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O ensaio analisa criticamente a cultura brasileira, explorando a busca por uma identidade nacional autêntica e a influência de fatores externos na formação cultural do país. O autor discute a importância de valores universais na compreensão da cultura, a necessidade de superar o egocentrismo e a influência do populismo na formação da identidade nacional. O ensaio também aborda a importância de uma cultura crítica e autônoma, livre de influências externas e de uma religiosidade superficial.
Tipologia: Resumos
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Não perca as partes importantes!
OBRAS DE OLAVO DE CARVALHO
Universalidade e Abstração e Outros Estudos. São Paulo, Speculum, 1983
O Crime da Madre Agnes ou: A Confusão entre Espiritualidade e Psiquismo. São Paulo, Speculum, 1983
Astros e Símbolos São Paulo, Nova Stella, 1983
Símbolos e Mitos no Filme “O Silêncio dos Inocentes”. Rio, IAL & Stella Caymmi, 1993
Os Gêneros Literários: Seus Fundamentos Metafísicos. Rio, IAL & Stella Caymmi, 1993
O Caráter como Forma Pura da Personalidade. Rio, Astroscientia Editora, 1993
A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra & Antonio Gramsci. Rio, IAL & Stella Caymmi, 1994 (1ª ed., fevereiro; 2ª ed., revista e aumentada, agosto)
O Jardim das Aflições. De Epicuro à Ressurreição de César — Ensaio sobre o Materialismo e a Religião Civil. Rio, Diadorim, 1995
O Imbecil Coletivo: Atualidades Inculturais Brasileiras. Rio, Faculdade da Cidade Editora e Academia Brasileira de Filosofia, 1996 (1ª ed., agosto; 2ª ed., outubro; 3ª ed., abril de 1997 ; 4ª, maio de 1997)
Aristóteles em Nova Perspectiva. Introdução à Teoria dos Quatro Discursos. Rio, Topbooks, 1996
Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão. A “Dialética Erística” de Arthur Schopenhauer: Texto e Comentários. Rio, Topbooks, 1997.
Copyright © Olavo L. P. de Carvalho, 1997. Proibida a reprodução por quaisquer meios sem a autorização expressa do autor.
Impresso no Brasil. Printed in Brazil.
E
(^1) Referia-me ao meu inesquecível mestre, Juan Alfredo César M üller.
Caro Presidente, Um livro como esse que V. Excia. inventou deveria ser publicação periódica, e a colaboração dos intelectuais, obrigatória. Um grande amigo meu, que era um gênio da psicologia clínica, dizia que “quem cresce sem reexaminar seus feitos e seus objetivos é forte candidato a uma neurose”. Imagine uma neurose em escala^1 nacional. Entro no seu empreendimento medicinal, portanto, com o maior entusiasmo e com muita gratidão pela oportunidade de ajudar em tarefa tão útil. Uma versão abreviada e adaptada desse trabalho foi
depois apresentada num simpósio promovido em 1 ode maio de 1997 pelo Instituto de Tropicologia da Fundação Joaquim Nabuco para discutir minhas concepções sobre a cultura brasileira. Do encontro, que me honrou e recompensou acima de tudo quanto eu pudesse esperar neste país que sempre contei servir tão-só com penas de amor perdidas, tomaram parte altas personalidades da cultura pernambucana, herdeiras do estandarte ali levantado para a glória da inteligência por esse pai de nós todos que foi Gilberto Freyre. Ocorre-me destacar, de passagem, entre tantos que me deram a alegria de sua presença e o reconforto de ver minhas idéias discutidas com rigor e serenidade, os nomes de Sílvio Soares, Ângelo Monteiro, César Leal, Edson Nery da Fonseca e Sebastião Vila Nova. Ariano Suassuna não pôde comparecer, mas, recebendo-me em casa, prestou-me a homenagem, talvez ainda mais tocante, de me mostrar seu exemplar de O Jardim das Aflições todo lido, anotado e pensado. Pode ser coisa de
caipira registrar isto aqui, mas foi nesse momento que vi que as coisas tinham se tornado mortalmente sérias na minha vida. Até então, eu não me considerava senão um personagem das histórias de Ariano, um habitante, como todos os brasileiros, do seu mundo imaginário. De repente eu ganhara corpo e, em carne e osso, trocava idéias com o autor dos enredos em que eu cavalgara entre jagunços medievais, vendera cães que descomiam dinheiro e rezara a um Cristo preto. A imaginação de Ariano tornara este país mais real. Vendo suas anotações, não pude ocultar a emoção de perceber que meu jardim de papel dera flores de verdade.
u A segunda parte do livro é como que prestação de contas
de uma viagem de duas semanas a Paris e Bucareste sob os auspícios da Embaixada Brasileira na Romênia e da Faculdade da Cidade. Traz o artigo que escrevi para O Globo sobre a comunicação que ia apresentar na Unesco, em Paris, mais o texto dessa comunicação, traduzido, e a transcrição de uma conferência que fiz na Casa de América Latina , em Bucareste. Essa viagem foi fruto de duas coisas: da generosa
confiança em mim depositada por Ronald Levinsohn, diretor da instituição para a qual tenho a honra de trabalhar, e do esforço de Jerônimo Moscardo, ex-ministro da Cultura e atualmente nosso embaixador na Romênia, para estabelecer uma ponte entre intelectuais de lá e de cá. “Esforço” é a palavra. Lutando contra a falta de recursos, movido somente por uma esperança sem fim, Moscardo está conseguindo despertar entre os mais destacados homens de letras romenos
em Bucareste, “A globalização da ignorância”, um exame das políticas culturais globalizantes à luz da mais cândida lógica intemporal. Minhas críticas às concepções da Comissão de Cultura e Desenvolvimento da Unesco, apresentadas a uma platéia de duzentas pessoas, despertaram a irritação do matemático romeno Solomon Markus, mas receberam apoio entusiástico do crítico literário do Corierul National , Andrei Ionescu, e do mais destacado filósofo romeno da atualidade, Gabrel Liiceanu, diretor do New European College e da Editora Humanitas de Bucareste, ativo discípulo de Constantin Noïca e de E. M. Cioran. Do ponto de vista prático imediato, minha viagem a
Bucareste propiciou o estabelecimento de um convênio para intercâmbio de edições entre a Fundação Cultural Romena, a Editora Humanitas e a Faculdade da Cidade Editora — do qual resultarão, já em breve e para começar, a edição brasileira da obra de Constantin Noïca, Seis Doenças do Espírito Contemporâneo , e a romena de Pitágoras e o Tema do Número de Mário Ferreira dos Santos (bem como de meu O Imbecil Coletivo ). De um ponto de vista humano e pessoal, resultou em
benefícios sem fim, pelos quais serei sempre grato ao nosso embaixador e à sua esposa, D. Carmen Olívia, bem como a todos os amigos que fiz na Romênia. São muitos e não vou fazer a lista de seus nomes (mesmo porque não saberia escrever os de metade deles, só podendo assegurar que todos terminam em u ). Mas há uma que é, para mim, o resumo de todos: Mônica Grigorescu. Que Deus realize tudo o que ela deseja para o seu valente país.
u Na variedade das suas formas, determinada pelas
circunstâncias que ocasionaram a produção destes escritos, as duas seções são consagradas a um mesmo tema: o lugar do Brasil na história espiritual do mundo, particularmente nesta etapa de sua vida. O leitor atento há de notar que as chaves aqui usadas para abordar os vários aspectos do assunto, desde lugares e pontos de vista diversos, são sempre as mesmas, e que se fundam numa concepção da cultura que não é nada improvisada e casual, mas bem atada, filosoficamente, às idéias que expus em Uma Filosofia Aristotélica da Cultura , em O Jardim das Aflições e em vários cursos e conferências. Nem ele nem eu devemos lamentar que idéias tão ordenadas, tão coesas no fundo, apareçam soltas e fragmentárias na forma ocasional destes escritos: pois a filosofia que não saiba ser coerente no improviso e na informalidade, sem os travamentos e amarras da tese acadêmica, é que no fundo não tem mais unidade senão aquela, exterior e aparente, do gênero literário que a reveste. E tal filosofia me serve, precisamente, de antimodelo.
u Entre muitas outras pessoas que me ajudaram de várias
maneiras a produzir e/ou a divulgar os textos que compõem este livro, devo também mencionar, com gratidão, os nomes de Joaquim Campelo Marques, Ronaldo Castro de Lima Jr., Sandro Vaia, Lourenço Dantas Mota, Rita Luppi, João Baptista Silva, Fernando Klabin e Carla Vital Brasil.
I. O PENSAMENTO BRASILEIRO NO
FUTURO: UM APELO À RESPONSABILIDADE HISTÓRICA
“La conscience... ramasse un être dispersé; elle fait qu’il réagit au présent avec toute son expérience en vue d’un avenir qui s’étend proportionellement à la profondeur du regard qu’il est capable de jeter sur son passé. La conscience est surtout une mémoire ténue en main pour des tâches d’avenir.” Maurice Pradines
I. PRINCÍPIOS E CRITÉRIOS
1. A história e o senso de eternidade Não há mérito mais desprezível, nem mais
freqüentemente louvado, que o de ser “um homem do seu tempo”. Todo infeliz que se atira do décimo andar é, como o atesta a repercussão jornalística do seu ato, um homem do seu tempo. Aristóteles ou Dante, em contrapartida, não são de seus
respectivos tempos: são do nosso, como foram e serão de outros tantos. Sua mensagem não seleciona os destinatários pelo preconceito cronocêntrico que faz do hoje o umbigo e o topo das épocas. Ela brota como que de um instinto da supratemporalidade, sem o qual não pode existir nenhum senso da unidade da espécie humana, portanto nenhum
(^2) Uso a expressão “sentido da vida” n ão n um sentido vago e poético, mas na acepção rigorosa que lhe dá V iktor Frankl em The W ill to M eaning , New Y ork, New American Library, 1970. (^3) A redução do “sentido” de um ato ao significado subjetivamente intencionado pelo suje ito ( E conomia y Sociedad , trad. José M edina Echevarría et al ., M éxico, FCE , 1984, p. 6) entra em contradição flagrante com a noção igualmente weberiana da “ação racional segundo fins” (id., p. 20). P ara que exista uma conexão objetiva de meios a fins, o sentido intencionado não pode ser m eramente subjetivo, isto é, não se pode fazer abstração da veracidade d a representação que o sujeito faz da situação objetiva. A noção de “adequação”, a que W eber recorre em desespero de causa, é apenas um subterfúgio verbal para não ter de tocar na questão da veracidade.
humanismo autêntico, nenhuma fraternidade que não seja a da massa vociferante em torno da guilhotina. Por isso mesmo, Paul Johnson louva como suprema
virtude do historiador a capacidade de ver os fatos sub specie æternitatis. Sem ela, não podemos captar nos feitos dos homens de outras épocas nenhum sentido universal, válido para nós: podemos talvez “explicá-los” por uma justaposição verossímil de seqüências e concomitâncias, aprisionando-os no “seu tempo” como num cemitério distante, o que é o mesmo que extirpar deles todo sentido, na acepção forte da palavra, isto é, todo valor passível de incorporar-se, de algum modo, ao sentido concreto de nossas vidas. Max Weber, que^2 percebia isso no fundo, mas não desejava ceder a um apelo metafísico que na sua visão invertida de fraco orgulhoso parecia uma fraqueza, atormentou-se até à completa exaustão para conciliar a noção de “sentido” com a abstenção de juízos de valor. O colapso moral de Max Weber atesta que não há^3 escapatória: o que não tem valor não tem, em última instância, nenhum sentido.