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A Pesquisa Participante: Suas Contribuições no Âmbito das ..., Notas de estudo de Processo de Produção

O presente artigo versa sobre a contribuição da pesquisa participante no processo de produção de conhecimentos no âmbito das Ciências Sociais. Tal.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

EmiliaCuca
EmiliaCuca 🇧🇷

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bg1
____REVISTA CIÊNCIAS HUMANAS UNIVERSIDADE DE TAUBATÉ (UNITAU) BRASIL VOL. 7, N. 1, 2014.____
REVISTA CIÊNCIAS HUMANAS - UNIT AU • Volume 7, número 1, p. 41-56, jan-jun/2014 • Taubaté-SP - Brasil.
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A Pesquisa Participante: Suas Contribuições no Âmbito
das Ciências Sociais
Lindamar Alves Faermam1
Resumo
O presente artigo versa sobre a contribuição da pesquisa participante no
processo de produção de conhecimentos no âmbito das Ciências Sociais. Tal
modalidade de pesquisa constitui-se numa proposta metodológica fecunda
para conhecer e intervir na realidade social, sendo concebida como
instrumento potencializador de conhecimentos e de saberes direcionados aos
setores populares e grupos marginalizados. Para a construção deste artigo,
foram utilizados estudos bibliográficos mediante uma breve revisão de
literatura. O texto está organizado em duas partes. Na primeira parte,
apresenta-se um panorama geral sobre a pesquisa participante, demarcando
sua gênese na Europa e na América Latina, evidenciando sua entrada no Brasil
a partir, sobretudo, das contribuições de Paulo Freire (1921-1997). Na segunda
parte, concentra-se a discussão no conjunto de pressupostos e indicativos
para o seu desenvolvimento e operacionalização.
Palavras-chave: Pesquisa Participante. Processo de Construção do
Conhecimento. Ciências Sociais.
1 Assistente social, doutoranda pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC-SP.
Endereço: Rua Monte Alegre, 984 - Perdizes - São Paulo - SP - Brasil - CEP 05014-901. E-mail:
lindafaermann@yahoo.com.br.
Submissão: 19/06/2014 • Aceite: 25/06/2014
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A Pesquisa Participante: Suas Contribuições no Âmbito das Ciências Sociais

Lindamar Alves Faermam^1

Resumo

O presente artigo versa sobre a contribuição da pesquisa participante no processo de produção de conhecimentos no âmbito das Ciências Sociais. Tal modalidade de pesquisa constitui-se numa proposta metodológica fecunda para conhecer e intervir na realidade social, sendo concebida como instrumento potencializador de conhecimentos e de saberes direcionados aos setores populares e grupos marginalizados. Para a construção deste artigo, foram utilizados estudos bibliográficos mediante uma breve revisão de literatura. O texto está organizado em duas partes. Na primeira parte, apresenta-se um panorama geral sobre a pesquisa participante, demarcando sua gênese na Europa e na América Latina, evidenciando sua entrada no Brasil a partir, sobretudo, das contribuições de Paulo Freire (1921-1997). Na segunda parte, concentra-se a discussão no conjunto de pressupostos e indicativos para o seu desenvolvimento e operacionalização.

Palavras-chave: Pesquisa Participante. Processo de Construção do Conhecimento. Ciências Sociais.

(^1) Assistente social, doutoranda pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP. Endereço: Rua Monte Alegre, 984 - Perdizes - São Paulo - SP - Brasil - CEP 05014-901. E-mail: lindafaermann@yahoo.com.br. Submissão: 19 /0 6 /2014 • Aceite: 25/06/

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The Research Participant: His Contributions within the Framework of Social Sciences

Abstract

This article deals with the contribution of the participant research in the knowledge production process within the social sciences. This research mode constitutes a fruitful methodological proposal to understand and intervene in social reality, being conceived as a catalyzing instrument of knowledge and subjects targeted to the popular sectors and marginalized groups. For the construction of this article, bibliographic studies were utilized through a brief review of the literature. The text is organized into two parts. The first part presents an overview of the participant research, highlighting its genesis in Europe and Latin America, evidencing its entry into Brazil from, in particular, the contributions of Paulo Freire (1921-1997). The second part focuses the discussion on a set of assumptions and indications for its operationalization and development.

Keywords: Participant Research. Knowledge Construction Process. Social Sciences.

Introdução

Conforme evidencia Demo (2008), é na década de 1960 que se propaga o interesse em torno da pesquisa participante em várias regiões do mundo, destacando-se grupos latino-americanos, asiáticos e africanos. No Brasil, a atenção a essa modalidade de pesquisa ocorre a partir dos anos 70. A partir de então, muitas pesquisas foram (e vêm sendo) construídas com base em suas premissas, isto é, com vistas à produção de conhecimentos críticos e politicamente engajados, tendo como eixo central as contradições existentes na sociedade capitalista, evidenciando as condições de vida e de opressão dos sujeitos, tornando conhecidas suas histórias e suas experiências. O modo, portanto, como essas pesquisas vêm sendo planejadas e construídas diferem-se. Porque há uma diversidade de instrumentos e de

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Contrariando esse postulado, apresenta outro modo de conceber e produzir o conhecimento que, ao divergir da abordagem quantitativa de corte positivista, preconiza que as Ciências Sociais são determinadas pelas posições político-ideológicas de seus agentes, pela história e pela cultura. E, sendo assim, não poder ser “pura, autônoma ou neutra, pois é seriamente marcada pela sociedade e, como tal, reflete e expressa inevitavelmente as suas características e reflete suas contradições...” (SILVA, 1986, p. 19). Se para o positivismo de Augusto Comte e Emile Durkheim^2 o único modo científico de conhecer a realidade social é a observação dos dados, das propriedades exteriores e evidenciadas nos fatos, para a pesquisa participante, que em essência é um instrumento de investigação qualitativa, não!

[...] a abordagem positivista limita-se a observar os fenômenos e fixar as ligações de regularidade que possam existir entre eles, renunciando a descobrir as causas e contentando-se em estabelecer as leis que os regem. A lógica que preside esta linha de atividade é de caráter comparativo e exterior aos sujeitos. O positivismo não nega os significados, mas recusa-se a trabalhar com eles, tratando-os como uma realidade incapaz de se abordar cientificamente. (MINAYO, 1993, p. 244)

Por isso mesmo, a pesquisa participante não se coaduna com as determinações de cientificidade fixadas pelo positivismo, pois ancorada na abordagem qualitativa, direciona-se para a realidade social dos sujeitos, suas experiências, sua cultura e seus modos de vida. Logo, prevê uma aproximação horizontal entre sujeito e objeto, tendo em vista que ambos são da mesma natureza. Nesse caso, a produção do conhecimento na pesquisa participante não se faz de modo isolado do sujeito, mas em presença e implica num compromisso efetivo com suas vivencias e necessidades sociais cotidianas.

(^2) Segundo Michael Löwy (2003), o surgimento do positivismo tem como precursores os filósofos Condorcet (1743-1794), Saint-Simon (1760-1825) e, posteriormente, Augusto Comte (1798-1857) e Emile Durkheim (1858-1917). São esses dois últimos que conferem ao positivismo uma nova direção. Para o autor, foi Comte que formulou o positivismo em uma ideologia conservadora, e Durkheim que a transformou em uma ciência social universal, acadêmica e burguesa.

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Daí a afirmação de Demo (2008), de que a pesquisa participante surge e se mantém sob o signo da decepção em relação à pesquisa tradicional, ou seja, à pesquisa que requer a mera produção de descrições estatísticas, que se assenta no distanciamento intencional entre sujeito-objeto, dado que, ao buscar isenção ideológica, veda o acesso dos sujeitos pesquisados ao processo de produção e apropriação do conhecimento, valendo-se de instrumentos arbitrários que extraem informações de sujeitos isolados e os constrangem à seleção de respostas. É, portanto, para essas reflexões que este artigo chama a atenção, pois conhecer a proposta da pesquisa participante através de um estudo criterioso instiga-nos a uma análise sobre o seu uso no âmbito das Ciências Sociais. Tal análise foi estimulada, a partir de aproximações e contatos como pesquisadora e docente, com trabalhos de alunos e de profissionais que fazem uso dessa modalidade, nos quais se observa que nem sempre foram e/ou são construídos de acordo com sua natureza, características e indicativos. Por outro lado, reconhece-se sob a luz desse estudo mais acurado a sua pertinência nas Ciências Sociais, tendo em vista que a produção do conhecimento nesse campo orienta-se por uma direção social contra- hegemônica, implicando num compromisso histórico com as demandas de grupos e comunidades populares. Nesse sentido, defende-se a ideia de que a pesquisa participante comporta uma dimensão ontológica crítica no processo de produção de conhecimento, na medida em que busca denunciar e anunciar as contradições existentes na sociedade capitalista, as suas formas históricas de desigualdade social, tornando conhecida a versão dos sujeitos comuns e abrindo espaço para que estes participem dessa produção, valendo-se do direito que têm sobre ela para fortalecer as suas demandas, reivindicações e cultura. A esse respeito, destaca Demo que a:

Pesquisa Participante produz conhecimento politicamente engajado. Não despreza a metodologia cientifica em

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Revisitando suas origens, Thiollent (1984) ressalta sua vinculação com a psicossociologia americana na década de 1940, sublinhando que, nesse contexto, a pesquisa participante encontrava-se marcada por traços pragmáticos e conformistas, voltada principalmente para a resolução de problemas no campo social. A utilização da pesquisa participante numa perspectiva crítica tem, na década de 1960, as suas primeiras expressões, através de seu uso para dar suporte às reivindicações de Maio de 1968, na França, envolvendo estudantes e trabalhadores. Para Thiollent (1984), a pesquisa participante com teor crítico surge em oposição à pesquisa convencional, sustentada historicamente em princípios fundamentados no positivismo sociológico. Na abordagem positivista, a sociedade regula-se por leis naturais, invariáveis e independentes da ação humana, e nela reina uma harmonia semelhante à da natureza, ou seja, uma harmonia natural. Por isso, a sua metodologia no campo das Ciências Sociais deve ser idêntica à metodologia utilizada nas Ciências Naturais. O que as distingue é apenas o objeto de estudo. Falas do positivismo! Ao buscar a origem da pesquisa participante, Brandão (1987) sustenta sua análise a partir de duas vertentes: Bronisław Kasper Malinowski (1884- 1942), antropólogo polaco, fundador da escola funcionalista, e Karl Heinrich Marx (1818-1883), intelectual e revolucionário alemão. Segundo o autor, foi Malinowski que instituiu a observação participante na pesquisa como elemento inerente a essa proposta. A afirmação de Brandão pauta-se nos registros contidos no diário de campo do antropólogo, que escreveu que seu método de trabalho pressupunha a convivência com os nativos e a proximidade com seus estilos de vida. Ao referir-se à vinculação de Marx com a pesquisa participante, Brandão (1987) ressalta que é com ele que se inicia a participação direta dos

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sujeitos na pesquisa. Em 1880, a pedido daRevue Socialiste^4 , na França, Marx

organiza uma enquete, por meio de um questionário contendo 101 perguntas, para levantar e analisar as condições de trabalho dos operários e para impulsioná-los a refletir sobre suas condições. A proposta era a de que esse questionário fosse aplicado por todos os sindicatos da Europa e o seu resultado servisse de base à ação do movimento operário internacional. Essa forma de pesquisa utilizada por Marx referenda sua preocupação por uma investigação sociopolítica com vistas ao envolvimento do operariado em uma análise crítica de suas condições de classe. Para Silva (1986), a enquete operária elaborada por Marx:

[...] representa o primeiro exemplo histórico de uma pesquisa não encomendada pelos donos do poder, permitindo que o investigador se associe ao grupo investigado, garantindo sua inserção na rede de comunicação informal ligada ao movimento operário para analisar a situação objetiva e subjetiva do operário na fábrica, visando o autoconhecimento através de uma problemática explicita que desvela a dimensão política da investigação. (SILVA, 1986, p. 21)

Alguns autores, como Demo (2008), Méksenas (2007), Brandão (1987) e Silva (1986), assinalam que, na América Latina, a pesquisa participante desenvolveu-se inicialmente no âmbito educacional e que, no Brasil, o educador Paulo Freire (1921-1997) foi o precursor desse processo. Seu desenvolvimento foi ativado com o florescimento das comunidades eclesiais de base, com o movimento sindical, com o surgimento de novos partidos políticos de oposição e com os movimentos sociais ocorridos a partir da década de 1970, culminando com o processo de redemocratização no país. Assim, salienta Demo:

A atenção para a PP no Brasil coincidiu com a abertura democrática e teve, sem dúvida, o gosto amargo da recuperação do tempo perdido com a ditadura militar em

(^4) Tratam-se de publicações escritas na França entre 1879-1882 de iniciativa de grupos políticos.

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podem efetivamente ser parceiros, contribuindo para a construção do conhecimento no espaço da pesquisa. Essa opção contrapõe-se à ideia de que os sujeitos são meros informantes, cuja participação se reduz à tão somente transmissão de informações. Nessa relação, chama a atenção o fato de que os sujeitos envolvidos – pesquisador e sujeito pesquisado – são diferentes porque procedem de lugares e contextos sociais diversos, carregam saberes distintos e nem sempre vivem ou viveram experiências comuns, exercendo ambos papéis diferenciados nesse processo. No entanto, isso não significa que o sujeito que pesquisa seja superior ao pesquisado, pois para além do processo de coleta de informações, a relação estabelecida se torna um ato educativo de duas vias: ao mesmo tempo em que o sujeito pesquisado traz suas respostas às questões da pesquisa, emite sua opinião, seus saberes, seus valores e suas crenças, apreende o que lhe traz o pesquisador, que não apenas indaga, mas expressa também conhecimentos sobre a questão pesquisada.

Conjunto de pressupostos e indicativos para o uso da pesquisa participante no âmbito das Ciências Sociais

A ideia de que o conhecimento se constrói no coletivo remete-nos à sua própria natureza, enquanto incorporação de elementos produzidos, superação destes e criação de novos. Aceitar essa concepção supõe entender que o conhecimento é um produto histórico e plural, que se origina da experiência e se forja nas relações entre os homens e a natureza; premissa essa da pesquisa participante. O conhecimento, lembra-nos Severino (1995, p. 50), “pressupõe um solo de relações sociais, não apenas como referência circunstancial, mas como matriz, como placenta que nutre todo o seu processamento”. Nesse sentido, a evidência do conhecimento como ato plural, construído coletivamente pelos homens, afasta-nos do comportamento burguês solipsista, no qual o pesquisador se enxerga como eremita do processo,

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senhor exclusivo de suas realizações, enclausurado numa prática particular e monódica. Porém, essa não se trata de uma concepção admitida universalmente, nem mesmo de fácil aceitabilidade, porque a própria Universidade e seus interlocutores sofrem influência da herança positivista, além da ideia narcísica que perpassa certos espaços formativos de que o conhecimento é triunfo individual do pesquisador, sendo muitas vezes utilizado como instrumento de interesse profissional e propagado como mérito pessoal. É certo que ainda não se conseguiu superar certos comportamentos próprios da sociabilidade burguesa. É valido refletir sobre a mensagem deixada pela escritora goiana Cora Coralina (1889-1995), contida em seu

poema “Exaltação da Aninha (o professor)”, quando diz que “ feliz aquele que

transfere o que sabe e aprende o que ensina”. É preciso ter coerência com

nossos aprendizados, práticas e produções : labor cotidiano de todo profissional, intelectual e pesquisador. Portanto, a opção por instrumentos de pesquisa no campo das Ciências Sociais que tem em seu âmago tal concepção de conhecimento reclama do pesquisador um modo particular de investigar. Por isso, afirma Brandão (1987), que o uso da pesquisa participante implica numa revisão do percurso metodológico, pois todo o processo se efetiva em conjunto com os sujeitos envolvidos. A formulação do problema, os objetivos, as possíveis hipóteses, a coleta e tratamento de dados devem ser discutidos e analisados em conjunto com o grupo. O papel do pesquisador refere-se basicamente a preservar o caráter científico da pesquisa, na análise sistemática e crítica da realidade. Nessa proposta, os sujeitos são estimulados a participar da pesquisa como protagonistas, como agentes ativos, construindo o conhecimento e intervindo na realidade social. A pesquisa lhes permite fazer escolhas e lutar por seus interesses e necessidades cotidianas. Ao pesquisador que está fora do contexto investigado cabe identificar-se ideologicamente com os sujeitos,

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frequentemente denominam de “paixão”), aliado a uma deliberação racional de recomposição de saberes, de práticas, de realidades a serviço da construção de respostas a essa desafio (denominada „razão); e, por outro lado, pela abertura permanente ao novo, considerando que cada ponto de chegada é ao mesmo tempo, um ponto de partida para o desvelamento de novos conhecimentos e novas práticas. (BAPTISTA, 2006, p. 56)

Esse processo é acompanhado por sucessivas aproximações ao objeto de estudo, ao desenvolvimento da pesquisa e da intervenção e tem como ponto de partida as angústias dos profissionais e dos grupos sociais envolvidos diretamente com as mais variadas expressões da questão social: pobreza, discriminação, violência, prostituição, abandono, drogas... Desse modo, se a pesquisa precisa ser pensada a partir das necessidades dos grupos e setores populares, a primeira questão que se coloca é a necessidade de explorar na comunidade ou no espaço onde esses sujeitos encontram os problemas emergentes e os objetivos a serem alcançados. Identificar essas questões supõe esclarecer – junto aos sujeitos envolvidos na pesquisa – as suas múltiplas determinações. Trata-se de fundamentá-las teoricamente para a compreensão coletiva de suas causas, tendo em vista a construção de propostas para alcançar os objetivos e as mudanças desejadas. De maneira transparente e democrática, inicia-se a realização das ações com a efetiva participação dos sujeitos. Nesse percurso, a primeira aproximação destacada pela autora é o planejamento da pesquisa, o qual implica caracterização dos problemas, definição dos objetivos, estruturação da equipe para a realização das ações e sistematização dos encontros/reuniões entre os integrantes, indicando o estabelecimento dos fluxos e dos procedimentos a serem adotados, tais como: o levantamento das metas a serem atingidas, as divisões de tarefas e a avaliação do processo tanto investigativo, quanto operativo. Baptista (2006) ainda sinaliza que, como um processo racional, o planejamento organiza-se por operações complexas e interligadas, as quais se pautam na reflexão, decisão, operacionalização e retomada de reflexão. A

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análise desse processo racional, segundo ela, leva a identificar a dimensão política do planejamento que, por sua vez, dará suporte ao trabalho desenvolvido. As subsequentes formas de aproximações ao objeto de estudo e o desenrolar da própria pesquisa são discutidos e problematizados nessas reuniões/encontros. São momentos que possibilitam a avaliação contínua da investigação, a discussão e a reflexão das dificuldades encontradas, bem como o apontamento das alternativas para enfrentá-las. É comum nesse estágio do processo investigativo (e aqui se ressalta em qualquer abordagem que pressupõe o envolvimento dos sujeitos na

pesquisa) o uso da técnica de “brainstorming”, ou comumente denominada

de tempestade de ideias. O “brainstorming” contribui para explorar a

potencialidade, a criatividade e as habilidades dos integrantes do grupo em favor dos interesses coletivos. Nessa etapa da pesquisa são construídas reflexões, sistematizações e generalizações possíveis dos conhecimentos apreendidos nas aproximações realizadas em seu percurso. Esses são, portanto, alguns dos pressupostos e indicativos para o uso da pesquisa participante – uma análise minuciosa dessa abordagem deve contemplar os textos mencionados neste artigo. A sua escolha e utilização reclama necessariamente do pesquisador que deve considerar a centralidade do sujeito e sua efetiva participação no processo de produção de conhecimento.

Considerações finais

Em texto clássico e didático, Löwy (2003) destaca que cabe à ciência revelar a realidade social àqueles que se encontram alijados de conhecimento. Com efeito, a produção de conhecimentos politicamente engajados com os setores e grupos populares pode efetivamente desencadear o avanço do processo de consciência dos sujeitos envolvidos nas investigações, dando suporte para a revitalização de uma consciência crítica e

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Referências

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