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Guias e Dicas
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a historia de beta, Notas de estudo de História

saúde mental

Tipologia: Notas de estudo

2011

Compartilhado em 05/08/2011

renata-sena-6
renata-sena-6 🇧🇷

7 documentos

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A história de
Beta
Estava feliz! As férias haviam sido bem
aproveitadas e, através da História de Beta,
conseguira reconstruir minha vida como
uma linda colcha de retalhos, tão colorida
quanto um arco-íris –, representando a
esperança em um mundo novo, onde loucos e
sãos possam conviver sem tantas violências.
Beta
MINISTÉRIO DA SAÚDE
BRASÍLIA–DF
Beta é sinônimo de força e
alegria de viver, tantas foram as
dores enfrentadas e superadas
ao longo de sua existência.
O livro de Beta é um relato
corajoso e vivo de uma bela
experiência de vida.
Ela nos faz entrar e mergu-
lhar no mundo de suas angús-
tias e dúvidas, para podermos
aprender generosas lições de
renúncia, luta, solidariedade e
de uma ilimitada capacidade
de receber e doar amor.
Esse mergulho no inconscien-
te a fez encontrar e "derrotar"
os inúmeros "fantasmas" que
coabitavam sua memória e cons-
truir, desconstruindo-os, novas
experiências humanas.
Trilhar e compartilhar com a
autora os caminhos tortuosos e
desafiadores de sua psique nos
faz apostar que outras pessoas
possam, também, mergulhar no
caos psíquico e emergir com saí-
das tão sábias e profundas na
reconstrução da própria história.
O livro de Beta nos ensina
como abrir e sabiamente fechar
as muitas portas que se colocam
em nossos caminhos.
As saídas encontradas por
Beta tocam nossos corações e
exploram afetos adormecidos
pelo sofrimento, apontando
para novas e reveladoras possibi-
lidades existenciais.
Beta não teve e, ainda não
tem, o medo da visão do que
poderia "ver" dentro e fora de
sua experiência, não sendo o
medo obstáculo das transfor-
mações dos seus inumeráveis
estados de ser.
Cristina Macedo
Terapeuta e Psicóloga do
Espaço Aberto ao Tempo
Esta publicação é integrante das
comemorações do cinqüentenário do
Museu de Imagens do Inconsciente.
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A história de

Beta

M I N I S T É R I O D A S A Ú D E
B R A S Í L I A – D F

A história de

Beta

B r a s í l i a – D F

S é r i e J. C a d e r n o s C e n t r o C u l t u r a l d a S a ú d e

M I N I S T É R I O D A S A Ú D E

1.ª edição 2.ª reimpressão

Escrevi este livro,

com toda minha gratidão, para Dra. Nise da Silveira; com todo meu amor, para meu filho mais velho, minha nora e minhas netas; com toda minha saudade e amor eterno, para meu filho mais novo, que tão cedo Deus levou...

A Cristina Macedo, meu agradecimento especial

Prólogo

Minha vida tem sido uma mistura de dois mundos – realidade e sonho – muito calcada numa intuição interior. É a descoberta de uma verdade ampla no mais profundo do meu ser. São mergulhos profun- dos, avassaladores, onde imagens afloram, muitas vezes de forma incompreensível. Daí o perseguir, desesperadamente, valores reais, na tentativa de lançar luz na obscuridade, dentro de um processo que a medicina chama psicótico.

O que é adoecer? Não saberia responder corretamente. Às vezes penso que é o viver um relacionamento de choques culturais – onde a paixão do ter se torna uma luta de classes, com valores desencontrados do ser. É bem o espelho social de uma sociedade também bastante doente, onde o homem ainda vive modelos estereotipados calcados em modelos obsoletos e esclerosados.

Dentro desse referencial de autoridade anônima, vai se tornando difícil classificar o que é normal ou anormal. A sabedoria e a loucura estão próximas. Há apenas uma meia volta entre uma e outra. Isto se vê nas ações dos homens insanos. (Foucault)

Mudam-se tratamentos, novas técnicas aparecem e desaparecem, mas todas elas – ou a maioria delas –, impossibilitam este doente de desenvolver capacidade produtiva no seu ser diferente.

Sempre me pergunto : Será que para o homem acorrentado – antes do Pinel, as camisas-de-força e, mais recentemente, as camisas-de-força quími- cas –, há alguma diferença entre elas?

Este livro é uma tentativa e uma contribuição de quem passou por todo um processo psicótico rotulado de esquizofrenia. Aqui quero cha- mar a atenção dos nossos consertadores de gente para a mudança de trata- mentos tão ultrapassados, valorizando o que já é comprovadamente eficaz. Estou querendo me referir à terapia ocupacional, adotada pela

Da infância à primeira crise

Ilustração: Beta d’Rocha – Acervo Museu de Imagens do Inconsciente

perdido grande parte de seus bens e, devido a esse fato, meus irmãos mais velhos tiveram que trabalhar muito cedo, ficando em casa apenas eu e minha irmã caçula. Mamãe tinha orgulho de dizer: Dei instrução primária a todos os filhos.

Do tempo que o pai era vivo guardei dois fatos que marcaram muito minha vida, sendo que no primeiro eu estava apenas com quatro anos.

No carnaval, a mamãe costumava fantasiar todos os filhos com rou- pas de papel colorido, saía pelas redondezas até a casa de uma tia, parando nas residências das pessoas conhecidas da família. Sendo eu a caçulinha naquela época, cabia a mim carregar o pires onde eram colocadas as moedinhas e todo dinheiro arrecadado que seria depois dividido comigo e meus irmãos, para comprarmos balas. Um rapaz de uma dessas casas ficou encantado comigo porque desde pequena eu já gostava de carnaval e sambava muito bem. Meus irmãos e meus pais insistiram para que eu beijasse o rosto do homem, porém eu achava que não tinha que fazer nada contra minha vontade e, mesmo meus irmãos parecendo umas feras, eu não cedi. Hoje, percebo que desde criança tentava lutar para conservar minha vontade, mas nem sempre obtinha o sucesso desejado.

O outro fato foi quando fiz a primeira comunhão. Meu pai estava para morrer – morreu de tabes após ficar seis meses paralítico sofren- do na cama –, mas eu não sabia. Naquela ocasião, me preparava para receber Cristo pela primeira vez e as religiosas diziam que seria atendi- do qualquer pedido feito a Deus. Pedi então para que meu pai voltasse a tocar bandolim, mas ele morreu uma semana depois. Quando me levantaram para que o beijasse no rosto, cena que jamais esqueci, senti que estava de mal com Deus. Com muita raiva por aquele espetáculo macabro montado na sala de jantar: o corpo sem vida de meu pai den- tro do caixão... seu rosto gelado!

Concluí o primário aos 11 anos. Fiz um grande esforço para conti- nuar os estudos, mas mamãe alegava que os filhos homens não tinham estudado e não seria justo que eu, sendo mulher, o fizesse. Mamãe criou as filhas para o casamento e para serem boas esposas, sendo necessário para isso que aprendessem as tarefas de casa. Diante de tal

perspectiva, eu e minhas irmãs revezávamos para aprender as diversas atividades domésticas. Para mim a profissão de dona-de-casa não bas- tava. Eu queria mais, muito mais. Queria estudar. Queria trabalhar.

Minha irmã caçula, entretanto, nunca participou de tal revezamen- to, pois foi a única que a mamãe permitiu que estudasse. Ela chegou a entrar no curso normal, mas desistiu no último ano.

Certo dia, minha irmã mais velha voltou do trabalho com a incum- bência de encontrar uma babá para a filha do patrão. Eu queria aque- le emprego. Mamãe relutou em dar permissão, mas saí ganhando.

Eu já tinha 11 anos e 1, 55m de altura. E lá fui eu para o meu pri- meiro emprego de babá de uma linda menina de 2 aninhos de idade.

Naquela época, fiquei regrada pela primeira vez, sem ter conheci- mento algum relacionado à sexualidade. Era tão ingênua que julgava estar doente e, por medo, passei a me esconder pela casa, só conse- guindo falar com mamãe sobre o assunto, com muita dificuldade. Além disso, eu pensava que as crianças nasciam depois de um beijo na boca. Mamãe, por sua vez, explicou tudo de maneira bem mineira: Que eu não devia me aproximar dos homens e outras besteiras mais. Enfim, fora assim que mamãe também aprendera.

Daquela ocasião guardo um fato que só anos depois consegui decifrar. Foi o seguinte: como babá, vinha de folga para casa de 15 em 15 dias e, nas primeiras vezes, alguém da família ia me buscar no emprego, mas logo passei a vir sozinha. Lembro-me que tomava um ônibus no Flamengo e, depois, um trem na Central do Brasil. Como morávamos num subúrbio distante, o Encantado, pelo caminho eu ia cantarolando mentalmente uma música: Saiu o trem da Central com os amigos de Lauro Muller e logo a Mangueira, tal como Francisco Xavier. Não me lembrava do resto, mas sabia que falava nas estações dos subúrbios da Central.

Eu engordara muito, o que era natural, pois passara a me alimentar do bom e do melhor. A moça gostava de mim porque eu aprendia rapidamente tudo que me ensinava.

das vezes, arranjava emprestado. A vontade de estudar era tão obsessi- va que passei a dormir na sala para poder ficar lendo pela noite a den- tro, sem atrapalhar o sono das minhas irmãs, com as quais dividia o mesmo quarto. Quantas vezes deixava os vestidos longos de baile, com suas anáguas engomadas sobre a cama, porque minha preferência era continuar a ler determinado livro.

Era uma parada a escolha entre as duas atividades, pois dançar era uma das coisas que mais gostava de fazer. Tinha até o apelido de pezi- nho de ouro, tão bem eu dançava.

O primeiro livro que me fascinou de verdade foi O Fio da Navalha, de Somerset Maughan. Anos mais tarde, comprei um exemplar novo e mandei encadernar nas oficinas do Museu de Imagens do Inconscien- te para presentear meu filho mais velho. Ainda hoje, as palavras de Larry me deixam fascinada: Se eu algum dia adquirir sabedoria, creio que serei então bastante sábio para saber o que fazer com ela.

Da época em que eu dançava tenho boas recordações, principalmen- te dos bailes de formatura dos médicos realizados no Hotel Glória. Era uma forma indireta de estar em contato com meu sonho de ser médica.

Quanto a outras diversões, eu e meus irmãos tínhamos pouca varie- dade. Ao cinema íamos uma vez por mês, caso não houvesse brigas entre nós durante aquele período. Se algum de meus irmãos brigasse pagava a dívida por infringir as leis da grande família não indo ao cinema. Uma coisa que mamãe não admitia era contendas entre irmãos. Para ela, Caim e Abel tinham que permanecer como personagens da Bíblia.

Cinema era meu passatempo preferido – e até hoje continua sendo. Costumo ver todos os bons filmes. Havia um vizinho que nas noites de domingo projetava na sua pequena varanda os filmes de Carlitos. O povão ficava na rua assistindo e foi daí que comecei minha grande admi- ração por Charlie Chaplin. Hoje, revendo seus filmes, percebo quão genial ele foi. Seus filmes traziam mensagens que alertavam o homem sobre o que ele poderia se tornar. Eram histórias que continham diabóli- co humor, sátira amarga e crítica social. Só mesmo um gênio consegui- ria desafiar os padrões da época e deixar tantos ensinamentos dentro

da nossa realidade: Mais que de máquina, precisamos de humanidade. Mais que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

E foi com a moral de maior idade que iniciei uma das grandes bata- lhas de minha vida: lutar com minha mãe e reivindicar o direito de estu- dar. Ela acabou permitindo, desde que um de meus irmãos também estudasse, e o escolhido foi o mais velho. Fizemos o curso de admissão em dois meses (curso de férias para prestar exame para o ginásio.) Meu irmão foi reprovado e eu passei. Então começou outra luta, porque mamãe alegava que, sem o irmão, não haveria estudos. Porém, tanto insisti que minha mãe concordou, mas com a seguinte proposta: só per- maneceria na escola enquanto não arrumasse namorado.

Hoje, compreendo que a minha mãe imaginava que os grandes parti- dos da redondeza estariam apaixonados por mim e, como mãe, exagerava.

Na época, concordei com a condição porque a única maneira de eu conseguir estudar, seria prometer não namorar. Promessa que cumpri até o fim.

Eu era muito alegre, adorava dançar, brincar carnaval, mas mantinha tudo dentro do flerte. Namorar sério, nunca! Relembrando aqueles tempos percebo atualmente as chantagens que mamãe fazia para difi- cultar, de todas as formas, a realização de meu maior sonho – estudar. Queria evitar de todas as maneiras que eu saísse de casa e de seu con- trole. Começou pelo dinheiro, deixando por minha conta o pagamen- to da empregada, do colégio, além da despesa com os livros. Triste rea- lidade: não dava...

Não desisti e comecei a peregrinação para conseguir falar com o diretor do colégio. Era o Ginásio Piedade e seu diretor o Gama Filho. Afinal conse- gui chegar até ele, quando fui recebida com uma resposta negativa (Gama Filho também tinha um sonho: transformar aquele simples colégio de subúrbio em uma grande universidade para que pudesse atender a todo o pessoal da Zona Norte – objetivo que atingiu posteriormente). Persisti. Usei todos os meus argumentos até que ele não resistiu ao meu choro e ofereceu- me 10% de abatimento que manteve enquanto permaneci em seu colégio.

atravessar a rua e, lá chegando, esqueci-me da vida. O tempo foi passando e mamãe ficando histérica, colocando toda a família em pânico, pois eu nunca chegara atrasada. Como a minha casa, em toda a redondeza, era a única que tinha telefone, a notícia chegou rápido: eu havia saído cedo do colégio. Foi um tal de ligar para hospitais e necrotérios... Lá pelas tantas minha risada me denunciou. Enfim, fora achada a filha rebelde.

Quase tive que pular fora do colégio. Motivo: irresponsabilidade, desrespeito à mãe – que sempre usava uma doença de coração como arma. Era um eterno medir forças com mamãe, que naquele período da vida era pai e mãe ao mesmo tempo.

Lembro com tristeza a morte de meu padrasto em plena ceia de Natal. Meu padrasto foi pessoa importante e significativa em minha formação. Ele me proporcionou oportunidades de conhecer um mundo novo, que até então eu desconhecia: o mundo mágico da música – dos grandes espetáculos clássicos, desde as tragédias operísti- cas aos mais suaves bailados, como O Lago dos Cisnes , de Tchaikovsky.

Hoje fico pensando nos desencontros de minha mãe. Ela nunca conseguia encontrar a felicidade onde estava. Ficou confuso mas expli- co. O pai era atacadista de frutas e legumes dentro do Mercado Municipal (situado antigamente na Praça XV). Levantava-se às 4 horas da manhã para trabalhar e, quando voltava, queria mesmo era curtir as coisas da casa. Mamãe, muito nova, queria sair e passear mas, com tan- tos filhos, ia cada vez mais se tornando a Grande Mãe. Quando se casou com meu padrasto era o inverso. Ele trabalhava numa casa de tecidos, Meveste da Piedade , e gostava de dançar, de ir a teatros, de viajar, etc. Só que mamãe já não queria mais sair porque tinha que vigiar as filhas. Era o medo de que alguma não se casasse virgem, de véu e grinalda, dentro da igreja católica. Isto ela conseguiu. Todas casaram como manda o figurino, dentro dos conceitos arcaicos da época.

Ao Teatro Municipal, mamãe pouco acompanhava o marido. Assim, durante a temporada meu padrasto levava-me. Eu adorava. Ele tinha alguns macetes através de acordo com os porteiros de lá. Quando as luzes se apagavam nós dois íamos sorrateiramente sentar na escada, nos últimos degraus da torrinha – como dois clandestinos num navio

de luxo, sem pagar a entrada. Assisti a grandes espetáculos – como por exemplo: a Traviata , com Renata Tebaldi –, disponível atualmente só em discos e vídeos. Aqui está o desencontro de mamãe: quando não podia, ela queria e quando podia passou a não querer mais.

Olhando para trás, vejo nitidamente como era estranho o meu rela- cionamento com minha mãe. Eu não conseguia ser completamente independente. Mamãe, com aquela aparente fragilidade, era quem dominava. Era um comportamento tão louco que, mesmo depois de casada, meu marido muitas vezes me chamava a atenção para o fato de minha mãe estar sempre tentando viver a minha vida. Eu continuava esperneando, mas os resultados quase sempre eram negativos. Os com- plexos de culpa diante das atitudes que tomava frente à minha mãe sempre me atormentavam. Diante daquela mãe vitimizada, não conse- guia ter forças para separar o que era eu, do que seria ela , a tal ponto ainda estava presa àquela influência castradora! Às vezes penso que esse terá sido o alto preço que paguei por não ter juntado forças para cortar o cordão umbilical nos longos anos de minha vida e, também, por me achar sempre devedora – mamãe fazia cobranças por ter sacrificado a sua vida pelos sete filhos.

Terminei o ginásio e comecei, em seguida, o científico. Naquele pe- ríodo fiquei muito doente, de um mal que os médicos custaram muito a descobrir. Estava com uma tal de Giardia intestinalis , doença banal em nossos dias. Como não foi diagnosticado logo, o mal se alastrou pela vesícula, tornando-se uma coisa séria. Tive que fazer tratamento com o maior especialista no assunto, Dr. Monteiro de Carvalho, que esqueceu de me avisar que não poderia tomar sol. Resultado: no primeiro dia que tomei o remédio, minha pele ficou amarelo-esverdeada. Um horror! A doença deu pano pra manga.

Minha madrinha de crisma (uma prima muito querida) passou a dar- me uma mesada, enquanto durou a moléstia. Todavia, por ser o trata- mento muito demorado, perdi muitas aulas e abandonei o curso científi- co pela metade. Continuava forte, entretanto, meu desejo de estudar. Isso levou-me a tentar o concurso para a Escola Normal Carmela Dutra, com intuito de tornar-me professora, já que meu sonho de ser médica estava cada vez mais fora de alcance.