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Uma análise estilística de dois poemas: 'os homens: as viagens' de carlos drummond de andrade e 'beija eu' de marisa monte. O texto foca na análise da expressividade lexical e sintática de ambos os poemas, destacando as diferentes etapas da busca humana pelo desconhecido e a exploração de novos lugares, tanto espacialmente quanto emocionalmente. O autor também discute a importância da gíria e neologismos na expressão da subjetividade do eu lírico.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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Gisele Palmieri (UERJ) INTRODUÇÃO O estudo da Estilística revela muito do conteúdo e da signifi- cação de um texto. Especialmente o literário. Neste trabalho, em que o foco é a estilística léxica (a do efeito causado pela palavra) e a sintática( a do efeito causado pela relação das palavras numa frase), escolheu-se trabalhar com dois textos poé- ticos. São eles: “ Os homens: as viagens”, de Carlos Drummond de Andrade e “ Beija eu” de Marisa Monte. O primeiro, para a análise da expressividade lexical ; o segundo, para a análise da expressivi- dade sintática. Acontece, portanto, de haver alguns dados que se mis- turam. Como por exemplo, no poema de Drummond, foi inevitável fazer uma análise específica da expressividade sintática, que se liga- va a outro da expressividade lexical. O que, afinal, não invalida a se- paração feita no corpo do trabalho, cujo objetivo foi dar maior ênfase a um ou outro tipo de estilística. ESTILÍSTICA LEXICAL O homem: as viagens O homem, bicho da Terra tão pequeno chateia-se na Terra lugar de muita miséria e pouca diversão, faz um foguete, uma cápsula, um módulo toca para a Lua desce cauteloso na Lua pisa na Lua planta bandeirola na Lua experimenta a Lua coloniza a Lua civiliza a Lua humaniza a Lua.
Lua humanizada: tão igual à Terra. O homem chateia-se na Lua. Vamos para Marte – ordena a suas máquinas. Elas obedecem, o homem desce em Marte Pisa em Marte experimenta coloniza civiliza humaniza Marte com engenho e arte. Marte humanizado, que lugar quadrado. Vamos a outra parte? Claro – diz o engenho sofisticado e dócil. Vamos a Vênus. O homem põe o pé em Vênus, Vê o visto – é isto? idem idem idem. O homem funde a cuca se não for a Júpiter proclamar justiça junto com a justiça repetir a fossa repetir o inquieto repetitório. Outros planetas restam para outras colônias. O espaço todo vira Terra-a-terra. O homem chega ao Sol ou dá uma volta só para tever? Não- vê que ele inventa roupa insiderável de viver no Sol. Põe o pé e: mas que chato é o Sol, falso touro espanhol domado.
“ Não-vê que ele inventa roupa insiderável de viver no Sol”. A gíria pode ser entendida claramente como a fa- la/pensamento do homem. Nos neologismos já se pode perceber a in- fluência maior de um narrador, dado o sentido irônico que elas pos- suem como referência aos atos frustrados do homem: “ Põe o pé e: mas que chato é o Sol, falso touro espanhol domado.” Na última estrofe, há duas palavras fragmentadas com alto va- lor expressivo, remetendo-se ao conteúdo do texto: col-onizar( radi- cal latino oni- tudo, todo + sufixo verbal izar) e con-viver( com- pre- fixo companhia + infinitivo viver= viver com; viver consigo mesmo)
. Essa quebra de palavra recupera o sentido original da palavra. Su- gere assim, que o homem, após romper os limites do mundo conhe- cido, através de viagens espaciais, deve fazer uma viagem dangero- síssima ( neologismo formado a partir de estrangeirismo- danger- com sufixo – íssimo- que tem a intenção expressiva de exagerar, en- fatizar) de retorno.Essa viagem se refere à volta ao seu próprio inte- rior e como a fragmentação da palavra nos mostra o sentido original da palavra, o rompimento dos limites do mundo conhecido pode permitir ao homem o encontro consigo mesmo e a recuperação do verdadeiro sentido da vida. ESTILÍSTICA SINTÁTICA Beija eu^2 (Marisa Monte) Seja eu, seja eu, Deixa que eu seja eu E aceita o que seja seu Então deita e aceita eu (^2) – A composição musical “Beija eu” é de autoria da cantora e compositora Marisa Monte. Exis- tem duas versões métricas diferentes para esta composição; uma da própria autora e outra da Adriana Calcanhoto. A utilizada neste trabalho é a versão da Adriana Calcanhoto.
Molha eu, seca eu Deixa que eu seja o céu E receba o que seja seu Anoiteça, amanheça eu Beija eu, beija eu, beija eu Me beija Deixa o que seja seu Então beba e receba Meu corpo, no seu corpo Eu no meu corpo Deixa, eu me deixo Anoiteça, amanheça Seja eu, seja eu, Deixa que eu seja eu E aceita o que seja seu Então deita e aceita eu Molha eu, seca eu Deixa que eu seja o céu E receba o que seja seu Anoiteça , amanheça eu. Nas orações imperativas afirmativas os pronomes oblíquos á- tonos devem estar em ênclise( isto é, após o verbo). E, o pronome pessoal do caso reto “eu” ( 1ª pessoa do singular), só pode ser em- pregado na função sintática de sujeito. A compositora de “ Beija eu” resolveu transgredir claramente estas normas da língua culta, a fim de dar maior ênfase em sua men- sagem. O que ressalta aos olhos ao ler “Beija eu” é a substituição do pronome pessoal oblíquo “me” ( 1ª pessoa do singular), pelo prono- me pessoal reto “eu” , quando combinado com os verbos imperati- vos. Pronome colocado numa posição não aceita na norma padrão, visto que, como já foi dito, o pronome “eu” só pode ser empregado como sujeito. A escolha de Marisa Monte, na utilização do pronome pessoal como complemento verbal no lugar do pronome oblíquo revela o alto poder estilístico de seu poema. O “eu”, no lugar do “me” dá maior destaque à subjetividade do eu lírico. A individualidade está ressal- tada como um desejo de atenção que o eu lírico evoca.O uso do im- perativo seguido de pronome pessoal nos lembra uma criança que a-
“ Beija eu, beija eu, beija eu Me beija...” Após uma sucessão de combinações pronominais trocadas, uma pronome oblíquo no início do verso só ressalta o que têm-se a- firmado. Como sabemos que não se inicia frase com pronome oblí- quo, cabe destacar uma citação de Mattoso Câmara Júnior(1978: 68), a respeito da próclise: “ É que assim se consegue pôr estilisticamente em realce a própria pessoa, numa afirmação da tensão psíquica e da vontade”. E a esse realce da pessoa, estilisticamente, estendemos o uso do pronome “eu” após o verbo imperativo, no lugar do mesmo oblíquo utilizado no início da frase. CONCLUSÃO Foi feita uma análise objetiva dos poemas escolhidos para este trabalho. Priorizou-se uma análise dos dados expressivos mais evi- dentes. Com a exploração dos recursos da estilística, fica mais fácil observar os elementos utilizados pelos poetas para emocionar; atingir o leitor e compreender a mensagem que eles querem passar. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, Carlos Drummond de. As impurezas do branco. 4ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio,1978. ANDRADE, Carlos Drummond. O homem: as viagens. In : CIPRO NETO, Pasquale. Gramática da língua portuguesa. São Paulo: Scipi- one, 1998, p. 112-113. CÂMARA JR, Mattoso. Contribuição à estilística portuguesa. Rio de Janeiro:Ao Livro Técnico, 1978. CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa. 45ª ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 2002. MARTINS, Nilce Sant’Anna. Introdução à estilística: a expressivi- dade na língua portuguesa. Vol. 8. São Paulo: T. A./ Bull: Biblioteca universitária de língua e lingüística, 2000. MONTE, Marisa. Online: disponível na Internet www.letras.mus.com/adrianacalcanhoto