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A Teoria da Gestalt e sua Contribuição para a Compreensão do Comportamento Humano, Manuais, Projetos, Pesquisas de Psicologia

Uma introdução à teoria da gestalt, uma das correntes teóricas mais influentes da história da psicologia. Ele aborda os principais conceitos e princípios da gestalt, como a percepção, a relação figura-fundo, o meio comportamental e a teoria de campo de kurt lewin. A gestalt se contrapõe ao behaviorismo ao considerar que o comportamento deve ser estudado de forma global, levando em conta os processos perceptivos e cognitivos do indivíduo. O texto destaca a importância da percepção na compreensão do comportamento humano e discute como a teoria da gestalt e a teoria de campo de lewin contribuíram para o entendimento da dinâmica de grupos e dos fenômenos psicossociais. O documento fornece uma visão abrangente da teoria da gestalt e sua relevância para a psicologia, sendo uma leitura essencial para estudantes e profissionais interessados em compreender a evolução do pensamento psicológico.

Tipologia: Manuais, Projetos, Pesquisas

2024

Compartilhado em 07/06/2024

iasmim23
iasmim23 🇧🇷

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CAPÍTULO 4
A Gestalt
A Psicologia da Gestalt é uma das tendências teóricas mais
coerentes e coesas da história da Psicologia. Seus articuladores
preocuparam-se em construir não uma teoria consistente, mas
também uma base metodológica forte, que garantisse a consistência
teórica.
Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais
próximo em português seria forma ou configuração, que não é utilizado,
por não corresponder exatamente ao seu real significado em Psicologia.
Como vimos no capítulo 2, no final do século passado muitos
estudiosos procuravam compreender o fenômeno psicológico em seus
aspectos naturais (principalmente no sentido da mensurabilidade). A
Psicofísica estava em voga.
Ernst Mach (1838-1916), físico, e Christian von Ehrenfels (1859-
1932), filósofo e psicólogo, desenvolviam uma psicofísica com estudos
sobre as sensações (o dado psicológico) de espaço-forma e tempo-forma
(o dado físico) e podem ser considerados como os mais diretos
antecessores da Psicologia da Gestalt.
Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt
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Baixe A Teoria da Gestalt e sua Contribuição para a Compreensão do Comportamento Humano e outras Manuais, Projetos, Pesquisas em PDF para Psicologia, somente na Docsity!

CAPÍTULO 4

A Gestalt

A Psicologia da Gestalt é uma das tendências teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia. Seus articuladores preocuparam-se em construir não só uma teoria consistente, mas também uma base metodológica forte, que garantisse a consistência teórica. Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais próximo em português seria forma ou configuração, que não é utilizado, por não corresponder exatamente ao seu real significado em Psicologia. Como já vimos no capítulo 2, no final do século passado muitos estudiosos procuravam compreender o fenômeno psicológico em seus aspectos naturais (principalmente no sentido da mensurabilidade). A Psicofísica estava em voga. Ernst Mach (1838-1916), físico, e Christian von Ehrenfels (1859- 1932), filósofo e psicólogo, desenvolviam uma psicofísica com estudos sobre as sensações (o dado psicológico) de espaço-forma e tempo-forma (o dado físico) e podem ser considerados como os mais diretos antecessores da Psicologia da Gestalt. Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt

Koffka (1886-1941), baseados nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua percepção, construíram a base de uma teoria eminentemente psicológica. Eles iniciaram seus estudos pela percepção e sensação do movimento. Os gestaltistas estavam preocupados em compreender quais os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito como uma forma diferente da que ele tem na realidade. [pg. 59] É o caso do cinema. Quem já viu uma fita cinematográfica sabe que ela é composta de fotogramas estáticos. O movimento que vemos na tela é uma ilusão de ótica causada pela pós-imagem retiniana (a imagem demora um pouco para se “apagar” em nossa retina). Como as imagens vão-se sobrepondo em nossa retina, temos a sensação de movimento. Mas o que de fato está na tela é uma fotografia estática. A PERCEPÇÃO A percepção é o ponto de partida e também um dos temas centrais dessa teoria. Os experimentos com a percepção levaram os teóricos da Gestalt ao questionamento de um princípio implícito na teoria behaviorista — que há relação de causa e efeito entre o estímulo e a resposta — porque, para os gestaltistas, entre o estímulo que o meio fornece e a resposta do indivíduo, encontra-se o processo de percepção. O que o indivíduo percebe e como percebe são dados importantes para a compreensão do comportamento humano. O confronto Gestalt/Behaviorismo pode ser resumido na posição que cada uma das teorias assume diante do objeto da Psicologia — o comportamento, pois tanto a Gestalt quanto o Behaviorismo definem a Psicologia como a ciência que estuda o comportamento. O Behaviorismo, dentro de sua preocupação cora a objetividade, estuda o comportamento através da relação estímulo-resposta,

Nós percebemos a figura 1 como um quadrado, e não como uma figura inclinada ou um perfil (figura 2), apesar de essas últimas também conterem os quatro pontos. Se forem acrescentados mais quatro pontos à figura 1, o padrão mudará, e perceberemos um círculo (figura 3). Na figura 4 é possível ver círculos brancos ou quadrados no centro das cruzes, mesmo não havendo vestígio dos seus contornos.

A BOA-FORMA

A Gestalt encontra nesses fenômenos da percepção as condições para a compreensão do comportamento humano. A maneira como percebemos um determinado estímulo irá desencadear nosso comportamento. [pg. 61] Muitas vezes, os nossos comportamentos guardam relação estreita com os estímulos físicos, e outras, eles são completamente diferentes do esperado porque “entendemos” o ambiente de uma maneira diferente da sua realidade. Quantas vezes já nos aconteceu de cumprimentarmos a Os fenômenos deste tipo encontram sua explicação naquilo que os psicólogos da Gestalt descrevei como a lei básica da percepção visual: “qualquer padrão de estímulo tende a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto as condições dadas permitem”.

distância uma pessoa conhecida e, ao chegarmos mais perto, depararmos com um atônito desconhecido. Um “erro” de percepção nos levou ao comportamento de cumprimentar o desconhecido. Ora, ocorre que, no momento em que confundimos a pessoa, estávamos “de fato” cumprimentando nosso amigo. Esta pequena confusão demonstra que a nossa percepção do estímulo (a pessoa desconhecida) naquelas condições ambientais dadas é mediatizada pela forma como interpretamos o conteúdo percebido. Se nos elementos percebidos não há equilíbrio, simetria, estabilidade e simplicidade, não alcançaremos a boa-forma. O elemento que objetivamos compreender deve ser apresentado em aspectos básicos, que permitam a sua decodificação, ou seja, a percepção da boa-forma. O exemplo da figura 5 ilustra a noção de boa-forma. Geralmente percebemos o segmento de reta a maior que o segmento de reta b, mas, na realidade, isso é uma ilusão de ótica, já que ambos são idênticos. A maneira como se distribuem os elementos que compõem as duas figuras não apresenta equilíbrio, simetria, estabilidade e simplicidade suficientes para garantir a boa-forma, isto é, para superar a ilusão de ótica. A tendência da nossa percepção em buscar a boa- forma permitirá a relação figura- fundo. Quanto mais clara estiver a forma (boa-forma), mais clara será a separação entre a figura e o fundo. Quando isso não ocorre, torna-se difícil distinguir o que é O que temos aqui? Uma taça ou dois perfis? A figura ambígua não oferece uma clara distinção figura- fundo.

CAMPO PSICOLÓGICO

O campo psicológico é entendido como um campo de força que nos leva a procurar a boa-forma. Funciona figurativamente como um campo eletromagnético criado por um ímã (a força de atração e repulsão). Esse campo de força psicológico tem uma tendência que garante a busca da melhor forma possível em situações que não estão muito estruturadas. [pg. 63] Esse processo ocorre de acordo com os seguintes princípios:

  1. Proximidade — os elementos mais próximos tendem a ser agrupados: Vemos três colunas e não três linhas na figura.
  2. Semelhança — os elementos semelhantes são agrupados: Vemos três linhas e não quatro colunas.
  3. Fechamento — ocorre uma tendência de completar os elementos faltantes da figura para garantir sua compreensão:

Vemos um triângulo e não alguns traços.

INSIGHT

A Psicologia da Gestalt, diferentemente do associacionismo (capítulo 2), vê a aprendizagem como a relação entre o todo e a parte, onde o todo tem papel fundamental na compreensão do objeto percebido, enquanto as teorias de S-R (Associacionismo, Behaviorismo) acreditam que aprendemos estabelecendo relações — dos objetos mais simples para os mais complexos. Exemplificando, é possível a uma criança de 3 anos, que não sabe ler, distinguir a logomarca de um refrigerante e nomeá-lo corretamente. Ela separou a palavra na sua totalidade, distinguindo a figura (palavra) e o fundo (figura 7). No caso, a criança não aprendeu [pg. 64] a ler a palavra juntando as letras, como nos ensinaram, mas dando significação ao todo. Nem sempre as situações vividas por nós apresentam-se de forma tão clara que permita sua percepção imediata. Essas situações dificultam o processo de aprendizagem, porque não permitem uma clara definição da figura-fundo, impedindo a relação parte/todo. Acontece, às vezes, de estarmos olhando para uma figura que não tem sentido para nós e, de repente, sem que tenhamos feito nenhum esforço especial para isso, a relação figura-fundo elucida-se. A esse fenômeno a Gestalt dá o nome de insight. O termo designa uma compreensão imediata, enquanto uma espécie de “entendimento interno”. A conhecida logomarca da Coca-Cola é destacada do fundo pela criança, que identifica a figura como se soubesse ler a palavra.

personalidade do indivíduo, a componentes emocionais ligados ao grupo e à própria situação vivida, assim como a situações passadas e que estejam ligadas ao acontecimento, na forma em que são representadas no espaço de vida atual do indivíduo. Como exemplo de campo psicológico e espaço vital, contaremos um breve encontro: Ocorre que a conversa referia-se a uma surpresa que os pais preparavam para o seu aniversário, e os dois homens eram antigos colegas de faculdade de seu pai, que aproveitavam a passagem pela cidade para fazer uma visita ao colega que há tanto tempo não viam. Nessa história, o campo psicológico é representado pelas “linhas de força” (como no campo da eletromagnética), que “atraem” a percepção e lhe dão significado. O rapaz interpretou a situação pelo seu aspecto fenomênico e não pelo que ocorria de fato. A sua interpretação ganhou consistência com a visita de duas pessoas que ele não conhecia e, nesse sentido, as linhas de força estavam fazendo um corte no tempo. Isso foi possível porque o rapaz havia memorizado a situação anterior e a ela associado a seguinte. A partir da experiência anterior, a nova ganhou significado. O espaço vital esteve representado pela situação mais imediata, que determinou o comportamento. Foi o caso do rapaz quando surpreendeu os pais conversando e procurou fingir que nada havia escutado ou a surpresa ao encontrar aqueles homens na sua casa. O entendimento desse espaço vital depende diretamente do campo psicológico.

Como Lewin considerava que o comportamento deve ser visto em sua totalidade, não demorou muito para chegar ao conceito de grupo. Praticamente todos os momentos de nossas vidas se dão no interior de grupos. Segundo Lewin, a característica essencialmente definidora do grupo é a interdependência de seus membros. [pg. 66] Isto significa que o grupo, para ele, não é a soma das características de seus membros, mas algo novo, resultante dos processos que ali ocorrem. Assim, a mudança de um membro no grupo pode alterar completamente a dinâmica deste. Lewin deu muita ênfase ao pequeno grupo, por considerar que a Psicologia ainda não possui instrumental suficiente para o estudo de grandes massas. Transportando a noção de campo psicológico para a Psicologia social, Lewin criou o conceito de campo social, formado pelo grupo e seu ambiente. Outra característica do grupo é o clima social, onde uma liderança autocrática, democrática ou laissez-faire irá determinar o desempenho do grupo (veja capítulo 15). Através de um minucioso trabalho experimental, Lewin pesquisou a dinâmica grupal e foi, sem dúvida alguma, um dos psicólogos que mais contribuições trouxeram para a área da Psicologia, contribuições que estão presentes até hoje, embasando as teorias e as técnicas de trabalho com os grupos.

CHAVES DA VAGUIDÃO

Era um bar da moda naquele tempo em Copacabana e eu tomava meu uísque em companhia de uma amiga. O garçom que nos servia, meu velho conhecido, a horas tantas se aproximou: — Não leve a mal eu sair agora, que está na minha hora, mas o meu colega ali continuará atendendo o senhor. Ele se afastou, e eu voltei ao meu estado de vaguidão habitual. Alguns minutos mais tarde, vejo diante de mim alguém que me cumprimentava cerimoniosamente, com um movimento de cabeça:

  1. Como é denominado o conjunto de estímulos determinantes do comportamento?
  2. Explique, através de um exemplo, o meio geográfico e o meio comportamental.
  3. O que é campo psicológico?
  4. Quais princípios regem o campo psicológico na busca da boa-forma?
  5. O que é insight? Dê um exemplo.
  6. Baseado na teoria de Lewin, explique os conceitos de espaço vital e de campo psicológico.
  7. Segundo Lewin, qual a característica definidora do grupo?
  8. Discutam a importância da percepção na compreensão do comportamento humano que a teoria da Gestalt postula.
  9. A partir do texto complementar, discutam a interpretação da situação pelo seu aspecto fenomênico, determinando suas linhas de força e seu espaço vital.
  10. Três ou quatro alunos devem ser escolhidos pela classe para dar uma volta na escola por um mesmo trajeto. Eles não podem se comunicar durante a caminhada. Ao retornarem para a classe, cada um deverá relatar o que percebeu durante o passeio. Importante: os relatos não podem ser ouvidos pelos alunos que ainda não depuseram. Terminada a apresentação, discutam as diferenças presentes nos relatos e suas possíveis explicações.
  11. A partir da leitura de um livro policial de suspense (por exemplo, o de Agatha Christie), relatem as diferentes hipóteses sobre quem é o assassino. [pg. 68]

Para o aluno

Sobre a teoria da Gestalt, os textos mais acessíveis são encontrados em manuais de história da Psicologia. Os mais indicados são os livros A definição da Psicologia, de Fred S. Keller (São Paulo, Herder, 1972), e O pensamento psicológico, de Anatol Rosenfeld (São Paulo, Perspectiva, 1984).

Para o professor

Para uma leitura mais avançada, sugerimos um clássico da literatura dessa corrente, escrito por um de seus fundadores, Wolfgang Köhler: Psicologia da Gestalt (Belo Horizonte, Itatiaia, 1968). Há ainda um livro denso, recomendável para quem pretenda uma verdadeira viagem pela Gestalt, também escrito por um de seus fundadores, Kurt Koffka: Princípios de Psicologia da Gestalt (São Paulo, Cultrix/USP, 1975). Como a Gestalt trabalha muito com a questão da forma, ela acaba por influenciar os teóricos das artes visuais. Um bom exemplo é o livro de Rudolf Arnheim, Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora (São Paulo, Pioneira/EDUSP, 1980). Temos também a Psicologia de Kurt Lewin, que também só é encontrada em textos mais avançados. Indicamos os livros de Luiz A. Garcia-Roza, Psicologia estrutural em Kurt Lewin (Petrópolis, Vozes, 1972), o de Kurt Lewin, Princípios de Psicologia topológica (São Paulo, Cultrix/USP, 1973), e, ainda do mesmo autor, Problemas de dinâmica de grupo (São Paulo, Cultrix, 1978). Vida de solteiro. Direção Cameron Crowe (EUA, 1992) – O filme trata de relações pessoais, conflitos, encontros e confusões, gerados pela significação que cada pessoa atribui aos fatos vividos. O professor poderá aproveitar exatamente esse aspecto para trabalhar as noções de espaço vital, realidade fenomênica e campo psicológico.