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Análise da Energia Aquática em 'A Cachoeira' de Castro Alves: Poesia Romântica, Notas de estudo de Poética

Um estudo em andamento sobre a expressão metafórica da natureza na obra poética 'a cachoeira' de castro alves. O texto explora como a mudança estética observada na produção poética de castro alves na última fase de sua carreira resultou em um melhor aproveitamento dos recursos metafóricos, especialmente na representação paisagística. A pesquisa enfatiza a importância do elemento aquático na obra, que se articula estruturalmente aos personagens principais e a seus destinos, refletindo notícias centrais da obra. A figura da enargia, ou 'pintura viva', é analisada em relação à descrição do poema 'a cachoeira' e à notícia de jornal transcrita, revelando aproximações terminológicas e conceituais que indicam a relevância dos procedimentos textuais descritivos na composição metafórica da cachoeira.

O que você vai aprender

  • Qual é a importância do elemento aquático na obra 'A Cachoeira' de Castro Alves?
  • Qual é a importância da figura da enargia na composição metafórica da cachoeira em 'A Cachoeira' de Castro Alves?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

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Anais do I Seminário do Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira
FFLCH-USP, São Paulo, março de 2015
156
A figuração energética do elemento aquático n’A cachoeira de
Paulo Afonso de Castro Alves (1847-1871)
Giovanna Gobbi Alves Araújo1
Resumo
A presente pesquisa em andamento se dedica à análise da expressão metafórica da
natureza na obra poética A cachoeira de Paulo Afonso de Castro Alves (1847-1871). Não
obstante sua breve duração, observa-se na produção poética de Castro Alves uma mudan-
ça estética. A crítica do final do século XX apontou nas composições de sua última fase
um melhor aproveitamento dos recursos metafóricos, particularmente na representação
paisagística, conforme apontam os estudiosos Jon M. Tolman e Fausto Cunha. Na obra A
cachoeira de Paulo Afonso (1876), a constituição da paisagem natural ganha relevo por
meio de uma expressão poética depurada, de ênfase sensorial e plástica que, em asso-
ciação ao estilo sublime, encena liricamente o drama trágico da escravidão. O elemento
aquático exerce papel fundamental, pois que presente ao longo de toda a narrativa, arti-
cula-se estruturalmente aos personagens principais e a seus destinos, refletindo noções
centrais a obra (primordialmente, as de pureza, desonra e resistência) e atuando, em
nível simbólico, como matéria da expressão metafórica vívida e sublime. Mediante o
emprego de ornatos do discurso relacionados à vividez, a cachoeira, metaforizada num
embate de forças naturais, assume índices de uma violência irrefreável, cuja magnitude
reverbera a opressão vivenciada pelos protagonistas escravos na esfera humana. Assim,
propomos que a manifestação enargética da natureza n’A cachoeira de Paulo Afonso
cuja representação maior se traduz na ekphrasis do grupo estatuário de Laocoonte no
poema “A Cachoeira” – além de atuar como um instrumento persuasivo, materializa um
posicionamento estético do eu poético acerca do sublime na obra de arte como veículo
privilegiado vinculado à liberdade moral do homem.
Palavras-chave
Castro Alves; enargeia; natureza; poesia romântica brasileira
1 Mestranda em Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo e bolsista CA PES, sob orientação do Prof. Dr. Ricardo Souz a de Carvalho. E-mail: giovannagobbi@usp.br.
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FFLCH-USP, São Paulo, março de 2015

A figuração energética do elemento aquático n’ A cachoeira de

Paulo Afonso de Castro Alves (1847-1871)

Giovanna Gobbi Alves Araújo^1 Resumo A presente pesquisa em andamento se dedica à análise da expressão metafórica da natureza na obra poética A cachoeira de Paulo Afonso de Castro Alves (1847-1871). Não obstante sua breve duração, observa-se na produção poética de Castro Alves uma mudan- ça estética. A crítica do final do século XX apontou nas composições de sua última fase um melhor aproveitamento dos recursos metafóricos, particularmente na representação paisagística, conforme apontam os estudiosos Jon M. Tolman e Fausto Cunha. Na obra A cachoeira de Paulo Afonso (1876), a constituição da paisagem natural ganha relevo por meio de uma expressão poética depurada, de ênfase sensorial e plástica que, em asso- ciação ao estilo sublime, encena liricamente o drama trágico da escravidão. O elemento aquático exerce papel fundamental, pois que presente ao longo de toda a narrativa, arti- cula-se estruturalmente aos personagens principais e a seus destinos, refletindo noções centrais a obra (primordialmente, as de pureza, desonra e resistência) e atuando, em nível simbólico, como matéria da expressão metafórica vívida e sublime. Mediante o emprego de ornatos do discurso relacionados à vividez, a cachoeira, metaforizada num embate de forças naturais, assume índices de uma violência irrefreável, cuja magnitude reverbera a opressão vivenciada pelos protagonistas escravos na esfera humana. Assim, propomos que a manifestação enargética da natureza n’ A cachoeira de Paulo Afonso – cuja representação maior se traduz na ekphrasis do grupo estatuário de Laocoonte no poema “A Cachoeira” – além de atuar como um instrumento persuasivo, materializa um posicionamento estético do eu poético acerca do sublime na obra de arte como veículo privilegiado vinculado à liberdade moral do homem. Palavras-chave Castro Alves; enargeia ; natureza; poesia romântica brasileira 1 Mestranda em Literatura Brasileira da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo e bolsista CAPES, sob orientação do Prof. Dr. Ricardo Souza de Carvalho. E-mail: giovannagobbi@usp.br.

FFLCH-USP, São Paulo, março de 2015 Nesta comunicação, apresentaremos os resultados parciais de nossa pesqui- sa de mestrado acerca dos efeitos do emprego da figura da enargia , ou ‘pintura viva’, na expressão metafórica do elemento aquático no poema A cachoeira de Paulo Afonso (1876) de Castro Alves (1847-1871). O manuscrito original d’ A cachoeira de Paulo Afonso apresenta uma nota final na qual Castro Alves transcreve um excerto de uma notícia do Diário da Bahia , que traz uma longa descrição da cachoeira de Paulo Afonso e a informação da passagem do impe- rador D. Pedro II à região em outubro de 1859. A notícia lhe fora enviada por seu editor e amigo Augusto A. Guimarães, a fim de lhe servir de inspiração no processo de escri- ta da obra. À época, o poeta havia relatado em carta ao mesmo amigo que iria visitar a “queda gigantesca do S. Francisco” (ALVES, 1997, p. 746), como Chateaubriand o fize - ra às cataratas do Niágara, para completar a descrição da cachoeira de Paulo Afonso. A análise comparativa entre o poema e a notícia de jornal transcrita revelou aproximações terminológicas e conceituais (sonoridade, brilho e clareza) que nos indicaram a relevân- cia dos procedimentos textuais descritivos na composição metafórica da cachoeira no interior da obra. Na obra dedicada à história de opressão e violência vivida por um casal de escravos, Lucas e Maria, a ênfase dada à visualidade poética mediante o emprego de formas variadas da expressão enargética promove a adequação da tragicidade do desti- no humano à forma lírica. Desta forma, a descrição poética do elemento aquático n’ A cachoeira de Paulo Afonso corresponde a um instrumento vital na constituição do poema. Segundo o estudioso Fausto Cunha em O romantismo no Brasil , a enargia era técnica frequentemente discutida pelos poetas românticos em seus textos crítico-estéti- cos, sendo “a pedra de base nos estudos da poesia do tempo” (CUNHA, 1971, p. 65). Além disso, afirma que Castro Alves, dentre outros coetâneos, firmou sua reputação declama- tória na manipulação da illustratio. O fato se confirma na leitura do texto “Impressões da leitura das poesias do Sr. A. A. de Mendonça”, em que Castro Alves avalia o volume de poesias de Antônio Augusto de Mendonça Júnior. Em sua crítica, Castro Alves elogia o tratamento que a natureza recebe nos versos de Mendonça e cita como exemplo de

FFLCH-USP, São Paulo, março de 2015 diante dos olhos incorpóreos da mente. Assim, o elemento aquático passa pelos proces- sos de zoomorfização e antropomorfização até se transfigurar na estátua grega do grupo de Laocoonte, constituindo um conjunto alegórico potente da dignificação do espírito humano diante da inevitabilidade da morte. Convergindo em si toda a progressão meta- fórica, a descrição ecfrástica^2 da reação de contração de Laocoonte e seus filhos ao ataque das serpentes de Tênedos reforça no poema o conceito da resistência diante da violência, engendrando o ápice do sublime estético e o ponto culminante do poema. Tal evocação alegórica, representada por meio do estilo sublime que revela ao homem sua destinação e devolve elasticidade a seu espírito^3 , nos leva a entender o desfecho trágico do suicídio dos escravos Lucas e Maria não como uma rendição do casal às impossibilidades de um sistema que os paralisa, mas como a libertação da violência que os anula. De acordo com João A. Hansen no artigo “Categorias epidíticas da ekphrasis ” (2006, p. 99), a aplicação das técnicas retóricas relacionadas às categorias de clareza, nitidez e brilho na “visualização imaginosa” ( enargeia ) estimulam o pathos , tanto no poeta quanto nos ouvintes, e podem contribuir às funções retóricas de ensinar, agradar/ maravilhar e persuadir. Nesse sentido, o uso da enargia por Castro Alves n’ A cachoeira de Paulo Afonso é particularmente relevante na medida em que as componentes natu- rais são postas a simbolizar a violência existente na esfera humana, por intermédio de metáforas vigorosas, como forma de representar a corrupção moral do indivíduo escra- vizado e denunciar o sistema escravocrata que o desonesta, silencia e lhe veda a fruição do amor. Por fim, os mecanismos de descrição ecfrástica e avivamento na representação das águas n’ A cachoeira de Paulo Afonso agem enquanto recursos potencializadores da capacidade persuasiva do texto poético, atuando como fator esclarecedor dos argumen- tos apresentados sobre as atrocidades da escravidão. 2 A ekphrasis consiste na emulação verbal destinada à descrição pictórica da arte. Cf. a definição de João Adolfo Hansen (2006, p. 86). 3 Cf. as teorias do “sublime dinâmico” em Immanuel Kant e do “sublime patético” em Friedrich Schiller.

FFLCH-USP, São Paulo, março de 2015 Referências bibliográficas ALVES, Castro. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar S. A., 1997. CUNHA, Fausto. O Romantismo no Brasil : de Castro Alves a Sousândrade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, Brasília, DF, INL, 1971. HANSEN, João Adolfo. Categorias epidíticas da ekphrasis. Revista USP , n. 71, p. 85-105, set./nov. 2006. PLETT, Heinrich F. Enargeia in classical Antiquity and the early Modern Age. The aesthetics of evidence. Leiden; Boston: Brill, 2012.