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Richard Dawkins: Ideia de Religião e Ateísmo, Resumos de Religião

A biografia de richard dawkins, um cientista britânico conhecido por sua oposição à religião. Ele nasceu em 1941 em nairóbi, quênia, e obteve doutorado em zoologia na universidade de cambridge. Dawkins ganhou popularidade por sua abordagem acessível às massas e à academia, recebendo prêmios como o royal society of literature e o los angeles times prize. O documento discute suas obras, incluindo 'deus, um delírio', e sua influência na cultura brasileira. Além disso, analisa a relação entre a natureza e a religião em dawkins e burkert.

O que você vai aprender

  • Quais obras de Richard Dawkins são discutidas no documento?
  • Qual é a influência de Dawkins na cultura brasileira?
  • Qual foi a carreira acadêmica de Richard Dawkins?
  • Quais teóricos da religião discutem a obra de Dawkins?
  • Como Dawkins se relaciona à religião?

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Rafael86
Rafael86 🇧🇷

4.6

(197)

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A IDEIA DE RELIGIÃO EM DEUS, UM DELÍRIO DE RICHARD
DAWKINS: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE
MARIA HELENA AZEVEDO FERREIRA
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ORIENTADORA: VANDA FORTUNA SERAFIM
A problemática de nossa análise consiste em compreender a ideia de religião em
Richard Dawkins, por meio da obra Deus, um delírio. O recorte histórico diz respeito,
portanto, a Inglaterra do século XXI. Clinton Richard Dawkins ou apenas Richard
Dawkins, como é mais conhecido, nasceu em 1941em Nairóbi no Quênia. Filho de
imigrantes ingleses, ainda na adolescência foi para a Inglaterra, onde teve seu primeiro
contato com as teorias de Darwin, segundo ele, o conhecimento apreendido com o
darwinismo forneceu bases para que ele fundamentasse seu ateísmo. em Oxford,
onde também concluiu sua graduação em zoologia, Richard Dawkins realizou seu
doutorado sob a orientação do renomado etólogo e ganhador do Prêmio Nobel, Niko
Tinbergen. (DAWKINS, 2013)
Em 1967, Dawkins ocupou o cargo de professor assistente na área de Zoologia
na Universidade da Califórnia em Berkeley, em 1976 publicou O gene egoísta, que
foi sucesso imediato. Depois disso publicou diversas obras como O fenótipo estendido
(1982), O relojoeiro cego (1986), O rio que saia do Éden (1995), A escalada do monte
improvável (1996), Desvendando o arco-íris (1998), O capelão do diabo (2003), A
grande história da evolução (2004), Deus, um delírio (2006), O maior espetáculo da
terra (2009), A magia da realidade (2011), sua autobiografia An appetite for Wonder:
the making of scientist (2013), além de vários artigos, documentários, entrevistas
concedidas para programas de televisão e rádio, participação em congressos e palestras,
entre outros. (DAWKINS, 2013).
Suas pesquisas como também sua abordagem, voltada tanto para um público não
especializado quanto para a academia, fez com que Dawkins ganhasse vários prêmios,
entre eles estão: Royal Society of Literature e Los Angeles Times Prize ambos em 1987
pelo seu livro O relojoeiro cego. Além disso, ganhou a Silver Medal of the Zoological
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A IDEIA DE RELIGIÃO EM DEUS, UM DELÍRIO DE RICHARD

DAWKINS: UMA PROPOSTA DE ANÁLISE

MARIA HELENA AZEVEDO FERREIRA^1

ORIENTADORA: VANDA FORTUNA SERAFIM

A problemática de nossa análise consiste em compreender a ideia de religião em Richard Dawkins, por meio da obra Deus, um delírio. O recorte histórico diz respeito, portanto, a Inglaterra do século XXI. Clinton Richard Dawkins ou apenas Richard Dawkins, como é mais conhecido, nasceu em 1941em Nairóbi no Quênia. Filho de imigrantes ingleses, ainda na adolescência foi para a Inglaterra, onde teve seu primeiro contato com as teorias de Darwin, segundo ele, o conhecimento apreendido com o darwinismo forneceu bases para que ele fundamentasse seu ateísmo. Já em Oxford, onde também concluiu sua graduação em zoologia, Richard Dawkins realizou seu doutorado sob a orientação do renomado etólogo e ganhador do Prêmio Nobel, Niko Tinbergen. (DAWKINS, 2013) Em 1967, Dawkins ocupou o cargo de professor assistente na área de Zoologia na Universidade da Califórnia em Berkeley, já em 1976 publicou O gene egoísta , que foi sucesso imediato. Depois disso publicou diversas obras como O fenótipo estendido (1982), O relojoeiro cego (1986), O rio que saia do Éden (1995), A escalada do monte improvável (1996), Desvendando o arco-íris (1998), O capelão do diabo (2003), A grande história da evolução (2004), Deus, um delírio (2006), O maior espetáculo da terra (2009), A magia da realidade (2011), sua autobiografia An appetite for Wonder: the making of scientist (2013), além de vários artigos, documentários, entrevistas concedidas para programas de televisão e rádio, participação em congressos e palestras, entre outros. (DAWKINS, 2013). Suas pesquisas como também sua abordagem, voltada tanto para um público não especializado quanto para a academia, fez com que Dawkins ganhasse vários prêmios, entre eles estão: Royal Society of Literature e Los Angeles Times Prize ambos em 1987 pelo seu livro O relojoeiro cego. Além disso, ganhou a Silver Medal of the Zoological

Society of London (1989), a Royal Society's Michael Faraday Award (1990), a Nakayama Prize for Achievement in Human Science (1990), a International Cosmos Prize (1997) e o Kistler Prize (2001). O zoólogo também ocupou a cadeira Charles Simonyi de Compreensão pública da ciência de 1995 até 2008, ano em que se aposentou, em Oxford. Dawkins, por meio de suas obras e aparições nos meios midiáticos, logrou uma ampla popularidade^2 entre o público leigo, prova disso é a eleição promovida pela Prospect, revista especializada em política, economia e atualidades, que em 2005, por intermédio de uma pesquisa com seus leitores, indicou Dawkins como terceiro intelectual mais influente do mundo e em 2013 o cientista alcançou o primeiro lugar. Com isso, fica evidente a larga divulgação da figura do polêmico pensador, que divide opiniões entre o senso comum, tal como no âmbito científico, onde as posições categóricas de Dawkins geram polêmicas e criam críticas dos mais diferentes tipos. Recentemente, Dawkins promoveu um documentário The Unbelievers (2013) em parceria com o físico Lawrence Krauss, no qual eles viajam ao redor do mundo pregando a supremacia da ciência e da razão, objetivando encorajar as pessoas a livrar- se do que seria o mal religioso, o filme ainda conta com uma série de entrevistas com celebridades e cientistas renomados. No Brasil, alguns pesquisadores voltam seus estudos para a compreensão do pensamento de Richard Dawkins. Entre os trabalhos existentes está a dissertação de Maria Rita Spina Bueno (2008) Níveis de seleção: uma avaliação feita a partir da teoria do “gene egoísta” , que procura produzir um discurso dentro do âmbito da filosofia da biologia. A produção acadêmica envolvendo a figura de Dawkins, ainda passa pelo campo da teologia como aborda Marcio André Rocha da Conceição (2010) em sua tese de doutorado A Fé em diálogo. Aspectos da teologia de André Torres Queiruga em diálogo com o pensamento neo-ateu de Richard Dawkins, no qual ele

*Mestranda do Programa de pós-graduação em História da Universidade Estadual de Maringá, integrante do Laboratório de Estudos em Religiões e Religiosidades (LEER 2 – UEM) Um exemplo dessa popularidade Dawkins, percebendo a internet como uma das principais percussoras das ideias do cientista, foi um levantamento feito por meio do Youtube que constatou a presença de mais de 300 produções com conteúdos diferentes e com visualizações que chegam a seis milhões de acessos em um único vídeo. Importante salientar, que este levantamento foi concluído em 18/03/2014, sendo passível de mudanças tanto no número de vídeos quanto no que se refere a quantidade de acessos.

especializada, enquanto parte de uma corrente “neo-ateísta”, a qual, segundo Conceição (2010), o adepto do movimento estaria ligado às ciências naturais, adotando posturas darwinistas, desejosos em eliminar a religião da humanidade^5. A nossa problemática de pesquisa afasta-se, em partes, destas prerrogativas, na medida em que, nossa trajetória acadêmica constitui-se dentro dos estudos da História das religiões e das religiosidades e nossa preocupação volta-se ao entendimento de Dawkins a partir de uma História das ideias. Mais do que conceber Richard Dawkins associado a determinados conceitos, busca-se analisar o pensamento do cientista sobre um conceito em específico: a religião, ainda que considere as interfaces possíveis desta construção. Nesse sentido, é fundamental a nossa proposta o artigo científico do historiador Artur Cesar Isaia (2010) A relação entre natureza e religião em Burket e Dawkins. Em tom ensaístico, Isaia busca perceber as aproximações e dissidências dos autores em seus discursos que ligam o aspecto natural ao religioso, acaba por inferir a seguinte constatação:

“À guisa de conclusão, devo dizer que a leitura de ambos, ao contrário do que propunham, reafirmam muito mais probabilidades e, num grau ascendente de crítica e provocação, explicação hipotéticas e crenças. Crenças travestidas, procedimento hipertrofiado pelo cientificismo do século XIX e batizadas por Michel Foucault como ‘teratologia do saber’.” (ISAIA, 2010, p. 32)

ação, ou seja, não basta a descrença no sobrenatural, há também de se desconsiderar as interferências religiosas nos plano político-social da sociedade. Neste sentido, o autor também aponta que qualquer ação que se remeta a uma esfera religiosa, como a crença na existência de mistérios e milagres, são trazidos para o âmbito humano e ganham um teor racional, onde estariam ligados somente a uma realidade, na qual estariam enquadrados apenas dentro dos limites naturais. Desse modo, esse processo que inicialmente estava ligado a uma recusa das divindades, deslocou-se de uma consequência da desestruturação da sociedade, para um ateísmo voltado para a ação, onde estes indivíduos não reivindicam somente a autonomia sobre si mesmo, mas também passaram a converter tal prerrogativa em um aspecto de luta, que se dirigia diretamente a figura de Deus, buscando eliminá-lo do âmbito da realidade, dando continuidade a valorização do sujeito (GALASSO, 1987). 5 Segundo Conceição (2010) a pós-modernidade trouxe a tona uma variedade de fenômenos sociais, entre eles está o aparecimento deste ateísmo militante. A partir no final do século XIX e ao logo do século XX, pensadores como Karl Marx, Friedrich Nietzsche e Sigmund Freud, ajudaram a constituir as bases do ateísmo moderno e começaram a exercer uma reflexão filosófica baseada na desconfiança. Dessa forma Conceição afirma que o ateísmo moderno nasce de uma crescente necessidade de afirmação de liberdade e de autonomia do humano. Vai se tornando grande a vontade de libertação das amarras provenientes da estrutura e da moral religiosa. Este desejo que provocará, primeiramente, ao desencantamento do mundo, e gradativamente conduzirá a construção da consciência incrédula.

Richard Dawkins estabelece um modelo de discurso que em muito dialoga com a ciência moderna do século XIX, assim, de acordo com Boaventura Souza Santos (1987) essa buscou estabelecer um rompimento quase que por completo com o pensamento aristotélico medieval, que se fundamentava nas experiências imediatas, ou seja, que se baseava nas evidências observáveis, agindo em direção contrária a esse principio, a ciência buscou estabelecer métodos rigorosos para a verificação dos fenômenos humanos. Atentando a obra eleita enquanto fonte de pesquisa, Deus, um delírio (2007), o livro publicado em 2006, foi traduzido para mais de 30 idiomas e chega ao Brasil em 2007, com a tradução de Fernanda Ravagnani pela editora Companhia das Letras. Dividida em dez capítulos, já é possível indicar alguns posicionamentos em Dawkins relativos à religião. O livro busca mostrar que mostrar como a religião seria o delírio da sociedade, por estar repleta de aspectos maléficos. Ao mesmo tempo apontando uma nova alternativa, que seria mais plausível nos tempos modernos: a ciência como único meio de conhecimento possível e aceito. Para isso adota esse discurso pretensamente científico, onde o real condiz com que aquilo que passa pelos rigorosos métodos que são impostos. Em seu primeiro capítulo intitulado “Um descrente profundamente religioso” Dawkins procura deixar claro o seu posicionamento filosófico, logo no início de sua obra se autodenomina um religioso no sentido einsteiniano. O que implicaria na rejeição de qualquer crença sobrenatural e na adoção de uma grande admiração pela natureza e pela grandeza do universo em geral, buscando entendê-lo por meio de explicações científicas. (DAWKINS, 2007). No segundo, “A hipótese que Deus existe”,faz um levantamento das correntes que defendem a hipótese que Deus existe, inclusive aquelas que não possuem uma conduta radical, como seria o caso do agnosticismo,e aponta que existem inúmeros enganos ao tratar a questão religiosa, especialmente as posturas que consideram a sua veracidade ou aceitação. No capítulo seguinte “Argumentos para a existência de Deus”, com a tática de abordar as ideias contrárias para refutá-las, Dawkins vai centrar-se nas teorias que defendem a existência de Deus, mostrando quais seriam as deficiências destas. Recorre ao pensamento lógico e mais uma vez ao molde científico para refutar essas ideias. (DAWKINS, 2007).

religioso, não o colocando como verdade absoluta, mas sim como parte de uma cultura literária. Por fim, no último capítulo, “Uma lacuna muito necessária?”, Richard Dawkins aborda como a religião para algumas pessoas seria uma espécie de consolo, o qual acarretaria uma visão estreita do mundo em que vivemos. O autor acredita que a ciência pode facilmente tomar esse papel, pois oferece um alento para as angústias humanas, permitindo nos abrir em relação ao mundo e a uma era de evolução, guiada pela racionalidade científica. Exposto isto, é evidente a referência na obra de Dawkins a uma percepção da ideia da religião. Historicizar e compreender esta ideia é uma das tarefas das História das Ideias. Os aporte teóricos iniciais importantes para os fins de nossa análise consistem em A grande cadeia do ser (2005) de Arthur Lovejoy, Edgar Morin em O Método 4: as ideias – habitat, vida, costumes, organização (2005) e Bruno Latour em Reflexão sobre o culto moderno dos deuses fe(i)tiches (2012) e Não congelarás a imagem, ou: como não desentender o debate ciência e religião (2004). Arthur Lovejoy (2005) procura mostrar como o campo da História das Ideias pode ser articulado, pensando seus objetos de estudo, enquanto elementos heterogêneos e complexos. Assim, ao atentarmos para um sistema de pensamento, devemos percebê- los enquanto aspecto englobante de processos distintos que se encontram, muitas das vezes apenas no quesito nominal. Isto que dizer que, para Lovejoy (2005) a o desmembramento desses sistemas de pensamentos, ou seja, o entendimento do que o autor chama de “idéias-unidade” que constituem processos mais amplos,abrem possibilidades de entendê-los como processos instáveis e que carregam em si vários elementos. Desse modo, Lovejoy (2005) aponta que esses “amplos movimentos” podem ser compostos por disposições inconscientes, que são expressas por “hábitos mentais” implicitamente ou explicitamente. Entretanto, Lovejoy (2005) aponta que ao perceber o que ele chama de “ phatos metafísico” - inerente na construção de posturas filosóficas dos indivíduos - é possível para o historiador das ideias demonstrar as tendências variantes, que os sujeitos inseridos dentro de correntes ideológicas possuem. Assim, o historiador pode assimilar a dinâmica de uma concepção tendo em vista sua natureza,

sua construção histórica e a manifestação da mesma nos estágios de reflexão do sujeito. Com relação a operação historiográfica do historiador das ideias, Lovejoy salienta:

“Enquanto a história das ideias – na medida em que se pode falar dela no tempo presente e no modo indicativo – é dessa maneira uma tentativa de síntese histórica, isso não significa que ela seja um mero conglomerado e menos ainda que aspire ser uma unificação abrangente de outras disciplinas históricas. Ela se ocupa somente com um certo numero de fatores na história, e com estes apenas na medida em que podem ser vistos operando naquelas que são consideradas comumente seções separadas do mundo intelectual; e está especialmente interessada nos processos pelos quais a influência passa de um campo para o outro.” (LOVEJOY, p.25, 2005) Desse modo, torna-se possível articular a ideia de religião em Richard Dawkins ao estudo da história das ideias proposto por Lovejoy (2005). Richard Dawkins fundamenta seu olhar a partir de uma estrutura científica. A religião entendida com um mal precisa ser combatida. A forma de combate proposta por Dawkins é o ateísmo. Mais especificamente um ateísmo militante, é preciso que as pessoas se posicionem, defendam sua opção e não permitam que a religião continue se disseminando na sociedade. Este discurso elaborado com a pretensão de expressar a realidade humana, toma como ponto de partida a materialidade, ou seja, Dawkins inflige a esfera social humana e o mundo biológico à Ciência, os transforma em instrumentos para legitimar seu discurso enquanto verdadeiro, sendo, portanto, passível de disseminação, que em um processo de construção histórica ganha ares de militância. É nesse sentido que podemos encontrar respaldo em Edgar Morin (2005) a fim de pensar a construção ideológica de Dawkins enquanto um “ser noológico” agindo em favor da constituição da “noosfera”. Edgar Morin (2005) aponta que as ideias são constituídas de realidade, no sentido que estas adquirem autonomia ao serem produzidas pelo espírito humano. Por ideias o autor entende um sistema complexo constituído de mitos, filosofias e ideias científicas, que ao serem produzidas pelos indivíduos acabam por adquirir autonomia e corporeidade, sendo “Uma vez formadas [...] vivem uma vida própria, engajam-se em relações dialéticas com as outras ‘construções’ e espíritos humanos” (MORIN, 2005, p. 135) Para Morin (2005) essas ideias, ao estarem sujeitas a uma criação, utilização e reapropriação,habitam um espaço denominado pelo autor como “noosfera”, que seria uma espécie mediadora entre nós e o mundo exterior, sendo as ideias, assim como seu

(2005) propõe enquanto “idéias-unidades” agindo em favor da construção de um sistema de pensamento instável. Percebendo a articulação de diversas áreas do conhecimento na preleção de Dawkins, é possível também percebemos um discurso que procura se afastar do discurso religioso. Neste sentido, procuramos embasamento em Bruno Latour (2012) que identifica a postura do homem moderno como um “anti-fetichista”: È aquele que acusa um outro de ser fetichista. Qual é o conteúdo desta denúncia? O fetichismo, segundo acusação estaria enganado sobre a origem da força. Ele fabricou o ídolo com suas mãos, com o seu próprio trabalho humano, suas próprias fantasias humanas, mas ele atribui este trabalho, estas fantasias, estas forças ao próprio objeto fabricado. (LATOUR, 2012,p.26) A função do anti-fetichista consiste, pois, em acusar o outro de fabricar seu objeto de adoração e também mostrar que todas as coisas são inerentes ao sujeito, não existindo outros agentes que possam interferir nas estruturas humanas. Assim, o homem moderno pretende transformar “o criador em criatura”, tomando para a si sua autonomia, fazendo parte de um processo o qual Latour(2012) aponta como uma “reconciliação consigo mesmo”.No entanto, este resgate do sujeito que procura ser autônomo em relação às suas divindades, ganha um corpo social, ou seja, essas concepções não permanecem somente no âmbito individual e a partir do momento que apresentam uma coletividade adquirem também uma corporeidade e certa autonomia. Tal fato quer dizer, que essa autonomia adquirida, em algum momento vai tornar-se determinadora de ações, há deste modo, o que o autor denomina como a “inversão da inversão”, ou seja, ao destruir os ídolos fabricados e colocando o sujeito enquanto agente atuante há uma transferência de força, pois agora o aspecto determinador vai passar a ser a sociedade e suas estruturas criadas para compreender as realidades existentes. Desse modo, podemos compreender a postura de Richard Dawkins dentro do que Latour(2012) categoriza enquanto homem moderno, que busca separar-se do discurso metafísico e voltar-se essencialmente para o aspecto material. Neste sentido, Dawkins recorre à Ciência e toma o darwinismo enquanto consensual, transformando-os em bases para sustentar o seu ateísmo. Com isso, percebemos que o movimento ao qual Dawkins se reporta vai se remeter a essa inclinação moderna.

Considerando a metodologia pertinente ao trato com as fontes escritas, em especial a obra Deus, um delírio , Michel de Certeau (1982) ressalta que para compreender os princípios de produção de uma obra acadêmica é preciso identificar o seu “lugar social” de produção. Para Certeau, toda fabricação de conteúdo está sujeita a implicações relativas ao local de produção, seu método e suas intencionalidades. Com isso, toda produção científica, ou não, implicaria em um “não-dito”, ou seja, as técnicas de produção e construção de um discurso, que são camufladas por meio da operação histórica que introduz o simulacro que a narrativa rejeita em ser. Considerando que o “lugar social” de produção de Deus, um delírio , é Universidade e o meio acadêmico inglês, torna-se fundamental a sua compreensão considerar que Dawkins, ao articular suas ideias parte de uma instituição e de um sistema de ideias fundamentado, que é a ciência, para expressar posições e concepções acerca de temas variados, permitindo-o também a esboçar num discurso sobre a religião. Com o intuito de compreendermos essas estruturas sociais ou determinismos sociais (MORIN, 2005) que pesam sobre o conhecimento elaborado por Richard Dawkins, é salutar recordar o conceito de “campo” do sociólogo Pierre Bourdieu (2004). Ao explicar esse conceito, Bourdieu (2004) aponta que se trata de um espaço institucional, relativamente autônomo, pois esse ao mesmo tempo em que não se abre as influências externas com frequência, também, não sai ileso as pressões sociais exercidas. O nível de autonomia de um “campo” vai ser determinado pelo seu poder de “refração”, isto é, pela sua capacidade de estabelecer tipos específicos de princípios, que faz com que as mensagens externas não exerçam nenhuma mudança significativa na estruturação desse “campo”. Atentando ao “campo científico”, Bourdieu afirma que o define as escolhas dos pesquisadores é “a estrutura das relações objetivas entre os agentes [...] Ou, mais precisamente, é posição que eles ocupam nessa estrutura que determina ou orienta [...] suas tomadas de posição.” (BOURDIEU, p.29, 2004). Isto quer dizer que somente é possível compreender a produção, que um indivíduo engajado no campo elabora, observando seu lugar dentro desse campo, o qual possui ambições e regras objetivas. Para definir a posição desses sujeitos no campo científico e tentar averiguar as relações envolvidas na escolha de um determinado objeto de pesquisa, é preciso, segundo

cultura normalizadora, que foi formada por meio da manifestação desses indivíduos na sociedade. Para Edgar Morin (2005), o conhecimento científico é formatado a partir da construção de paradigmas, que conseguem aceitar ou rejeitar as ideias, operando, portanto, uma construção da realidade parcial, porque ela também é constituída das inclinações mentais dos sujeitos. Com isso, percebemos a formatação de um imprinting , que segundo Morin (2005) carregaria uma força determinista, que define o que é verdadeiro ou não. O imprinting cultural alcançaria também uma camada intelectualizada, que são regidos por ele, colocando o que se deve conhecer e de que forma o conhecimento deve ser verificado. O imprinting , apesar de prezar pela manutenção da força normalizadora dos modos de conhecimento e ser fundamentado pela crença que se formatou a partir deles, não é totalmente imutável ou intransigível, eles podem sofrer aberturas por meio de três principais premissas: pela existência de vida cultural e intelectual dialógica, pelo calor cultural e pela possibilidade de expressão de desvios (MORIN, p.33, 2005). Ao falar da existência de uma vida intelectual dialógica, Morin afirma que ela provém de uma ampla troca de ideias entre os indivíduos, o que pode confluir em posições de pensamento que ponham em xeque as questões já estabelecidas. Esse diálogo favorece o uma relativa autonomia dos sujeitos, abrandando a força do imprinting cultural. Richard Dawkins ao escrever sua obra inaugural: O gene egoísta em 1976 afirma que “Havia um sopro de revolução lá fora, vestígios da aurora bem-aventurada de Wordsworth^6 ” (DAWKINS, p.24, 2007). Além disso, Dawkins, mais que se remeter ao darwinismo e a teoria da seleção natural, também se baseia em pensadores da teoria social, que se ligam ao aspecto biológico, pesquisadores pioneiros do neodarwinismo do início da década de 1930, como R. A. Fischer e outros propagadores da teoria na década de 1960 como W. D. Hamilton e C. G. Williams. Ao passo que Dawkins segue um âmbito neodarwinista em sua primeira obra, explicando as principais teorias do âmbito social sob um viés biológico, em Deus, um delírio de 2006, o autor parte da premissa que a ciência e, consequentemente, o darwinismo são consensuais em nossa sociedade.

(^6) William Wordsworth foi um poeta inglês do século XVIII/XIX, apontado como um dos percussores do romantismo na literatura inglesa. Extraído de: http://www.poets.org/poetsorg/poet/william-wordsworth Acesso em: 26/08/

Neste cenário, a religião teria se tornado dispendiosa, e clama, por fim, pela sua extinção e o triunfo da ciência como modelo explicativo para as questões humanas. É possível entender, sob o aporte metodológico de Edgar Morin, que ambas as obras de Richard Dawkins estabelecem um diálogo não somente entre si, entendendo-as enquanto um processo de construção de ideias perpassando o começo da carreira acadêmica de Dawkins até suas concepções mais recentes, mas também enquanto parte de um processo de liga a apreensão e reprodução de um imprinting cultural , ao ligar-se a um núcleo de conduta, que é ciência, fomentando argumentos legitimadores da mesma. Dawkins, além de reproduzir o discurso científico, atende a uma questão, que tomamos enquanto produto de um processo cognitivo individual, que é o uso da linguagem voltada para o público do senso comum. Toda essa dinâmica, proposta por Morin, é em suma, olhando para as nossas fontes, um meio para explicar a reprodução de um tipo de discurso empregado por Dawkins e a relativa autonomia do sujeito, imbricado na construção de conhecimento.

Referências bibliográficas: BOURDIEU, Pierre. Os usos sociais da ciência: por uma sociologia clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP, 2004 BUENO, Maria Rita Spina. Níveis de seleção: uma avaliação feita a partir da teoria do “gene egoísta”. 2008. 111f. Dissertação (Mestrado em Filosofia) – Programa de Pós- graduação em Filosofia do Departamento de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Universidade de São Paulo, São Paulo CERTEAU, Michel de. A operação historiográfica. In: A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. ______________. História e Psicanálise: entre a ciência e a ficção. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011. CONCEIÇÃO, Marcio André Rocha da. A Fé em Diálogo. Aspectos da Teologia de André Torres Queiruga em diálogo com o pensamento neo-ateu de Richard Dawkins. Dissertação (mestrado). Pontifícia Universidade Católica/Rio de Janeiro. Departamento de Teologia, Programa de Pós-Graduação em Teologia, 2010. DAWKINS, Richard. O gene egoísta. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.