A TERCEIRA LÂMINA: ELA PODE TE CORTAR...
Ao encararmos uma vida produtiva, nos deparamos com vários
caminhos, escolhas, atitudes, salientadas no subsídio do trabalho e suas
vocações, aptidões, desenvolvimentos e aprendizagem que a vida nos
proporciona para o nosso crescimento, nossa sobrevivência, nossa dignidade
com a vida laboral.
Derrepente , num piscar de olhos ,ela pode se tornar aquela que fere,
que muda a rotina, que desfigura a história de luta, atingido na fonte, na
cabeça do homem aflição e mudança, foi rápido demais, sequelado na vida, no
trabalho era a minha redenção, o acidente me condicionou, agora me regresso
na solidão.
Agora me vejo num novo recomeço, no fundo do poço, na garganta do
fosso, na voz embargada de um trabalhador.
É como uma guerra em suas proporções, me vejo parado, alienado, e na
memória a saudade dos bons momentos, da produtividade, do suor
encharcado, do ponto batido, das horas extras cansadas, da integração, do
almoço coletivo, me restou a dura semente, que se prende no peito, eu
começo a me devorar, acho bem mais do que pedras na mão, na cadeira de
rodas, os anéis sem os dedos, o relógio sem pulso, eu não consigo mais
caminhar...
É como uma lâmina, que corta o futuro promissor, o olhar no fundo, a
lembrança bate, me deparo com a realidade, me vejo sem trabalho, sem a
dignidade, relembro dos riscos, não acontece comigo, a rotina os esconde, a
condição insegura cresce, o descuido acontece e me vejo em não acreditar.
No escuro da história, a soma das memórias e o reflexo da palidez, a
rotina presente são os remédios, as consultas, o rádio, jornal, a tv, a dor na
família e a invalidez.
Pendurados no tempo, pesadelos de dor, longe da selva, do ganha pão,
me coloco a disposição, fisioterapia agendada, o apoio é um salário bem
inferior.
No espelho o reflexo da dura rotina, a terceira lâmina cortando os
sonhos, a vida, e o progresso, unindo ao sofrimento e a falta de esperança, a
sombra do trabalho distante, interrompido, sobrevivo, hoje tenho um nome,
sobrenome e um número de um processo, uma cicatriz que marca o corpo, a
memória e a aposentadoria precoce aparecem num quadro de giz.
