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Guias e Dicas
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Treinamento de Cavalo para Atrelagem: Produção e Manejo, Notas de estudo de Turismo

Um estudo sobre a produção e manejo de cavalos utilizados na atrelagem de competição. O objetivo principal é conhecer melhor a produção de cavalos destinados à atrelagem, definir as características morfológicas e funcionais desejadas, e compreender o processo de seleção e maneio associado a produção de animais competitivos. O papel simbólico e social elevado dos cavalos é discutido, desde as primeiras espadas para lutar a cavalo até as corridas de carros de cavalos na roma. Além disso, a ligação da atrelagem ao turismo é abordada, permitindo a utilização de veículos tracionados por cavalos para visitar centros históricos e desfrutar da natureza. O treinamento do cavalo para atrelagem é descrito como sendo semelhante ao treinamento para equitação, com ênfase no trabalho de rédeas longas. O documento também discute as necessidades nutricionais específicas de cavalos para atrelagem de competição.

O que você vai aprender

  • Quais são as características morfológicas e funcionais desejadas em cavalos para atrelagem de competição?
  • Como os criadores selecionam cavalos para atrelagem?
  • Qual é a importância da equitação clássica no treinamento de cavalos para atrelagem?
  • Quais são as necessidades nutricionais específicas de cavalos para atrelagem de competição?
  • Quantas horas por dia e quantos dias por semana um cavalo de competição de atrelagem deve treinar?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

PorDoSol
PorDoSol 🇧🇷

4.5

(272)

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A produção de cavalos para a disciplina de atrelagem
Raquel Rodrigues Nisa
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Zootécnica Produção Animal
Orientadores: Dra. Maria João Fradinho
Prof. Dr. Rui Caldeira
Júri:
Presidente - Doutor José Pedro da Costa Cardoso Lemos, Professor associado da
Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa.
Vogais: - Doutora Teresa de Jesus da Silva Matos, Professora auxiliar no Instituto
Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa;
- Doutora Maria João de Sousa Ferreira Martelo Fradinho, Técnica Superior da
Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, orientadora.
2017
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Baixe Treinamento de Cavalo para Atrelagem: Produção e Manejo e outras Notas de estudo em PDF para Turismo, somente na Docsity!

A produção de cavalos para a disciplina de atrelagem

Raquel Rodrigues Nisa

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Zootécnica – Produção Animal

Orientadores: Dra. Maria João Fradinho

Prof. Dr. Rui Caldeira

Júri:

Presidente - Doutor José Pedro da Costa Cardoso Lemos, Professor associado da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Lisboa.

Vogais: - Doutora Teresa de Jesus da Silva Matos, Professora auxiliar no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa;

  • Doutora Maria João de Sousa Ferreira Martelo Fradinho, Técnica Superior da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, orientadora.

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AGRADECIMENTOS

Para a realização desta dissertação contei com o apoio de várias pessoas, às quais não posso deixar de agradecer:

À Doutora Maria João Fradinho por me ter orientado, por toda a sua motivação e paciência, pela sua disponibilidade, por todos os conhecimentos que me transmitiu, e por partilhar comigo este interesse pela atrelagem;

Ao Professor Dr. Rui Caldeira por ter coorientado este trabalho, pelo tempo dispensado;

A todos os criadores que amavelmente me receberam e aceitaram fornecer todas as informações necessárias, e aos atletas que aceitaram integrar este estudo e que gentilmente se disponibilizaram para responder aos inquéritos;

Ao Arquiteto João Pedro Magalhães Silva pela sua disponibilidade, e incansável auxílio principalmente na revisão bibliográfica deste projeto;

À minha família por me apoiar sempre, em especial ao meu pai por me ter apoiado sempre e ter integrado a minha equipa nas provas de atrelagem, à minha mãe pelo incansável apoio e aos meus avós por fazerem com que o meu desejo de competir se tornasse uma realidade;

Aos meus amigos por todo o apoio;

E um agradecimento muito especial ao meu grande companheiro de quatro patas que fez crescer em mim este interesse e paixão pela atrelagem.

A todos muito obrigado!

iii

ABSTRACT

From a war vehicle to a means of transport or even as an agriculture working animal, the draft horse has played a key role in antiquity.

Currently, with the growing concern about environmental sustainability, the number of draft horses used in agriculture and forestry work is increasing. Driving horses are also present in tourism, rehabilitation of people with disabilities, leisure activities and in the sport, in the discipline of driving.

The main objective of this study was to characterize the production system of driving horses, mainly in what concerns, driving competitions. For this purpose, surveys were carried out at five stud farms which produce this type of horse and ten athletes of this discipline.

The main breeds produced in the five stud farms, matched with the preferences of the athletes, being predominantly the Puro-Sangue Lusitano and the K.W.P.N..

The main characteristics that are foreseen for a sport driving horse are a good morphology (withers height greater than 1, 62 m, medium and strong back, strong and long croup and strong limbs), associated to good paces (amplitude, correction, impulsion, rhythm and cadence) and a good temperament. Concerning the selection strategies, a strong relationship with the preferences for dressage horses was verified.

In general, it has been found that the production system of the driving horse is similar to other sport horse production systems, although with some particularities in what concerns the type of training since the early stages of breaking in.

This work may serve as a basis for further studies that would improve equine production systems regarding driving or other sport disciplines, in order to help breeders to produce better quality horses.

Key Words: Driving, Animal traction, sport horses

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Índice LISTA DE TABELAS ............................................................................................................. vi

LISTA DE FIGURAS ............................................................................................................ vii

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1. VALORES NUTRICIONAIS DIÁRIOS RECOMENDADOS PARA EQUINOS EM TRABALHO, COM 500 KG E 600 KG DE PESO VIVO.. ............................................................................................................. 41

TABELA 2. ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DAS INFRAESTRUTURAS E DA ÁREA DAS COUDELARIAS VISITADAS. ......................................................................................................................................... 45

TABELA 3. PRINCIPAIS CRITÉRIOS DE ESCOLHA DAS ÉGUAS E DOS GARANHÕES. .................................... 49

TABELA 4. CARACTERIZAÇÃO DO VALOR NUTRITIVO DOS ALIMENTOS COMPOSTOS UTILIZADOS NA ALIMENTAÇÃO DAS ÉGUAS. ................................................................................................................ 51

TABELA 5. CARACTERIZAÇÃO DO VALOR NUTRITIVO DOS ALIMENTOS COMPOSTOS UTILIZADOS NA ALIMENTAÇÃO DOS POLDROS EM CRESCIMENTO. ............................................................................. 53

TABELA 6. ESQUEMA DOS PRINCIPAIS PASSOS DE APRENDIZAGEM DO POLDRO PARA ATRELAGEM, POR ORDEM CRONOLÓGICA DO PRIMEIRO PASSO (I) AO SÉTIMO PASSO (VII).. ....................................... 56

TABELA 7. CARACTERIZAÇÃO DO VALOR NUTRITIVO DOS ALIMENTOS COMPOSTOS UTILIZADOS NA ALIMENTAÇÃO DOS POLDROS EM TRABALHO. ................................................................................... 59

TABELA 8. CARACTERIZAÇÃO DO VALOR NUTRITIVO DOS ALIMENTOS COMPOSTOS UTILIZADOS NA ALIMENTAÇÃO DOS CAVALOS DE COMPETIÇÃO. ................................................................................ 62

vii

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1. RECONSTITUIÇÃO DE UMA CARRUCA ROMANA........................................................................... 5

FIGURA 2.RECONSTITUIÇÃO DE UM CISIUM ................................................................................................. 5

FIGURA 3. MALA-POSTA PUXADA POR MULAS ............................................................................................. 7

FIGURA 4. CARRO DE GUERRA EGÍPCIO ...................................................................................................... 9

FIGURA 5. EQUIPAMENTO DO CAVALO, CONDUTOR E TIPO DE CARRO UTILIZADO NO TROTE ATRELADO.. ........................................................................................................................................................... 22

FIGURA 6. EXECUÇÃO DE UMA FIGURA NA PROVA DE ENSINO. CONCURSO COMPLETO DE ATRELAGEM. ........................................................................................................................................................... 25

FIGURA 7. EXECUÇÃO DE UM OBSTÁCULO NA PROVA DE MARATONA. CAMPEONATO NACIONAL DE ATRELAGEM, COMPANHIA DAS LEZÍRIAS, 2016. .............................................................................. 27

FIGURA 8. PROVA DE CONES. CONCURSO COMPLETO DE ATRELAGEM................................................... 28

FIGURA 9. MAPA DE PORTUGAL CONTINENTAL COM OS LOCAIS DAS COUDELARIAS VISITADAS ASSINALADOS..................................................................................................................................... 45

FIGURA 10. CAVALO EM RÉDEAS LONGAS COM ARREIO DE ATRELAGEM. ................................................. 57

FIGURA 11. CAVALO EM RÉDEAS LONGAS A PUXAR O PNEU. .................................................................... 57

FIGURA 12. CAVALO EM RÉDEAS LONGAS A PUXAR O CARRINHO COM OS VARAIS................................... 58

FIGURA 13. CICLO DE TREINO .................................................................................................................... 60

I. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

O cavalo tem sido utilizado desde sempre tanto como veículo de guerra, como meio de transporte, tração para trabalhos agrícolas e florestais, e também como animal de desporto e lazer.

Os equídeos foram os principais responsáveis pela expansão demográfica principalmente devido à condição de geradores de força motriz, o que permitiu enquadrá-los num papel produtivo diferenciado, quando relacionado às demais espécies de interesse zootécnico (Mariz et al ., 2014).

Com o aparecimento dos vestígios da descoberta da roda, foram encontrados indícios dos primeiros carros de tração animal, na Mesopotâmia, durante o III milénio AC. Os carros de cavalos foram muito utilizados para transporte de pessoas e mercadorias, mas foi na guerra, na caça, no lazer e na religião que mais se destacaram. Ocupou também uma posição de destaque a nível desportivo, no tempo dos Gregos e Romanos, nas corridas realizadas nos hipódromos. Depois, na Idade Média, na Europa, sobretudo devido à deterioração das estradas romanas, a atrelagem foi confinada ao ambiente rural, e os cavalos usados para trabalhos de tração agrícola (Matos e Silva, 2014c).

Mais tarde, durante a Idade Moderna, a atrelagem renasceu como meio de transporte e a partir do seculo XVII alguns hipomóveis luxuosos serviram, preferencialmente, para indicar o estatuto social dos seus proprietários, atingindo no decorrer do século XIX o seu auge tanto em termos tecnológicos como da sua utilização (Matos e Silva, 2014a).

Depois com o aparecimento do automóvel, no princípio do seculo XX, as atrelagens caíram em desuso, e só a partir dos anos 70, com o desenvolvimento da vertente desportiva e de lazer, as atrelagens voltaram a ter expressão (Ministère de la Culture, 2016).

Atualmente, os equídeos constituem o sustento de inúmeras famílias a nível mundial, continuando a ser muito utilizados para trabalhos agrícolas e florestais (Perez et al ., 1996; Pritchard, 2010). Também são utilizados como meio de transporte, nomeadamente no turismo, atividade na qual a espécie equina lidera as preferências, sendo também utilizados os muares dada a sua resistência no trabalho e elevada produtividade, aliada ao baixo consumo de alimento, e por fim a espécie asinina, que é muito pouco utilizada para esta finalidade (Mariz et al ., 2014).

Neste trabalho é realizada uma breve revisão sobre o papel dos equídeos como meio de tração na antiguidade nas mais diversas funcionalidades, como atividades militares, trabalhos agrícolas e transporte de pessoas. É igualmente abordado o papel dos equídeos na atualidade em várias vertentes, tais como o turismo, a atrelagem adaptada e as atividades desportivas.

A atrelagem de competição em Portugal não está muito divulgada e contou com cerca de 36 atletas e 63 equinos registados a competir nível nacional, em 2016. Em contrapartida, por exemplo no Reino Unido, existem cerca de 150 atletas a competir a nível nacional e outros em número indeterminado a competir a nível regional. Em Espanha, em 2016, encontravam-se registados 80 atletas e 200 equinos para esta disciplina. Já na Holanda o número de atletas registados é 931 e na Alemanha, nte mesmo ano, competiram 3125 atletas nesta disciplina. Ainda através da base de dados da Federação podemos concluir que esta modalidade está presente em pelo menos 47 países.

Este estudo teve assim como objetivo principal conhecer melhor a produção de cavalos destinados à atrelagem de competição, definir as características morfológicas e funcionais desejadas num cavalo para este fim, a forma como os criadores selecionam esses animais e todo o maneio associado no sentido de produzir animais competitivos nesta disciplina. Assim serão focados aspetos como a história da atrelagem desportiva, os vários tipos de competição desde do concurso de tradição até ao concurso completo de atrelagem, as principais raças utilizadas, o treino e o maneio geral de um cavalo de atrelagem.

pessoas, constituindo o principal sistema de deslocação a longas distâncias (Peplow, 1998; Vasconcellos, 2008). Os veículos começaram por ser uma espécie de vagões formados por caixas de madeira pesadas, assentes no (s) eixo (s), os quais eram introduzidos e fixados em duas ou quatro rodas maciças.

Contudo não foram estes os veículos mais ilustrados para a posteridade, mas sim os carros de triunfo e guerra que já são mais perfeitos na linha estética e na qualidade técnica. Estes últimos eram robustos mas leves, e neste sentido eram quase sempre de duas rodas para conferir mais versatilidade ao veículo. Alguns rodados apareciam já com aberturas em vez de madeira maciça.

No mundo romano, dependendo do número de animais engatados eram designados de bigas se tinham dois cavalos, trigas com três cavalos e quadrigas com quatro cavalos. Durante o Império Romano foram construídas vias de acesso a todos os pontos do vasto território controlado pelas legiões romanas, permitindo assim a possibilidade de explorar mais a vertente de atrelagem para transportar mais rapidamente pessoas e mercadorias (Vasconcellos, 2008).

Para além dos carros de guerra, o povo romano tinha uma grande variedade de carruagens, consoante a sua finalidade. A carruca (Figura 1) era um carro de luxo com quatro rodas com um toldo e um trono no centro onde seguia o proprietário. A carruca dormitório fechada permitia que os passageiros dormissem em viagens mais longas.

O cisium (Figura 2) carro utilizado para maiores distâncias e rápidas, era uma pequena viatura de duas rodas, atrelada a dois ou a três cavalos, resistente com dois lugares, conduzida pelo proprietário. O pilentum , um grande carro de luxo com quatro rodas, de caixa retangular, coberta por um toldo sustentado por quatro hastes de cobre dourado, prata ou marfim era puxado por dois cavalos e destinava-se a transportar sacerdotistas e destinava-se entre outras coisas para os jogos e cerimónias religiosas, ou transportar a esposa nos grandes matrimónios.

O carpentum era uma viatura luxuosamente equipada com quatro rodas, muitas vezes com uma tenda em seda ou pele para proteger os passageiros do sol, e utilizada essencialmente pelos imperadores, sendo geralmente puxada por duas mulas. Finalmente, o triumphalis currus , o carro triunfal romano era reservado ao general vencedor para desfilar no cortejo do triunfo, possuía duas rodas e uma caixa em forma semicircular, com estrutura exterior geralmente revestida de metais preciosos, com a particularidade de serem usualmente puxados por quatro cavalos brancos (Vasconcellos, 2008).

Na Grécia não existiam grandes redes de vias de acesso como em Roma, logo não havia tantas deslocações com veículos. No entanto, para algumas situações eram usados carros mais simples de duas rodas, como para o transporte da azeitona e

Figura 1. Reconstituição de uma carruca romana (Fonte: http://historandmor.blogspot.pt, consultado em 25/10/2016).

Figura 2. Reconstituição de um cisium (Fonte: http://www.imperium-romanum.info, consultado em 25/10/2016).

Em 1520, o Rei D.Manuel I criou o primeiro serviço de correio público em Portugal selecionando pessoas para o cargo de correio-mor, mais tarde, em 1798, houve necessidade de criar um tipo de serviço mais abrangente e foi nesse ano que foi criada uma rede/serviço designado de mala-posta sob a administração da Superintendência Geral dos Correios (Leite, 2012). Este serviço destinava-se ao transporte de correspondência, passageiros e mercadorias entre Lisboa e Coimbra (Leite, 2012). Era utilizada uma viatura designada de mala-posta (Figura 3), puxada por 4 cavalos ou mulas (Vasconcellos, 2008). As viagens podiam durar vários dias com pequenas paragens designadas de mudas, em que os condutores, passageiros e cavalos comiam e dormiam em hospedarias destinadas para esse efeito (Vasconcellos, 2008; Leite, 2012).

Em 1804 devido às invasões francesas e posterior guerra civil, este serviço ficou desativado e apenas foi retomado em meados de 1852 (Leite, 2012). Após esta data este serviço foi mais desenvolvido, foram criados novos caminhos para tornar mais abrangente a rede, mas com o aparecimento dos caminhos de ferro e do comboio em 1856, a sua extinção foi inevitável (Leite, 2012).

Em cidades como Lisboa continuaram a ser usados pequenos coupés e carros abertos como hoje se usam os táxis, Existiam carruagens maiores para transporte

Figura 3. Mala-posta puxada por mulas (Fonte: http://restosdecoleccao.blogspot.pt, consultado em 26/10/2016).

público designado de omnibus público. Mais tarde surgiu o transporte coletivo com viaturas que rodavam sobre carris de ferro e cuja tração era feita por meio de parelhas de cavalos ou mulas, e que eram designados pelos Lisboetas de “americanos” (Vasconcellos, 2008).

Em França, no século XV, os cavaleiros ao serviço do rei formaram uma rede de serviços para atender às necessidades políticas, que até meados do século XVI, se concentra principalmente no Vale de Loire, onde residia a corte. Os cavaleiros que transportavam correspondência real tinham um sítio para mudar de cavalo e descansar.

No século XVIII, o cavalo era presença frequente nas ruas de Paris. Em 1880 cerca de 78 906 cavalos, mulas e burros andavam pelas ruas, com os mais variados tipos de carros desde phaeton , tramway , berline , aranhas, coupé de corte, diligências, entre outros.

No século XIX a tração hipomóvel ainda era amplamente utilizada, especialmente no noroeste de França, para transporte de materiais, sendo os animais engatados a um carro de 2 ou 4 rodas (Ministère de la Culture, 2016).

A revolução industrial britânica, iniciada na década de 60 do séc. XVIII, contou com milhares de cavalos para manter a indústria manufatureira. O sistema de canais e as inúmeras linhas férreas exigiam outros tantos equídeos a trabalhar. Em 1938, a empresa London Midland and Scottish Company tinha ainda 8500 cavalos a trabalhar, só em Londres. No século XVIII, em Londres existiam cerca de 22000 cavalos a puxarem as vagonetas e as diligências, e no fim desse século Nova Iorque contava com cerca de 150000 a 175000 cavalos só para tração, no geral (Edwards, 2002).

Com o aparecimento do automóvel e dos carros elétricos, as carruagens de cavalos, passaram gradualmente para a vertente de lazer e desporto (Vasconcellos, 2008).

1.2. Em atividades militares

Os cavalos desde sempre tiveram um papel simbólico e social muito elevado, pois em épocas antigas os homens começaram a forjar as primeiras espadas que permitiam lutar a cavalo (Ministère de la Culture, 2016). Este animal era um veículo de combate que permitia às suas formações/exércitos ações táticas de grande rapidez,

Pensa-se que a introdução do carro de guerra no Egito se deva às populações nómadas vindas do corredor sírio-palestiniano, quando invadiram e dominaram o baixo Egito. Quando os Egípcios os expulsaram, os carros de guerra puxados por dois cavalos passaram a fazer parte dos exércitos faraónicos.

Através dos espólios arqueológicos podemos estimar que os animais engatados tinham cerca de 1,30 m ao garrote, o que coincide com as noções de dimensões dos cavalos da época e com estas dimensões é natural que fossem mais vantajosos na atrelagem do que na cavalaria (Matos e Silva, 2013a).

No Império Novo, o exército egípcio já possuía uma unidade de elite de carros de guerra, designada de marianu. Dada a importância destas formações, a especialização e treino das pessoas ligadas aos carros de combate foi inevitável, e com isto foram criados cargos de prestígio ligados a estas funções, desde superintendente dos cavalos a capitão dos carros (Matos e Silva, 2013b).

O povo persa aperfeiçoou o carro egípcio a fim de o transformar numa máquina de guerra, com facas no prolongamento dos eixos das rodas e lâminas na ponta da lança (Vasconcellos, 2008).

Posteriormente os gregos melhoraram o carro de guerra egípcio e persa no sentido de aumentar a resistência e estabilidade, modificando essencialmente as rodas com ferro (Vasconcellos, 2008). Mas este carro, pelo seu elevado custo, dificuldades de manutenção do material, treino dos equinos adicionado ao mau piso do território grego fizeram com que este veículo fosse um privilégio de chefes nobres e aristocratas abastados, sendo preferencialmente utilizado para transportar os chefes até ao local de combate e não como arma de guerra (Matos e Silva, 2014b).

Por sua vez, os romanos, embora possuíssem uma grande variedade de carros, utilizavam um carro de guerra semelhante ao grego, de duas rodas, com uma lança e uma caixa, que podia ser puxado por dois cavalos (uma biga), por três cavalos (uma triga) ou por quatro cavalos (uma quadriga) (Vasconcellos, 2008).

Assim, podemos concluir que as atrelagens foram fator preponderante na guerra e formações militares da antiguidade.

1.3. Em atividades agrícolas

Para além das funções simbólicas e de guerra, o cavalo foi também usado ao longo do tempo como animal de tração para trabalho agrícola e industrial (Ministère de la Culture, 2016).

O contributo destes animais apoiado pela invenção de maquinaria cada vez mais sofisticada, foram dois fatores de grande importância na expansão de práticas agrícolas (Edwards, 2002). Estes animais eram utilizados preferencialmente para puxar a charrua ou a fresa, uma ferramenta com dentes curtos para trabalhar a superfície do solo a fim de o preparar para a semente. Puxavam também veículos destinados ao transporte a granel com báscula para descarregar, assim como outras alfaias agrícolas. Existem representações antigas que retratam a utilização de equídeos nas práticas agrícolas, não só no cultivo como também a puxar veículos carregados com mercadorias/produtos agrícolas, lenha, pedras para construção civil, forragem para outros animais, entre outros (Ministère de la Culture, 2016). De entre os veículos mais usados, o mais comum era a carroça de duas rodas pois não precisava tanto de caminhos de boa qualidade, era mais leve, mais estável e mais equilibrada, era um veículo de menor custo e mais fácil de manobrar em mudanças de direção. Apenas usavam a carreta de rodas maciças se a carga fosse muito pesada (Barbosa, 2016).

As representações sugerem ainda que os muares eram muito utilizados para trabalhos agrícolas pesados, como aliás ainda são utilizados atualmente em alguns países, pois desde sempre foram conhecidos pela sua rusticidade e resistência (Ministère de la Culture, 2016). Isto fez com que os muares fossem largamente utilizados, sobretudo em zonas com climas muito quentes e pastagens pobres (Matos e Silva, 2014f).

Antigamente o poder de tração do animal era limitado pelo tipo de arreio usado pois o animal puxava através de uma tira de couro flexível colocada entre a base do pescoço e o peito, e o peso da carga tinha de ser bem doseado para não asfixiar o cavalo pela pressão da correia na traqueia do animal. O rebaixamento gradual do ponto de tração para a região do peitoral e das espáduas, desenvolvido ao longo de anos em várias civilizações levou ao uso da coelheira, designada na época por colar de ombros rígida (Ministère de la Culture, 2016). Isto permitia que o animal transferisse a força de tração necessária para transportar a carga para os ombros, e