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Uma pesquisa sobre a autoria de auta de souza como escritora mística, baseada em obras de teóricos espanhóles e brasileiros. O texto discute as características da mística espanhola, representadas por santa teresa de jesus e san juan de la cruz, e analisa as obras de auta de souza em busca de traços de misticismo. No final, a conclusão é que, apesar de algumas tensões místicas em alguns poemas, auta de souza não deve ser considerada mística devido à sua expressiva apreciação da vida terrena.
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Tipologia: Notas de aula
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Felipe Morais de Melo Francisca Gregório da Silva Departamento de Letras – UnP RESUMO Este trabalho iniciase com uma pesquisa acerca do misticismo, buscando alguns de seus conceitos, algumas contextualizações históricas e, principalmente, as características de uma das mais fortes representações do misticismo na área da literatura, a mística espanhola, centrando nos nas figuras mestras de Santa Teresa de Jesus e San Juan de la Cruz, com o intuito de validar ou não a classificação de Auta de Souza, poetisa potiguar, como escritora mística, dada por alguns autores, como o poeta Olavo Bilac e o crítico literário Massaud Moisés. Para tanto, estamos fundamentados em alguns teóricos espanhóis, a exemplo de Prat (1953) e Gutiérrez (1959), e outros nacionais, como Cascudo (1961) e Pinto (2000), através dos quais buscaremos traços de misticismo/ não misticismo em toda a obra Horto e nos poemas inéditos de Auta de Souza – Souza (2001). Ao cabo da perscrutação, concluímos que, apesar de haver algumas tensões místicas em alguns poucos poemas da poetisa, ela não deve ser considerada mística por, dentre outras razões, deixar transparecer em alguns de seus versos marcas evidentes de um apego à vida terrena, característica que vai fortemente de encontro ao perfil místico de expressão artística e de vida. Palavraschave: Misticismo. Auta de Souza. Poesia. Cr ítica literária. E a flecha flamejante é lançada pelas etéreas mãos do querubim, sacro ser também profano se vislumbrado Cupido pelos cúbicos olhos humanos, em mira do cativo coração da fiel serva, a ser rebentado de gozo ao ter a carne transpassada pelo viril vigor dos Céus. Trepida. Possessa, ela desfalece à vida da volúpia. Sob o signo maestro dessas pungentes visões tácitas de Santa Teresa de Jesus e também das exaltações espirituais de San Juan de la Cruz, paradigmas mores da literatura mística mundial, e instruídos pelas noções de misticismo encontradas em importantes teóricos espanhóis, como Montoliv (1947) e Prat (1953), além do conterrâneo nosso Cascudo (1961) e de umas escavações enciclopédicas Mirador (1990) e Barsa (2004), buscaremos, no longo percurso pelo aflitivo Horto e poemas inéditos da poetisa norte riograndense Auta de Souza, trechos que legalizem ou não o título de escritora mística que por alguns estudiosos lhe é atribuído. É do cerrar os olhos e os lábios que vem o germe primo da palavra misticismo, oriunda do verbo grego “mýein”. Podemos entrever nesse significado a essência dessa experiência religiosa, o misticismo, como um trinco vocalvisual às veleidades mundanas, mas, ao mesmo tempo, um arregalar ocular e estridente grito de chamado ao Homem Maior, cuja manifestação, que rompe o diáfano vidro do real, é a chave para o fenômeno da mística. Conforme GándaraMiranda, o misticismo é um fenômeno espiritual não fisiológico, um estado de alma que não nos é dado entre as vaguidades do sonho, senão (...) laboriosamente obtido, fruto não só de extraordinária piedade, de soberano domínio de todos os efeitos e
de profundo conhecimento da própria alma, senão também de um disposição especial e de certo estado religioso de eleição. Expressando de maneira concisa: a união da alma com Deus na vida presente. (GÁNDARA MIRANDA, 1968: 54) [Tradução livre]. Quanto ao perfil do místico, podemos elucidálo com as palavras de Cascudo: “Um místico não mais ‘sente’ os problemas da terra e menos as relações efetivas, no plano material. Está desprovido de órgãos receptivos para as ondas sensitivas horizontais. Para o alto, para cima de todas as estrelas é que olha, àvidamente, reencontrando o caminho”. (CASCUDO, 1961: 1256). Essa é a idéia predominante de todos os estudiosos em cujos livros dedicaram folhas, capítulos sobre o fenômeno da mística e seus maiores representantes. Portanto, é baseado nessas idéias, tão laboriosa e cientificamente apresentadas por vários autores, que moldaremos o aspecto (não) m ístico de Auta. Se entendermos o misticismo como um meio de aproximação com Deus, poderemos afirmar que ele ocorre desde os povos précrist ãos, a modelo dos xamanistas. O mundo medieval teve seu representantemor na figura do alem ão Eckhart no século XIV e, após uma centúria, na de Tomás Kempis e seu Imitatio Christi, “um dos livros mais lidos do cristianismo ocidental” (ENCICLOPÉDIA, 2004: 83), estudado pelas três personagens principais deste artigo, Santa Teresa de Jesus, San Juan de la Cruz e Auta de Souza. Esta o tinha como livro de cabeceira, sendo, inclusive, temat ítulo de um de seus poemas, Na primeira página da “Imitação de Cristo”. A mística atinge sua dimensão máxima no primeiro século da Renascença, o XV, na Espanha, que desenvolve uma “literatura mística propriamente dita”, abarcando “aproximadamente, um século e meio” (GUTIÉRREZ, 1959: 812) [Tradução livre]. Andados mais 200 anos, vemos no Padre JeanJacques Olier um dos grandes m ísticos da França. Contudo, talvez por considerar que o Deus Pai Todo Poderoso estivesse assaz acessível aos mortais, a suprema pedra de Pedro, a igreja, condena esse tipo de proximidade, que passa a ser pecado, heresia, divina obra do demônio, fazendo com que a mística soçobrasse no líquido fluxo denso do esquecimento, sendo recuperado apenas no século passado, por Henri Brémond. As manifestações de misticismo ocorrem de maneira vária, como através de “visões, êxtases, o dom da profecia, estigmas etc” (ENCICLOPÉDIA, 1990: 7757), e, além da natureza católica, percorrida acima, teve igualmente afamadas realizações históricas no Protestantismo e outras religiões. Interceptemos as linhas do tempo e costuremos os fios de ouro da literatura espanhola. Época boa das boas burlas cervantinas, !Ave Quijote!; da vistosa paixão quevedina; das douradas volutas verbais do sol barroco gongórico e tantos e quantos e a espiritualidade tão sã, San e Santa dos mestres Teresa de Jesus e Juan de la Cruz, cujos sobrenomes explicitam irradiantemente o único dono de suas vidas. Seja como vela, Corpus Dei, Jesus, ou metonímia, Crux, é Ele que os rege. Ambos viveram de, por e para Cristo. Ativista, Santa Teresa inaugurou uma reforma na ordem Carmelita, San Juan a seguiu. Foram perseguidos, ela por ter seu divino profanado através dos foscos prismas da madre igreja, ele por seu discípulo e companheiro ser. Não obstante, os pesos dos pesares vitae nunca os estorvaram. Depois que Aquele se lhes revelou, nunca desviaram passo de suas vias mística e ascética, esta entendida como prescrições comportamentais, doutrinais, para se alcançar a Deus.
em todos os escritores da Escola e mesmo em fiéis do século XVI, já que a Espanha passava por uma efervescência religiosa revigorada e chamejante pela ameaça reformista, corporificada no país principalmente pelo cardeal Cisneros. Dessa forma, segundo Prat, “não se deve considerar a atitude e o gênero escrito como algo aparte da vida espanhola da época” (PRAT, 1953: 616) [Tradução livre]. Os fenômenos místicos, logo, aconteciam amiúde na sociedade renascentista, perfumando os ares com a doç’amarga luz do mistério, ervadaninha da certeza. Tendo sido percorrido sucintamente o caminho histórico da mística e já pintados exemplos, confiamos que haja um entendimento claro de sua noção, tão pilada até então. Iremos agora apresentar as sendas estreitas ou trilhas amplas (dimensão a ser descoberta) dessa experiência espiritual dentro do Horto da autora potiguar. Em vários poemas seus, há um interminável tentativa, envolvida por seu incessante prestarLhe louvores, de chegar a Deus. Mas o contato, em quase todos, n ão ultrapassa o sôfrego desejo. Isso vemos, por exemplo, em seu Ao senhor do Bom Fim, em que diz, qual fidedigna fiel, querer verter mais dor à sua tísica sina, chaga já bastante aberta, pedindo a Jesus: Reparte comigo O peso da Cruz. [...] A Ti só adoro Senhor do Bom Fim. (SOUZA, 2001: 168). Pede a Maria, intercessora, que a leve para “onde a ventura existe”, no poema Eterna dor; suplica, anelante cordeiro, pela vinda de Cristo em sua alma, Agnus Dei: Vien vite, ô doux Jesus, habiter dans mon âme, Donnelui de gouter la douceur de ta voix; Montremoi, grand Dieu, la pur ê et chaste flamme Quit embellit ta croix! […] Ô sante Eucharistie, ô vin délicieux! Ô pain sacré de L’Ange et froment dês élus! Viens descendre em mon ame, ô gage merveileux De L’amour de Jesus! [...] Ô Jesus, mon amour, douceur de ma vie, Viens étancher la soif de mon couer altere; [...] (SOUZA, 2001: 259). Nossa ânsia de achar a mística em seus versos é grande, mas o logro, malogro, gora, não faz, falta. E chegamos... quase, nas linhas de Na primeira página da “Imitação de Cristo”: E dentro d’alma, nua de esperança, Eu penso ouvir como num sonho doce Alguém que fala n’uma voz tão mansa Como se o eco de um suspiro fosse (SOUZA, 2001: 198). teóricos, de ele ser oriundo de um dom extraordinário dado a eleitos, surge uma nova juízo, o da origem como resultado normal de uma vida cristã. (1990, p. 7758).
Aí começa Jesus a com ela falar. Mas nada houve, só ouve em seu pensar. Do isto que ela tanto almeja, só soube deveras bem Teresa: Ya toda me entregue y di, y de tal suerte he trocado, que mi Amado es para mi y yo soy para mi Amado. [...] ya yo no quiero otro amor, pues a mi Dios me he entregado (JESUS, 2007). O pseud’encontro de Auta, acima transcrito, foi um resultado opioso da leitura do Imitatio Christi. Seu escutar, seu consolo foram efeitos das linhas gráficas humanas, não dos versos corporotranscendentais de Cristo. Mas nossa busca finda. Ela tem seu encontro refletido nos versos. Nós o temos. Auta de Souza consegue criar entre as velhas folhas falhas No horto, um verde broto tensão que está mais lá. Sentese o aroma d’uma luz viv ífica, do misticismo: Oro de joelhos, Senhor, na terra Purificada pelo teu pranto... Minh’alma triste que a dor aterra Beija os teus passos santos, Cordeiro santo! [...] Eu disse... e as sombras se dissiparam. Jesus descia sobre o meu Horto... Estrelas lindas no céu brilharam, Voltoume o riso, j á quase morto. (SOUZA, 2001: 65). Temos agora um evidente momento místico. Inicialmente, embebida pelo fervor religioso da oração, na primeira estrofe, ela beija os pés de Jesus, o que faz roçar as duas existências, até que, mesmo que mornamente se comparado com o magma da Santa d’Ávila, podemos notar uma mudança na atmosfera do texto, que sai das trevas em direção à luz, momento quando sente Jesus descendo sobre seu hortovida. A presen ça Externa sobre sua párvoa alma. Finalmente, lá está. Há um outro poema que ela mesma denomina Místico e que, textualmente apresenta uma total compatibilidade com as concepções apresentadas: A chuva cai do céu e o mundo é como um ermo, Um deserto sem fim de onde emigrou a luz... Mas, que me importa a treva, a escuridão sem termo, Se eu sinto dentro de mim quem fez o Sol – Jesus? (SOUZA, 2001: 87). No entanto, há uma epígrafe que o contextualiza como fruto de um sentimento obtido ao sair da igreja após a comunhão. Todos os que são devotadamente religiosos sentem um aproximação com o divino, sim, ao receber eucaristia, já que, sendo o próprio corpo de Cristo, é o ponto mais valioso de um encontro católico. Não deixa de ser, para os que se enlevam com o incorporar o Corpo Santo, um momento místico, em que há um arroubamento dos sentimentos.
Como já dito, o místico vive em torno de ou entornado por Deus. O claustro é uma forma de auxiliar essa vida, mas não é ambiente sine qua nom para um místico. Prova disso é Alejo Benegas, que era laico, professor, e foi um dos mais importantes autores místicos do primeiro período (cf. GUTIÉRREZ, 1959: 324). Portanto, dentro de uma óptica espiritual, não cabe configurar o convento como limitação. Muito pelo contrário, é um catalisador ou facilitador do místico. A comparação uniente que é feita entre nossa autora e a espanhola é frágil, principalmente se baseados no argumento de em ambas haver “solicitações transcendetais”, como se fossem elas definidoras de um caráter místico, deixando de lado o principal, que é a consumação das rogativas, a presença real do “Transreal”, que, como demonstrado, muito pouco e lassamente foi encontrado em Auta. Por fim, “aptites sexuais” não tem estrita ou necessária relação com o comportamento místico. Foi a marca típica da escrita Santa Teresa de Jesus, não da escola mística. Parece que o misticismo mais uma vez é visto como religiosidade suplicante, encontrada de forma mais abastada em Santa Teresa, sendo postas à parte as outras condições várias aqui apontadas. Gizelda Lopes fala da possibilidade de ela haver se tornado mística se a Dama Branca não houvesse excitado o arrebentar da linha vital manejada em um outro além pelas Damas Negras do destino: “por ter morrido cedo, não teve tempo de transformarse numa autêntica mística” (PINTO, 2000: 22), mostrando um posicionamento mais contido ante a designação. O próprio Jackson de Figueiredo titubeia, retificase ao legar o termo em sua célebre frase sobre a poetisa, na qual descrevea como “a mais alta express ão do nosso misticismo, pelo menos [grifo nosso], do sentimento cristão, puramente cristão, na poesia brasileira” (apud CASCUDO, 1961, p. 136). Aqui, através dessa conotação autonímica, textualmente marcada pelo termo em negrito, é reparável a constante confusão e estreitamento, praticamente uma flutuação semântica, recorrente entre a mística e a religiosidade. Vejamos agora a abundância de motivos que paulatinamente vão separar Auta da probabilidade de ser mística. Primeiramente, grande parte dos místicos escreveu por solicitações dos religiosos, dos confessores, para que os iniciantes tivessem um modelo de fé, até por, geralmente, serem os místicos também ascéticos. Auta, muito pelo contrário, escrevia para orar, bem como para expurgar seu sofrer, padecer. Quer ir para as “terras do além mar” n ão para praticar seu matrimônio espiritual com Cristo, mas para cessar seu penar. A poetisa ainda está apegada as coisas ordinárias, prosaicas da vida, arremessando admiração verbal, por exemplo, às flores, às crianças, estas fundamentares em sua vida, tanto por representarem um paliativo preenchimento de sua lacunar alegria de infância, quanto por figurar uma tocar no maternal nunca sido da mulher “autiana”. É frustrada pela vida que poderia ter tido, mas que pela tuberculose lhe foi usurpada. Mesmo com seu indiscutível empenho religioso, não quer tanto o Céu, preferiria poder usufruir a terra. Não vê a morte como bom fim, questionando as decisões de Deus, postura nãom ística de acordo com Cascudo, 1961, “a compreensão indagadora é indispensável no místico” (op. cit.:121), a morte de sua mãe, chegando a mostrar que há felicidade na terra também, não só no Céu, o que alia divino e terreno: “Minha mãe! minha mãe! Se é Céu é sempre lindo,/ Aqui também há sol, também há primavera...” (SOUZA, 2001: 75). Descreve Deus não sempre em sua plenitude metafísica. Projetao por vezes em elementos triviais, como nos pirilampos ou no sorriso da criança em seu Simbólicas. Está com a terra, viva e quer mais no mundo ficar:
Sinto no peito o coração bater Com tanta força que me causa medo... Será a morte, meu Deus? Mas é tão cedo! Deixame inda viver. (op. cit.: 159). Tal afirmação seria impensável para um místico. É interessante perceber as vacilações pueris, talvez barrocas, da poetisa que ora clama pela morte, para encurtar seu sofre viver; ora pede ao Pai mais sumo para ser. Rubreja ante o verso que a fita na Minh’alma e o verso, em que, referindose ao fazer poético, ao verso, deixa aberta para o leitor uma “transvisão”, com a qual podemos suscitar um galanteio masculino, principalmente quando sabemos, por meio de uma análise de sua biogrfia, que teve um amor que por ela não lutou, o que pode estar expresso em seu rechaçar: Não me olhes assim... Eu fico triste Quando a fitarme o teu olhar persiste Choroso e suplicante... Já não possuo a crença que conforta. Vai bater, meu amigo, a outra porta Em terras mais distamntes. (op. cit.: 223). Em Never more, revela um sentimento fibr’humano, mer’humano, vil’humano, que é o do rancor, negando o trabalhoso bíblico conselho do perdoar setenta vezes sete, ao dizer: “Não te perdôo, não, meus tristes olhos/ Não mais hei de fitar nos teus, sorrindo” (op. cit.: 226), acentuando uma vez mais essa gruta que a distancia do caráter desprendidamente mundano dos místicos. Apesar de declarar Ao senhor do Bom Fim que só a Ele adora, diz com suas Penas de garça que: Eu só adoro na terra Da criancinha o sorriso, Uma casinha na Serra E um ninho no Paraíso. (op. cit.: 234). revelando mais uma vez o apreço pelas crianças, as quais adora. Essa estima assume notoriamente perfil maternal em Lídias, quando diz: Feliz de quem se vai na tua idade, Murmura aquele que não crê na vida, E não pensa seque na mãe querida Que te contempla cheia de saudade. (op. cit.: 104). Novamente aponta a vida terrena com provedora de felicidades e, indignada, sente em seu peito estéril todo o sofrer de uma mãe ao perder seu filho. Apesar da vida ulcerada por chagas, suas e familiares, afirma que: Quando eu morrer, vou assim: Sustendo meu coração...
Do mesmo modo que utilizamos teóricos espanhóis para tentar dissipar a terminologia mística que circunda Auta de Souza, podemos, cavalheiramente acolhêla sobre o leito de uma outra indicação sugerida por um dos teóricos espanhóis, Gutiérrez (1959: 311), que divide a literatura sagrada em religiosa, explicadoras das doutrinas cristãs; ascética, que erigem preceitos morais para melhor seguir a Deus e um dia com Ele estar; piedosa, compreendendo as obras em louvor de Deus e Santos; e a mística, que tratam da fusão Sant’humana. Poderíamos, portanto, incluíla, sob a divis ão do autor, como uma escritora piedosa, ou simplesmente religiosa, em que se pode, mui escassamente, deparar com tensões de caráter místico, não sendo, todavia, apropriado, face às teorias estudadas, designála escritora m ística. E a hóstia vem, vem chegando à boca da mulher, quando o pão se transmuta, ganha fibra, carne, que lacerada emana sangue do trigocorpo. Esporrada com aquele afogueado banho suave, cálido, a senhora, agora esposa, fêmea, geme ais de júbilo. Pulsa, pulsa, pulsa e morre no espesso mar, amar, de Seu Senhor. Nosso Senhor. Com esta última visão, recriação, de Santa Teresa de Jesus, ultimamos os sempr’incertos alémtinos da exuberante, vi çosa, graç’arte do misticismo. REFERÊNCIAS CASCUDO, Luís da Câmara. Vida breve de Auta de Souza. Natal: Fundaão José Augusto,
ENCICLOPÉDIA Barsa. v. 10. 3. ed. São paulo: Barsa Planeta Internacional, 2004. ENCICLOPÉDIA Mirador Internacional. v. 14. São paulo: Encyclopedia Britannica do Brasil Publições, 1990. GÁNDARAMIRANDA. Historia de la literatura española en cuadros esquemáticos. 4. ed. Madrid: EPESA, 1968. GUTIÉRREZ, Fermín Estrella. Historia de la literatura española con antología. Buenos Aires: Kapelusz, 1959. JESUS, Santa Teresa de. Poesías líricas de Santa Teresa de Jesús. Disponivel em http://www.corazones.org/santos/teresa_avila.htm Acessado no dia 27 de novembro de abril de 2007. JESUS, Santa Teresa de. Santa Teresa de Jesús y sus “moradas”. Barcelona: Obras Maestras,
MONTOLIV, Manuel de. Manual de historia de la literatura castellana. 5. ed. barcelona: Cervantes, 1947.
MOISES, Massaud. O Simbolismo. São Paulo: Cultrix, 1997. PRAT, Angel Valbuena. Historia de la literatura española. 4. ed. Barcelona: Gustavo Gili,
PINTO, Gizelda Lopes do rego. Auta de Souza e a estética simbolista. 3. ed. Natal: Fundação José Augusto, 2000. SOUZA, Auta de. Horto. 5. ed. Natal: EDUFRN, 2001. THE PEBGUIN book of spanish verse. Introduced by J. M. Cohen. BaltimoreMaryland: Penguin books, 1965.