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Podemos distinguir duas fases no desenvolvimento da Cristologia do Papa. Bento XVI. A fase inicial é encontrada na obra Introdução ao Cristianismo publicada.
Tipologia: Notas de aula
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Pe. Basil Nortz, ORC
Podemos distinguir duas fases no desenvolvimento da Cristologia do Papa Bento XVI. A fase inicial é encontrada na obra Introdução ao Cristianismo publicada em 1968^38. Essa mesma Cristologia também é encontrada em seu livro Der Gott Jesu Christi: Betrachtungen über den Dreieinigen Gott (O Deus de Jesus Cristo: Reflexões sobre Deus Uno e Trino), publicado em 1978. O desenvolvimento mais maduro da Cristologia é encontrado na coleção de conferências e artigos chamada Schauen auf den Durchbohrten (Eis o Transpassado: uma Abordagem para uma Cristologia Espiritual) que foi publicado em 1985. Este trabalho oferece uma série de teses básicas em relação a Cristo e à sua missão. Essas mesmas teses podem ser encontradas nos três volumes de Jesus de Nazaré, escritos pelo Papa Bento XVI, publicado nos anos 2007, 2011 e 2012. Ratzinger descreveu sua Cristologia espiritual nos seguintes termos: toda a Cristologia – o nosso falar de Cristo
(^38) JOSEPH RATZINGER, Introdução ao Cristianismo, Preleções sobre o Símbolo Apostólico, Herder, São Paulo, 1970.
introdução ao cristianismo com Cristo. Em vez disso, ele começa com a natureza da fé. A fé em Cristo é o ponto de partida para a Cristologia de Ratzinger. Ele não vê Cristologia em termos dum conflito entre a Bíblia e o Creio. Para ele, esta é uma falsa dicotomia. O ponto de partida para a Cristologia é a fé da Igreja. É uma fé eclesial que dá origem tanto ao Novo Testamento como à profissão da fé. Considerando-se que o seu modo de tratar o assunto é a forma de um comentário sobre o Credo dos Apóstolos, esperamos encontrar nesta exposição de Ratzinger sobre a Cristologia um material que possa servir à catequese hodierna.
A Cristologia Equilibrada
Se fosse necessário encontrar um título para Ratzinger como teólogo, o título "Doutor de Conciliação" seria muito apropriado. Esta é uma qualidade encontrada nas obras do Cardeal Ratzinger, em geral, e na Introdução ao cristianismo em particular. No que diz respeito à Cristologia, Ratzinger busca conciliar:
O Jesus da história com O Cristo de fé O ser em Cristo com O agir em Cristo A humanidade com A divindade A teologia de Encarnação
com A teologia da Cruz
O Logos com O Ágape
Porque a doutrina cristã é uma tentativa de explicar o mistério divino, deve consistir na tentativa de reunir verdades que, se examinadas superficialmente, podem parecer contraditórias. A tentação perene é aceitar uma e rejeitar a outra. Encontrar o "caminho estreito" que é capaz de combiná-los racionalmente é o maior desafio do teólogo. Ratzinger é um teólogo cuja capacidade de unir conceitos aparentemente díspares é profunda e digna de imitação. A explicação dada abaixo de sua aptidão de reconciliação, como demonstrado em sua Cristologia anterior, não é exaustiva.
a ressurreição é uma fabricação da comunidade primitiva dos cristãos como um meio de expressar sua fé que, de alguma forma, o Cristo continua a viver em seus corações e mentes. Segundo Ratzinger, o método histórico-crítico tende a criar uma divisão irreal entre fé e história. “O historiador vê em tudo isso um quadro absurdo que, no entanto encontra hoje em dia multidões de adeptos.” 40 A tentação imediata, em face desta divisão, é abandonar a fé e confiar na história. Assim, a "escola" de Harnack idealiza a história. Ela é levada para fora do mundo da fé existencial. 41 No outro extremo, a "escola" de Bultmann idealiza a fé. Ela é levada para fora do mundo da história existencial.^42 Ficamos com um aparente dilema de sermos forçados a escolher entre o "Jesus da história" e o "Cristo da fé". Ratzinger afirma resolver esse dilema no Credo. Aqui, o "Cristo da fé", o Cristo em quem cremos, é o "Jesus da história", que foi concebido e nascido, sofreu e morreu, ressuscitou e ascendeu aos céus.
A conciliação entre o ser de Jesus e o seu agir
O primeiro passo em direção à conciliação da compreensão da fé e da história é a conciliação da compreensão do ser e do agir de Jesus Cristo. Ratzinger afirma que em Jesus Cristo não é possível distinguir entre a pessoa e seu cargo. Jesus é a sua palavra, e esta palavra é Jesus. 43 É por isso que, em primeira instância, a profissão de fé cristã não é um resumo dos ensinamentos de Jesus, mas um ato de fé em Jesus mesmo. “A pessoa de Jesus é sua doutrina e sua doutrina é Jesus mesmo. Portanto, fé cristã, isto é, fé em Jesus como o Cristo, é verdadeiramente fé pessoal.” 44 Em vez de oferecer um corpo de ensino, a profissão de fé é uma afirmação da pessoa que é sua palavra: “Creio em Jesus Cristo, seu único filho, nosso Senhor.” A expressão propriamente dita desta fé é que não se pode distinguir cargo e pessoa naquele Jesus; esta diferença aplicada a Jesus não tem razão de ser. A pessoa é o cargo, o cargo é a pessoa. Ambos são inseparáveis: não existe uma esfera de restrição do que é pessoal, do "eu" que se conserva de algum modo fora da sua ação, podendo, portanto, também ficar "fora de ação". Não há nenhuma obra sua que seja um "eu" separado – o "eu" é a obra e a obra é o "eu".^45 (^40) Introdução, p; 172; (^41) Introdução, p. 157. (^42) Introdução, p. 158. (^43) Introdução, p. 216. (^44) Introdução, p. 162. (^45) Introdução, p. 161.
Neste contexto, seguindo o pensamento de Karl Barth, Ratzinger destaca que os evangelistas mencionam detalhes da vida pessoal de Jesus, como por exemplo, o fato de que ele está com fome ou com sede, dormindo ou fazendo vigília, triste ou furioso, na medida em que estas coisas fazem parte da revelação sendo realizadas pela sua Pessoa. Tudo o que procede do seu ser está associado à sua tarefa divina. É neste sentido que ele conclui que existe uma unidade inseparável entre as duas palavras "Jesus Cristo." O que surge disso é a conclusão: “Neste sentido, realmente pode-se falar de uma ‘teologia funcional’: a existência inteira de Jesus é função do ‘para nós’, mas – por isto mesmo – a função é sua existência”.^46 Esta expressão “para nós” é central na Cristologia de Ratzinger. Ele faz uma digressão na qual explica diversos conceitos fundamentais associados com a fé cristã. Nesta digressão ele dedica uma seção para explicar o conceito “para nós”. Lá ele escreve: “No principal dos sacramentos cristãos, que forma o centro da liturgia, declara- se a existência de Jesus Cristo, como existência ‘para muitos’ e ‘para vós’, como existência aberta que cria e possibilita a comunicação de todos entre si pela comunicação nele.” 47 O seguimento de Cristo, aceitando a cruz, envolve imitação de Jesus nesta mesma atitude de viver para os outros. De acordo com isso, a opção cristã fundamental significa a aceitação do "ser-cristão", a abjuração da concentração sobre o "eu" e a adesão à existência de Jesus Cristo voltada para o todo. A mesma coisa está incluída no convite à sequela da cruz, que absolutamente não exprime uma devoção particular, mas está subordinada a um pensamento básico, a saber, que o homem, abandonando o isolamento e a tranquilidade do próprio "eu", saia de si para seguir ao crucificado e existir para os outros, mediante a crucificação do seu "eu". 48
Incluída na tendência de separar o "Jesus histórico", que (segundo os teólogos da escola histórico-crítico) pregou somente sobre o tema de amor e perdão, do "Cristo da fé" está a tendência a dar ênfase quase exclusiva ao “amor” ou à “fé”.^49 Com a conciliação entre Jesus e o Cristo, segue-se uma união entre a fé e a caridade. A expressão da fé em Cristo é seguir Jesus em sua vida para os outros.
(^46) Introdução, p.162. (^47) Introdução, p. 206. (^48) Introdução, p. 207. (^49) Introdução, p. 157.
encarnação bem compreendida forçosamente desembocará na teologia da cruz, tornando-se uma com ela; vice-versa, uma teologia da cruz, que avalie totalmente a sua dimensão, forçosamente se tornará teologia do Filho e do ser.^53 Ele acredita que esta é a base da Cristologia de João, e não simplesmente que Jesus é o Logos, mas que, no Evangelho de João, há uma identidade entre Logos e Ágape.
O Ômega da Cristologia de Ratzinger - deificação como hominização autêntica
O entendimento clássico dos Padres da Igreja do motivo da Encarnação é este – Deus se fez homem para que o homem pudesse tornar-se divino. Ratzinger concorda com esta posição, e tira a seguinte conclusão – deificação é verdadeira hominização. Jesus é o "último Adão", o "homem exemplar". Neste "homem exemplar", ser e agir, Logos e Ágape, Deus e homem se tornaram um. Este "homem exemplar" também é o Crucificado. Em sua doação total na cruz, Jesus foi além dos limites da humanidade. Na Cruz, Jesus aperfeiçoou a natureza humana: O homem é homem pelo fato de chegar infinitamente para além de si, e, por conseguinte, é tanto mais homem quanto menos for fechado, limitado em si. Portanto – repitamo-lo – é homem ao máximo, e mais, o verdadeiro homem, aquele que for o mais "ilimitado", que não somente toque o infinito – o Infinito! – mas que seja um com ele: Jesus Cristo. Nele a meta da hominização foi verdadeiramente alcançada. 54
Ratzinger afirma que o homem sozinho nunca pode ser plenamente humano. Isso deve ser entendido não só individualmente, mas coletivamente. Em Jesus, duas fronteiras são abolidas: aquela entre Deus e o homem, e aquela entre as pessoas humanas individuais. Conforme Ratzinger, Jesus não poderia ser o 'homem exemplar' se ele fosse uma exceção. 55 Sendo Jesus o homem exemplar, no qual se revela plenamente a verdadeira figura do homem, e com ele a ideia de Deus, não pode, em tal caso, estar destinado a figurar como exceção absoluta, como uma curiosidade, em que Deus nos demonstra o que é possível. Em tal caso, a sua existência interessa à humanidade inteira.^56
(^53) Introdução, p. 185. (^54) Introdução, p. 190. (^55) Introdução, p. 189. (^56) Introdução, p. 189.
Esta declaração tem dois sentidos. A primeira é que, no sentido individual, Jesus não pode ser o único homem individual que se tornou plenamente humano. A segunda é que, se ele continua a ser um indivíduo, ele não pode ser plenamente humano. Ratzinger apela ao fato que São Paulo identifica Cristo com Adão, e a humanidade redimida com o corpo de Cristo, a fim de explicar a personalidade corporativa de Cristo.^57 Toda a raça humana, ao ser “atraída” a Cristo (cfr. Jo 12,32) não permanece um conjunto de indivíduos isolados nele, mas é introduzida numa unidade de ágape trinitária, e, assim sendo inserida, cada pessoa humana individual se torna plenamente humana. O foco de Ratzinger na deificação poderia levar a pensar que, apesar de sua tentativa de alcançar um equilíbrio entre a teologia da Encarnação e uma teologia da Cruz, ele acaba por se voltar para uma teologia da Encarnação - Deus se fez homem para que o homem pudesse tornar-se divino. No entanto, tal não é o caso. Isso ocorre porque o "homem exemplar" e sua missão são finalmente revelados no Crucificado, aquele que foi transpassado. A compreensão de Ratzinger da Cristologia de João leva à conclusão de que o clímax do retrato de Jesus no Evangelho de João é o relato do seu lado transpassado com uma lança. Para Ratzinger, esta imagem é a expressão máxima não só da doação completa de Jesus, mas também do desígnio de todas as pessoas humanas em união com Deus através da união com ele próprio, uma união que é também de todas as pessoas humanas entre si. Para Ratzinger, o Evangelho de João alcançou o equilíbrio entre o Verbo que se fez carne e que foi elevado, e Aquele que foi transpassado - entre uma teologia da Encarnação e uma teologia da cruz.^58 Com isso, Ratzinger conclui que esta reconciliação oferece uma revelação da perfeição da humanidade. Neste sentido, podemos compreender o verdadeiro objetivo da nossa vida. O acontecimento da crucificação surge aí como um fato de abertura no qual as dispersas mônadas humanas são atraídas ao abraço de Jesus Cristo, para o vasto espaço dos seus braços abertos, para, mediante tal união, alcançar a sua meta, a meta da humanidade. Ora, sendo assim, Cristo, como o homem que há de vir, não é o homem para si, mas essencialmente homem para os outros, ele é o homem do futuro, exatamente por ser o homem completamente aberto. Então, o homem para si, que só deseja ficar em si, é o homem do passado que devemos deixar para trás a fim de avançar. Em outras palavras: o futuro do homem está em ser-para. 59 (^57) Introdução, p. 190. (^58) Introdução, p. 195. (^59) Introdução, p. 194.
Perguntas de reflexão: