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História da Educação Física Brasileira: Origens e Desenvolvimento, Notas de aula de Educação Física

A primeira pesquisa histórica sobre a educação física no brasil, escrita por inezil e baseada em fontes institucionais e especializadas. O texto discute a importância da divisão de educação física na formação da educação física nacional, a contribuição de autores e regulamentos, e a evolução dos serviços de educação física em diferentes estados do brasil.

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
PRISCILLA KELLY FIGUEIREDO
A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E OS PRIMEIROS CURSOS DE
FORMAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL: O ESTABELECIMENTO
DE UMA DISCIPLINA (1929-1958)
BELO HORIZONTE
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

PRISCILLA KELLY FIGUEIREDO

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E OS PRIMEIROS CURSOS DE

FORMAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL: O ESTABELECIMENTO

DE UMA DISCIPLINA (1929-1958)

BELO HORIZONTE

PRISCILLA KELLY FIGUEIREDO

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA E OS PRIMEIROS CURSOS DE

FORMAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL: O ESTABELECIMENTO

DE UMA DISCIPLINA (1929-1958)

Tese apresentada ao Programa da Pós-Graduação em Educação: conhecimento e inclusão social, na linha de pesquisa de História da Educação, da Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Educação.

Orientador: Prof. Dr. Marcus Aurelio Taborda de Oliveira

BELO HORIZONTE

AGRADECIMENTOS

Posso estar só Mas sou de todo mundo Por eu ser só um Ah nem, ah não, ah nem dá Solidão, foge que eu te encontro Que eu já tenho asas... Isso lá é bom?! Doce solidão... (Doce solidão – Marcelo Camelo)

Ir de encontro à solidão foi um caminho necessário ao longo da escrita da tese. Essa “doce solidão” que o trabalho de uma tese nos impõe, só pôde ser “doce” porque feita pela presença de muitas pessoas que ao longo desse processo tornaram essa escrita possível.

À universidade pública brasileira, lugar que me possibilitou formação gratuita e de excelência, que se transformou e foi transformada em suas cores, se diversificando e ampliando suas entradas ao longo desses últimos anos. De aluna à docente, agradeço a todas as pessoas que possibilitaram que eu vivesse esse processo sendo parte dele desde a graduação.

Em Aracaju, agradeço aos professores do DEF e à Universidade Federal de Sergipe pela liberação e licença para esse doutoramento. A imersão nesse processo de formação foi fundamental e por isso agradeço de forma mais próxima aos professores: Cristiano Mezzaroba e Fábio Zoboli pela amizade e torcida; Roselaine Kuhn pela amizade fraterna e pelos encontros “além-mar”, em Portugal e na França, que nos foram possibilitados pelas “teses”; Hamilcar Dantas Junior por, como supervisor interno, ter cuidado de encaminhar os diversos relatórios acompanhando de perto a escrita dessa tese.

Ao Marcus que, ao me receber como orientador em Belo Horizonte, se mostrou desde o início sempre solícito e aberto ao diálogo nas propostas para essa escrita. Obrigada pela orientação firme e solidária ao longo desse processo.

Aos membros da banca examinadora, mulheres que aceitaram contribuir com a leitura desse trabalho permeado por homens; Andrea Moreno, Meily Linhales, Mirian Warde e Silvana Goellner. À Ana Maria Galvão e Hamilcar Junior pelo aceite da suplência.

Aos colegas e membros do CEMEF – Centro de Memória da Educação Física, do Esporte e do Lazer da UFMG. Voltar a este grupo de pesquisa fortaleceu meus caminhos de pesquisadora e reafirmou o quão importante para a história da educação física brasileira o trabalho que é nesse ambiente realizado.

Da mesma forma agradeço aos membros do GEPHE – Centro de Pesquisa em História da Educação pela possibilidade do aprofundamento nos debates sobre a História da Educação e do NUPES - Núcleo de Pesquisas sobre a Educação dos Sentidos e das Sensibilidades. Especialmente pela troca acadêmica ao longo das disciplinas na FaE à Chynthia Greive, Kelly

Julio, Sérgio Chaves Jr., Marina Braga, Bruna Oliveira, Vanessa Macedo, Ramona Mendes, Carolina Bassi, Alice Christofaro e Cristiane Pisani.

Meu agradecimento às muitas pessoas e instituições que contribuíram diretamente na coleta das fontes;

No Rio de Janeiro, À Carolina Ramos, responsável pelo Centro de Memória Inezil Penna Marinho na Escola de Educação Física e desportos EEFD/UFRJ. Ao Ten. Guariento da Escola de Educação Física do Exército – EsEFEx, pelo acesso ao acervo da Biblioteca Jair Jordão Ramos. Ao CPDOC/FGV pelo acesso ao acervo da Divisão de Educação Física através do Fundo Gustavo Capanema. Aos funcionários da BN - Fundação Biblioteca Nacional.

Em Porto Alegre, A André Silva e Cássio Cassel pela recepção amiga, pelos jantares e pelas trocas acadêmicas. À Silvana Goellner e Christiane Macedo pelo interesse na pesquisa, disponibilidade, abertura e empenho em disponibilizar o Acervo do Centro de Memória do Esporte, CEME/ESEF/UFRGS. Agradeço também às bibliotecárias da ESEF Ivone e Nagela pela atenção aos temas da pesquisa na consulta ao Acervo Histórico. À Alice Opala pela abertura de sua casa para consulta ao Acervo Pessoal do professor Inezil Penna Marinho.

No Paraná, À Vera Moro pela abertura do acervo do Centro de Memória do Dep. de Educação Física – CEMEDEF/UFPR, pela recepção calorosa, pela cama quente e pelos jantares e trocas de impressões sobre esse processo de formação. Ao tio Luizinho, Márcia, Larissa e Geovane pelo afeto em família.

No Espírito Santo, Ao Tatá, Tarcísio Mauro Vago pela torcida e por gentilmente disponibilizar sua casa para “pouso”. À Paulete e Felipe Quintão pela recepção no CEFD e pela acolhida em Vitória. A Omar Schneider e aos estagiários do PROTEORIA – Instituto de pesquisa em Educação e Educação Física pela abertura do Arquivo Institucional do CEFD/UFES.

Em Belo Horizonte, À Meily Linhales, Gisele Oliveira e aos estagiários do CEMEF - Centro de Memória da Educação Física, do esporte e do lazer pela abertura e auxílio na consulta do Arquivo Institucional da Escola de Educação Física da UFMG.

Em Paris, A Renaud D’Enfert pela acolhida em Paris e sugestão de acervos e seminários. Ao GHDSO - Groupe d’Histoire et Diffusion des Sciences d’Orsay e à Université Paris XI pela experiência de formação com os pesquisadores. Aos funcionários e pesquisadores com quem tive a oportunidade de conviver na BnF – Bibliothèque Nationale de France , pelo cuidado na orientação e recepção aos estrangeiros.

Para minha avó, Maria da Conceição de Oliveira professora e mãe de dez filhos,

por me fazer lembrar que “queria ter sido uma mulher mais estudada”

(In memorian)

RESUMO

Esta tese ocupa-se da disciplina História da Educação Física e sua institucionalização nos currículos dos cursos de formação em educação física entre os anos de 1929 a 1958. A análise da disciplina História da Educação Física através dos currículos dos cursos permitiu estabelecer conexões com a história da formação de professores em Educação Física no Brasil através da análise das relações entre as instituições de ensino e seus currículos com os professores e suas produções acerca da disciplina supracitada. Interessou compreender de forma mais ampliada como a disciplina se estabeleceu num contexto institucional e político a partir do início dos anos de 1930 na educação física brasileira e de forma mais internalista como esta poderia ser revelada através de seus conteúdos e finalidades pelos compêndios, livros e programas de ensino considerados como “práticas” dos professores que a ministraram ao longo das três décadas dos cursos analisados. Tais análises tiveram como ponto de partida as propostas teóricas de Ivor Goodson (1990, 2000) sobre a história social do currículo e das disciplinas e das indicações de André Chervel (1990) e suas proposições sobre a gênese, a função e o funcionamento de uma disciplina. Esse escopo teórico aliado às fontes tentou mostrar o processo de institucionalização da disciplina HEF levando em consideração as instituições de ensino, seus cursos e os sujeitos, professores que a produziram. Considerando que foi pelo processo de escolarização da educação física e pela necessidade da formação de professores que a disciplina passa a fazer parte dessa formação profissional, a disciplina HEF é posta em relação ao contexto de produção de seus professores através da investigação da trajetória profissional destes. Esse movimento de estabelecer indicativos institucionais e de revelar os conteúdos da disciplina através dos programas de ensino, livros e compêndios revelou que a disciplina parece, ao longo do período analisado, contribuir para o estabelecimento de subsídios teóricos aos processos pedagógicos da formação em educação física. A produção dos professores mostrou que uma das grandes finalidades da disciplina esteve conectada à legitimação do Método Francês de educação física no Brasil ao longo dos anos de 1930. Marcadamente uma disciplina teórica, a História da Educação Física permeou o currículo de todos os cursos analisados estabelecendo uma leitura “estrangeira” da história da educação física como forma de legitimar a formação pedagógica para a atuação da educação física. A partir da década 1940 a disciplina tem seus temas ampliados para as questões “nacionais” indicando a projeção de futuros métodos ou sistemas de Educação Física nacionais contribuindo para a construção de um lugar para a História da Educação Física nacional dentro de seus programas. O alinhamento da História da Educação Física com os temas da História Universal de forma linear e cronológica, a história filosófica devedora da Antiguidade e a tentativa de estabelecer uma utilidade para a História para a Educação Física foram permanências da disciplina ao longo das décadas analisadas. As fontes mobilizadas permitiram a investigação das concepções de seu ensino compreendendo os temas e conteúdos em jogo nesse processo em conjunto com ações institucionais elaboradas pelo Estado Novo através da Divisão de Educação Física. Observou-se uma preocupação de que a disciplina ocupasse um lugar de aparente transição “teórica” para “prática” naqueles currículos aliadas às seções pedagógicas dos mesmos. Foi notório nesse processo, que a disciplina História da Educação Física pudesse fornecer teorias explicativas capazes de articular o passado corroborando com os métodos de intervenção pedagógicos de seu presente.

Palavras-chave: história das disciplinas, disciplina História da Educação Física, história da educação física, história do currículo, história da formação de professores.

RÉSUMÉ

La présente thèse traite de la discipline Histoire de l'éducation physique et son institutionnalisation dans les programmes des cours de formation en éducation physique entre les années 1929 à 1958. L'analyse de la discipline à travers les programmes de ses cours a permis à la recherche d'établir des liens avec l'histoire de la formation des enseignants en éducation physique au Brésil, en analysant les relations entre les établissements d'enseignement et leurs programmes, avec les enseignants et leurs productions académiques sur cette discipline. Il est intéressant de comprendre, d’une forme plus élargie, comment la discipline s’est mise en place dans un cadre institutionnel et politique depuis le début des années 1930, dans l'éducation physique brésilienne. En plus, d’une façon plus intèrne, comment cela pourrait être révélé à travers leurs contenus et leurs finalités transmis par les recueils, les livres et les programmes d’enseignement considérés comme « pratiques » des enseignants qui ont offert pendant trois décennies les cours analysés. Ces analyses ont eu comme point de départ les propositions théoriques de Ivor Goodson (1990, 2000) à propos de l'histoire sociale du curriculum et des disciplines et les indications et les propositions de André Chervel (1990) sur la genèse, la fonction et le fonctionnement d'une discipline. La portée théorique alliée aux sources documentaires avait pour but montrer le processus d'institutionnalisation de la discipline HEF en tenant compte les établissements d'enseignement, leurs cours et les profiossionnels qui l'ont produit. Considérant que la discipline HEF est devenue partie de cette formation professionel à travers les processus de scolarisation de l’éducation physique et par la nécessité de formation de professeurs, celle-ci est mise en relation avec le contexte de production de ses enseignants par le biais de l’enquête du parcours de recherche de ces derniers. Cette démarche pour établir des indications institutionnelles et pour montrer le contenu de la discipline à travers des programmes éducatifs, des livres et des manuels a rélévé que la discipline semble, tout au long de la période analysée, contribuer à la mise en place d'un soutien théorique aux processus pédagogiques de formation en éducation physique. La production académique des enseignants a montré que l'un des grands objectifs de la discipline était la légitimation de la méthode française de l'éducation physique au Brésil, au cours des années 1930. Étant nettement une discipline théorique, l'Histoire de l'éducation physique a entremêlé le programme de tous les cours analysés établissant une lecture « étrangère » de l’Histoire de cette discipline comme un moyen de légitimer la formation pédagogique qui envisageat la performance du profissionnel de l’éducation physique. A partir de la fin des années 1940 les thèmes abordés par cette discipline sont élargis aux questions « nationales », indiquant la projection de méthodes futures ou des systèmes d'éducation physique nationaux qui contribuent à la construction d'un lieu pour l'Histoire de l'éducation physique nationale dans leurs programmes. L'alignement de l'Histoire de l'éducation physique avec les thèmes de l'Histoire universelle de façon linéaire et chronologique, l’Histoire philosophique débiteuse de l'Antiquité et la tentative d'établir un utilitaire pour l'Histoire de l'éducation physique ont été des continuités de la discipline au cours des décennies analysées. La documentation analysée a permis l'enquête a propors de concepts de son enseignement, comprenant les thèmes et le contenu en question dans ce processus, ainsi que des actions institutionnelles élaborées par le Estado Novo à travers la Division de l'Éducation Physique. Par ailleurs, il a été possible d’observer une préoccupation concernant le fait de que la discipline occuperait une place de transition « théorique » à la « pratique » dans ces programmes, par rapport à leurs propres sections pédagogiques. Il a été évident dans ce processus que la discipline Histoire de l’éducation physique puisse fournir des théories explicatives, capables d'articuler le passé corroborant avec les méthodes d'intervention pédagogique du présent.

Mots-clés: histoire des disciplines, l'histoire de la discipline éducation physique, l'histoire de l'éducation physique, l'histoire du curriculum, l'histoire de la formation des enseignants.

LISTA DE QUADROS

  • Quadro 1 – Estabelecimentos de Ensino
  • Quadro 2 – Acervos Consultados
  • Quadro 3 – Artigos de Fernando de Azevedo na Revista Educação Physica
  • Quadro 4 – Currículos dos cursos de Educação Física da década de
  • Quadro 5 – Artigos de Laurentino Bonorino na Revista de Educação Física do Exército
  • Física Quadro 6 – Referências bibliográficas francesas do compêndio Histórico da Educação
  • Quadro 7 – Tittre II – Instruction – Chapitre 1er - Programme des cours
  • Quadro 8 – Artigos de Américo Netto na Revista de Educação Physica
  • Quadro 9– Currículos do curso de Educação Física da ENEFD
  • Quadro 10 – Programa de História da Educação Física e dos Desportos

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 16

CAPÍTULO 1 – O CONHECIMENTO HISTÓRICO E A EDUCAÇÃO FÍSICA:

CONSTITUINDO UM CAMPO DISCIPLINAR .................................................................... 30

1.1 A Divisão de Educação Física: constituindo uma história para a educação física no

Brasil ................................................................................................................................... 30

1.1.1 Pioneiros da Educação Física no Brasil ....................................................................... 30

1.2 Educação Física – Estatística e Organização da Educação Física no Brasil ...................... 34

1.3 Constituindo um campo disciplinar na formação em educação física................................ 37

1.4 Conversando com Rui Barbosa e Fernando de Azevedo ................................................... 43

1.4.1 Rui Barbosa e a história da educação física ................................................................. 43

1.5 Os escólios de Inezil Penna Marinho sobre “a história” da Educação Física nos pareceres

de Rui Barbosa ......................................................................................................................... 49

1.6 Fernando de Azevedo e a História da Educação Física ...................................................... 53

1.7 A história da educação física em Da Educação Física ...................................................... 61

CAPÍTULO 2 – A DISCIPLINARIZAÇÃO DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA:

ENTRE MILITARES E CIVIS ................................................................................................ 72

2.1 Os cursos de formação em educação física e o lugar da disciplina HEF: instituições,

sujeitos e práticas nos 1930 ...................................................................................................... 72

2.2 O lugar de fronteira dos primeiros cursos de formação em Educação Física: entre o

técnico e o superior ................................................................................................................... 78

2.3 Os currículos dos primeiros cursos de formação em educação física: o lugar da HEF ...... 92

CAPÍTULO 3 – OS PROFESSORES DA “CADEIRA” DE HEF E SUAS PRÁTICAS NOS

ANOS 1930: CIRCULAÇÃO E APROPRIAÇÃO NACIONAL E INTERNACIONAL .... 103

3.1 Dos professores da “cadeira” de HEF e suas práticas ...................................................... 103

3.1.1 Laurentino Lopes Bonorino ....................................................................................... 106 3.1.2 Carlos Marciano de Medeiros .................................................................................... 117

3.2 O compêndio Histórico da Educação Física ..................................................................... 118

3.3 Os programas da cadeira de História da Educação Física: o curso para professores no

Espírito Santo ......................................................................................................................... 130

16

INTRODUÇÃO

A distinção entre o passado e o presente é um elemento essencial da concepção do tempo. É pois, uma operação fundamental da consciência e da ciência histórica. Como o presente não se pode limitar a um instante, a um ponto, a definição da estrutura do presente, seja ou não consciente, é um problema primordial da operação histórica. (LE GOFF, 2003, p. 207)

Estudar a história do currículo e a história das disciplinas pressupõe o estudo de uma

gama de “diferentes cenários e níveis” (GOODSON, 2000, p. 51). Essa é a recomendação de

Ivor Goodson para o estudo da história do currículo como um “conflito social”. Através dessa

gama de cenários e níveis, o currículo, segundo o autor, poderia ser melhor compreendido por

uma visão construcionista e, por isso, também histórica e social de um trabalho que deseja

compreender a história de uma disciplina. Atentar para os cenários e níveis nesse contexto é

também considerar a necessidade de examinar as forças internas e externas que vão, ao longo

do tempo, moldando currículos e disciplinas ao que foi prescrito como atividade de aula e

também como força política e institucional.

Ao longo deste estudo, diferentes cenários em relação à história da disciplina História

da Educação Física (HEF) foram surgindo através das fontes pesquisadas. O objetivo inicial

de analisar a história dessa disciplina no currículo dos primeiros cursos de formação em

Educação Física no Brasil ganhou outras camadas de análise através do olhar sobre

documentos institucionais e sobre o que denominamos como a “materialidade” da disciplina:

programas de ensino, livros e compêndios destinados às funções didático-pedagógicas da

disciplina. A ideia inicial de enquadrá-la em uma teoria da história das disciplinas

acadêmicas, por esta se estabelecer nos chamados “primeiros cursos superiores de formação”,

considerando-a a partir de um “padrão evolutivo” como proposto por Ivor Goodson (1990),

foi descartada nesse processo. Isso se deu devido à constatação de que, nesses diferentes

cenários apresentados, era necessário observar melhor seus “parâmetros para a prática”, de

acordo com Goodson, e sua “gênese, função e seu funcionamento”, como propõe André

Chervel (1990).

Devido a essas questões e na tentativa de compreender que a disciplina História da

Educação Física também se constituía como um lugar de conflito social dentro da própria

Educação Física e das instituições estatais que regularam sua escolarização, me lancei a uma

análise ora externa, ligada aos documentos oficiais institucionais e políticos, ora mais interna,

17

ligada à produção do que foi destinado à disciplina. Ao longo desse processo, categorias

teóricas foram abandonadas fazendo surgir outras questões mais ligadas a como a

institucionalização dessa disciplina havia ocorrido levando em conta as instituições e os

sujeitos que a produziram ao longo das três décadas analisadas.

Serviram-me de inspiração teórica as problematizações de Ivor Goodson sobre o

“surgimento” de uma disciplina dentro do currículo. Da mesma forma, para a compreensão

dos “parâmetros da prática” da disciplina foram importantes as considerações de André

Chervel sobre a “gênese, a função e o funcionamento” de uma disciplina. Embora a

investigação se centrasse na disciplina HEF, o conjunto de fontes mostrou que a HEF se

ampliava na configuração do campo de conhecimento e na atuação da própria Educação

Física como saber que tentava se legitimar na escola. Foi pelo processo de escolarização da

educação física e pela necessidade da formação de professores para esse processo que a HEF

passou a fazer parte dessa formação e a ser reinvindicada por esses sujeitos e lugares

institucionais também. Essas categorias, nesse sentido, me permitiram tensionar a ambiência

política e institucional da disciplina HEF em meio aos cursos de formação e à produção dos

professores analisados em conjunto com sua trajetória profissional.

A história das disciplinas acadêmicas no debate da história das disciplinas é ainda

incipiente para uma compreensão mais alargada e aprofundada das disciplinas que não

surgiram das matrizes interpretativas da escola, como é o caso da HEF.^1 Apesar disso, a noção

de “surgimento” proposta por Goodson (1990) para a compreensão das disciplinas acadêmicas

ajudou, com certas limitações, na interlocução com as fontes. Ivor Goodson lembra que no

“surgimento” de uma disciplina “os professores raramente são especialistas treinados, mas

trazem o entusiasmo missionário dos pioneiros à sua tarefa” (LAYTON, 1972 apud

GOODSON, 1990, p. 235-236). O autor faz essa afirmação a partir da noção de “evolução”

proposta no modelo de Layton^2 , o qual compreende como um modelo provisório, mas que

(^1) Na História das disciplinas acadêmicas, o fazer científico como objeto primeiro de análise tem, nas disciplinas

de matriz escolar, modelo para as disciplinas que se estabeleceram no ensino superior. Marcadas em suas constituições pelas trocas entre escola e universidade, tais disciplinas acabariam reforçando os vínculos com a tradição científica e acadêmica das universidades, adquirindo status de ciência. A disciplina HEF não passa por esse percurso, pois se estabeleceu diretamente nos chamados Cursos Superiores de Educação Física. Sobre a história das disciplinas acadêmicas e o processo de academicização das disciplinas, ver Goodson (1990, 1995,

  1. e Warde (1990). (^2) O modelo de Layton utilizado por Goodson (1990) analisa a evolução de uma disciplina em direção a um status

acadêmico categorizando-a em três estágios distintos. “No primeiro estágio: o inexperiente intruso assegura um lugar no horário escolar, justificando sua presença com base em fatores tais como pertinência e utilidade. Durante esse estágio, os aprendizes são atraídos pela matéria por causa de sua relação com questões de seu interesse. Os professores raramente são especialistas treinados, mas trazem o entusiasmo missionário dos pioneiros à sua tarefa. O critério dominante é a relevância para as necessidades e interesses dos aprendizes. No segundo e intermediário estágio: uma tradição de trabalho acadêmico na matéria está emergindo juntamente

19

ministraram a disciplina (GOODSON, 1995, p. 190). Embora esse quadro teórico não trate

das disciplinas que não surgem na escola como é o caso da HEF, os estudos históricos sobre

construção social do currículo colaboram para a análise de como se originam as disciplinas e

de como elas se redefinem historicamente.

Já André Chervel (1990), ao tratar da história das disciplinas escolares, produz uma

análise mais internalista, caracterizada pelo olhar sobre as práticas e sobre modos de produção

do professorado, tais como exames e cadernos de alunos, cadernos e exercícios escolares,

instrumentos científicos e material didático. Ao tratar da história das disciplinas escolares

como objeto, André Chervel prioriza a atenção sobre a história dos conteúdos de ensino,

caracterizando a história das disciplinas como a própria concepção da história do ensino.

Como apontado anteriormente, Chervel (1990) propõe três problemas centrais a serem

debatidos de forma mais internalista em relação ao trabalho com a história das disciplinas: “a

gênese, a função e o funcionamento da disciplina”. A investigação da “gênese” da disciplina

teria, para o autor como ponto central a escola e como esta teria produzido uma disciplina; a

da “função” de uma disciplina apontaria a finalidade para a qual foi criada; e a do

“funcionamento” de uma disciplina demonstra o sentido com que ela se propaga ou se

vulgariza na reprodução dos saberes e das práticas nela constituídos (CHERVEL, 1990, p.

185).

Esses elementos teóricos me impeliram a pensar a disciplina no interior dos currículos

dos primeiros cursos de formação em educação física estabelecidos entre 1929 a 1958 e sua

relação mais ampla com a formação de professores no Brasil. A análise da disciplina HEF

partiu de uma concepção mais ampliada de currículo e teve como foco os fluxos institucionais

e políticos através da história das disciplinas no interior da construção social do currículo, a

partir dos arcabouços teóricos acima citados.

Partindo da proposição desses problemas, foi possível não somente acessar os

conteúdos da disciplina como propõe André Chervel, mas tentar observar como eles

dialogavam com a estrutura institucional mais ampla em torno da educação física, de sua

história e dos currículos dos cursos. Procurei construir o contexto específico da disciplina

HEF como objeto de estudo, buscando compreender seus diferentes fluxos de

desenvolvimento pelos currículos dos cursos de formação e pelos professores que a

produziram. Esse exercício possibilitou compreender o lugar múltiplo desse objeto de

pesquisa nos estudos da história social das disciplinas. Esses argumentos teóricos acima

citados se estabeleceram como linhas argumentativas que se complementam ao longo desse

estudo, possibilitando o arranjo das fontes e das análises. É certo que a disciplina HEF parece

20

não se enquadrar perfeitamente em nenhum desses modelos teóricos de Ivor Goodson e André

Chervel, mas foi através deles que procuramos mostrar o que Bruno Belhoste (1995,

informação verbal^3 ) sugere em relação à história das disciplinas: que esta pode ser “inventada,

composta e decomposta” em seu processo de constituição histórica. Reconhecendo os limites

da noção teórica sobre a história das disciplinas escolares, o autor indica aos historiadores

formas de operar com elas, entendendo-as enquanto práticas sociais construídas “caso a caso”.

[...] Aquilo que ele [o historiador] procura mostrar, ao contrário, é como os discursos e usos são inventados e compostos, decompostos, colocados em circulação e reinventados e em qual parte são aí conduzidos, em cada caso, os ensinos. [...] O historiador das disciplinas deve então se recusar, a priori, a se fechar na instituição escolar, e ainda menos na “situação didática”; ele deve, antes de tudo, construir a cada vez o contexto específico de seu objeto de estudo (BELHOSTE, 1995, s.p.).

O olhar sobre conteúdos, planos, compêndios, artigos e relatórios, em diálogo com o

contexto ampliado da História da Educação Física do período, permitiu que as trajetórias

profissionais dos homens que a escreveram pudesse ser revelada e, com elas, o caminho

percorrido também na disciplina HEF. Através das instituições foi possível identificar

professores com características muito distintas que ministraram a disciplina ao longo das três

décadas investigadas. Eles foram, em sua maioria, homens: militares, jornalistas, técnicos e

esportistas que, ao se ocuparem da docência de HEF, estiveram intimamente comprometidos

com a máquina governamental e nela transitaram, seja pelos órgãos de regulação, seja pelas

instituições de ensino. Estando imersos como docentes em uma disciplina marcadamente

teórica, todos esses sujeitos, em diferentes graus ao longo do período, ajudaram a consolidar

uma disciplina que pareceu estar inclinada a subsidiar teoricamente os processos pedagógicos

dos cursos, como a escolha dos Métodos Ginásticos, de Educação Física e do esporte, que

eram compreendidos como conhecimento a ser mobilizado pedagogicamente. Não seria

possível, dessa forma, observar a disciplina HEF somente nos indicativos institucionais.

Houve, ao longo do período incial analisado, um alinhamento de propostas entre os sujeitos

que estiveram empenhados na escrita dessa historiografia ao longo dos anos de 1930 a 1940.

Essa aproximação do caráter pedagógico da disciplina somente foi possível pelo acesso, de

forma mais internalista, aos programas de ensino, compêndios e livros que, escritos com

funções didáticas para a disciplina, contribuíram para dizer sobre sua função e sua

funcionalidade como propôs Chervel.

(^3) Resumo de palestra proferida no Brasil em 22 de janeiro de 1995. Na palestra, Bruno Belhoste tenta avançar

propondo outras matrizes interpretativsa para a história das disciplinas escolares a partir do escopo teórico de André Chervel.