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a métafora no texto poético: uma investigação sobre a teoria e ..., Notas de estudo de Poesia

RESUMO: O presente artigo tem por objetivo uma leitura metafórica em poemas da poetisa Cora. Coralina. Tece-se aqui, algumas considerações sobre essa figura ...

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Raimundo
Raimundo 🇧🇷

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REVELL ISSN: 2179-4456 v.3, nº.14 dezembro de 2016.
76
A MÉTAFORA NO TEXTO POÉTICO:
UMA INVESTIGÃO SOBRE A
TEORIA E UMA APLICAÇÃO EM
POESIA DE CORA CORALINA
Kênia Cristina Borges DIAS17
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo uma leitura metafórica em poemas da poetisa Cora
Coralina. Tece-se aqui, algumas considerações sobre essa figura de linguagem, recurso tão usado
pelos poetas, assim como por Cora. Nesta análise além de identificar as metáforas utilizadas pela
poetisa, veio à tona uma visão crítica do homem e das relações sociais, sem perder de vista toda a
magia da poesia. Sabendo-se que o tema metáfora nos leva a um campo de estudo muito vasto,
delimitou-se à investigação na Língua Portuguesa.
PALAVRAS-CHAVE: leitura, investigação, análise, linguagem.
ABSTRACT: This article aims at metaphorical reading poems of the poet Cora Coralina. Weaves up
here, some thoughts on this figure of speech, as resource used by poets, as well as Cora. This analysis
and identify the metaphors used by the poet, has surfaced a critical view of man and social relations
without losing sight of the poetry of magic. Knowing that the metaphor theme leads us to a very wide
field of study, delimited to the research in Portuguese.
KEYWORDS: reading, research, analysis, language.
INTRODUÇÃO
Este artigo propõe-se à realização de um breve estudo da metáfora,
evidenciando a utilização desta figura na poética de Cora Coralina 18 . Será
evidenciado a metáfora como um elemento não apenas com a função de emocionar,
17 Mestranda em Letras Literatura e Crítica Literária pela Pontifica Universidade Católica de Goiás
PUC/Goiás.
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REVELL ISSN: 2179- v.3, nº. dezembro de 2016. 76

A MÉTAFORA NO TEXTO POÉTICO:

UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE A

TEORIA E UMA APLICAÇÃO EM

POESIA DE CORA CORALINA

Kênia Cristina Borges DIAS^17 RESUMO: O presente artigo tem por objetivo uma leitura metafórica em poemas da poetisa Cora Coralina. Tece-se aqui, algumas considerações sobre essa figura de linguagem, recurso tão usado pelos poetas, assim como por Cora. Nesta análise além de identificar as metáforas utilizadas pela poetisa, veio à tona uma visão crítica do homem e das relações sociais, sem perder de vista toda a magia da poesia. Sabendo-se que o tema metáfora nos leva a um campo de estudo muito vasto, delimitou-se à investigação na Língua Portuguesa. PALAVRAS-CHAVE: leitura, investigação, análise, linguagem. ABSTRACT: This article aims at metaphorical reading poems of the poet Cora Coralina. Weaves up here, some thoughts on this figure of speech, as resource used by poets, as well as Cora. This analysis and identify the metaphors used by the poet, has surfaced a critical view of man and social relations without losing sight of the poetry of magic. Knowing that the metaphor theme leads us to a very wide field of study, delimited to the research in Portuguese. KEYWORDS: reading, research, analysis, language. INTRODUÇÃO Este artigo propõe-se à realização de um breve estudo da metáfora, evidenciando a utilização desta figura na poética de Cora Coralina 18. Será evidenciado a metáfora como um elemento não apenas com a função de emocionar, (^17) Mestranda em Letras Literatura e Crítica Literária pela Pontifica Universidade Católica de Goiás PUC/Goiás.

mas, também, de propor ao leitor um novo e diferente modo de interpretação, bem como, explorar preconceitos e as questões sociais pungentes. Ao submeter palavras do cotidiano a um arranjo poético, os poemas passam a ter duplo sentido e deixa para o leitor a tarefa de compreender as relações estabelecidas entre suas palavras, e suas intenções em todas as possibilidades, descobrindo assim, o real significado das mesmas. Esta reflexão se faz necessária, pois, do contrário, as palavras agrupadas simplesmente não teriam a autenticidade de um texto poético. É por meio das leituras que perceberemos como a figura de linguagem metáfora é bastante importante, tanto para o leitor quanto para o escritor. Figura esta que expressa uma certa maneira de instigação e até mesmo um recurso maior de valorização do contexto proposto. A mencionada figura é muito utilizada, até mesmo quando não percebemos falamos por metáfora, e com os poetas não é diferente. As citações utilizadas colocarão o leitor a pensar, refletir e dessa forma as reflexões evidenciarão que o uso da metáfora é uma busca de conhecimentos e descobertas do cotidiano, valorizando o significado e o significante de cada conceito. A atenção será voltada para uma investigação poética que será tratada nos poemas da autora goiana, Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas - Cora Coralina. A escritora, como todos os poetas usam desse recurso para retratar a realidade vivenciada ou não por eles.

  1. CONSIDERAÇÕES SOBRE A METÁFORA A metáfora, palavra grega (meta = mudança + força = transporte), que significa translação, mudança e consiste em atribuir a uma pessoa ou coisa uma qualidade que não lhe cabe logicamente. Esta transferência de significado de um termo para outro baseia-se na semelhança de características que o emissor da mensagem encontra entre os dois termos comparados. Portanto, é uma comparação de ordem subjetiva.

As somas intersectoras constituem o fundamento da metáfora; pelo fato de serem possuídos por A e B, eles funcionam como conectores de isotopia, abrindo para vários planos de conteúdo do discurso, cada um dos quais é suscetível de se transformar a qualquer instante, na leitura num texto autônomo (1987, p. 29). De acordo com o ponto de vista de Lopes, recorremos à intersecção para compreendermos melhor como se figura o processo metafórico no plano real, quer dizer, elemento A, a ideia nova a ser expressa ou definida. O segundo, o plano imaginário ou poético, o elemento B, aquela em que a imaginação do emissor percebeu alguma relação ou semelhança com o elemento A. O ponto de interseção entre os dois elementos justifica a metáfora, pois, é neste que situa a possibilidade de aproximar diretamente os termos envolvidos na comparação. Temos uma metáfora em que o comparado A e o comparante B, pertencem a dois paradigmas diferentes /humano/ e /planta/, incompatíveis na mesma construção. Porém, assim construídos passam de algum modo a compartilharem os paradigmas. Os textos metafóricos colocam o leitor a sonhar e a interpretar tais textos. Para isto, se faz necessário usar a imaginação e esquecer as inúmeras regras gramaticais que para a metáfora não tem valia. Sabemos que para uma leitura se realizar é necessário que haja interpretação entre o texto e o leitor, assim como para compreender uma metáfora além de leitura, requer comparação de semelhanças e similaridades, para não se distanciar por demais do termo ou do sentido pretendido. Uma metáfora nos faz notar certa semelhança, frequentemente, uma semelhança nova ou surpreendente, entre duas ou mais coisas. Essa observação trivial e verdadeira leva, ou parece levar, a uma conclusão concernente ao significado das metáforas. Assim, podemos considerar a semelhança ou similaridade comuns: duas rosas são similares por partilharem da propriedade de ser uma rosa, duas crianças são similares em virtude de sua infância, ou mais simplesmente por serem cada uma delas criança.

REVELL ISSN: 2179- v.3, nº. dezembro de 2016. 80 A metáfora depende de significados novos ou estendidos, ela certamente, depende de algum modo, dos significados originais; uma explicação adequada da metáfora deve admitir que as significadas primárias e originais das palavras permaneçam ativas em cenário metafórico. Talvez, então, posamos explicar a metáfora como um tipo de ambiguidade. No contexto da metáfora, certas palavras têm um significado novo ou um significado original, e a força da metáfora depende da nossa incerteza ao vacilarmos entre dois significados. A ambiguidade da palavra, se é que existe, é devido ao fato de ela significar uma coisa no contexto metafórico, não os hesitemos, necessariamente, quanto ao seu significado. Quando hesitamos de fato, é usualmente, para decidir sobre qual dentre o número de interpretações metafóricas aceitaremos; raramente, temos dúvida de que se trata de uma metáfora. Segundo Karsten Harries (apud SACKS, 1992, p. 89), apesar da analogia entre a poesia e a metafísica, não devemos ignorar a maneira bem diferente em que os textos poéticos, por um lado, e os textos filosóficos, por outro, exigem ser lidos. A partir daí, percebemos que apesar de ambos serem textos, devem ser analisados de formas diferentes, tais como, as metáforas parabólicas e metáforas poéticas, as quais são interpretadas de forma diversificada. Para compreendermos o estudo metafórico e poético é importante nos prepararmos, estarmos disponíveis e abertos ao entendimento das obras metafóricas. Percebe-se que os poetas metaforizam a obra, colocando-nos a questioná-la, mesmo sabendo que a linguagem enfatizada pelo escritor nunca será igual à usada pelo leitor. A metáfora pode ser universalizada por ter o domínio maior da palavra, embora a escrita seja capaz de exprimir ideias metafóricas com grande clareza. O estudo teológico é bastante amplo e notável nas escrituras do Novo Testamento, em que Jesus em seus ensinamentos usava o poder das parábolas para convencer os povos daquela época a se transformarem espiritualmente e moralmente. Como, por exemplo, a parábola do ovelha perdida (Lc15.3-7) em que Jesus com o uso da met o pecador arrependido ao lado do justo que persevera.

REVELL ISSN: 2179- v.3, nº. dezembro de 2016. 82 generalizar e a degeneralizar. A insatisfação com a realidade estimula a sua reorganização, o homem recusa o senso comum ao produzir metáforas, ao fazer poesia. Nietzsche usa de metáforas para falar sobre metáforas, humanidade, vaidade, seu trabalho é poético.

  1. METÁFORAS POÉTICAS Voltando a atenção para o uso da metáfora nos poemas, teremos que reforçar que deve ser levado em consideração o foco, o enquadramento e o contexto em que se dá a construção do poema. [...] quando o poeta cria a metáfora original o que ele inventa são os termos, não a relação: encarna uma forma antiga numa substancia nova. (...), a figura de invenção não é original na forma, mas apenas nos termos novos em que o gênio do poeta soube encarná-la (COHEN, 1996, p. 41). Segundo Cohen, o estudo da metáfora vem de longa data e ocupa lugar de destaque na criação poética. É uma figura de linguagem que tende a encontrar os que se propõem a compreendê-la, especialmente, quando se pretende descobrir a relação existente entre as metáforas poéticas e as metáforas de uso corrente, pois, neste momento, percebe-se que a imaginação aliada à inteligência está acima do conhecimento real e da verdade crua. Cora Coralina, em seu fazer poético, manteve uma capacidade crítica, acreditando em si, em sua causa e denotando sempre um sentimento por sua terra e sua gente, sem com isso deixar transcrever os limites do regionalismo. A poetisa deu novas formas de significados plurais a temas do cotidiano, usando tanto a metáfora que, isolada, fora do contexto ou por si só, não seria capaz de expressar os sentimentos da autoria em sua plenitude. Por essa razão, entre nomes e obras pertencentes ao acervo da Literatura Goiana em particular, depara-se com a poesia de Cora Coralina, uma mulher que fez da própria história a matéria prima de seus poemas, exigindo por isso, uma análise

profunda, se pretendemos que o nosso juízo alcance de modo suficiente à compreensão das visões ideológicas, registradas pela poesia em meio ao lírico emprego da metáfora.

  • se que a metáfora ocupa um lugar importante no fazer poético de Cora Coralina. A autora prova o quanto se comovia com cada uma das mulheres ali presentes e caracterizadas, deixando claro, que, também sua vivencia era feita com toda aquela sorte de experiências e dificuldades. tem-se as seguintes definições do verbo viver: ter vida, estar com vida, existir, durar, gozar a vida, residir, coabitar, conviver, dentre outros. da própria experiência. De modo que, a comunicação verbal supõe duas operações inversas: a codificação que vai das coisas às palavras; a decodificação que vai das De acordo com Cohen, o poema resgata a complexidade existencial da mulher brasileira para celebrar, através de um discurso aparentemente simples, o viver de todas elas no sensível poema. A poetisa utilizou seus poemas metaforizando cada vida vivenciada por ela no lugar onde viveu. Todas as mulheres elencadas não im ao leitor toda uma realidade existente, essas mulheres ora é benzedeira, ora mulher da vida, todas fortes e até porque não, corajosas. Bem linguaruda o termo linguaruda é uma metáfora gasta, que por ser muito utilizada passou a fazer parte de nosso vocabulário, independente, de repertório de leitura que o leitor possua irá entendê-la como faladeira.

São Caetano é uma planta que segundo a sabedoria popular é utilizada como alvejante de roupas, utilizava-se a planta que era esfregada juntamente com o sabão sobre a roupa, tendo ela o mesmo efeito dos alvejantes fabricados nos dias atuais. Ao falar da mulher lavadeira, pensamos na função social da obra de Cora Coralina, posto que, ao falar de todas essas vidas dentro dela, fala de pessoas reais, de mulheres que eram de certa forma escravizadas e ao mesmo tempo ignoradas. Ao caminhar pelo poema, deparamo-nos com a mulher cozinheira, pois, na , os versos passa-nos a impressão de que a cozinha fosse gente, pois, cacheada lembra cabelo de pessoas. Já

    • nos ao dicionário, a significação de pisar, e encontramos: por o pé sobre, calçar, magoar, andar sobre, atravessar. Pela nossa experiência culinária, sabemos que alho e sal não se pisam, logo entendemos que no a mulher cozinheira esmaga o alho e sal como se quisesse esmagar o sofrimento, as dores e o preconceito. Ao dizer que; dentro dela vive a mulher do povo, vê-se a dimensão do compromisso da poetisa com as coisas que passam pela vida sem que a elas sejam dadas a devida importância. Esta mistura de esferas é verificada no decorrer de toda a poesia, à media que Cora Coralina vai descrevendo e caracterizando a cabocla velha, a lavadeira do Rio Vermelho, a mulher cozinheira, a mulher do povo, a mulher roceira e a mulher da vida, vai demonstrando uma ponta de angustia e sofrimento misturada ao desejo de transformar esta realidade. E no momento em que a poetisa consegue trabalhar as situações corriqueiras e o vocabulário simples de sua gente, dando outras perspectivas a estes aspectos, esta transformação acontece, pois agora representam a poesia e a arte. O recurso encontrado pela poetisa, assim como pelos poetas em geral, para deixar vazar seus sentimentos, é a quebra de linguagem óbvia e o uso da metáfora. As vidas são tão bem desenhadas no poema que se estendem também às vidas escondidas, às sonhadas, a todas as vidas reprimidas, enfim, impedidas de serem vividas. E assim, a autora transforma todo esse inventário em poesia, usando um

REVELL ISSN: 2179- v.3, nº. dezembro de 2016. 86 jogo de palavras que se materializam na medida em que são compreendidas pelo leitor. A poetisa parece revelar-nos o seu repúdio contra as pressões ideológicas, com as quais convivia. Estas descrições denunciam o retrato do tempo em que viveu na cidade de Goiás. Numa espécie de ladainha, a poetisa traça o perfil daquelas mulheres que ficaram marcadas de algum modo em sua memória. Isto mostra a forte ligação da poetisa e sua gente, afinal é de si e de sua origem que está falando. A crítica social pulsa no poema, a discriminação social principalmente da mulher. Admitir essa sociedade é legitimar o reino das injustiças e violências, onde as diferenças sócias e econômicas procuram nivelar a maioria pelo padrão de valores de uma minoria. Houve ainda no poema, uma mistura de saudade e presente, demonstra que tudo o que a autora viveu e vivenciou continua a fazer parte de sua vida e de sua personalidade. O processo metafórico da obra é rico. A estrutura frasal anuncia matizes coloridas de imagens, que atesta relevante flexibilidade semântica, que autoriza o vocábulo a refletir valores inesperados. E isso, sem dúvida, implica processo criativo, na elasticidade de sentido que ele dá às palavras dentro de clara valorização estética. CONSIDERAÇÕES FINAIS A leitura e a análise nos permitem evidenciar o uso da metáfora na construção poética dos poemas, assim como, as pesquisas realizadas mostram que a metáfora se revela como figura de linguagem integrante do universo dos poetas, capaz de tornar ponte entre a realidade e o sonho. Cainhando pela poesia, vemos o real significado da metáfora, principalmente, porque pela primeira leitura muitas vezes nos perdemos quanto ao verdadeiro sentido apresentado pelos escritores, sendo assim, percebemos a necessidade de descobrir, interpretar e imaginar, conforme as ideias propostas pelos poetas. Diante disto, buscamos uma visão crítica do mundo e do homem, contextualizando seus poemas à época em que foram escritos e comparando-os com