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Este documento discute a expressão 'a qualidade de o homem sem qualidades' de robert musil e sua relação com a temática da falta de qualidades na modernidade vienense. O texto explora o significado da falta de qualidades no contexto da obra-prima de musil e sua importância filosófica, psicológica e socio-cultural. Além disso, o documento examina as ideias de mach, freud e meister eckhart que influenciaram a concepção de musil sobre a falta de qualidades.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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(^128) ALCEU - v.4 - n.8 - p. 128 a 140 - jan./jun. 2004
título deste trabalho, “A qualidade de O homem sem qualidades de Robert Musil”, alude a uma ambigüidade que apenas se encontra dessa forma na tradução para o português, pois o termo qualidade designa, primeiro, ser de boa qualidade, e segundo, significa simplesmente propriedade sem conotação valorativa. Por isso, usaremos também o termo propriedades no lugar de qualidades , escolhido para o título da tradução brasileira. Diante do prestígio de Robert Musil como um dos escritores mais importantes da primeira metade do século XX, com- parável ao de Proust e de Joyce no que diz respeito à sua inteligência e ao seu alcance (Kaiser/Wilkins, apud Roseberry, 1974: 99), e diante do brilhantismo estético de O homem sem qualidades , obra-prima de Musil, discorreremos apenas sobre o segundo significado da expressão “sem qualidades”. A falta de qualidades, Eigenschaften , do homem sem qualidades não se refere, portanto, à falta de boa qualidade. Eigenschaft , em alemão, a tradução de proprietas , em latim, foi introduzido na língua alemã pelo místico Meister (“Mestre”) Eckhart. A proprietas é uma predicação individual no sentido de uma característica que tanto pode ser atribuída a uma coisa quanto pode emanar de sua constituição como um todo. Fazemos a diferença entre
O homem sem qualidades é um fragmento gigantesco, de modo que se pode falar de uma falta de qualidades formais. O primeiro volume do romance saiu em 1931; tudo indica que Musil, depois de sua volta de Berlim, onde havia conhecido seu primeiro editor Ernst Rowohlt, trabalhou, desde 1921, como escritor livre na sua obra-prima, exercendo, concomitantemente, as atividades de crítico de teatro e ensaísta. Dificuldades financeiras motivaram a fundação de uma Sociedade Musil, possibilitando-lhe uma estadia em Berlim (1931 a 1933) e a conclusão da primeira parte do segundo volume. A dissolução da Sociedade-Musil pelos nazistas fez com que o autor voltasse a Viena e que se fundasse a Sociedade Musil Vienense. Afirma- se que a continuação do volume II, enviada à editora em 1938, tenha sido confiscada pelo governo alemão; de qualquer maneira, ela acabou na lista dos “escritos nocivos e indesejáveis”. O início dessa parte confiscada tinha como subtítulo “Rumo ao Império Milenar. Os criminosos”, sem que houvesse um segundo sentido político. Musil, nascido em 1880, faleceu no dia 15 de abril de 1942 no exílio suíço durante o trabalho no seu opus magnum.
Segundo Rentsch, a categoria da falta de qualidade, constitutiva não apenas para o título, mas também para o romance como um todo, abrange basicamente os dois aspectos dessa mudança de épocas na modernidade, a saber “... a presentificação literária da decadência da ordem na passagem para a modernidade, assim como a presentificação crítica e irônica das tentativas sociais e privadas de recuperar uma nova segurança no mundo e de restituir uma nova ordem” (1990: 50). A questão da possibilidade de um homem sem qualidades e, com isso, a questão da possibilidade da falta de qualidade é respondida por Rentsch (1990: 50ss.) em três níveis, de acordo com seus pressupostos filosóficos:
Musil traduz o monismo psico-físico de Mach na representação de um sistema anônimo de domínio social que registra as relações fixas entre sujeito e objeto como marcas funcionais. Esse sistema desconecta as qualidades tanto dos sujei- tos quanto de seus objetos e as insere, enquanto elementos funcionais, numa camada intermediária da qual ambos dispõem” (Laermann, 1970: 6).
Um homem sem qualidades consiste em qualidades sem homem, de modo “que o pressuposto sistemático da falta de qualidades é a perda de substância na forma da perda do Eu” (Rentsch, 1990: 54), uma “virtualização da personalidade” (Horst), que afeta também o autor. Numa anotação de diário de 1921, Musil desen- volve uma dialética entre dois Eus virtuais; o Eu não denota “... a pessoa particular do autor, nem o Eu fictício de um romance: não importa para mim a conexão dos pensamentos e dos sentimentos manifestos numa única pessoa, portanto também não na minha pessoa, mas apenas sua conexão mútua” ( apud Raddatz, 1986: 69). A falta de qualidades nos termos da crítica social se expressa no título “Seinesgleichen geschieht” [algo como: “Coisa similar acontecendo”], marcado por fenômenos de alienação social do dia-a-dia do mundo moderno, como ainda será exposto. A falta de qualidades no sentido sexual-mítico encontra-se no “outro estado”, livre de qualquer direcionamento intencional e representado como “posicionamento ou atmosfera sem objeto ” (Rentsch, 1990: 66). Thomas Rentsch remonta essa “união sem objeto” e “concepção de amor sem objeto” à recepção de Ludwig Klages por Musil, recepção esta que, como as muitas outras projeções da época, celebra a “au- sência do objeto” como sinal de autenticidade (“a glorificação extática da perda do objeto”, Laermann, 1970: 150) e que se alimenta, em sua tradição mística, da recep- ção de Meister Eckhart por Musil (cf. Rentsch, 1990: 68ss.) – como já foi dito, foi o Meister Eckhart que criou o termo Eigenschaft como tradução de proprietas.
Apesar de ter sido intitulado como escritor psicológico, como psicólogo analisador e dissecador (Cremerius, 1979: 714), dando continuação à auto-denomi- nação feita com 19 anos como “Monsieur le vivisecteur”, o próprio Musil negou ser um psicólogo ou um escritor psicológico (fato este que foi enquadrado, de acordo com os padrões conhecidos da Psicanálise, como recalque de sua formação como psicanalista; cf. Cremerius, 1979). Vale notar, contudo, que Musil era especializado em psicologia strictu senso. Após ter se formado em Engenharia na cidade de Brünn em 1901, ele matriculou-se, no outono de 1903, em Psicologia e Filosofia na uni- versidade de Berlim, para se familiarizar com as obras de Dilthey, Simmel, Cassirer e Klages. No entanto, o pensamento psico-antropológico de Musil não era conse- qüência de seu curso de Psicologia, mas seu pressuposto, como observa Cremerius (1979: 741), uma vez que ele mesmo criticou no seu primeiro romance, o Törless (terminado em 1905), no qual ele tratava de um assunto psicológico, sem fazer jus à psicologia mais básica. Tendo feito, em 1908, o doutorado na área de Filosofia, com as sub-áreas Física e Matemática, defendendo uma tese sobre o monismo positivista de Ernst Mach e tendo como orientador o psicólogo experimental Carl Stumpf, um discípulo de Brentano, Musil, na idade de 30 anos, resolve abandonar a carreira
pátria (“A gente tem uma segunda pátria, onde tudo que se faz é inocente” O homem sem qualidades , versão alemã, p.119). Por isso, é tarefa da justiça traduzir essa realida- de criminal de Moosbrugger para a realidade social (Berger, 1970: 221).
Uma resposta à questão até que ponto a formação psicológica influi na pessoa do escritor, implica tanto uma decisão sobre os graus de liberdade de um escritor com relação ao cientista, como também sobre a relação entre Literatura e Psicolo- gia, ou seja, Psicologia literária e Psicologia científica. Trata-se de uma distinção feita pelo próprio Musil, sendo que a delimitação dos dois lados o ocupou até o fim da sua vida. É na teoria do romance de Musil que a diferença entre a psicologia científica e a produção literária é tematizada (cf. a monografia de Peter Nusser sobre o assunto apud Roseberry, 1974: 79ss.). Destacando o papel particular da “pessoa” do autor, essa teoria evidencia sua diferença com relação à ciência. Segundo ela, o autor é um ser racional numa esfera “não-racióide” que se distingue do seu par na esfera “racióide” pelo fato de encontrar a realidade do mundo em si mesmo, sendo que, para os outros, essa realidade fica predominantemente fora do seu ser (Roseberry, 1974: 80). A esfera não-racióide é uma região de significados da literatura com um tipo próprio de conhecimento que difere daquele da vida cotidiana. Esse tipo de conhecimento pode se permitir de renunciar a uma concatenação das séries de ex- periência num só mundo, em oposição ao homem comum que “tem” esse mundo como seu vis-à-vis. Para o tipo de conhecimento do autor, pensar e vivenciar não são conceitos opostos, pensamentos e experiências não são incompatíveis na literatura. Para Musil, o desprezo pelo pensamento ou leva ao erro naturalista, quando a literatura repro- duz simplesmente a realidade existente, ou ao erro expressionista de querer escapar da compreensão intelectual da realidade através de uma erupção da “alma”. Essa é a essência racional do autor que trabalha numa esfera não-racióide (na região de sig- nificados da literatura; a psicologia faz parte do campo racióide). Em seus diários, Musil discorre permanentemente sobre a questão sobre qual o lugar da Gedankenarbeit , do trabalho intelectual: “O que importa para mim é a energia passional do pensamento. O trabalho logo se torna um tédio quando não consigo elaborar um pensamento peculiar; isso vale quase para todo parágrafo” ( apud Raddatz, 1986: 70). Trata-se de transformar a razão em literatura, sendo que o trabalho intelectual e o equilibrismo exigem um máximo de exatidão: “Este livro possui uma paixão que, no âmbito da literatura contemporânea, está bastante fora do lugar: a paixão pela correção, pela exatidão”. O pendor pela clareza e pela “exatidão” é uma qualidade do estilo de Musil que Mulligan (1990) destaca como característica da produção artística e teórica du- rante a monarquia austro-húngara, remontando-a à influência de Brentano: “Tanto
para Brentano quanto para Robert Musil, por exemplo, e também para filósofos austríacos posteriores como Ludwig Wittgenstein, a tematização expressa da exati- dão e do seu oposto, a verborragia, pertencem aos assuntos teóricos mais importan- tes” (Mulligan, 1990: 209). Tudo indica que a insistência de Brentano na “exatidão” surtiu um grande efeito (cf. Mulligan, 1990: 212), produzindo uma descrição exata e uma análise contínua de problemas específicos sem acréscimos especulativos e exercendo uma nítida influência na formação do estilo de Musil. Essa descrição exata e “dissecadora” se torna clara através do seu método de trabalho, que fazia amplo uso de fotos colecionadas por Musil, de modo que seu trabalho dependia não apenas das influências literárias, mas também, em alto grau, de imagens (Fulda, 1989; Corino, 1988), de onde se pode deduzir a “força de imagem” da literatura musiliana (W. Rasch; Corino descobriu a foto que Musil tomou como base para a descrição de uma tenista: trata-se de Suzanne Lenglen que participava de um torneio em Viena; ou a foto de um acidente de trânsito, descrito no primeiro capítulo de O homem sem qualidades e documentado na Illustrierte Kronen Zeitung ). O pensamento do autor, no entanto, opera no mundo que encontra em si mesmo, que se distingue fundamentalmente de qualquer procedimento científico, que exclui a subjetividade do cientista, ou seja, a supera metodologicamente. A com- preensão da psique acontece através da exposição de motivações humanas e através de sua análise de motivo para motivo e de significado para significado, sendo que as transições são tão sutis que se tornam quase imperceptíveis. “O autor [...], no en- tendimento de Musil, destrói o nexo causal no qual se baseia a Psicologia” (Nusser apud Roseberry, 1974: 80), de onde resulta a antipatia de Musil contra o “narrar unidimensional” (“Feliz aquele que pode dizer ‘quando’, ‘antes de’ e ‘depois de’!”, p. 650) e sua função narrativa de conferir ao mundo uma ordem lógica, ou seja, de enquadrar os acontecimentos numa seqüência que, normalmente, nos ameaçam na forma de multiplicidades desordenadas da vida. A própria dimensão do tempo, isto é, seu fluxo contínuo, também é atingido por essa destruição. O narrar ordenado é antropocêntrico; mas, com a fragmentação do Eu, foi dissolvido, também, o ponto de referência dessa narrativa enquanto sistema fixo de coordenadas. Desaparece a aparência da causalidade entre os acontecimentos, que é substituída por um “espec- tro moral”. Aqui também, o espírito do autor é mais aberto com relação à variedade das possibilidades (“Se há um senso de realidade, também deve haver um senso de possibilidade” – esse é o título do capítulo 4, p. 16), diferenciando-se, nesse ponto, das ciências orientadas pelos “fatos”. Essas idéias se mostram particularmente relevantes, quando a teoria do ro- mance de Musil converge com o conceito de O homem sem qualidades , como expõe Nusser. A idéia musiliana do romance é de ser uma representação de toda a realida- de que o escritor é capaz de compreender epistemologicamente, de modo que o romance é a incorporação do conhecimento do autor – na retrospectiva do posfácio de O homem sem qualidades : “Isso não é psicologia, porém descrição de mundo” (1952:
cara’ de Ulrich, sua privação de ‘qualidades’ é deliberada e essencial” (1970: 230). O homem sem qualidades é um homem de possibilidades, caracterizado por dois tra- ços: abertura com relação a todos os atos possíveis da experiência e da interpretação de mundo, assim como uma reflexividade persistente e marcadamente racional deste mundo e consigo mesmo. Com isso, Musil desenha uma imagem do homem mo- derno que apresenta uma congruência impressionante com conceitos não-literários (Berger aponta para o other-directed character em David Riesman, a subjectivization em Arnold Gehlen e a permanent reflectiveness em Helmut Schelsky; 1970: 230). É a falta de qualidades do homem sem qualidades que oferece essa “abertura excessiva e reflexividade excessiva” do “homem de possibilidades”. Berger chega a considerar a tentativa dessa conceitualização como intenção principal de Musil:
O homem moderno, enquanto “homem sem qualidades”, está aberto para um número indeterminado de transformações da realidade e de auto-trans- formações. Em outras palavras: o homem moderno tende para a “alternação” entre mundos discrepantes da realidade (Berger, 1970: 231).
Um homem sem qualidades é um homem infinitamente possível, sempre ou- tro, aberto a qualquer evolução em potencial (Raddatz, 1986). A abertura em relação a outras possibilidades (“Outro homem – esse poderia ser o título da minha obra completa”) é regida pela lei da solidão que reina também na forma mais íntima da união (“O êxtase da satisfação é apenas ilusão...”). O homem moderno, aberto, devido à falta de qualidades, para inúmeras transformações da realidade ou auto-transforma- ções, tem a opção entre acessos alternantes a realidades discrepantes, indissoluvelmente acompanhada de abertura e de reflexividade. A provocação de uma realidade “alterna- tiva” antecipa o que nós conhecemos como fragmentação das sociedades modernas, ou seja, a existência de definições contrárias e não compartilhadas da realidade. Segue disso uma aporia da comunicação, decorrente da congruência insuficiente dos pa- drões básicos de interpretação e sistemas de relevância. As razões por esse estado de coisas abrem o acesso para uma análise histórica e sociológica, motivo pelo qual o projeto literário de Musil oferece uma abordagem nesse sentido. Cremerius também relaciona a “falta de qualidades” com a época, isto é, como característica do personagem prototípico da modernidade, remontando-a, enquan- to sublimação no sentido psicanalítico, à constituição psíquica do autor e ao fato de este trabalhar seus problemas:
Da análise infinita da sua neurose privada nasce a figura prototípica do ho- mem sem qualidades. Musil transforma a sua miséria particular num caso exemplar. A partir daí, tudo que constitui seu dilema, ganha sentido: o recalque, a negação, a auto-ilusão, o medo de ser marginal, de não saber o suficiente, de
dar informações incompletas, sua tentativa desesperada e fracassada de pro- duzir uma descrição convincente e fechada do mundo a partir das idéias psi- cológicas, filosóficas e políticas da época e de duvidar constantemente dessa descrição para acabar substituindo-a. Nós reconhecemos nesse “caso”’ os pa- radoxos sem saída da época, os problemas de um mundo em crise e nós mes- mos no seu espelho. Isso faz com que O homem sem qualidades seja um roman- ce psicanalítico por excelência [...], o romance do século (1979: 768).
Se a modernidade vienense, como foi exposto por Wunsberg, tem seus fun- damentos ideológicos na recepção de Freud e Mach (1990: 105), Musil, sem dúvi- da, pode ser considerado como um dos seus protagonistas de destaque. Por um lado, é a dissolução da unidade do sujeito em complexos sensitivos e funcionalmen- te dependentes, postulado por Mach, que resultou na falta de qualidades em Musil (Bachmeier, 1990: XIX), e, por outro lado, o questionamento radical do sujeito em O homem sem qualidades corresponde, também, à “perda do Eu”, descrita pela psica- nálise (Krapp, 1990: 203). O que opera por baixo da superfície das qualidades são, para Freud, as pulsões e, para Mach, os elementos e as funções. Além disso, a falta de qualidades em Musil se alimenta, filosoficamente, das seguintes fontes:
além disso:
NUSSER, Peter. Musils Romantheorie. Göttingen 1963 (Diss.), den Haag 1967 (livro). NYIRI, J. C. Musil und Wittgenstein: ihr Bild vom Menschen. In: Conceptus XI, 1977, pp. 306-314. RADDATZ, Fritz J. Monsieur le Vivisecteur. In: Die Zeit , Nr. 43. 17.10.1986, pp. 69-70. RENTSCH, Thomas. Wie ist ein Mann ohne Eigenschaften überhaupt möglich? Philosophische Bemerkungen zu Musil. In: Bachmeier (Org.), 1990, pp. 49-76. ROSEBERRY, Robert L. Robert Musil. Ein Forschungsbericht. Frankfurt am Main, 1974. WUNBERG, Gotthart. Deutscher Naturalismus und Österreichische Moderne. Thesen zur Wiener Literatur um 1900. In: Bachmaier (Org.), 1990, pp. 105-129. ZEIDLER, Lothar. Hermann Broch: Verlust des Zentralwerts. Historische Krise und ihre Bewältigung. In: Bachmaier (Org.), 1990, pp. 77-104.
A observação que a modernidade vienense formulou perguntas e respostas até hoje válidas para a compreensão da nossa realidade contemporânea também procede para a obra-prima do escritor austríaco Robert Musil, O homem sem qualidades , tratado neste artigo. Esse homem sem qualidades é considerado como protótipo para o mundo moderno, marcado pela erosão do singular, a “perda da individualidade” ou questionamento radical do sujeito. A alienação do indivíduo, o que já não existe mais em termos substanciais, também vale para a sociedade de massas como um todo. Esta visão da fragmentação das sociedades modernas, racionalizadas e funcionalizadas, implica a existência de definições contrárias e não compartilhadas da realidade; segue disso uma aporia da comunicação, decorrente da congruência insuficiente dos padrões básicos de interpretação e sistemas de relevância.
Homem e modernidade, comunicação e literatura, O homem sem qualidades de Robert Musil.
The acknowledgment that the Viennese modernity elaborated questions and answers which are still pertinent to the understanding of our contemporary reality is also applicable to the master piece The Man without Qualities , written by the Austrian author Robert Musil and analysed in this article. This Man without Qualities is seen as a prototype to the modern world which is marked by the erosion of the unique, the “loss of individuality” or the radical questioning of the subject. The alienation of the individual which no longer exists as an unfragmented substance is also true to the mass society as a whole. This fragmented view of rationalised, functionalised modern societies implies the existence of definitions of reality which are unabridgable and unshared; from this stems a communication impass which is a consequence of the lack of congruence of the basic standards of interpretations and relevance systems.
Man and modernity, communication and literature, The Man without Qualities, by Robert Musil_._