvimento do indivíduo psicológico como ser distinto do conjunto, da psique coletiva. É, portanto, um processo de diferenciação que objetiva o desenvolvimento da personalidade individual.É uma necessidade natural. [...] (par. 853, p. 467). Deste lugar de pesquisadora-psicóloga-artesã, eu me proponho a refletir sobre o movimento de retomada do interesse pelas atividades manuais de costurar e bordar, circunscritas historicamente como relacionadas ao feminino, e sua implicação na cultura contemporânea, que prioriza o imediato, pronto e rápido, impregnando de urgência nosso cotidiano. De onde parte esse interesse, esse incômodo, qual a relevância desse assunto nos dias de hoje? As pessoas ainda têm interesse em costurar, bordar e tecer? O trabalho artesanal pode ser entendido como uma possibilidade de integração do feminino à cultura contemporânea?

Mergulho nesse universo de possibilidades e questionamentos e encontro algumas pistas para percorrer meu caminho. Seria a ponta de meu “fio de Ariadne”? Sei que essa história começa para mim, como indivíduo, na raiz ancestral da minha família costureira (incluindo nessa herança homens e mulheres), mas também, mais além, na matriz coletiva, arquetípica – está lá o tema descrito em diferentes mitos e contos de fada, assinalando seu caráter coletivo.

Recorro, então, aos mitos e contos, que podem me acompanhar ao longo dessa jornada. Penso que suas figuras podem me ajudar a compor este texto como uma colcha de retalhos e a investigar os diferentes sentidos atribuídos às atividades de costurar, bordar e

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tecer, lançando um olhar especial às facetas do feminino a elas relacionadas. Interessa-me conhecer os aspectos simbólicos e narrativos dessas atividades, para além de seu uso utilitário.

Assumo desde já uma atitude simbólica em relação ao meu objeto de pesquisa, pois há uma tentativa consciente de atribuir sentido ao ato de costurar, que atravessa a história coletiva e também a história pessoal e familiar. Mas, para além de qualquer atitude, esta também é uma busca por aquilo que é simbólico nesse ato de criação humana, por seus usos ao longo do tempo e sua reinvenção nos dias de hoje.