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von Goethe, reconhecido escritor e poeta dos séculos XVIII e XIX, foi também cientista. Trabalhou em vários domínios, como o da Botânica. (A Metamorfose das ...
Tipologia: Notas de aula
Compartilhado em 07/11/2022
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Círculo cromático pintado por Goethe
Luz, mais luz! Goethe
método de trabalho e também estabelecer em sua própria obra 1 um diálogo, uma intersecção com os princípios e procedimentos goetheanos. Infelizmente, a obra científica de Goethe ainda hoje não desfruta nem do conhecimento nem da merecida consideração por apresentar-se como um caminho diferenciado de ciência. Talvez permaneça obscurecida pela imensa grandeza de sua obra literária, tão reconhecida, lida, reverenciada, citada e objeto de estudo de incontáveis obras. Talvez, devido a um preconceito secular, criado pelos cientistas da época que se sentiram ofendidos pelo modo com que Goethe renegou Newton e expôs sua Teoria das Cores. Ou, talvez, devido à imersão em que vivemos na tradição científica, nos seus pressupostos, processos e também nos seus dogmas e preconceitos, a dificuldade maior seja mesmo admitirmos que possa existir a possibilidade de uma outra visão do mundo que mereça também ser chamada de científica. Esta introdução, embora não tenha a pretensão de formular uma crítica aos métodos da ciência como um todo, nem às suas incontáveis conquistas, procurará mostrar, entender e legitimar um procedimento diferenciado de fazer ciência. Se este objetivo for alcançado estaremos cumprindo também uma exigência fundamental daquilo que entendemos por atitude científica: a capacidade de renovar a qualidade do olhar para o mundo dos fenômenos. Enfim, um outro olhar para as cores. Neste sentido a ciência de Goethe, como atividade investigadora, metódica e criativa, se apresenta como produção do mais alto nível e contribui para ampliar os limites do mundo científico. Arte, ciência e polêmica
como fruto naturalíssimo de suas preocupações estéticas e científicas, que para ele, sabemos, eram duas faces de uma mesma coisa. Este homem extraordinário que mirava a Natureza com olhos de artista e de investigador, ao mesmo tempo, com dupla libido (^1) A obra completa de Steiner abrange cerca de trezentos títulos, escritos aproximadamente entre 1890 e 1925.
passional e intelectiva, não se detinha na contemplação tópica da beleza do mundo, que ao simples poeta basta e o faz feliz, porém aspirava com ânsia determinada alcançar as profundezas do fenômeno estético e descobrir o segredo do seu encantamento, a lei interna, necessária e lógica do seu produzir, e que o torna mágico no seu aparecer. Goethe, perante a Natureza, é um Otelo contemplando entre os tecidos do seu leito sua Desdêmona adormecida. Goethe transita constantemente do mundo mágico do poeta ao mundo lógico do pensador. As ninfas conduzem este sátiro, com as evoluções da sua dança fugaz, ao solene recinto das causas primordiais. 2
dos últimos cinco séculos. Mas seus precursores foram muitas vezes homens destemidos que enfrentaram preconceitos sociais e religiosos, e muitas vezes, em confronto com o poder estabelecido, terminaram por oferecer suas vidas em sacrifício pela afirmação de suas idéias e convicções. Neste sentido, Giordano Bruno, queimado na fogueira da Inquisição no séc. XVI, é o grande exemplo de obstinação e resistência ao dogmatismo, ao abuso de poder e à intolerância. A partir do séc. XIX o quadro vigente das relações entre ciência e religião já está completamente transformado. A hegemonia do dogma religioso cedeu lugar à discussão científica e à experimentação. Nos dias de hoje a interferência da ciência no desenvolvimento social é altamente relevante. A ciência, combinada com a tecnologia, produziu grandes descobertas, criou artefatos, facilitou desempenhos no trabalho, encurtou distâncias com suas invenções, aumentou a expectativa de vida média do homem, aproximou culturas e promoveu facilidades de toda sorte para o cotidiano. De outro lado, porém, contribuiu para a criação de novas e falsas necessidades, incrementou o poder de destruição do homem, criou desequilíbrios sociais e ambientais, e pouco contribuiu para uma distribuição mais fraternal da riqueza. Iniciamos o milênio diante de perspectivas sombrias com relação ao futuro do planeta (^2) GOETHE, 1945, p.473. Fragmento do Prefácio. Não consta a autoria do texto.
talvez sua obra científica tenha sido rejeitada na época e, com o passar dos anos, até mesmo esquecida. Hoje, pelo desconhecimento de sua extensão, importância e possibilidades, é malentendida, pouco pesquisada e pouco valorizada no meio científico. E o mesmo acontece entre artistas visuais, designers e arquitetos. Todavia, a consideração com que foi tratada, desenvolvida e processada em trabalhos práticos voltados para o design e a arquitetura dentro da Bauhaus, com Itten, Paul Klee, Kandinsky e Albers, indica melhor a sua importância. No estudo dos métodos e procedimentos pedagógicos destes artistas educadores pode-se sempre identificar os ensinamentos de Goethe metamorfoseados e expressos em novas formas, como ele mesmo pretendeu que acontecesse. Goethe entendeu o ser humano como sendo engajado num processo de autoformação. Nós temos aprendido que mesmo órgãos naturais como o olho requerem imaginação para se ver. Não se pode fornecer a visão a cegos somente por meios físicos; e muito mais ainda deve caber esta lição para aqueles órgãos de cognição que nos permitem “ver” leis naturais. Identificar padrões de regularidade dentro da multiplicidade dos fenômenos requer órgãos internos adequados. Eles não são dados com o nascimento, mas desenvolvidos ao longo da vida. Também não devemos confundir estas capacidades com a facilidade analítica ou lógica, por mais valiosas que elas possam ser no que lhes concerne. Em acréscimo ao razoniar analítico, todos os cientistas fiam-se numa qualidade de ver, numa capacidade para a introvisão, que foi desenvolvida por meio da experiência pensamental. Com ela pode-se vislumbrar aquilo que outros, diante do mesmo fenômeno, não conseguem. Exatamente deste modo cientistas realizam suas observações e descobertas.^3 (^3) Zajonc, Arthur. Catching the light, New York: Oxford University Press, 1993, p.
“Goethe só está a tratar com o olho na medida em que ele vê, e não com a explicação do ver extraída daquelas percepções empreendidas com o olho morto”. (R. Steiner) O Renascimento O olho deve sua existência à luz. De órgãos animais a ela indiferentes, a luz produz um órgão que se torna seu semelhante. Assim o olho se forma na luz e para a luz, a fim de que a luz interna venha de encontro à luz externa. Goethe , in A teoria das cores Em 1786 / 88 Goethe viaja para a Itália. Seu objetivo é o contato com as obras de arte e a arquitetura existentes no local. Lá ele tem a oportunidade de tomar conhecimento e visitar incontáveis trabalhos produzidos pelas culturas grega e romana e pelo Renascimento, principalmente. Aprofunda seus estudos e reflexões sobre arquitetura, pintura e escultura, além de inúmeras outras incursões em outros campos do conhecimento, como a mineralogia por exemplo. Espírito abrangente, Goethe pesquisa o âmbito da arte e o da ciência, e deixa sobre esta experiência um magnífico
Por último eu reconheci que se tem que abordar as cores, consideradas como fenômenos físicos, da perspectiva da Natureza, antes de mais nada, se se pretende granjear algo sobre elas para os propósitos da Arte. Como todos no mundo, eu estava convencido de que todas as cores estavam contidas na luz; eu nunca ouvira nada diferente, e nunca tivera a menor razão para duvidar disto, enquanto não me suscitou interesse maior pelo assunto. Na Universidade eu tinha aprendido Física como todos os outros e tinha visto experimentos. Winckler, em Leipzig, um dos pioneiros de mérito sobre eletricidade, tratou de sua especialidade minuciosamente e agradavelmente, tanto que hoje posso lembrar-me quase completamente dos experimentos em suas respectivas circunstâncias… De outro lado, eu não consigo me lembrar de ter visto qualquer dos experimentos sobre os quais supõe-se provar a teoria newtoniana; e além disto, em cursos de Física experimental, estes são usualmente postergados para uma época ensolarada, e são exibidos fora da seqüência normal das palestras. Como eu estava sempre pensando em como aproximar-me das cores pela perspectiva da Física, eu li em um compêndio ou outro o usual capítulo e, como eu não pude derivar nada desta teoria como tal para meus propósitos, comprometi-me pelo menos a ver os fenômenos por mim mesmo.^6 Goethe Prismas de vidro (^6) Citado por SEPPER, Dennis L. in Goethe contra Newton , p. 16 com a indicação HA,14:256- 57
Isto o leva a uma série de experimentações visando entender os fenômenos cromáticos que resultam na construção do seu primeiro texto sobre as cores. Em seguida, ele empreende uma revisão dos experimentos executados por Newton,^7 acompanha-os na forma com que Newton os descreve e comenta, cada um revelando quanto da descrição e interpretação corresponde ao fenômeno físico experimentado e o esclarece corretamente. Nisso ele se depara com incoerências, detalhes relevantes ocultos e uma propensão para evidenciar aspectos que concordem com as afirmações teóricas, negligenciando outros que entravem a explicação. Isto pode ser acompanhado na segunda parte de sua Teoria das Cores, onde ele adota uma postura absolutamente radical, polêmica e demolidora. A fenomenologia goetheana O poeta então subjuga o dogma. Os procedimentos de Newton são expostos, analisados e julgados por Goethe. A teoria newtoniana até lhe parece, sob certos aspectos, uma forma de ilusionismo, e isto ele mostra e critica sem meias palavras, o que nunca mais lhe foi perdoado pela comunidade científica. Goethe continua sendo respeitado como um gênio da literatura, mas seu entendimento do que seria uma ciência foi praticamente repudiado, desprezado e não compreendido na sua essência. Contudo Goethe não estava muito interessado em opor “sua” teoria à outra pré- existente, muito mais que isto lhe interessava reconduzir a ciência das cores às novas formas de investigação, chamando a atenção dos pesquisadores para a base fenomenológica de suas teorias e reformulando os métodos e propósitos da argumentação científica.^8 Goethe desenvolve seus primeiros experimentos com prismas, descritos no seu Contribuições para a Óptica - 1791 e constrói a sua Teoria das Cores que será finalmente publicada em alemão em 1810 e em inglês em 1840. O conhecimento (^7) GOETHE, 1945 pp. 638- 734 (^8) SEPPER, Dennis L. in Goethe contra Newton , p. 16
Dirigir um novo olhar para a Teoria das Cores de Goethe pode significar uma ampliação das perspectivas de investigação científica, incrementos ao produzir artístico e ao desenvolvimento da própria psicologia da cor, diante dos impasses e desafios que o desenvolvimento científico-tecnológico nos impõe nesta época. A estrutura da Teoria das Cores - parte didática 10 Escrita nos anos seguintes a Contribuições para a Óptica , a parte didática da Teoria das Cores de Goethe constitui-se em um texto consistente onde estão expressas as suas principais afirmações sobre a natureza das cores. Contém um prefácio, uma introdução, o texto principal e uma conclusão, cujos parágrafos são todos numerados (de 1 a 920). O texto principal divide-se em seis partes distintas, a saber: Prefácio e Introdução
I. Cores fisiológicas Nesta primeira parte Goethe introduz os fenômenos de cores que se relacionam à interioridade de cada indivíduo. São as cores produzidas exclusivamente por condicionantes fisiológicos, internos no ser humano. Estas cores pertencem ao subjetivo e têm uma existência fugaz. Porém, apresentam-se para indivíduos diferentes com as mesmas disposições, as mesmas ordenações. (^10) Itens expostos e numerados conforme a seqüência do texto de Goethe.
II. Cores físicas Nesta parte, ele trata das cores atmosféricas, do céu, do arco-íris, dos fenômenos prismáticos etc. Trata das cores e dos fenômenos cromáticos que têm uma existência mais duradoura; como se apresentam, como surgem e como se organizam. Esclarece o arquefenômeno e chega à idéia do seu círculo de cores. III. Cores químicas Aqui, a ênfase é dada ao aspecto químico, ou seja, à cor como característica do material, como parte da estrutura interna, a cor que está aderida à matéria. IV. Perspectiva geral das relações internas Aqui, ele demonstra o processo de formação e interrelacionamento das cores. Seu surgimento, energia e determinação. Misturas e intensificação. Totalidade e harmonia do fenômeno cromático. Metamorfoses da cor. V. Afinidades da Teoria das Cores com outras disciplinas Goethe revela aqui suas expectativas relacionadas à contribuição que sua teoria poderia trazer para diversos campos das atividades profissionais e do conhecimento humano: Arte, Filosofia, Matemática, Tingimento de tecidos, Fisiologia e Patologia, Biologia, Física e Música. VI. Efeito sensível-moral das cores Neste capítulo, Goethe indica o caráter objetivo de cada cor e sua atuação na alma humana. Antevê questões que só seriam consideradas muito tempo depois pela
Histórica não tenham sido apresentadas na época, e o tradutor justifique a omissão em função da controvérsia e da reação do meio científico à obra de Goethe, ele se propôs a editar esta parte na íntegra, sem efetuar cortes, nem mesmo naqueles trechos sobre os quais ainda ressoam as críticas mais contundentes à teoria newtoniana. Embora o tradutor, tal como os cientistas da época, não se alinhasse 11 a Goethe no sentido da plena aceitação de sua obra (ele faz reservas aos “aspectos mais criticados” da Farbenlehre ), no sentido geral enxerga o grande valor da obra, principalmente quanto ao estudo das relações cromáticas e à concepção de harmonia entre as cores, esta de fundamental importância para os artistas e o mundo das artes. Ainda segundo Eastlake, Goethe teria uma recepção mais favorável se não tivesse insistido tanto em opor sua Farbenlehre à teoria vigente. Não há duvida de que muito da oposição que Goethe encontrou deve-se tanto ao conteúdo quanto à maneira com que apresentou seus estudos.^12 Tivesse ele se contido, simplesmente detalhado seus experimentos e mostrado suas aplicações para a harmonização cromática, deixando para que outros o conciliassem como pudessem ao sistema pré-estabelecido, ou como conseqüência disto duvidassem da verdade de algumas conclusões newtonianas, ele teria desfrutado do crédito merecido pela acuidade e utilidade de suas investigações. Como aconteceu, com a expressão intransigente de suas convicções, ele apenas se expôs ao ressentimento ou ao desdém silencioso de uma parcela do mundo científico, e por um tempo não pode obter sequer uma justa audiência para os temas mais controversos e para as suas, muito pelo contrário, comunicações altamente valiosas que estão contidas neste livro. Um exemplo de como ele alude à teoria newtoniana pode ser vista no prefácio. 13 (^11) “[...] e o tradutor pede licença para afirmar de uma vez por todas, que ao advogar os méritos negligenciados da “Doutrina das Cores”, ele está longe de fazer sua defesa nos erros que são imputados a ela.” (Eastlake citado por R. Matthaei. Goethe´s Colour Theory p.210) (^12) O texto refere-se às 1ª e 2ª partes do “Beiträge zur Optik”, texto anterior à Farbenlehre no qual estão propostos os experimentos prismáticos pelos quais Goethe iniciou suas pesquisas com as cores. (^13) EASTLAKE, Charles Lock. Goethe´s Theory of Colours , London: John Murray, 1840. Texto apresentado em fac- simile por R. Matthaei, “Goethe´s Colour Theory”, p.210.
O legado científico de Goethe Goethe desenvolveu o lado de sua obra literária, tão conhecida, comentada e reconhecida, uma extensa pesquisa científica abrangendo vários domínios, como a botânica, a zoologia, a mineralogia, a meteorologia, e principalmente, a teoria das cores. Escreveu também textos com caráter de investigação filosófica e sobre o método científico, conforme ele o entendia. A sua obra sobre as cores ( Farbenlehre ) polemizou com a teoria oficial e, desde o princípio, provocou uma cadeia de reações, explícitas ou dissimuladas, na sua época. Com o passar do tempo, foi relegada a um plano de interesse meramente histórico, documental, e no ambiente cientifico permaneceu desconsiderada até hoje. Por outro lado, no domínio da arte, pode-se dizer que esta obra vem percorrendo uma trajetória silenciosa e deixando o seu legado de influências sobre importantes artistas, sobre procedimentos pedagógicos, sobre o desenvolvimento de uma psicologia das cores e sobre o estudo da cor de modo geral. Esta trajetória passa por homens que assimilaram e, conscientemente, incorporaram o conhecimento e a prática da Farbenlehre em seus trabalhos pessoais. Passa pela Bauhaus com Itten, Kandinsky, Paul Klee e Joseph Albers. A sistemática pedagógica, as proposições teóricas e os exercícios de criatividade propostos por esses artistas e professores demonstram de forma inequívoca como eles assimilaram Goethe. Cada um a seu modo desenvolveu um método, procedimentos de trabalho e exercícios de harmonização cromática peculiares através dos quais ensinavam.
com os trabalhos de pintura subjazem intenções e propostas que são derivadas ou inspiradas pela teoria goetheana. Os reflexos, rebatimentos e desdobramentos dos conceitos trabalhados por Goethe são de importância fundamental para a formação de uma Psicologia das cores, e mesmo de uma Cromoterapia, hoje ainda incipiente, mas passível de futuro desenvolvimento.
As cores são atos e padeceres da luz. Neste sentido, podemos esperar delas alguma indicação sobre a luz... Goethe, in A Teoria das Cores Dispositivos ópticos utilizados por Goethe nos seus experimentos.
A redescoberta das cores “A luz é o ser mais simples, indivisível e homogêneo que conhecemos. Ela não pode ser composta, muito menos de luzes coloridas… Qualquer luz que se reveste de uma cor determinada é mais escura que a luz incolor. A claridade não pode ser composta a partir da escuridão.” Estas palavras Goethe escreveu na sua correspondência com Jacobi. 14 Neste momento já estava consolidada nele a convicção de que suas investigações sobre o fenômeno cromático deveriam buscar outras direções, outros paradigmas que aqueles já consolidados há mais de um século pelo ensino sistemático da teoria de Newton. Acompanhemos então, desde o início, os acontecimentos relativos a seu processo de descobertas sobre as cores. Depois de sua viagem à Itália, a convivência com obras de arte e artistas provocam em Goethe a instância pela busca do desenvolvimento de uma visão própria da cromática. Em janeiro de 1790, Goethe recebera de Hofrat Büttner, de Jena, um conjunto de equipamentos ópticos para realizar seus estudos. Em virtude da demora na devolução do mesmo, Büttner mandou um mensageiro para retirá-lo, e Goethe, na iminência de ter que entregar, resolve pelo menos dar uma olhada através de um prisma. Para sua surpresa, o que ele vê ao observar uma parede branca não é uma decomposição total da luz branca, como supunha que fosse acontecer. Um efeito bem diferente acontece, e assim ele relata a experiência: Lembro-me bem que tudo apareceu-me multicolorido, mas de um modo que não estava previsto em minha mente. Naquele momento eu estava em um aposento que fora pintado completamente de branco; eu esperava, com a mente repleta pela teoria newtoniana, quando dispus o prisma diante de meus olhos, vislumbrar a luz que chegasse a meus olhos se desdobrar em muitas luzes coloridas. (^14) Carta escrita a Jacobi em julho de 1793, citada na apresentação de A Doutrina das Cores de Goethe, traduzida por M. Gianotti.