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A poética de Dr. Seuss: um estudo de caso sobre a tradução ..., Notas de estudo de Poética

(1959), The Lorax (1971) ou Oh, the Places you Will go! (1991). Pode-se dizer também que as representações arquitetônicas de Seuss prezam.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Pele_89
Pele_89 🇧🇷

4.2

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
ÁUREO LUSTOSA GUÉRIOS NETO
A POÉTICA DE DR. SEUSS: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A
TRADUÇÃO DE LITERATURA INFANTIL
CURITIBA
2009
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Baixe A poética de Dr. Seuss: um estudo de caso sobre a tradução ... e outras Notas de estudo em PDF para Poética, somente na Docsity!

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ÁUREO LUSTOSA GUÉRIOS NETO

A POÉTICA DE DR. SEUSS: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A

TRADUÇÃO DE LITERATURA INFANTIL

CURITIBA

ÁUREO LUSTOSA GUÉRIOS NETO

A POÉTICA DE DR. SEUSS: UM ESTUDO DE CASO SOBRE A

TRADUÇÃO DE LITERATURA INFANTIL

Monografia apresentada à disciplina de Orientação Monográfica II do Curso de Letras Português- Italiano da Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Letras com ênfase em Estudos da Tradução. Orientador: Prof. Dr. Caetano Waldrigues Galindo.

CURITIBA

AGRADECIMENTOS

Agradeço de saída a todos os professores e amigos que foram responsáveis, direta ou indiretamente, por minha formação acadêmica e humana. Não são poucas as pessoas a quem eu gostaria de agradecer, pelos mais variados motivos, mas optei aqui pela concisão. Decidi então citar nominalmente apenas aqueles que participaram ativamente na produção desta monografia, o que não significa, no entanto, que tantos outros não merecessem estar aqui. Sendo assim, agradeço àqueles que gentilmente se envolveram na concepção, maturação e produção deste trabalho: À professora Denise Weishof, pela gentileza. Ela não apenas me forneceu todas as traduções hebraicas de Seuss que chegaram ao seu alcance, como também me ajudou, fora do seu expediente, a importar livros de Israel e a compreender completamente os textos. À Luana, que revisou quase todos os textos que produzi para a universidade, que sugeriu algumas mudanças interessantes nesse texto e que tem escutado minhas elucubrações obsessivas sobre Schopenhauer, Joyce e, mais recentemente, Seuss. À Sandra e ao Caetano, por terem acreditado em mim e por terem desempenhado um papel fundamental em minha formação pessoal e acadêmica, tanto dentro quanto fora de sala. Ao Caetano agradeço pela transmissão do vírus Joy ce, pela orientação do presente trabalho e por ter me recomendado a leitura de Carroll e Seuss. À Sandra, pela enorme simpatia, por ter me recebido em sua casa mais de uma vez e pelas frutíferas leituras de Eliot, Baudelaire e cia. Ao Maurício, por sua dedicação louvável aos estudos da tradução e por tantas vezes ter sido um excelente professor-arguidor-provocador. Ao professor Luís Bueno, por ter aceitado avaliar este trabalho. À professora Silvia Pozzati, por sua simpatia e dedicação extrema, que serviram como um grande estímulo aos meus estudos de italianística. Estou plenamente convencido de que, não fosse sua participação, estudar na Itália seria ainda um sonho. Espero estar à altura de toda a confiança que ela depositou em mim. Agradeço em especial ao professor Chico, cujo sobrenome ignoro, e de quem infelizmente após os anos de ensino médio nunca mais tive notícia. Sou-lhe

imensamente grato por ter me infundido o amor eufórico pela Literatura e, com isso, ter me dado um objetivo de vida. Essa monografia, de certa forma, também é dedicada a ele. Mas acima de tudo, gostaria de agradecer à minha família: meus pais, Áureo e Zuleika, meus avós, Arlindo e Isolde, e meu irmão, Gustavo. Sem eles, nada disso teria sentido.

RESUMO

A presente monografia procura levantar algumas questões específicas sobre a tradução de literatura infantil. É considerada relevante para o trabalho unicamente a tradução de literatura infantil de natureza poética e a produção de um único autor é focalizada, Theodor Seuss Geisel, mais conhecido por seu pseudônimo: Dr. Seuss. O eixo central de toda a reflexão será o livro Green Eggs and Ham , de 1960, mas também serão analisadas outras obras.

Palavras-chave: Tradução. Literatura Infantil. Green Eggs and Ham.

RIASSUNTO

Questo lavoro ha lo scopo di ragionare su alcune questioni specifiche riguardanti la traduzione di testi di letteratura per ragazzi. Solo la forma poetica sarà considerata rilevante e si analizzerà l’opera di un solo autore, Theodor Seuss Geisel, più conosciuto per il suo pseudonimo: Dr. Seuss. Il centro di tutta la riflessione sarà il libro Green Eggs and Ham, pubblicato nel 1960, ma saranno analizzati anche altri libri/testi.

Parole chiave: Traduzione. Letteratura per ragazzi. Green Eggs and Ham.

ABSTRACT

This monograph proposes some specific questions about the translation of children’s literature. Only children’s literature in its poetic form is considered relevant to this research and only one author is approached, Theodor Seuss Geisel, better known by his pen name: Dr. Seuss. The core of this research is the book Green Eggs and Ham , published in 1960, but other books will be analyzed as well.

Keywords: Translation. Children’s Literature. Green Eggs and Ham.

SUMÁRIO

  • INTRODUÇÃO ............................................................................................................
  • CAPÍTULO I: DR. SEUSS: PANORAMA DA OBRA ................................................
  • I. Engatinhando entre a prosa e a poesia..................................................................
  • II. Aplicando, recriando e expandindo modelos.........................................................
  • III. Revolucionando: a criação dos selos ...................................................................
  • IV. Classic Seuss ......................................................................................................
  • CAPÍTULO II: GREEN EGGS AND HAM .................................................................
  • I. Green Eggs and Ham: especificidades ..................................................................
  • II. Traduzindo Green Eggs and Ham.........................................................................
  • III. Características estilísticas da obra de Seuss .....................................................
  • IV. Laranjeiras e sua Girafa.....................................................................................
  • V. E se Seuss fosse o autor do poema da girafa?... ...............................................
  • VI. Conclusão ..........................................................................................................
  • REFERÊNCIAS .......................................................................................................

Até onde pude averiguar, há em inglês apenas dois livros que abordam a obra do autor: Dr. Seuss: American Icon de Philip Nel, que aparentemente se divide entre a biografia e a análise da obra, e Of Sneetches and Whos and the Good Dr. Seuss: Essays on the Writings and Life of Theodor Geisel de Thomas Fensch, uma coletânea de ensaios que parece enfatizar majoritariamente a obra de Seuss. Ambos os livros teriam sido de grande utilidade, mas os preços proibitivos de compra e frete me desestimularam a adquiri-los. Como nenhuma das obras de Seuss ou sobre Seuss se encontra em bibliotecas, fui obrigado a adquirir todos os livros de que precisava. Comprei, então, uma biografia, cinco traduções e outras treze obras de Dr. Seuss. Nenhum desses livros pôde ser encontrado no Brasil, de forma que os livros vieram dos Estados Unidos, Bélgica, Itália e Israel, o que gerou custos adicionais. Além das dificuldades de acesso às obras de Seuss, também tive dificuldade em levantar bibliografia, em português, seja sobre literatura infantil, seja sobre tradução de literatura infantil. A pesquisa nacional sobre literatura infantil se revelou escassa, de difícil acesso e muitas vezes, infelizmente, de qualidade duvidosa. A grande maioria dos trabalhos de “literatura” infantil no âmbito nacional está embebida de didatização: tópicos como psicologia infantil, sociologia da educação, ensino de língua materna etc., são mais frequentes do que reflexões literárias propriamente ditas. De modo geral, as obras sobre literatura infantil com que tive contato dirigiam-se a pedagogos e não a estudantes de literatura. Cerca de vinte dias antes da entrega dessa monografia, encontrei três textos on-line que teriam sido de grande ajuda, mas que não puderam ser devidamente assimilados. Dois deles abordam literatura infantil: Understanding Children’s Literature e Encyclopedia of Children’s Literature. Ambos os textos são coletâneas de ensaios organizados por Peter Hunt, famoso teórico desse campo de estudos. O terceiro, Translating for Children de Riita Oittinen, por outro lado, aborda especificamente o tema da tradução de literatura infantil e, embora não cite Seuss uma vez sequer, trabalha com autores próximos como Lewis Carroll e Maurice Sendak. Assim, não pude amadurecer apropriadamente minhas reflexões no que concerne ao campo específico da literatura infantil e, de saída, peço desculpas ao leitor entendido do assunto pelas faltas e falhas teóricas que eventualmente eu possa cometer por ignorância.

Meu objetivo no presente trabalho é elaborar e refletir a propósito de algumas questões específicas de tradução de literatura infantil. Não tenho domínio pleno nem no campo dos estudos da tradução nem no campo dos estudos de literatura infantil, de modo que o texto que segue propõe algumas perguntas, mas não tem a pretensão de oferecer respostas definitivas. Consideraremos aqui unicamente a tradução de literatura infantil de natureza poética e enfocaremos um único autor, Theodor Seuss Geisel, mais conhecido por seu pseudônimo: Dr. Seuss. A reflexão sobre tradução será elaborada em torno de uma única obra do autor, Green Eggs and Ham , mas outras obras serão utilizadas, visando enriquecer a discussão. O presente trabalho se divide em dois capítulos. No primeiro, apresento um panorama geral da obra de Seuss, já que a compreensão da obra como um todo me parece fundamental para a discussão dos problemas de tradução. Para elaborar essa parte do trabalho, foquei principalmente os livros produzidos com o selo Classic Seuss , embora livros do selo Begginer Books e Bright and Early também sejam abordados.^1 Além disso, descartei qualquer tipo de análise extra-literária, por considerá-las alheias aos meus objetivos, de forma que não discuto as adaptações cinematográficas das obras do autor, não apresento a repercussão crítica e social de alguns textos e não discorro em momento algum sobre a vida de Seuss persona. Com esse primeiro capítulo, também procuro atingir dois objetivos secundários. O primeiro diz respeito à divulgação da obra de Seuss, autor que é muito pouco conhecido no Brasil. O segundo é o de facilitar o acesso de um leitor de primeira viagem aos textos do autor. Espero que alguém que decida estudar Seuss no futuro encontre em meu trabalho orientações básicas que sejam de alguma utilidade. Esses objetivos talvez tenham me desviado um pouco do foco principal e tenham acarretado um certo grau de redundância na análise, no esforço de ser abrangente. Para isso, conto apenas com a compreensão e a paciência do leitor. No segundo capítulo da monografia, proponho uma análise de Green Eggs and Ham e discuto os problemas de tradução gerados nessa obra, em sentido estrito, e na obra de Seuss, em sentido lato. Nesse capítulo, também faço a análise de algumas traduções de Green Eggs and Ham (principalmente para o italiano, o

(^1) A apresentação dos selos Begginer Books , Classic Seuss e Bright and Early , bem como a discussão sobre suas características específicas, é feita em detalhes no primeiro capítulo.

CAPÍTULO I

Dr. Seuss: panorama da obra

I belong to the demotic tradition; I believe literature belongs to all the people all the time, that it ought to be cheaply and easily available, that it ought to be fun to read as well as challenging, subversive, refreshing, comforting, and all the other qualities we claim for it. Finally, I hold that in literature we find the best expression of the human imagination, and the most useful means by which we come to grips with our ideas about ourselves and what we are.^2

A. Chambers

(^2) “Eu pertenço à tradição demótica. Eu acredito que a literatura pertence a todas as pessoas todo o tempo, que deve ser encontrada facilmente, que deve custar pouco, que deve ser divertida de ler assim como desafiadora, subversiva, animadora, reconfortante e todas as outras qualidades que reivindicamos para ela. Por fim, eu sustenho que na literatura encontramos a melhor expressão da imaginação humana e os meios mais úteis pelos quais nós compreendemos nossas ideias acerca de nós mesmos e daquilo que somos.”

I. Engatinhando entre a prosa e a poesia

Seuss começou sua carreira como autor de textos infantis em 1937^3 , quando publicou And to think that I saw it on Mulberry Street^4. O livro narra uma pequena história em versos alexandrinos rimados e apresenta gravuras coloridas em verde, vermelho, amarelo e azul. Seuss também foi o ilustrador do livro, algo que se repete em quase todas as suas obras. Apenas três dos quase cinquenta livros publicados em vida sob o pseudônimo de Dr. Seuss não foram ilustrados pelo autor. Na verdade, a produção do texto e das gravuras é quase indissociável nos trabalhos de Seuss. As gravuras se apoiam no texto e vice-versa de tal modo que, em alguns de seus livros, se subtrairmos as gravuras, o texto se torna obscuro e de compreensão difícil. And to think that I saw it on Mulberry Street teria sido rejeitado por pouco mais de vinte editores até ser finalmente publicado pela Vanguard Press, casa de editoração que poucos anos depois seria vendida para a Random House^5. Os editores se recusaram a publicar o livro por razões simples: And to think that I saw it on Mulberry Street não respeitava as convenções de época que ditavam como deveria ser uma história para crianças e, consequentemente, as vendas seriam muito baixas. A narrativa acompanha Marco, um menino que volta a pé da escola para casa. Ele se diverte alterando em sua imaginação a realidade que o cerca e pretende criar uma bela história para contar a seu pai. Assim, uma pequena carroça puxada por um pangaré se transforma em uma biga tracionada por uma zebra, para logo em seguida se tornar um trenó puxado por um elefante. As transformações continuam e no momento em que Marco chega em casa sua história já conta com girafas, uma banda de metais, um mágico, um homem com uma barba quilométrica, um chinês comendo com pauzinhos, um avião fazendo acrobacias, um fazendeiro sendo puxado em um trailer etc. A história se fecha no momento em que o pai de Marco lhe pergunta se ele viu algo de interessante no caminho e recebe um não como resposta.

(^3) Os anos de publicação são citados de acordo com a lista encontrada em Your Favorite Seuss , uma coletânia de treze obras de Seuss em um único volume publicado pela Random House, editora que publicou todos os livros do autor. 4 5 Sempre faremos as citações às obras de Seuss segundo o ano de publicação original. Silvey, não paginado.

evitada no último momento quando um menino encontra os objetos tão queridos ao monarca. As gravuras são muito similares às de The 500 hats of Bartholomew Cubbins : preto-e-branco com detalhes em vermelho, com o diferencial de que aqui se alternam vermelho claro e escuro, enquanto que no livro anterior há apenas uma tonalidade de vermelho. Ainda em 1939, Seuss publica The Seven Lady Godivas , livro que ocupa um posto particular na obra seussiana porque foi a primeira tentativa do autor de escrever para um público adulto. Isso não o impediu, no entanto, de ilustrar o livro seguindo o mesmo padrão das obras anteriores: gravuras majoritariamente em preto-e-branco coloridas com vários tons de vermelho. A narrativa também é em prosa e conta a história de sete irmãs que, após a morte do pai, causada por uma queda de cavalo, juram nunca se casar e se dispersam nuas por seu reino avisando os camponeses sobre os perigos que oferecem os cavalos. As irmãs também se atiram em uma busca pela “verdade sobre os cavalos”, uma busca que resulta em sete ditados conhecidos que envolvem esses animais. O quinto livro, Horton hatches the egg , veio à luz em 1940 e marca o nascimento de Horton, um dos maiores protagonistas da obra de Seuss. A história, em versos alexandrinos rimados, é a seguinte: Maysie, um pássaro preguiçoso, quer sair de férias e pede para Horton, o elefante, que choque seu ovo enquanto ela estiver fora. O elefante a princípio considera a ideia ridícula, mas acaba aceitando e dá sua palavra de que chocará o ovo até o retorno de Maysie. O pássaro, porém, não tem intenções de voltar e Horton choca o ovo por todo o inverno, sob o escárnio dos outros animais, e repete para si que empenhou sua palavra e, portanto, não pode quebrá-la. Ele acaba sendo capturado por três caçadores que, maravilhados em ver um elefante chocando, o vendem para um circo. Então, Horton e seu ovo saem em turnê e, por coincidência, encontram Maysie no momento exato em que o ovo começa a se quebrar. Maysie exige seu ovo de volta e acusa Horton de tê-lo roubado. Horton, triste e abatido após cinquenta e uma semanas chocando, entrega- lhe o ovo. Mas, para surpresa de todos, o nascituro se revela um pequeno elefante- pássaro que reconhece Horton como seu pai. Por fim, os donos do circo decidem premiar Horton por sua lealdade e devolvem pai e filho ao seu habitat original, onde eles voltam a viver felizes. Horton hatches the egg é um ponto de virada na obra de Seuss. É o momento em que ele deixa de lado, quase que definitivamente, a prosa em favor do verso.

Todos os seus próximos livros, com uma única exceção, serão em versos. Esse é também o momento em que Seuss abandona o versejar vacilante de And to think that I saw it on Mulberry Street e modela o metro que adotará em grande parte de suas obras. Esse metro preferencial é constituído por quatro pés trissilábicos que variam entre anfíbracos (˘ ¯ ˘) e anapestos (˘ ˘ ¯ ), e totalizam doze sílabas com quatro tônicas e que empregam rimas emparelhadas (aabb). Por exemplo:

And /he /sat /all /that /day /and /he /kept /the /egg /warm…^ ˘^ ˘^ ―^ ˘^ ˘^ ―^ ˘^ ˘^ ―^ ˘^ ˘^ ― And /he /sat /all /that /night /through /a /te /rri /ble /storm”.˘^ ˘^ ―^ ˘^ ˘^ ―^ ˘^ ˘^ ―^ ˘^ ˘^ ― Ou ˘ ― ˘ ˘ ― ˘ ˘ ― ˘ ˘ ― ˘ It /poured /and /it /light /ninged! /It /thun /dered! /It /rum /bled! ˘ ― ˘ ˘ ― ˘ ˘ ― ˘ ˘ ― ˘ “This /is /n’t /much /fun,” /the /poor /e /le /phant /grum /bled.^8 Outros dos recursos literários recorrentes em suas obras surgem aqui: o gosto pelas rimas internas, o uso do refrão, as repetições e as construções paralelísticas.^9 Foi também em Horton hatches the egg que Seuss desenvolveu umas das marcas mais características de suas ilustrações: a coloração em apenas duas cores sem variações de claro/escuro que se alternam com traços em preto-e-branco. As duas cores escolhidas mudam de livro para livro. Neste caso, são verde e vermelho. Esse tipo de coloração será predominante até Yertle the Turtle , de 1958, mas a partir daí Seuss mudará drasticamente a coloração de suas gravuras, expandindo os limites de sua paleta. Horton hatches the egg também é o primeiro livro de Seuss que apresenta uma moral clara e expressa textualmente, baseada na lógica da ‘boa ação x má ação’ que implica a lógica da ‘recompensa x punição’. Nesse livro, Horton foi fiel à palavra dada e, como recompensa por sua lealdade, conquista não apenas sua liberdade como o direito de manter seu filho consigo; Maysie, por outro lado, se comportou de modo caviloso e esquivo e, por isso, foi privada de seu ovo. Outros livros do autor

(^8) Todas as traduções que forem feitas, salvo quando especificado, serão de minha autoria. As citações do inglês, no entanto, quando não estiverem desempenhando um papel fundamental na argumentação, não serão traduzidas, uma vez que esse é o koiné acadêmico. Porém, quando fizer uso de outras línguas apresentarei o trecho original no texto acompanhado de minha tradução em nota de rodapé. 9 Todos esses recursos, bem como os problemas de tradução que eles geram, serão analisados detidamente no segundo capítulo.

resultado final é muito interessante, ainda que o texto em si não esteja entre os melhores que Seuss foi capaz de criar. Retomando seu ritmo de trabalho Seuss publica no ano seguinte, 1948, Thidwick, the big-hearted moose. Thidwik é um generoso alce que vive com sua manada e se alimenta do musgo-de-alce que se encontra em torno do Lago Winna- Bango. Certo dia, um inseto diz a Thidwick que está indo para o outro lado do Lago e pergunta, considerando que o alce também caminhava naquela direção, se ele poderia lhe dar uma carona. Thidwick responde afirmativamente e segue seu caminho com o inseto repousando calmamente em um de seus chifres. Mais à frente, uma aranha, incentivada pelo inseto, resolve aproveitar a carona também. O terceiro caroneiro é um pássaro que constrói seu ninho ali mesmo nos chifres, utilizando alguns pêlos arrancados da nuca do alce. Os animais, pouco a pouco, se tornam um verdadeiro peso para Thidwick, mas ele, por ser um bom anfitrião, não reclama e não os manda embora. Ele justifica sua atitude com seu emblema: “For a host, above all, must be nice to his guests”. Os outros alces ficam escandalizados com a situação e exigem que Thidwick se livre daquelas pestes, e, como ele se recusa a mandá-los embora, é excluído de sua manada. A situação se torna intolerável quando, sobrecarregado com o peso de pássaros, esquilos, insetos, um urso, uma raposa, uma tartaruga, um rato e uma colmeia de abelhas, Thidwick é encurralado por caçadores. Nesse momento, ele se lembra que aquele é o dia em que, todos os anos, seus chifres caem para que nasçam novamente. Assim, Thidwick consegue escapar, mas não seus parasitas. A última gravura do livro nos mostra todos os animais empalhados como troféus de caça. Pode-se dizer que, da mesma forma que McElligot’s Pool repete o padrão de And to think that I saw it on Mulberry Street , Thidwick, the big-hearted moose repete o padrão de Horton hatches the egg. Em Thiwick , Seuss emprega o mesmo esquema métrico e rímico dos dois livros que o precederam e mesmo as gravuras seguem o mesmo padrão desenvolvido em Horton hatches the egg : preto-e-branco colorido com apenas duas cores, azul-esverdeado e laranja. O interessante é que em Thidwick o autor optou por colorir as imagens com giz de cera, dando uma cara nova para todo o processo. A ideia básica que compõe o enredo das duas narrativas também é praticamente a mesma. Em ambos os textos, o protagonista é um animal bondoso, mas ingênuo, que é facilmente enganado por outros animais. Tanto Horton como

Thidwick repetem para si seus lemas que os ajudam a suportar suas tarefas e, para ambos, os problemas só se resolvem quando um elemento externo, os caçadores, os obriga a agir. Contudo, há uma diferença crucial entre os dois textos. Enquanto que em Horton hatches the egg é a lealdade do elefante que é recompensada, em Thidwick, the big-hearted moose é a má-fé dos animais-parasitas que é punida. Como resultado, a moral final apresentada em Horton me parece mais óbvia do que aquela que é apresentada em Thidwick. No primeiro livro, as crianças deveriam se espelhar no protagonista e, como ele, cumprir com a palavra dada, enquanto que, no segundo, as crianças deveriam apreender o péssimo destino que sofreram os animais-parasitas para que não ajam como eles. Bartholomew and the Oobleck foi publicado logo após Thidwick , no ano seguinte, em 1949. Esse é o último dos livros em prosa. Dos quase cinquenta livros assinados por Dr. Seuss, apenas quatro são em prosa: The 500 hats of Bartholomew Cubbins , The King’s Stilts , The Seven Lady Godivas e Bartholomew and the Oobleck. No entanto, nos dois livros protagonizados por Bartholomew, há pequenos trechos poéticos nos momentos em que os magos fazem suas magias. Eles falam, nas duas obras, em tetrâmetros trocaicos com rimas emparelhadas. A fala dos magos é particularmente divertida porque pouco ou nada do que eles dizem faz sentido, além de que o texto é enormemente floreado com rimas internas, aliterações, assonâncias e onomatopeias. Bartholomew and the Oobleck é uma continuação de The 500 hats of Bartholomew Cubbins , ou melhor, os mesmos personagens agem no mesmo espaço, mas a ação é completamente independente e não está ligada ao enredo do primeiro livro. Essa é a primeira vez que Seuss reutiliza um de seus protagonistas. Como afirmei anteriormente, os protagonistas de And to think that I saw it on Mulberry street e McElligot’s Pool são ambos criativos e atendem pelo mesmo nome, Marco. No entanto, não podemos afirmar com certeza que sejam o mesmo personagem, principalmente porque as gravuras apresentam algumas diferenças. Reutilizar seus personagens será, a partir desse livro, algo recorrente em Seuss: Horton, os Whos, o Gato com o chapéu, são todos personagens que participam de mais de uma narrativa. O enredo é bastante simples. Certo dia, o rei do reino de Didd, para quem trabalha Bartholomew, decide que quatro estações por ano não são o suficiente. Ele