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Guias e Dicas
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A Enfermagem Gerontológica e seu Processo de Trabalho, Slides de Saúde do Idoso

Uma reflexão sobre a enfermagem gerontológica e seu processo de trabalho, destacando sua finalidade, objeto, instrumental e produto final. Discute a importância da inclusão de conteúdos sobre gerontologia na formação dos profissionais de enfermagem, visando capacitá-los para o cuidado ao idoso. Aborda conceitos de gerontologia e geriatria, bem como a filosofia da enfermagem gerontológica, enfatizando a necessidade de um cuidado humanístico e digno ao idoso. O texto também aponta as temáticas fundamentais a serem abordadas no ensino de enfermagem gerontogeriátrica, de acordo com a association for gerontology in high education. Ao final, ressalta a relevância do "fazer" da enfermeira no processo de trabalho na saúde, especialmente no cuidado ao idoso, reforçando a importância da inserção desses conteúdos nos currículos de formação em enfermagem.

Tipologia: Slides

2017

Compartilhado em 19/08/2024

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70 R. gaúcha Enferm., Porto Alegre, v.21, n.2, p.70-86, jul. 2000
Enfermagem gerontológico... Santos, S.S.C.
Pesquisa
ENFERMAGEM GERONTOLÓGICA: REFLEXÃO
SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO*
Gerontologic nursing: reflection upon the work process
Silvana Sidney Costa Santos 1
RESUMO
Este estudo teve por objetivo refletir sobre a Enfermagem
Gerontológica subsidiado na abordagem sobre processo de
trabalho, segundo Marx. Trata-se de um estudo bibliográfico
onde verificou-se o conceito, as fundamentações teóricas, os
objetivos e o processo de trabalho da Enfermagem Gerontoló-
gica. Os resultados apontaram como sendo sua finalidade à
promoção da saúde, a prevenção das doenças, o cuidado espe-
cífico, a recuperação e a reabilitação dos idosos, mantendo, a sua
capacidade funcional; como seu objeto, o ser humano idoso e o
próprio processo de envelhecimento; como seu instrumental, o
conhecimento específico sobre o objeto, os instrumentos e as con-
dutas direcionadas ao idoso; como seu produto, o idoso auto-
cuidando-se, diante desta impossibilidade, sendo cuidado ade-
quadamente por sua família e sendo-lhe dispensado um cuida-
do humanístico, conservando sua dignidade até a morte. A partir
das reflexões realizadas pôde-se aplicar conceitos apreendi-
dos sobre processo de trabalho à Enfermagem Gerontológica,
procurando-se despertar para a importância da inclusão de
conteúdos sobre Gerontologia na formação dos profissionais
de Enfermagem.
UNITERMOS: enfermagem, gerontologia, processo de trabalho
* Trabalho final da disciplina Processo de Trabalho em Saúde e em Enfermagem. Doutorado
em Enfermagem/UFSC/1999.
1 Professora da Faculdade de Enfermagem N. S. das Graças. Universidade de Pernambuco.
Especialista em Garontologia Social/SBGG. Mestre em Enfermagem/ UFPB. Doutoranda
em Enfermagem/UFSC.
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Enfermagem gerontológico... Santos, S.S.C. Pesquisa

ENFERMAGEM GERONTOLÓGICA: REFLEXÃO

SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO *

Gerontologic nursing: reflection upon the work process

Silvana Sidney Costa Santos 1

RESUMO

Este estudo teve por objetivo refletir sobre a Enfermagem Gerontológica subsidiado na abordagem sobre processo de trabalho, segundo Marx. Trata-se de um estudo bibliográfico onde verificou-se o conceito, as fundamentações teóricas, os objetivos e o processo de trabalho da Enfermagem Gerontoló- gica. Os resultados apontaram como sendo sua finalidade à promoção da saúde, a prevenção das doenças, o cuidado espe- cífico, a recuperação e a reabilitação dos idosos, mantendo, a sua capacidade funcional; como seu objeto, o ser humano idoso e o próprio processo de envelhecimento; como seu instrumental, o conhecimento específico sobre o objeto, os instrumentos e as con- dutas direcionadas ao idoso; como seu produto, o idoso auto- cuidando-se, diante desta impossibilidade, sendo cuidado ade- quadamente por sua família e sendo-lhe dispensado um cuida- do humanístico, conservando sua dignidade até a morte. A partir das reflexões realizadas pôde-se aplicar conceitos apreendi- dos sobre processo de trabalho à Enfermagem Gerontológica, procurando-se despertar para a importância da inclusão de conteúdos sobre Gerontologia na formação dos profissionais de Enfermagem.

UNITERMOS: enfermagem, gerontologia, processo de trabalho

  • Trabalho final da disciplina Processo de Trabalho em Saúde e em Enfermagem. Doutorado em Enfermagem/UFSC/1999. 1 Professora da Faculdade de Enfermagem N. S. das Graças. Universidade de Pernambuco. Especialista em Garontologia Social/SBGG. Mestre em Enfermagem/ UFPB. Doutoranda em Enfermagem/UFSC.

1 INTRODUÇÃO

Verificamos que no Brasil está ocorrendo um aumento no crescimento populacional de pessoas idosas, fato este relaciona- do ao decréscimo nas taxas da natalidade e mortalidade e aumen- to da expectativa de vida. Segundo a apuração preliminar da pes- quisa do universo do Censo Demográfico, em 1991, esta população era de aproximadamente 10,7 milhões de habitantes, o que já mos- trava a importância deste contigente populacional (Veras,1995). As estimativas indicam que no ano de 2025, o nosso país deverá ter um contigente de 34 milhões de idosos, representando 15% da po-pulação total. A Fundação IBGE, estima que o Brasil terá a sexta população idosa do mundo nesta mesma época. Com esse crescimento surge a necessidade de discutir-se a Gerontologia e o avanço da Enfermagem Gerontológica, priorizan- do o cuidado ao idoso, visando o auto-cuidado, a vida ativa e inde- pendente, porém está direcionada também ao outro extrato dos idosos fragilizados ou doentes, dando suporte à família cuidado- ra, envidando esforços conjuntos (comunidade e profissionais) na busca e na conquista de políticas e programas que viabilizem uma assistência condigna, em quaisquer condições e circunstâncias e à conservação da sua dignidade na vida social. Para alcançar tal intento é necessário pensar acerca do pro- cesso de trabalho na Gerontologia e principalmente na Enferma- gem Gerontológica, portanto, este estudo teve por objetivo refletir sobre a Enfermagem Gerontológica subsidiado na abordagem so- bre processo de trabalho, segundo Marx.

2 GERONTOLOGIA: HISTÓRICO E CONCEITOS

Foi no século XIX que cuidar dos idosos tornou-se uma es- pecialidade, iniciando-se como grande ciência, embora não sendo ainda designada como Geriatria. No século XX, o americano Met- chinikoff , apresentou um tratado, no qual correlaciona a velhice a um tipo de auto-intoxicação. Ainda neste século, Nascher, pe- diatra americano nascido em Viena, criou o termo Geriatria (Beau- voir,1990), ramo da Medicina que trata dos aspectos biológicos, psicológicos e sociais das doenças que podem acometer aos ido- sos. Mais tarde, foi criado o termo Gerontologia (Beauvoir,1990), como sendo uma especialidade com caráter global e um ramo da ciência que se propõe a estudar o processo de envelhecimento e os múltiplos problemas que possam envolver o ser humano.

apresentaram [...] contribuições para a elucidação da natureza do processo de envelhecimento, e provaram estar em condições de levantar questões sobre os problemas dele decorrentes. Na realidade, desde que não se considerem setores excludentes, já permitem interpretações e elucida- ções, com base científica”.

Penso que as questões geriátricas, voltadas à saúde e à doen- ça, às alterações surgidas pelo processo de envelhecimento e às outras interfaces biológicas, estão por demais exploradas e cla- ras. Já, as questões referentes às relações sociais dos idosos e às dificuldades enfrentadas por eles nas relações com os outros ne- cessitam ser estudadas com mais empenho pelos profissionais de enfermagem, principalmente considerando que, na sociedade in- dustrial moderna, o que importa é produzir, ficando os seres huma- nos idosos esquecidos nas políticas públicas. Este fato tem relação com inúmeras questões culturais e sociais, dentre as quais a exa- cerbação do valor da força e vitalidade da juventude, as caracte- rísticas demográficas que somente na última década inverteu a tendência de morti-natalidade, o desvio do mercado de trabalho que tende a não investir socialmente em ações que não impliquem na valorização dos meios de produção. Outros conceitos precisam ser expostos, até para compara- ções, entre eles destaco o de Carvalho, apresentado por Sá (1999, p.225), referindo que a Gerontologia estuda o idoso do ponto de vista científico, em todos os seus aspectos, físicos, biológicos, psí- quicos e sociais, sendo responsável pelo atendimento global do cliente, para essa autora, “a Geriatria, que se ocupa do aspecto mé- dico do idoso, pode ser considerada como parte de Gerontologia”. Sá (1999, p.225), citando Donfut, descreve que “a Gerontolo- gia é o conjunto das disciplinas que intervêm no mesmo campo, o campo da velhice.” Já, segundo Reboul, referido pela mesma au- tora, “a Gerontologia é a ciência que estuda o envelhecimento; a Geriatria é a ciência médica que cuida das pessoas idosas; a pri- meira noção é médica e social, a segunda é unicamente médica e se aplica ao domínio da patologia”. Estes conceitos evidenciam o parcelamento da Gerontologia e da Geriatria, quando o segundo surge a partir do primeiro con- ceito, tornando difícil o mais importante, que é cuidar do ser hu- mano que envelhece ou já envelhecido, ajudando-o a conquistar uma melhor qualidade de vida, na sua última fase do processo de

viver humano. Ao meu ver, esses conceitos direcionam a colocar a Gerontologia como sendo uma ciência ampla, tendo em seu bojo a Geriatria e a Gerontologia Social. Parece evidente que a expli- citação e a análise da sua cientificidade trarão contribuições para tornar mais claros o seu padrão de construção, a sua configuração e a sua especificidade enquanto ciência. Considere-se que existem determinações históricas, através das quais se pode alcançar o significado sócio-institucional e a legitimidade da Gerontologia enquanto ciência, partindo do fato de que a Gerontologia procura atender as necessidades humanas e sociais do ser humano idoso e, em última análise, da própria sociedade, se pensamos que o envelhecimento da população e os avanços no campo da prevenção e cura das doenças poderá de- terminar profundas transformações nas relações sociais, quer no âmbito restrito, quer do trabalho. A justificativa de existência da Gerontologia, portanto está relacionada a questões sociais por demais expressivas, como o aumento brusco e acelerado da expectativa de vida, acarretando problemas demográficos, tal como a alta demanda de idosos nos serviços de saúde e problemas epidemiológicos, como a alta in- cidência e gastos elevados das doenças crônico-degenerativas, tais problemas de largo alcance; a questão das desigualdades so- ciais, originárias do modelo econômico e das relações sociais en- tre os seres humanos e entre as classes sociais; a necessidade de exercício pleno da cidadania, não deixando dúvidas, portanto, so- bre o caráter interventivo da Gerontologia.

3 A GERONTOLOGIA E A INTERDISCIPLINARIDADE

Um elemento extremamente importante para a Gerontologia é a interdisciplinaridade, a qual objetiva, segundo Minayo (1994) es- tabelecer conexões e correspondências entre as disciplinas cien- tíficas, colocando-se atualmente como uma alternativa na busca do equilíbrio entre a análise fragmentada e a síntese simplificado- ra, entre a especialização e o saber geral e entre o saber especializa- do e a reflexão filosófica. Assim, a interdisciplinaridade direciona os profissionais que cuidam dos idosos a “entenderem” a construção histórica do objeto da Gerontologia, implicando este “entendimen- to” na constituição do próprio campo e na construção de instru- mentos adequados para a intervenção sobre este objeto. A inter- disciplinaridade é um conceito fundamental na prática com o idoso.

naridade não se estabelece uma “afonia” das disciplinas, o que nos deixa confortáveis para pensar nas características da Enferma- gem Gerontológica.

4 ENFERMAGEM GERONTOLÓGICA: CONCEITO, OBJETIVOS, FUNDAMENTOS TEÓRICOS

Assim apresento o conceito de Enfermagem Gerontológica; descrevo os fundamentos teóricos que embasam os cuidados ge- rontológicos; apresento os objetivos e os requisitos básicos para atuar nesta área. Dentre os conceitos de Enfermagem Gerontoló- gica, destaco o de Gunter e Miller, apresentado por Duarte (1997, p.223), para as quais esta especificidade se estabelece como

“o estudo científico do cuidado de enfermagem ao idoso, caracterizado como ciência aplicada, com o propósito de utilizar os conhecimentos do processo de envelhecimento, para o planejamento da assistência de enfermagem e dos serviços, que melhor atendam à promoção da saúde, à longevidade, à independência e ao nível mais alto possível de funcionamento do idoso.”

Para tanto, a Enfermagem Gerontológica desenvolve sua atuação em diferentes campos, como na educação, na assistência, na assessoria e/ou consultoria, no planejamento e coordenação de serviços e outros, sendo, no momento, um dos campos mais pro- missores para a ação da Enfermagem, principalmente no tocante à promoção da saúde dos idosos, seja atuando em grupos de idosos saudáveis, seja realizando cuidados domiciliários a idosos depen- dentes. A Enfermagem cuida do cliente idoso em todos os níveis de saúde, por isso, surge uma denominação que vem sendo muito utilizada nessa área do saber, por enfermeiras especialistas, que é a Enfermagem Geronto-geriátrica. Alguns fundamentos teóricos embasam os cuidados de en- fermagem gerontológica, dentre os quais destaco a Filosofia do Envelhecimento, a Filosofia da Enfermagem e o Contexto Sócio- histórico da Enfermagem (Berger,1995). Ao referir-me à Filosofia do Envelhecimento, levo em conta que os idosos são seres huma- nos capazes de adaptar-se, de crescer e de aprender; que a velhice é um período importante da vida, situado no contínuo nascimento- morte; que os idosos, cada vez mais, percebem a velhice como um

processo dinâmico e positivo; que, apesar dos problemas metodo- lógicos levantados, devido aos objetivos das disciplinas implicadas na Gerontologia, todas descrevem o envelhecimento como um pro- cesso contínuo, que leva ao estado de velhice e que se desenvolve de forma diferente para cada pessoa. Penso que, essa Filosofia do Envelhecimento , fundada sobre o potencial contínuo do ser huma- no, insere-se em uma visão humanista e que este potencial de cres- cimento rege-se pelas intenções e pelas relações do ser humano com o outro. Em relação à Filosofia da Enfermagem, destaco que para o profissional de enfermagem, que cuida dos idosos, é importante dar provas de autenticidade nas relações com estes clientes e não só assegurar-se de que os direitos deles sejam respeitados, mas informá-los apropriadamente sobre os mesmos. Os cuidados ge- rontológicos são definidos e correspondem às reais necessidades identificadas, direcionando o profissional de enfermagem a ela- borar a sua própria filosofia, partindo de suas crenças e dos seus valores pessoais. No Contexto Sócio-histórico da Enfermagem, destaco que a ação da Enfermagem Gerontológica e de qualquer outra atividade, é sempre um reflexo da época. E, como atualmente o crescimento da população idosa é concreto, não só no Brasil, mas mundialmen- te, há necessidade de se cuidar de pessoas cada vez mais idosas e cuja expectativa de vida é cada vez mais longa. Antigamente, o idoso apresentava um “status” negativo, porém, hoje, com essa po- pulação quantitativamente maior, há necessidade de que os pro- fissionais de saúde direcionem um cuidado específico (até por “exigência” desta clientela), que rejeite atitudes negativas e que, mesmo para aqueles idosos mais fragilizados, o cuidado esteja baseado na manutenção da autonomia e na melhor qualidade de vida possível. O profissional de enfermagem, utilizando uma abordagem holística, ao cuidar do idoso, considera a especificidade e a multi- dimensionalidade deste cliente. Os termos humanização, qualida- de de vida, individualização do cuidado e auto-cuidado, fazem par- te do vocabulário da Enfermagem Gerontológica. O trabalho em Enfermagem Gerontológica orienta-se, portanto, para os cuidados específicos, o que obriga a uma maior utilização dos conhecimen- tos adquiridos, da criatividade e da capacidade de compreender as relações existentes entre o cliente idoso, a sua família e a sua co- munidade.

cado. Ramos (1999, p.16), a partir do referencial marxista, refere- se a trabalho como “um processo não causal, no qual se despende uma energia e cujo produto corresponde à satisfação de uma ca- rência ou necessidade”. Na prestação de serviços, o conceito de trabalho tem outro direcionamento, pois neste caso “o trabalho é consumido pelo seu valor de uso e não como trabalho que gera valores de troca, é consumido improdutivamente, porque o capitalista troca o seu dinheiro por este trabalho como rendimento, não como capital” (Pires,1994, p.6). O setor de serviços é um dos que mais vem crescendo atualmente nas sociedades capitalistas e nele está in- cluído o setor saúde. Pires (1998, p.159), apresenta uma carac- terização bem adequada para explicar o trabalho em saúde, quan- do coloca que:

“É um trabalho da esfera da produção não-material, que se completa no ato da sua realização. Não tem como resultado um produto material independente do proces- so de produção e comercializável no mercado. O produto é indissociável do processo que o produz, é a própria rea- lização da atividade. A prestação de serviço em saúde – assistência de saúde – pode assumir formas diversas, como a realização de uma consulta, uma cirurgia, um exame- diagnóstico, a aplicação de uma medicação, uma orien- tação nutricional etc. Envolve, basicamente, a realização de uma avaliação clínica seguida da indicação e/ou rea- lização de uma conduta terapêutica”.

No entanto, o trabalho não é algo que ocorre separado de ou- tras atividades que acontecem no mundo real, ao contrário, é algo que nasce e se desenvolve em uma grande rede de relações. A pri- meira delas é a que se estabelece como modo de ligar o ser huma- no à natureza, no momento em que, através de uma ação, ele (o ser humano) tende a tocá-la, a modificá-la, a desenvolvê-la e, princi- palmente, a transformá-la. Todavia, o surgimento do trabalho para o ser humano enquan- to expressão do seu poder, como sua relação ativa com a natureza e através do qual, mundo e ser humano são criados, perde o “ro- mantismo”, ao se avaliar a forma de trabalho assalariado a que é submetido o ser humano nas sociedades capitalistas. Fica bem claro que, quando se expande a propriedade privada com o par-

celamento do trabalho, este deixa de ser expressão subjetiva do trabalhador, passando o produto do trabalho a ter uma existência separada do ser humano e da sua vontade, surgindo daí a alienação do trabalho e com ela as doenças, os desconfortos, os desencan- tamentos. Marx (1982, p.202-205) aponta que

“os elementos componentes do processo de traba- lho são: [...] o próprio trabalho, processo em que parti- cipam o homem e a natureza, [...] em que o ser humano com a sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza; o objeto de tra- balho, todas as coisas que o trabalho apenas separa de sua conexão imediata com seu meio natural; [...] o ins- trumental de trabalho que é uma coisa ou complexo de coisas que o trabalhador insere entre si mesmo e o objeto e o produto de trabalho que é um valor-de-uso, um ma- terial da natureza adaptado às necessidades humanas através da mudança de forma”.

Entendo, portanto, que o trabalho em si, a sua finalidade e o motivo pelo qual se executa um projeto é uma ação guiada pela consciência e, portanto, é a objetivação do sujeito. O objeto de tra- balho é algo que será transformado, para melhor satisfazer uma necessidade. O instrumental de trabalho mostra-se através dos meios usados para transformar o objeto de trabalho e segundo Leopardi (1989, p.116) “eles são componentes do trabalho e dos va- lores efetivamente empregados na produção [...], ficando à dis- posição dos trabalhadores, quando estes precisam daqueles para a execução de sua atividade”. O produto é o que se origina do pro- cesso de trabalho, é a própria objetivação do trabalho e a necessi- dade atendida. Em relação ao processo de trabalho dos profissionais de saúde, Pires (1998, p.161) o descreve contendo elementos espe- cíficos, sendo a

“finalidade a ação terapêutica de saúde; como obje- to o indivíduo ou grupos doentes, sadios ou expostos a risco, necessitando medidas curativas, preservar a saúde ou prevenir doenças; como instrumental [...] os instru- mentos e as condutas que representam o nível técnico do

com propósitos administrativos, de planejamento ou de oferta de serviços. Porém, o envelhecimento não pode ser definido só pelo plano cronológico, visto que outras condições, tais como as físi- cas, as funcionais, as mentais e as de saúde, podem influenciar diretamente no envelhecimento de um ser humano, indicando, ao mesmo tempo que, o processo de envelhecimento é individual. Quanto ao processo de envelhecimento, na minha percepção, significa um estágio que é definido de maneiras diferentes, de- pendendo do campo da pesquisa e do objeto de interesse, ou seja, um biólogo define este processo como um conjunto de alterações experimentadas por um organismo vivo, do nascimentos à mor- te. Já os sociólogos e psicólogos chamam a atenção para o fato de que, além das alterações biológicas, outras alterações sociais e psicológicas são observados, e estas são tão importantes quanto as alterações biológicas. Portanto, o processo de envelhecimento abrange aspectos biológicos, psicológicos, sociais e outros. O envelhecimento biológico é um processo contínuo durante toda a vida, que apresenta diferenciações de um ser humano para outro e até diferenciações no mesmo ser humano, quando alguns órgãos envelhecem mais rápido que outros. Já o envelhecimento social ocorre de formas diferenciadas em culturas diversas e está condicionado à capacidade de produção, tendo a aposentadoria como seu referencial mais marcante. O envelhecimento intelectual começa a acontecer quando o idoso apresenta falhas na memória, dificuldades na atenção, na orientação e na concentração, enfim apresenta modificações desfavoráveis em seu sistema cognitivo. O envelhecimento funcional acontece, quando o idoso começa a depender de outros para o cumprimento de suas necessidades básicas ou de suas tarefas habituais. O instrumental ou instrumentos de trabalho de Enfermagem Gerontológica percebo como sendo o conhecimento específico acerca do ser humano idoso e do processo de envelhecimento, incluído os referenciais que direcionam à prática e toda questão sócio-política envolvida nessa prática, além dos instrumentos, propriamente ditos e das condutas direcionadas ao cuidado ao cliente idoso. Para que um profissional de enfermagem adquira esse conhecimento e saiba utilizar adequadamente esses ins- trumentos e condutas é necessário que ele aprofunde conhecimen- tos através de cursos específicos nessa área, visto que conteúdos relativos ao envelhecimento/ser humano idoso não estão incluídos na maioria dos currículos da graduação, nem do nível médio.

Ao meu ver, é importante que os cursos de formação dos profissionais de enfermagem tenham a preocupação de ministrar conteúdos de Gerontologia, mesmo que oferecida de forma optati- va. Duarte, Diogo e Rodrigues (1996) sugerem, a partir de 49 tópi- cos considerados fundamentais para que as enfermeiras tornem- se habilitadas a cuidar de idosos, segundo a Association for Ge- rontology in High Educacion, órgão canadense, as seguintes te- máticas a serem abordadas no ensino de Enfermagem Geronto- geriátrica: teorias do envelhecimento; alterações normais do en- velhecimento; problemas mais comuns no envelhecimento; habi- lidades funcionais no idoso; políticas públicas relativas à velhice; promoção e manutenção da saúde do idoso; cuidados prolongados (institucionalização); atitudes e aspectos éticos relativos a assis- tência ao idoso; variações culturais; desenvolvimento profissional. Outras temáticas, mais voltadas à regionalização, podem ser acres- cidas e podem, ainda ser adaptadas à formação do nível médio. Como produto final do trabalho ou necessidades da Enfer- magem Gerontológica apresento o ser humano idoso, que foi cui- dado por um profissional de enfermagem competente, com quali- ficação, para isso, temos a enfermeira que direcionou a assistência ao auto-cuidado; o qual possui níveis crescentes de complexidade e desafios. Assim, o desejável para a Enfermagem Gerontológica é atingir junto aos clientes idosos o desenvolvimento máximo de seu poder pessoal e político, que propicie o exercício de sua au- tonomia e que tenha como meta um envelhecer com qualidade, ou seja, bem sucedido (Stevenson, Gonçalves e Alvarez, 1997). Caso essa pessoa idosa não tenha condições de auto-cuidar-se, como os idosos fragilizados ou os idosos acometidos por demências, por exemplo o portador de Alzheimer, que a família tenha sido capa- citada a cuidá-lo adequadamente. Se esse idoso não consegue so- breviver, que lhe seja dispensado um cuidado humanístico, que mantenha sua dignidade até a hora da sua morte e que se acom- panhe o luto da família.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das reflexões realizadas neste estudo foi possível, não só rever conceitos apreendidos na disciplina Processo de Tra- balho em Saúde e em Enfermagem, mas, principalmente, aplicá- los à Gerontologia e à Enfermagem Gerontológica, minha prática docente-assistencial.

rehabilitation of the elderly, maintaining their functional capacity; as object the older human being and the aging process in itself; as instrumental the specific knowledge about the object, the instruments and the conducts directed to the elder; as product the elder taking care of him/herself and, under that impossibility, being suitable cared by his/her family in an humanistic way, keeping his/her dignity until death. From the reflections done, we applied the learned concepts about the Gerontology Nursing work process, trying to awaken to the importance of including Gerontology subjects while forming Nursing professionals.

KEY WORDS : nursing, gerontology, work process

RESUMEN

Este estudio tiene por objetivo reflexar sobre la Enfermería Gerontologíca, subvencionado en la abordaje do processo de trabajo segundo Marx. Tratase de uno estudio bibliografico donde comprobouse el concepto, los argumentos teoricos, los objetivos y o processo de trabajo de la Enfermería Gerontologíca. Los resultados apuntaron como propósito a la promoción de la salud, la prevención de enfermedades, el cuidado y la recuperación del anciano; como objeto, el anciano y el proceso de envejecimento; como instrumental, el conocimiento en el objeto, los instrumentos y las conductas que se dirigiron al anciano; como producto, el anciano mismo cuidandose o sentiéndose cuidado por la família del, conservándose la dignidad del hasta la muerte. De las reflexiones pode se aplicar conceptos del proceso de trabajo la Enfermería Gerontologíca, buscandose despertar la importacia de la inclusão de contenidos sobre Gerontologia en la formación de los profisionales de enfermería.

DESCRIPTORES: enfermería,gerontologia, proceso de trabajo

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Entrada na revista: 18/04/ Período de reformulações: 26/05/ Aprovação final: 25/08/

Endereço da autora: Silvana Sidney Costa Santos Author’s address: Rua Durval Melquíades de Souza, 690/203 - Centro. 88015-070 - Florianópolis - SC E-mail: silvanasidney@uol.com.br