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A História da Psicologia: Desenvolvimento e Controvérsias, Exercícios de Psicologia

Este texto discute a longa e complexa história da psicologia, desde a sua fundação em leipzig por wilhelm wundt até as controvérsias sobre seu método e objeto. O documento aborda as dificuldades enfrentadas pela psicologia na sua consolidação como ciência autônoma, as críticas da filosofia e da neurofisiologia, e as contribuições da psicologia animal. Além disso, o texto discute a importância da filosofia para a psicologia e a necessidade de manter um alto nível de competência profissional.

Tipologia: Exercícios

2022

Compartilhado em 07/11/2022

VictorCosta
VictorCosta 🇧🇷

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A
Psicologia
e
o
psic
o
Noventa
e
três
anos
eram
passados
desde
o
histórico
1879,
quan
do,
em
Leipzig,
Wilhelm
Wundt
fundava
o
primeiro
Laboratório
de
Psicologia
Experimental,
definindo
desta
forma
o
roteiro
específico
de
uma
nova
ciência,
que,
com
método
e
objeto
próprios,
assumia
foros
de
independência
entre
as
ciências
de
experiência.
A
gestação
longa
e
penosa
por
que
passou
a
Psicologia
vincula
da
à
Filosofia,
desde
os
momentos
primeiros
do
pensamento
hu
mano,
cedeu
lugar
ao
grande
estusiasmo
das
primeiras
pesquisas
do
seu
conteúdo
e
à
sua
primeira
sistematização
que,
elaborada
por
Wundt
e
continuada
pelos
seus
discípulos,
parecia
delimitar
os
ho
rizontes
do
seu
interesse
e
explicitar
as
dimensões
teleológicas
da
sua
atividade.
É
com
o
vigor
das
incipientes
experiências,
enriquecidas
pela
multissecular
tradição
filosófica
e
pela
progressiva
indagação
fisiológica,
que
penetra
a
Psicologia
nos
terrenos
do
ensino
oficial.
Como,
no
entanto,
a
Ciência
abstém-se
de
indagações
que
não
se
fundamentem
e
configurem
em
fatos,
cedo
emergiu
a
constatão
da
insuficiência
dos
dados
em
acervo,
ao
lado
da
fragilidade
de
muitos
elementos
tidos
como
definitivos.
As
controvérsias
geradas
pela
diversidade
de
posições
culturais,
que
permeavam
o
hábito
mental
de
quanto
se
acercavam
do
objeto
da
Psicologia,
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A Psicologia e o psic o

Noventa e três anos eram passados desde o histórico 1879, quan do, em Leipzig, Wilhelm Wundt fundava o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental, definindo desta forma o roteiro específico de uma nova ciência, que, com método e objeto próprios, assumia foros de independência entre as ciências de experiência. A gestação longa e penosa por que passou a Psicologia vincula da à Filosofia, desde os momentos primeiros do pensamento hu mano, cedeu lugar ao grande estusiasmo das primeiras pesquisas do seu conteúdo e à sua primeira sistematização que, elaborada por Wundt e continuada pelos seus discípulos, parecia delimitar os ho rizontes do seu interesse e explicitar as dimensões teleológicas da sua atividade. É com o vigor das incipientes experiências, enriquecidas pela multissecular tradição filosófica e pela progressiva indagação fisiológica, que penetra a Psicologia nos terrenos do ensino oficial. Como, no entanto, a Ciência abstém-se de indagações que não se fundamentem e configurem em fatos, cedo emergiu a constatação da insuficiência dos dados em acervo, ao lado da fragilidade de muitos elementos tidos como definitivos. As controvérsias geradas pela diversidade de posições culturais, que permeavam o hábito mental de quanto se acercavam do objeto da Psicologia, desencadea-

ram uma luta sem quartéis sobre o método e o objeto da jovem ciên cia, levando os devassadores dos seus limiares a desconfiarem dela como sistematização única e completa. Os saudosistas da especula ção aumentaram ainda a litania dos pessimistas quanto à sua con tinuidade e persistência como ciência autónoma e com direitos a lugar no concerto das ciências, ora reclamando seu retorno ao seio de origem, ora profetizando o reencontro da filha pródiga com a mãe insubstituível, após as frustações dos passos experimentais in devidos e mal ensaiados. A desilusão parecia qualificar a evolução apenas iniciada, des- coroçoando os observadores dos trabalhos dos “psicólogos de bron ze" e desanimando as tentativas de unificação que, esperada dia a dia, se fazia menos possível ante o avolumar-se pluralístico de gru pos antagónicos alimentados por belicosa e persistente crítica. Franz Brentano faz reservas à concepção wundtiana sobre a ex perimentação. Na Academia das Ciências de Berlim, o filósofo Wi- lhelm Dilthey, em 1894, recrimina os psicólogos pelo fato de aban donarem o estudo da natureza dos fenômenos psíquicos para perfi lharem os esquemas das ciências físicas. A Psicologia, diz o filósofo idealista alemão, pertence às ciências do espírito ( Geisteswissens - chaften) e não pode ser inserida entre as ciências da natureza (Na- turwissenschaften). Seu pensamento se evidencia, quando afirmou que nós “explicamos" a natureza, mas “compreendemos ” o espírito. No mesmo ano, Joseph Breuer e Sigmund Freud publicavam o seu estudo sobre o mecanismo dos sintomas histéricos. As duas posições são um marco de insatisfação ante o caminho ensaiado pela Psicologia. A Psicologia, porém, emigra para a Inglaterra e Estados Uni dos, com a significativa bagagem científica dos alunos de Wundt. A corrente alemã continua fiel aos princípios do seu fundador, estu dando os processos psicológicos em si, enquanto, pari passu, se afir mam a tendência ao estudo dos problemas concretos e a busca de simplificação da estrutura da nova ciência. A neurofisiologia começa a se impor e a apresentar conquistas de relevo que pareceram, não poucas vezes, anularem os esforços de sobrevivência da Psicologia, em cujo terreno já se digladiavam, às claras, estudiosos de psicologia animal e comparada, psicólogos experimentais e psicometristas e escolas várias estimuladas pelos ângulos diversos de estudo do comportamento humano. Limitada à sua formulação primitiva e dividida pelas múltiplas interpretações que as escolas em luta formulavam, atacada pela Filosofia, que a pretendia de volta, e pela Fisiologia, que desacredi tava de muitos dos seus postulados, a Psicologia poderia parecer a

um observador apressado mais umaciência^ sincrética^ e^ inútil,^ fada-

À medida, porém, que a Psicologia se consolida dentro dos marcos da sua especificidade, aceitando as limitações que lhe são impostas pelos seus métodos e os imperativos solicitados pelos dados de ordem superior, próprios da experiência humana, entre as ciências de análi se e as de síntese, abre-se definida a moldura em que se vai, a pouco e pouco, inserindo definitiva a ciência do comportamento. De fato, não se faz Psicologia sem Fisiologia e sem Filosofia, vez que os fatos psíquicos estão vinculados inseparavelmente com os biológi cos, sem, no entanto, com eles se confundirem; como ainda são os fatos psíquicos o pressuposto e o resultado de um pensamento, que, por ser peculiaridade humana, é portador do caráter humano irre dutível, por isto mesmo, ao especificamente biológico. Ademais, nem mesmo a Fisiologia fugiu à influência da Filosofia. Tomemos, à guisa de exemplo, os conceitos de sensação e associação. São de origem filosófica. Ao passarem para o campo fisiológico, nada ou quase nada mudaram da sua contextura. Qual a razão da ampla res sonância obtida pela descoberta de Johannes Mueller, a energia es pecífica dos nervos? É que Emmanuel Kant a havia precedido me diante a distinção, no conhecimento, entre os fenômenos ( fainome - na ), as aparências, única realidade do conhecimento, e a realidade em si, o número ( noúmcna ), que nos é inteiramente inacessível. A dis tinção estabelecida por Flechsig entre áreas de projeção e de associ- ção no cérebro resulta também da distinção kantiana entre sensibi lidade produzida pelas sensações e o raciocínio elaborador das sensações. Finalmente, quem é o fautor, em termos evidentemente primitivos e elementares, da concepção mecanicista, alicerce da pes quisa fisiológica posterior, senão René Descartes? Queremos, no entanto, deixar bem claro que não estamos a asserir, nem poderíamos fazê-lo, que a Psicologia se confunda ou dependa da Filosofia, ou que uma seja absolutamente necessária para a existência da outra. Ao contrário, defendemos, em termos absolutos, a independência de ambas as ciências, suas peculiaridades de objeto e método, que as formalizam. Apenas insistimos em mos trar a influência que a Filosofia exerceu e continuará a exercer sobre a Psicologia, vez que esta é resultado da elaboração do ho mem que pensa, sente e age de acordo com o que pensa, e vive atufado num processo cultural que não se configuraria nem se dis tinguiria sem uma “Weltanschauung ” que o consolidasse. Quem, entre os grandes psicólogos, não professou sua filosofia? Quem, entre os criadores de escola psicológica, não sedimentou seus princípios interpretativos da realidade humana experimentada se não numa concepção do homem, o que, em última análise, se cons titui no elemento diferenciador das demais concepções? As diversas escolas psicológicas se diversificam não tanto pelos fatos apresentados, quanto pelas interpretações que lhes atribuem.

E isto, a nosso aviso, não é experimentação, é Filosofia. É de G. E. Boring a assertiva: “a especulação sempre foi livre na ciência. A sanção para a especulação é a sua fertilidade, e os grandes ciencia- dos são aqueles que especularam com sabedoria e sucesso ”. Por sua vez, T. W. Moore insiste enfaticamente: “A tendência a evitar as consequências filosóficas não pode satisfazer a um estudioso de Psi cologia ”. O conhecido Pierre Janet afirmava, pouco antes de morrer, em sua autobiografia (Cf. Études philos&phiqaes — 1946): “Eu não teria podido recolher nem classificar as numerosas observações sobre o homem normal e doente, não estivesse orientado pelas idéias filo sóficas sempre indispensáveis. Como dizia William James: “Não se vê senão aquilo para que se está preparado”. Uma das tendências acentuadas, no cadinho da Psicologia, em que as suas diversas escolas se encontram sem jamais entrarem em estado de fusão, é a de reduzir a ciência do comportamento a fenô meno fisiológico. E o ponto momentoso situa-se na distinção, por parte de fisiólogos e psicólogos, de Fato Objetivo e Fato Subjetivo. O fisiólogo procura descobrir o determinismo físico-químico dos fenômenos vitais. As dificuldades inarredáveis que tal pesquisa cria, o fisiólogo não tergiversa em resolvê-las simplesmente mediante a aplicação dos seus esquemas mecanicistas. A solução, acredita, está perfeitamente encontrada, como a peça que faltaria para o bom funcionamento de uma máquina. O psicólogo, ao contrário, distingue o problema das partes e o problema da forma, a explicação físico-química de um fato e o significado que este tem com relação a outros; o problema de um fato analisado objetivamente e o fato vivido subjetivamente. Por isso, é o psicólogo acusado de abandonar a realidade objetiva em estudo e se perder em árida especulação filosófica. Não será fácil para o psicólogo convencer o fisiólogo que a percepção não se reduz aos dados sensoriais trazidos pelo organismo; que a memória, para além de registro de acontecimentos, é uma elaboração dos acontecimentos; e a mesma linguagem, esvaziada pelos esquemas fisiológicos, jamais teria sua função explicada. A Psicologia desaparecerá, acredita o fisiólogo, à medida que as pesquisas fisiológicas trouxeram aprofundamento aos processos biológicos, e momento chegará em que os chamados processos psico lógicos não mais se distinguirão daqueles. Mas, como tal momento ainda não é chegado, o mesmo fisiólogo continua a falar e a se referir a fatos psíquicos. Emprega, então, uma terminologia que, parecendo precisa, manifesta-se inadequadamente para a finalidade com que é usada, visto que exige sempre uma explicação daquilo que é ainda objeto de discussão. É, de fato, muito mais simples in terpretar a realidade, partindo do princípio de ser ela regida por

extremou-se ao ponto de interpretar o fato consciente em função da estrutura inconsciente. As várias escolas psicológicas partem de critérios, métodos e finalidade diversas, quando tratam do mesmo elemento de análise. Cada uma manteve-se coerente a seus pontos-de-vista. Psicofísica e Psicofisiologia procuram mais os conteúdos da vida psíquica que o seu caráter unitário. As Escolas Gestálticas procuram a vinculação dos diversos fatos psíquicos, opondo-se ao atomismo. O Funciona lismo, o Rehaviorismo, a Psicologia Compreensiva, procuram mais o aspecto concreto e prático em sua pesquisa. A Psicanálise procura a importância dos dinamismos inconscientes, deixando de parte os conscientes. As Caracterologias procuram o indivíduo, na variedade e na unicidade dos seus caracteres. São todas, como já o dissemos, criaturas do seu ambiente filo sófico, resultantes da cultura em que nasceram. De aqui brotam as grandes dificuldades com que se defronta a Psicologia na aborda gem do seu objeto, dificuldades que se somam às limitações criadas pelos métodos de pesquisa, das condições ambientais e mentalidade e formação filosófica dos pesquisadores. Diante da complexidade dos problemas que a Psicologia, em sua evolução, põe para o psicólogo; diante da vastidão dos campos novos a cada passo abraçados pela Psicologia; e diante, ainda, das supremas responsabilidades que o estudo do homem e do seu com portamento impõe ao psicólogo — conclui-se que a manutenção de um alto nível de competência profissional é um dos indispensáveis requisitos desse especialista. Conhecedor da Biologia e da Fisiologia, ao psicólogo não pode faltar uma sólida cultura filosófica que lhe assegure uma funda mentação crítica suficiente à neutralização dos ingénuos entusias mos, das generalizações fáceis, bem como lhe proporcione a segu rança de ação qualificadamente objetiva. Sua cultura geral não desdenha qualquer campo que direta ou indiretamente ilumine seu objeto de estudo. Em suas grandes linhas, as ciências em geral de vem ser do seu conhecimento, problemas de Medicina e Psiquiatria inclusive. A lida com os dados colhidos e a sua avaliação postulam certo domínio da Matemática e Estatística. A compreensão do ho mem em geral e do indivíduo em particular é imperativo indiscutí vel na formação do psicólogo, o que não deve ser confundido com o vazio e tautológico sentimentalismo. Nesta tarefa de relação inter pessoal intencional, jamais deve faltar ao psicólogo uma profunda correção moral, sem o que se tornaria deletéria sua ação e calcina dos os seus esforços. Seus interesses não podem adiar a categórica necessidade do amanho da especialização sólida em adimplemento à sua missão de compreender, orientar, aconselhar, ajustar, libertar, educar e ama-

durecer o homem. Para tanto, a lição dos grandes mestres deverá ser diuturnamente lembrada, para, como eles, saber plantar, colher, joeirar, enceleirar e distribuir. Nem se pense que se fará Psicologia sem a amplitude cultural que o campo específico impõe, sem a atualização que as novas fronteiras rasgadas pelas pesquisas exigem, sem as delimitações de área que a especialidade escolhida estabelece, iluminadas por uma consciência clara de que improvisação não faz cultura, não sedi menta ciência. Não serão obliterados pelo psicólogo os percalços da sua pro fissão: — a aridez dos problemas científicos, para cujo tirocínio só os ânimos temperados pela paixão do verdadeiro estão preparados; — a rotina da atividade de consultório e laboratório e escola e empresa, a solicitar a dedicação afetiva capaz de ver o novo em cada momento iterativo do mesmo trabalho; — o descaso de quantos, deconhecedores da importância desta ciência aclaradora dos processos dinâmicos do homem e do seu pluriforme comportamento, tentam esvaziá-la pelo menosprezo da função do estudioso de Psicologia; — a coragem intelectual para agir muito além do sentimento, quando estiver em jogo o resultado da medição ou a avaliação ou a terapia ou a expressão da honestidade profissional; — o desgaste emocional e intelectual na solução dos proble mas do homem de hoje, mergulhado, como se encontra, numa ro busta rede de pressões afetivo-emocionais que o tornam cada vez mais frágil ante as dicotomias existenciais e históricas; — a maturidade pessoal, característica insubstituível para a profissão de psicólogo; — a capitosa inclinação mercenária que a meia-ciência cria. Estudioso dos problemas do homem, é também o psicólogo um homem. Estudioso, os deve conhecer a fundo; homem, vive-os na diferencial intensidade da sua especificidade humana, sendo obri gado, no entanto, sobre o que vive, valorar e orientar. Bateando no rio da vida, sobe a corrente à procura das fontes e da etiologia dos problemas presentes, aqui e agora, num compor tamento concreto, espacial e temporal, cuja interpretação está depender não só da sua ciência, quanto da sua experiência. Faz-se a esta altura perigoso o seu trabalho, pela espontânea

projeção que o hábito mental do cientifismo puro triz explicativa da conduta, esbatendo a espontaneidade, a genui nidade e a responsabilidade de cada reação comportamental. O substrato de cada conduta, a estrutura de cada comporta- embasamento de cada reação é o humano no homem. A

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