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Importância da Linguagem Médica: Uso Adequado e Preciso, Notas de estudo de Medicina

A linguagem é fundamental no trabalho dos profissionais de saúde, mas é frequentemente negligenciada. Este documento destaca a degradação da linguagem médica, com o uso de palavras incorretas, imprecisas e excesso de abreviaturas em processos clínicos. Discutem-se erros comuns, tais como a utilização errada de termos como leucemia, alcoolemia, hipercalcemia e hiponatremia, e a confusão entre hipoxia e hipoxemia, acidose e acidemia. O documento também aborda a importância de se evitar certas expressões ao se comunicar com doentes, tais como 'colega' ou 'colegas', e 'então como estamos?'. Por fim, discute-se a importância de se evitar o uso excessivo de abreviaturas e se assegurar que a linguagem utilizada seja compreensível para todos os envolvidos no processo clínico.

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Pernambuco
Pernambuco 🇧🇷

4.2

(45)

225 documentos

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A linguagem médica
A linguagem é um aspecto fundamental do trabalho dos médicos e de outros profissionais de
saúde. É, no entanto, um aspecto frequentemente negligenciado. Penso que a linguagem se
está a degradar com o uso de palavras incorrectas, imprecisas e com o excesso de abreviaturas
nos processos clínicos.
A persistência em erros óbvios, por vezes parece propositado, parece que se faz gala em falar e
escrever erradamente. Há alguns anos atrás ouvia termos como leucémia, alcoolémia,
hipercalcémia, hiponatrémia e outros semelhantes aos meus colegas de Lisboa. Não se falava
assim no Porto. Agora, a maioria dos médicos usa erradamente esses termos e, penso mesmo
que acham errados os termos correctos: leucemia, alcoolemia, hipercalcemia, hiponatremia, etc.
Basta que os escrevam no Word, como eu estou a fazer aqui, para que automaticamente o
programa os corrija. Para os escrever erradamente tenho de repetir o erro e, depois, a palavra
fica sublinhada a vermelho. Experimentem.
Outro erro frequente, sobretudo nos oncologistas, é o uso da palavra estadio, pretendendo
significar uma fase da evolução do cancro. A palavra correcta é estádio. Essa é a palavra que
significa o que se pretende significar com a outra. Mais uma vez o Word me dá razão. Já não me
dá razão quando escrevo correcta, porque quer que eu tire o c, mas essa é outra história e nesta
minha escolha estou muito bem acompanhado. Horrível (não quero exagerar, mas …) foi ter
assistido a uma breve discussão sobre o uso de estádio e estadio e alguém dizer que eu dizia
estádio para ser diferente. Extraordinário.
Usam-se também termos médicos erradamente. Por exemplo, usam-se os termos hipoxia e
hipoxemia como se fossem sinónimos, mas hipoxia significa oxigenação tecidular inadequada e
hipoxemia significa redução do conteúdo de oxigénio no sangue. Outro exemplo, acidose e
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A linguagem médica

A linguagem é um aspecto fundamental do trabalho dos médicos e de outros profissionais de saúde. É, no entanto, um aspecto frequentemente negligenciado. Penso que a linguagem se está a degradar com o uso de palavras incorrectas, imprecisas e com o excesso de abreviaturas nos processos clínicos. A persistência em erros óbvios, por vezes parece propositado, parece que se faz gala em falar e escrever erradamente. Há alguns anos atrás ouvia termos como leucémia, alcoolémia, hipercalcémia, hiponatrémia e outros semelhantes aos meus colegas de Lisboa. Não se falava assim no Porto. Agora, a maioria dos médicos usa erradamente esses termos e, penso mesmo que acham errados os termos correctos: leucemia, alcoolemia, hipercalcemia, hiponatremia, etc. Basta que os escrevam no Word, como eu estou a fazer aqui, para que automaticamente o programa os corrija. Para os escrever erradamente tenho de repetir o erro e, depois, a palavra fica sublinhada a vermelho. Experimentem. Outro erro frequente, sobretudo nos oncologistas, é o uso da palavra estadio, pretendendo significar uma fase da evolução do cancro. A palavra correcta é estádio. Essa é a palavra que significa o que se pretende significar com a outra. Mais uma vez o Word me dá razão. Já não me dá razão quando escrevo correcta, porque quer que eu tire o c, mas essa é outra história e nesta minha escolha estou muito bem acompanhado. Horrível (não quero exagerar, mas …) foi ter assistido a uma breve discussão sobre o uso de estádio e estadio e alguém dizer que eu dizia estádio para ser diferente. Extraordinário. Usam-se também termos médicos erradamente. Por exemplo, usam-se os termos hipoxia e hipoxemia como se fossem sinónimos, mas hipoxia significa oxigenação tecidular inadequada e hipoxemia significa redução do conteúdo de oxigénio no sangue. Outro exemplo, acidose e

acidemia; se tivermos uma acidose respiratória pode não ser necessário intervir, se o pH for normal, mas se houver acidemia, isto é pH < 7,35, é necessário intervir. É vulgar, e eu já o fiz também, escrever expressões como “nega dor” ou “nega uso de drogas”. Ora, dizer isto não significa que o doente não tem dor ou não usa drogas, mas que se recusa a admiti-lo. Significa que ele nega, como o criminoso nega o seu crime, não significando isso que não o cometeu. Quase todos usamos o termo raio x do tórax em vez de radiografia do tórax. Raio x é uma forma. de radiação electromagnética que não se vê. O uso da palavra queixa ou queixas, ex., “doente sem queixas”. Não me parece adequado este termo, seria melhor usar sintomas. Um último exemplo, muito usado é o termo “evidência”. É comum ler-se ou ouvir-se expressões equivalentes a “não há evidência da eficácia do medicamento x na situação y” ou “a evidência mostra que …”. Fala-se na medicina baseada na evidência, há mesmo um Centro de Estudos de Medicina Baseados na Evidência. Ora o uso da palavra evidência resulta da tradução da palavra inglesa evidence, que também significa evidência, mas que no contexto em que é usada em medicina significa prova, não o que é óbvio.

Com os doentes

A comunicação é um processo complexo, sobretudo em situações em que há uma grande assimetria na posição dos intervenientes. A posição dos doentes é frágil e vulnerável. Estão numa posição de inferioridade, eventualmente ansiosos ou com défices cognitivos, por vezes subtis. Podem estar numa fase de adaptação psicológica a uma situação grave, em negação, por exemplo. Não é raro constatar que o doente não tem a informação que se afirma ter-lhe sido prestada. É indispensável confirmar que o doente compreendeu o que lhe foi dito e não apenas fornecer a informação. Mesmo assim, pode ser necessário voltar ao tema numa conversa

normal). Portanto, devemos ter consciência disso e certificarmo-nos de que o doente compreendeu correctamente o que queríamos transmitir.

Abreviaturas

O uso de abreviaturas é muito frequente em medicina. Tenho a impressão (não tenho provas) de que tem aumentado desde há alguns anos. Há abreviaturas que são do conhecimento de todos e todos as usam. Por exemplo, TAC, RNM, DPOC, AVC, todos os profissionais conhecem e seria até estranho que se escrevessem por extenso. No entanto, há muitas outras abreviaturas cujo significado não é evidente para a generalidade dos profissionais. São por vezes conhecidas numa especialidade ou num hospital, mas não são de uso generalizado. Por exemplo, o que significa PD (progressão da doença) ou BSC (best supportive care) não é evidente. Provavelmente só um grupo restrito conhece o seu significado. Há um outro risco com os processos electrónicos. Se houver um engano de escrita na abreviatura, ela pode tornar-se incompreensível mesmo para os profissionais acostumados à sua forma habitual. Além desses aspectos, é preciso notar que o processo clínico é um veículo de comunicação entre os profissionais, não é um bloco de notas pessoal, nem mesmo para um grupo restrito. A informação que consta no processo clínico pode ser consultada pelos doentes ou pelos seus representantes, pode servir como elemento num processo judicial, etc. Portanto, o que consta no processo clínico deve ser compreensível para todos os que legalmente possam a ele ter acesso. Há, no entanto, justificação para usar abreviaturas, como disse acima, mas devem ser compreensíveis. Para isso, as abreviaturas a usar numa determinada instituição, devem ser poucas e devem ser padronizadas e aprovadas pela direcção da instituição, para que todos as percebam.

Todos cometemos erros ocasionalmente, mas não foi desses erros que quis falar. Falei dos erros sistemáticos, dos vícios da linguagem e da comunicação verbal. Dou alguns exemplos de erros, imprecisões e práticas incorrectas comuns nos profissionais de saúde, mas muitos outros poderiam ser dados. Uns não têm consequências práticas, são “apenas”, digamos, inestéticos. Outros podem ter consequências desagradáveis. Concluo dizendo que a comunicação e a linguagem utilizada pelos profissionais de saúde, incluindo os médicos, grupo a que eu pertenço, deve ser rigorosa e clara, para evitar erros e mal- entendidos e, também, pela estética das palavras.