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strongly these two characteristics, the CCR had a revolutionary action within ... Capítulo 2: Música Gospel, música católica e músicos carismáticos.
Tipologia: Provas
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Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Música da Universidade Federal da Paraíba, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Música, área de concentração em Etnomusicologia, linha de pesquisa Música, Cultura e Performance.
Dedico este trabalho a Iêda, que me ensinou a ler e escrever, a amar a leitura e a escrita E a Ozanam, que me ensinou a ser forte.
"...que a vossa arte contribua para a consolidação duma beleza autêntica que, como revérbero do Espírito de Deus, transfigure a matéria, abrindo os ânimos ao sentido do eterno!" (São João Paulo II
- Carta aos artistas)
A Renovação Carismática Católica (RCC) é um movimento que originou-se nos Estados Unidos, no final da década de 1960, inspirado no movimento pentecostal protestante, surgido também nos Estados Unidos no início do século XX. O surgimento da RCC ocorreu pouco tempo após o Concílio Vaticano II da Igreja Católica, que trouxe uma maior abertura à Igreja para a participação dos fiéis e o diálogo com outras religiões. Trazendo fortemente essas duas características, a RCC teve uma ação revolucionária dentro do catolicismo, sofrendo grande rejeição no início, e sendo aceita pouco a pouco. Este trabalho pretende apresentar a música como sendo um dos elementos assumidamente fundamentais das práticas da RCC, e sendo um elemento de grande influência do pentecostalismo protestante. Uma vez que a Igreja Católica não estabelece regras rígidas para as práticas musicais nas comunidades, o fazer musical carismático desenvolveu-se livremente, diretamente ligado às músicas pentecostais protestantes no início, e pouco a pouco adquirindo características próprias. O trabalho apresenta uma contextualização do pentecostalismo protestante e católico, a posição da Igreja Católica nesse contexto, e observações acerca de algumas formas do fazer musical católico. Este trabalho também apresenta o que a RCC diz acerca da própria musicalidade, o papel da música e dos músicos dentro da espiritualidade do movimento, conteúdos de palestras dadas para músicos, por artistas carismáticos reconhecidos, e algumas declarações a partir de entrevistas com músicos e membros de grupos carismáticos. Por fim, o trabalho traz a análise de algumas das músicas tocadas nos encontros de grupos de oração que foram visitados, sob o ponto de vista da letra, forma, movimentos corporais e melodias.
Palavras Chave: Etnomusicologia, Música Carismática, Renovação Carismática Católica
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Este trabalho de mestrado busca trazer uma contextualização, análise e reflexão acerca da música da Renovação Carismática Católica, também conhecida como RCC. Essa música atualmente representa uma importante parcela da música católica brasileira, e tem poucos estudos a seu respeito. Considerei importante contextualizar o fazer musical desse grupo dentro da espiritualidade do grupo, pois os elementos espirituais e a missão assumida pelo grupo são de grande importância para o fazer musical. A espiritualidade da RCC é de característica pentecostal, que é uma forma de espiritualidade que busca a experiência de receber o Espírito Santo e seus dons, nos moldes dos primeiros cristãos, após vivenciarem seu primeiro pentecostes^1. A Renovação Carismática Católica originou-se nos Estados Unidos no final da década de 60. É apontada, a respeito de sua origem, a influência de diversos fatores, dentre eles as mudanças decorridas do Concílio Vaticano II, que aconteceu entre 1962 e 1965. A partir daí, católicos que vinham sentindo necessidade de aprofundamento espiritual por meio da vivência pentecostal aproximaram-se de protestantes para com eles aprenderem acerca das manifestações do Espírito Santo na atualidade. Os protestantes haviam retomado e estavam difundindo a prática pentecostal desde o início do século XX, enquanto no catolicismo não se praticava essa forma de espiritualidade. É importante destacar alguns aspectos sociais que acredito terem tido influência fundamental para o surgimento e o desenvolvimento do pentecostalismo atual. É de se questionar por que razão as manifestações pentecostais, que são citadas na Bíblia como abundantes no início do cristianismo, passam um longo tempo ocorrendo em contextos privados, e no século XX tomam uma dimensão mais ampla, crescendo rapidamente. O questionamento é: o que acontecia nesse período, que desencadeou a grande busca pelos dons do Espírito Santo, gerando um movimento desse porte?
(^1) Pentecostes foi o recebimento do Espírito Santo por parte dos cristãos reunidos pela primeira vez, pouco após a ressurreição de Jesus. No Anexo A descrevo esse evento e o desenrolar do pentecostalismo com mais detalhes, chegando na origem da RCC.
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igrejas pentecostais ou deixam de denominarem-se religiosas (pág 34). Esse autor apresenta uma pesquisa que destaca o fato de que as dificuldades materiais impulsionam o crescimento pentecostal (pág 35). Segundo ele, “onde há mais problemas sociais e econômicos, há maior presença de templos e redes de templos pentecostais e
O perfil das pessoas que pertencem a grupos pentecostais revela essa característica. Segundo pesquisa do IBGE divulgada em 2012, os pentecostais tem a maior quantidade de pessoas que recebe até um salário mínimo, seguidos dos sem religião. Os pesquisadores atribuem a evangélicos pentecostais a mais baixa renda per capita do país (CAMPOS, 2008, pág 36). Isso reforça o fato de que os grupos pentecostais ganham muitos adeptos entre as pessoas que sofrem privações materiais. Segundo Mariano (2008), a classe média mais escolarizada resiste a alguns elementos pentecostais, tendo sido conquistada por igrejas que flexibilizaram esses elementos (pág 70). Prandi (1998) aponta que a RCC é um movimento protagonizado por leigos principalmente da classe média, o que sugere que na religião católica aconteceu essa flexibilização. Fernandes (2006) aponta que no Brasil o nível de escolaridade dos evangélicos pentecostais é menor do que dos evangélicos não pentecostais, o que confirma o ocorrido nos Estados Unidos, quando não houve preocupação em estabelecer uma educação formal no início do movimento (págs 14/ 15). A presença notável de imigrantes nos contextos de crescimento do pentecostalismo sugere que há uma forte ligação entre essa realidade e as razões que impulsionaram o crescimento pentecostal. Matos (2006, pág 41) observa que a cidade de Chicago tinha 75% de sua população constituída por imigrantes ou filhos destes nos primeiros tempos do pentecostalismo, e foi a cidade norte-americana onde o pentecostalismo mais cresceu. Campos (2008, pág 30) menciona diretamente a relação entre migração e o crescimento pentecostal, devido a problemas decorrentes das taxas de urbanização. Bauman (1998) também fala acerca das tensões decorrentes da grande presença dos arrivistas , que correspondem ao imigrante que busca vencer na vida, conquistando seu espaço no novo lugar em que chegou, e observa como a presença de tantos “estranhos” contribuem para a incerteza constante, daqueles que chegam e dos que já estavam.
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As crises sociais descritas neste tópico geraram uma busca por respostas espirituais que os fiéis não encontravam nas igrejas tradicionais. A prática das manifestações pentecostais, por outro lado, atendeu a essa necessidade, trazendo consigo alívio e significado para a vida em meio às crises. No texto O neopentecostalismo e os novos discursos religiosos contemporâneos, os autores mencionam psicopatologias da atualidade, e o fato de estarmos em tempos de consumo. O caráter de urgência com que o sofrimento deve ser aplacado, tudo isso são questões que atravessam as religiões, que não devem deixar as pessoas ao desamparo (CARNEIRO, RIOS, 2007, pág 5/6). Essas realidades podem conduzir as igrejas tradicionais “a uma séria autocrítica e ao reconhecimento de que o novo movimento tem ocupado espaços que já deveriam ter sido ocupados pelas igrejas mais antigas (...).” (MATOS, s/d - 1^3 ). Neste trabalho serão detalhadas diversas características do movimento pentecostal, especialmente da RCC, e como essas características, dentre elas a musicalidade, são responsáveis pela importância que essa forma de espiritualidade adquire na vida das pessoas envolvidas no contexto social descrito. O trabalho está estruturado da seguinte forma: no primeiro capítulo falo acerca das características do movimento pentecostal, a influência das mudanças da pós-modernidade na espiritualidade da Igreja Católica, especialmente no Brasil, diferenças entre o pentecostalismo católico e protestante, e o início e identidade da RCC. Essa contextualização é importante, pois fundamenta a compreensão das características do movimento, que tem influência no fazer musical. No segundo capítulo falo sobre a música gospel protestante, que tem em sua prática semelhanças com a música carismática católica. No mesmo capítulo falo sobre alguns elementos da música católica de forma mais ampla, e também sobre os músicos carismáticos. O terceiro capítulo traz informações da pesquisa etnográfica, de que forma foi feita, bem como comentários e reflexões. Traz também informações acerca da importância e o papel da música no grupo de oração carismático, os primeiros detalhamentos sobre as músicas que tocaram nos encontros, e um tópico acerca do aspecto emocional, que foi
(^3) Neste trabalho estou citando dois textos de Alderi Matos nos quais não consta data, então utilizei números para diferenciá-los. O texto desta citação pode ser encontrado em http://www.mackenzie.com.br/7090.html Acesso em 24/09/2014.
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Penso que seja relevante escrever acerca do que acredito ser a característica principal do pentecostalismo atual, numa compreensão de que este é um ressurgimento do primeiro pentecostes, 50 dias após a ressurreição de Cristo e que deu origem ao cristianismo. Destaco essa relevância porque parecem-me um tanto confusas as descrições do que é o pentecostalismo em alguns trabalhos que tratam do tema. Essa confusão se multiplica e gera equívocos no momento de categorizar os movimentos derivados do pentecostal, como é o caso do que chamam de neopentecostalismo^4. O elemento essencial do movimento pentecostal é o Batismo no Espírito Santo, com manifestação visíveis dos dons e carismas recebidos, como o dom de línguas^5 , cura, milagres, profecia, dentre outros. A partir desse batismo, dá-se uma submissão, uma docilidade diante das ações e formas de manifestação do Espírito Santo. No livro bíblico de João, capítulo 3 e versículo 8, Jesus fala da imprevisibilidade do Espírito Santo. Diz que as pessoas nascidas no Espírito são como o vento, que sopra onde quer, e não se sabe de onde vem e pra onde vai. A aceitação dessa imprevisibilidade significa deixar-se mover conforme a ação do Espírito Santo, sem limitar a obediência a essa vontade, que pode manifestar-se tanto por meio de um pensamento insistente como por meio de um sentimento. Nisso consiste a docilidade e obediência à ação do Espírito. A flexibilidade do movimento pentecostal, observada por alguns autores, com características que permitem adaptação a diversos contextos, penso que seja consequência dessa aceitação e docilidade diante do que se percebe ser a vontade divina. Houve da parte de algumas denominações protestantes tradicionais uma rejeição ao pentecostalismo, chegando a considerá-lo uma seita, mas é possível perceber que este
(^4) No anexo B escrevo com mais detalhes a esse respeito.
(^5) A oração em línguas é conhecida em alguns trabalhos acadêmicos como glossolalia, mas neste trabalho estou usando a nomenclatura utilizada pela RCC.
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nasceu no meio protestante a partir de elementos da Reforma. Matos (2006) aponta semelhanças entre o pentecostalismo e a Reforma protestante, ao sugerir que “o protestantismo, devido à sua insistência em direitos como o livre exame das Escrituras, o sacerdócio de todos os cristãos e a liberdade de expressão e associação, sem querer abriu um espaço para o surgimento dessas manifestações” (pág 26). Campos (2005, pág 107), afirma que esse movimento cresceu lado a lado com o fundamentalismo protestante, sem se misturar com ele. De acordo com esse autor, enquanto o pentecostalismo atrai pela mística “irracional”, o fundamentalismo protestante atrai pela “capacidade de oferecer certezas”. A principal diferença é que os pentecostais desenvolveram a busca dos carismas, destacando o poder do Espírito Santo na atualidade, tendência fundamental para o crescimento da igreja na evangelização (FERNANDES, 2006, pág 16). O interesse e empenho na evangelização são também características presentes, pois há um sentimento de urgência em difundir a mensagem cristã. Nos textos bíblicos do pentecostes cristão fala-se da grande quantidade de pessoas que era convertida e como se espalhava o cristianismo. Fernandes (2006), em seu trabalho sobre a Assembleia de Deus, observa nela grande mobilização evangelística desde sua origem. Tal mobilização vem dando resultados, pois segundo os últimos censos feitos no Brasil, o número de pentecostais cresce rapidamente. Segundo o censo de 2010, 60% dos evangélicos no Brasil são pentecostais. O livro “Carismas”, que faz parte do material de formação elaborado pela RCC, destaca a grande importância de se usar meios adequados para alcançar sucesso na evangelização. Segundo ele, “é de suma importância evangelizarmos o mundo buscando meios adaptados a cada circunstância de tempo, de lugar e cultura, para que a evangelização seja eficaz e atinja seu objetivo” (pág 22). A liberdade para expressar emoções presente no pentecostalismo, é originada na consciência de que essas emoções podem ser sinais da ação do Espírito Santo. Essa emotividade, que se faz presente tanto nas orações quanto no conteúdo das pregações e músicas, é uma característica observada por diversos autores. Ao longo de 15 anos de prática católica, somados às observações de campo, tive incontáveis oportunidades de realizar a comparação entre diversas atividades religiosas do catolicismo, e fazia-o porque procurava entender o que me parecia falta de entusiasmo e falta de profundidade espiritual,