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Através deste texto, identificaremos os principais personagens de a órfã, analisaremos o suspense e o desenvolvimento da trama, além de discutir os simbolismos presentes no filme. Os personagens incluem esther, a protagonista, e a família coleman, composta por kate, john, maxime e daniel. Personagens coadjuvantes como a freira abigail, bárbara, a sogra de kate, e a psicóloga, doutora browning, também terão seu papel destacado. O texto acompanhará a evolução da história, mostrando como esther arruina a relação da família e a reputação de kate.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de estudo
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE LETRAS DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS MODERNAS
SILVINO LUIZ SCHÜLER SIEBEN
Porto Alegre 2013
SILVINO LUIZ SCHÜLER SIEBEN
Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de licenciado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Orientadora: Profa^ Dra^ Elaine Barros Indrusiak
Porto Alegre 2013
RESUMO
O presente trabalho propõe-se a analisar o rico diálogo interdisciplinar estabelecido entre a obra cinematográficaidealizado e produzido por Edgar Allan Poe. Partindo da identificação, no texto fílmico, de A órfã , de Jaume Collet-Serra (2009), e o conto literário, conforme elementos narrativos tradicionalmente associados ao gênero literário, procuraremos demonstrar que, embora não seja uma adaptação de obra literária, o filme vale-se de estratégias emprestadas da literatura na construção de sua narrativa de suspense, aproximando-se, dessa forma, do suspense cinematográfico de Alfred Hitchcock (Indrusiak,2009). Assim, ao relacionar-se, a um só tempo, com a tradição do suspense cinematográfico e com a tradição teórico-crítica do conto literário, A órfã se insere em um seleto grupo de obras que elevam o diálogo interdisciplinar entre literatura e cinema a novos patamares de sofisticação. Palavras-chave: conto - cinema - suspense
The present paper addresses the rich interdisciplinary relationship between the film Orphan , directed by Jaume Collet-Serra (2009) and the literary short story as idealized and written by Edgar Allan Poe. Beginning with the identification in the film of narrative elements usually associated to the literary genre, we aim at demonstrating that, though it is not an adaptation of a literary work, the film resorts to literary strategies for the construction of its suspense narrative, dialoguing with Alfred Hitchcock’s suspense (Indrusiak, 2009). Therefore, by establishing relations with both the tradition of suspense film and the theoretical and critical tradition of the literary short story, Orphan joins a select group of works that bring the interdisciplinary dialogue between literature and cinema to higher levels of sophistication. Key words: short story - cinema - suspense
A ideia para a produção desta monografia surgiu enquanto eu cursava a disciplina de Literatura Inglesa IV, com a professora Elaine Indrusiak. O tema da disciplina foi, basicamente, Literatura e Cinema, não apenas com um olhar em termos de adaptações e apropriações, mas com algo a mais: as pequenas nuances da literatura que podem ser observadas no cinema, desde a construção de um personagem até o produto final.
Originalmente, a ideia era utilizar uma obra literária para comparar com o filme A órfa (Collet-Serra, 2009). A princípio não havia relação entre eles mas, após algumas leituras de textos teóricos e discussões em aula, percebi muitas semelhanças, bem como diferenças bem pontuais. Gosto de filmes de terror e suspense desde a adolescência. O que me motiva neste tipo de filme é a reação que temos a eles: o medo, o susto, o não saber o que está por vir. Nesta mesma época comecei a me interessar por livros de mistério, especialmente Agatha Christie, Stephen King e Robin Cook, que sempre me levavam a ter certeza de que o desfecho da história era um, mas no final era sempre algo diferente. Me intrigavam as construções do suspense, tanto em cinema quanto em literatura. Cheguei até a tentar construir alguns contos baseados nos moldes do suspense, mas os finais das minhas narrativas eram sempre muito
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óbvios, já que eu ainda não sabia os segredos da construção de um bom conto. Grande parte da minha motivação para fazer a presente monografia veio dessa paixão pelo suspense bem construído, tanto em literatura quanto em cinema, com finais surpreendentes e até mesmo chocantes. A órfã foi um dos filmes que me chamou muito a atenção com o seu desfecho, pois lembro que fiquei horas refletindo sobre ele após tê-lo assistido. Repassei toda a trajetória do personagem principal mentalmente, tentando encaixar as peças após o fim surpreendente. A meu ver, não havia brechas; tudo havia sido entrelaçado de tal forma que achei o filme excelente. Pensei muito na criação da história, na forma como todos os elementos foram dispostos no longa-metragem para enganar a plateia em relação ao desfecho. Quando assisti o filme, eu ainda não havia lido nada teórico a respeito, apesar de ter a curiosidade de como alguém havia pensado em uma história como aquela. No semestre seguinte é que cursei a disciplina, mencionada anteriormente, que me motivou ao trabalho.
A importância deste trabalho se dá no sentido de reforçar os estudos de Literatura Comparada e ressaltar sua importância no intercâmbio entre as diversas áreas, no caso, cinema e literatura. O presente trabalho funciona como um incentivo à pesquisa de elementos teóricos que aproximam as duas artes, não restringindo os estudos apenas a adaptações, apropriações e novelizações.
A órfã é um filme atual e considerado do gênero terror, como se pode observar na própria capa do DVD^1. Levando em consideração a tese de Indrusiak (2009), o filme escolhido como base para esta monografia não é terror. A impressão de terror que o filme passa serve para dar uma ideia sobrenatual em relação à história, enquanto que o suspense se dá na narrativa. O longa-metragem é um filme muito bem construído nos moldes de Hitchcock, em que se pode perceber as teorias de Edgar Allan Poe (1919), Heitor Capuzzo (1995), Ricardo Piglia (2004), Sigmund Freud (1919) e alguns autores de literatura gótica. (^1) Vide anexo I
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e Edgar Allan Poe. Esta monografia é uma ampliação da relexão que faz a tese da professora Elaine, de forma a demonstrar que outros filmes também seguem o legado de Poe e Hitchcock para criar o suspense narrativo. Na análise da obra, o filme A órfã terá suas cenas analisadas com base no referencial teórico supracitado e algumas referências de apoio serão citadas conforme a necessidade.
Com isso, a objetivo principal desta monografia é demonstrar que o filme A órfã dialoga com a tradição literária, mais especificamente o conto, e com o suspense hitchcockiano ao estruturar sua narrativa dupla que visa à criação de um efeito.
O filme A órfã foi lançado no Brasil em 2009 , produzido pela Warner Bros. Pictures em associação com Dark Castle Entertainment estrelado por Vera Farmiga, Peter Saarsgard e a atriz mirim Isabelle Fuhrmann, indicada para o prêmio de melhor atriz coadjuvante do Fangoria Chainsaw Awards. O filme, do diretor Jaume Collet-Serra, conta a história de uma família que tem dois filhos e quer adotar um terceiro, já que a esposa não pode mais engravidar. O casal entra em um consenso, após conversar e acaba indo a um orfanato, onde conhece Esther, uma menina muito esperta e madura, de 9 anos de idade. No desenrolar da história, a menina começa a se comportar de forma inesperada e o espectador a perceber que, como diz na capa^2 do filme em DVD, lançado no Brasil, "há alguma coisa errada com Esther".
(^2) Vide anexo.
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há um corpo de critérios de mesma natureza que dê conta de toda a diversidade cinematográfica, mas apenas de algumas categorias fílmicas. Heitor Capuzzo (1995) mostra como a tendência comercial ajudou a moldar o cinema contemporâneo, chamando a atenção para aspectos de tema, tempo de duração e inclusive a reação esperada do público. Ele coloca a ideia de que cada gênero não traz apenas uma característica, mas um conjunto de características, muitas vezes construídas a partir de matrizes dramáticas. O autor corrobora a ideia de que o gênero não é algo fixo ou delimitado:
O que o cinema industrial propiciou em sua história foram algumascompartimentações em modalidades dramáticas, denominadas gênero cinematográficos.questão. Não é possível definir ou mesmo sugerir uma teoria para os A imprecisão conceitual também atinge essa chamados gêneros cinematográficos tal como se formulou em relaçãoà literatura. Essas modalidades dramáticas raramente se encontram em estado puro. Classificações como o drama romântico, o filme policial,a ficção científica, a comédia ligeira ou o filme de aventuras, apenas referendammédio saiba de antemão se o filme irá trilhar em direção ao cômico, ao possíveis matrizes dramáticas para que o espectador trágico, à reportagem, à especulação sobre o passado ou o futuro, ou,ainda, dar algumas pistas sobre o ritmo do espetáculo, no caso do filme de aventuras. (CAPUZZO, 1995, p.22) Não nos cabe aqui definir parâmetros, mas é importante deixar claro que o foco do presente trabalho é a narrativa utilizada para construir o filme A órfã , aquela construída com base nas expectativas do público ao saber o tipo de filme que vai assistir, que cumpre com o seu papel para com o espectador.
O suspense é criado a partir de elementos narrativos, o que o aproxima do conto literário, enquanto que o terror se alimenta especialmente de referências góticas, que não deixam de ser literárias. O terror é utilizado como recurso para desviar a atenção da presença do suspense no filme A órfã , remete o espectador à ideia do sobrenatural e consequentemente apresenta características tipicamente góticas.
A tradição gótica literária surgiu no ano 1764, com a obra The Castle of Otranto escrita por Horace Walpole na Inglaterra. A ficção gótica tem o objetivo de buscar elementos
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que causam medo, espanto, tensão no público, seja ele leitor ou espectador, já que o gótico engloba um conjunto de elementos que caracteriza diversas áreas, inclusive literatura e cinema. Fred Botting (1996) associa lugares e personagens específicos com o estilo gótico e também faz uma comparação do gótico antigo com o gótico atual. O presente trabalho foca em um filme do fim do século passado, portanto, o que se pode observar muito mais é o gótico dito moderno, quando um dos focos principais das narrativas ocorre principalmente nos próprios lares.
Gothic landscapes are desolate, alienating and full of menace. In theeighteen century they were wild and mountainous locations. Later the modern city combined the natural and architectural components ofGothic grandeurs and wildness, its dark, labyrinthine streets suggesting the violence and menace of Gothic castle and forest. (...) In later fiction, the castle gradually gave away to the old house: asboth building and family line, it became the site where fears and anxieties returned in the present. These anxieties varied according todiverse changes: political revolution, industrialisation, urbanisation, shifts in sexual and domestic organisation, and(BOTTING, 1996, p.2) scientific discovery. Cabe salientar que, embora o filme seja contemporâneo, nada impede que características do gótico clássico sejam utilizadas. Já que as próprias residências são lugares que se tornaram góticos com o passar do tempo, elas têm sido bem exploradas em longas- metragens e não seria diferente no filme A órfã , que tem praticamente a residência dos Coleman e arredores como principal cenário dos acontecimentos que envolvem a menina Esther.
Botting diz que o gótico não é apenas uma questão de elementos, mas de causar emoções, causadas a partir do uso dos elementos.
reason. Passion, excitement and sensation transgress social properties^ In Gothic productions imagination and emotional effects exceed and moral laws. Ambivalence and uncertainty obscure single meaning.(...) Gothic signified a trend towards an aesthetics based on feeling and emotion and associated primarily with the sublime. (...)
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resultado: o estranho é aquela categoria do assustador que remete aoque é conhecido, de velho, e há muito familiar. (1919, p. 2) O fenômeno do estranhamento oferece inúmeras possibilidades narrativas aos filmes de terror e mistério por permitir que a tensão se instaure em torno de elementos absolutamente corriqueiros. Na análise da obra serão considerados momentos em que o estranhamento se faz presente ao longo da narrativa.
Além de todos os elementos góticos secundários que, como um todo, ambientam o filme, ele se vale ainda de um recorrente elemento das narrativas góticas: o duplo. A dupla personalidade de Esther ecoa a estranha e desconfortável dualidade que consagrou diversos textos célebres de temática e/ou ambientação, tais como A Queda da Casa de Usher e William Wilson, de Edgar Allan Poe, mas também os clássicos O Estranho Caso de Dr. Jeckyll e Mr. Hyde, de Robert Louis Stevenson, ou O Retrato de Dorian Grey, de Oscar Wilde.
Esta imagem, que só faz concretizar o habitual fantasma da duplicaçãodo único, apresenta, entretanto, uma particularidade notável: aqui o único duplicado não é mais um objeto ou acontecimento qualquer domundo exterior, mas sim um homem, quer dizer, o sujeito o próprio eu. Este caso particular de duplicação do único constitui o conjuntodos fenômenos chamados de desdobramento de personalidade (...) o desdobramentofundamental das demais graves demências, personalidade define taltambém como esquizofrenia.a estrutura (ROSSET, 2008, p. 84-85) De acordo com Homero^5 (apud Rank, 1939), o homem tem uma existência dupla, com uma parte visível e outra invisível, sua alma, a qual é libertada apenas após a sua morte. O duplo nunca é representado sozinho; ele apenas existe porque há uma matriz: o real. Rosset (2008) defende que para haver uma cópia, deve haver um original. Um é o modelo e o outro é a duplicação, a cópia do modelo.
Enfim, os elementos góticos são ferramentas utilizadas sabiamente por Collet-Serra para contar duas histórias e fazer o público desviar a sua atenção para algo sobrenatural,
(^5) Escritor de Ilíada e Odisséia. Seculo IX a.C.
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quando na verdade o que está se passando são histórias completamente verossímeis, narradas de certa forma que deixa o público intrigado em relação a o que é real e o que é sobrenatural.
Em se tratando da construção narrativa do suspense, Alfred Hitchcock fez história no cinema e ainda o faz. Mesmo após a sua morte, o seu estilo continua influenciando e inspirando obras cinematográficas na atualidade. Desde o início de sua carreira, ele foi se especializando e criando uma técnica de suspense que cria um efeito na plateia, manipulando as suas mentes de modo que o medo seja criado a partir de técnicas narrativas. O jovem Hitchcock iniciou sua carreira ilustrando legendas que substituíam diálogos dos personagens. Era um trabalho aparentemente simples e que não exigia muito esforço ou criatividade, mas colaborou para que ele tivesse noção do fazer fílmico e das potencialidades do cinema. Um tempo depois, Hitchcock foi convidado a filmar cenas extras onde não havia figuração e logo depois já era assistente de direção. Em pouco tempo, ele já era roteirista e diretor de arte. Os dois primeiros filmes que dirigiu na Alemanha não foram bem sucedidos, mas proporcionaram aprendizagem para a produção do primeiro filme dito do estilo hitchcockiano: O Inquilino.
O suspense do mestre Hitchcock foi sempre dedicado a sua audiência. O seu principal objetivo, ao fazer filmes, era agradar ao público. Hitchcock teve uma grande influência literária, como comprovado por Indrusiak (2009), quando ela aponta a aproximação das obras do diretor com os contos de Edgar Allan Poe, que não se restringem simplesmente à simbologia gótica.
tendem a associar o estilo desses autores à recorrência de temas,^ (...) enquanto tanto o leitores/espectadores não especializados quanto símbolos e elementos estéticos sombrios, góticos e assustadores, aleitura crítica mais detalhada irá perceber que seu diferencial está na construçãotambém em textos não pontuados pelo gótico, da atmosfera menos narrativa, tanto que o estilo se mantém reconhecível opressiva ou mesmo cômicos, a exemplo de O Terceiro Tiro (Hitchcock). (INDRUSIAK, 2009, p.98) A Carta Furtada (Poe) e
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psicológico no leitor. Por exemplo, no conto William Wilson, Poe conduz a narrativa de modo que o leitor perceba dois personagens distintos que têm certa semelhança, juntamente com a rivalidade que se dá em função dessa semelhança desde o colégio até a vida adulta. No final do conto, Poe mostra que o narrador e seu duplo eram a mesma pessoa. Com esse final, Poe atinge o público leitor, que talvez tivesse uma expectativa diferente para o fim da história e é surpreendido com um fechamento inesperado.
Ricardo Piglia (2004) tem uma ideia similar em relação à construção da narrativa em contos. Ele entende que o segredo do conto consiste em se encontrar mecanismos que permitam esconder parcialmente uma outra história que é paralela à sequência contada ao leitor. Essa parte oculta é geralmente a chave para a conclusão do conto e, no fim, causará um efeito no público.
Uma história pode ser contada de maneiras distintas, mas sempre háum duplo movimento, algo incompreensível que acontece e está oculto.O sentido de um relato tem a estrutura do segredo (remete à origem etimológicaseparado do conjunto da história, reservado para o final em outra da palavra: se-cernere , pôr à parte), está escondido parte. Não é um enigma, é uma figura que se oculta. (PIGLIA, 2004,p. 106) O desafio desse tipo de construção para o escritor é a escolha dos elementos que devem ser mencionadas ao leitor para que ele perceba parte da história oculta, mas não a associe a um provável fim surpreendente. Os elementos da história que está oculta talvez passem despercebidos para o leitor desatento, mas serão de suma importância e farão mais sentido após a revelação do conto ao fim da narrativa.
avança segundo um plano férreo e incompreensível, e perto do final^ A arte de narrar é a arte da percepção errada e da distorção. O relato surge no horizonte a visão de uma realidade desconhecida: o final fazver um sentido secreto que estava cifrado e como que ausente na sucessão clara dos fatos. (PIGLIA, 2004, p. 103)
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Como percebido por Indrusiak, tanto o conto como o longa-metragem de suspense possuem a dupla narrativa, o que faz com que a história fique mais interessante, mostrando alguns fatos e escondendo outros, conduzindo o leitor/espectador por um caminho que é diferente em relação ao caminho que o autor quer chegar, conseguindo um efeito de tirar o fôlego daquele que lê ou assiste. As histórias de Poe funcionam exatamente desta maneira: deixando o leitor tenso ao decorrer da narrativa e pasmo ao final, por não acreditar que tal fechamento pudesse ocorrer.
Em se tratando do filme A Órfã , a história poderia ser contada como a de uma mulher que tem uma doença hormonal que a impede de crescer. Ela usa essa doença a seu favor para fingir ser uma criança e para conseguir ter um lar. Após ser aceita em um lar, ela observa cada membro da família para poder manipulá-los a seu favor; tenta fazer de tudo para desacreditar a mãe adotiva, após ter analisado e aprendido as suas fraquezas. Sendo bem sucedida no seu intento, tenta conquistar o amor do pai adotivo, tentando fazê-lo perceber que ela é uma mulher adulta; não uma criança. Contado dessa forma, a história não parece ter atrativos. Se essa fosse a sinopse do filme ou seu resumo em uma resenha crítica, ele não teria metade da audiência que teve no cinema. A ideia do diretor Jaume Collet-Serra foi esconder o fato de que Esther - a órfã - é adulta. A partir daí, temos duas histórias a serem montadas paralelamente: a da mulher agressiva que fugiu de um hospital psiquiátrico e tem sérios problemas psicológicos, e a da órfã que é esperta e muito inteligente, ao mesmo tempo doce e carente. Ao longo do filme, algumas dicas são dadas quanto à verdadeira identidade da menina. Cabe ao público estar atento aos sinais para saber o que há de errado com Esther.