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Ação de Pedagogos em Organizações Não Governamentais: Um Estudo em Recife, Notas de estudo de Pedagogia

Um estudo sobre a atuação de pedagogos em organizações não governamentais (ongs) de recife. Os autores buscam entender como a prática do pedagogo se constitui na educação não formal dessas ongs, contribuindo para o desenvolvimento humano dos educandos. O documento também discute a importância da formação acadêmica do pedagogo no curso de pedagogia para seu trabalho nas ongs.

O que você vai aprender

  • Quais são as ações educativas desenvolvidas por pedagogos em espaços não formais?
  • Qual é a atuação dos pedagogos em Organizações Não Governamentais?
  • Quais espaços educativos além da escola podem ser relevantes para o trabalho de pedagogos?
  • Como a formação acadêmica do pedagogo no curso de Pedagogia contribui para seu trabalho nas ONGs?
  • Como as ONGs contribuem para a formação profissional de pedagogos?

Tipologia: Notas de estudo

2022

Compartilhado em 07/11/2022

VictorCosta
VictorCosta 🇧🇷

4.7

(47)

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A atuação do pedagogo em espaços não formais de educação: um estudo a
partir de Organizações Não Governamentais do Recife
Marcelle Claudia Tavares1
Mayara Danielle Dias2
Clarissa Martins Araújo3
RESUMO: O trabalho aqui apresentado teve como objetivo principal compreender
como se constitui a prática do pedagogo na educação não formal em
Organizações Não Governamentais de Recife. Foram realizadas entrevistas do
tipo semiestruturadas com o gestor e o pedagogo de duas ONGs da cidade do
Recife. Os resultados da pesquisa evidenciaram que a atuação dos pedagogos
dentro em Organizações Não Governamentais se especialmente no trabalho
voltado para a formação social dos educandos, visando seu desenvolvimento
como ser humano, o que contribui para conciliar as ações educativas com a
realidade vivida.
Palavras chaves: Pedagogo; Educação não formal; Organização Não
Governamental.
1. Introdução
O interesse por esta pesquisa surgiu inicialmente a partir da disciplina
Pesquisa e Prática Pedagógica: Processos formativos em espaços não escolares
P.P.P. I, onde tivemos o nosso primeiro contato com Pedagogos que atuavam
em uma Organização Não Governamental. Essa experiência ocorreu em ONGs
distintas, onde fomos orientadas pelo professor da disciplina apenas para
conhecer a constituição e finalidade do espaço como locus de formação dos
sujeitos, sem, no entanto, nos preocuparmos em identificar as ações educativas
que o pedagogo desenvolvia e refletir sobre o seu papel nesse espaço.
Além disso, durante o nosso curso de Pedagogia realizado na Universidade
Federal de Pernambuco, tivemos poucas informações sobre a atuação do
pedagogo para além da escola. As disciplinas, palestras, seminários, entre outros,
1Concluinte do Curso de Pedagogia - 2015.1 Centro de Educação UFPE. E-mail: marcelleclaudia@hotmail.com
2 Concluinte do Curso de Pedagogia - 2015.1 Centro de Educação UFPE. E-mail: mayaradias@hotmail.com
3 Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Orientação Educacional Centro de Educação - UFPE
E-mail: clarissa.araujo@yahoo.com.br
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A atuação do pedagogo em espaços não formais de educação: um estudo a partir de Organizações Não Governamentais do Recife

Marcelle Claudia Tavares^1 Mayara Danielle Dias^2 Clarissa Martins Araújo^3

RESUMO: O trabalho aqui apresentado teve como objetivo principal compreender como se constitui a prática do pedagogo na educação não formal em Organizações Não Governamentais de Recife. Foram realizadas entrevistas do tipo semiestruturadas com o gestor e o pedagogo de duas ONGs da cidade do Recife. Os resultados da pesquisa evidenciaram que a atuação dos pedagogos dentro em Organizações Não Governamentais se dá especialmente no trabalho voltado para a formação social dos educandos, visando seu desenvolvimento como ser humano, o que contribui para conciliar as ações educativas com a realidade vivida.

Palavras chaves: Pedagogo; Educação não formal; Organização Não Governamental.

1. Introdução

O interesse por esta pesquisa surgiu inicialmente a partir da disciplina Pesquisa e Prática Pedagógica: Processos formativos em espaços não escolares

  • P.P.P. I, onde tivemos o nosso primeiro contato com Pedagogos que atuavam em uma Organização Não Governamental. Essa experiência ocorreu em ONGs distintas, onde fomos orientadas pelo professor da disciplina apenas para conhecer a constituição e finalidade do espaço como locus de formação dos sujeitos, sem, no entanto, nos preocuparmos em identificar as ações educativas que o pedagogo desenvolvia e refletir sobre o seu papel nesse espaço. Além disso, durante o nosso curso de Pedagogia realizado na Universidade Federal de Pernambuco, tivemos poucas informações sobre a atuação do pedagogo para além da escola. As disciplinas, palestras, seminários, entre outros,

(^1) Concluinte do Curso de Pedagogia - 2015.1 – Centro de Educação – UFPE. E-mail: marcelleclaudia@hotmail.com (^2) Concluinte do Curso de Pedagogia - 2015.1 – Centro de Educação – UFPE. E-mail: mayaradias@hotmail.com (^3) Professora Adjunta do Departamento de Psicologia e Orientação Educacional – Centro de Educação - UFPE E-mail: clarissa.araujo@yahoo.com.br

não foram suficiente para esclarecer-nos sobre quais ações educativas e quais objetivos são esperados deste profissional nos espaços não escolares. Isso nos instigou ainda mais a nossa curiosidade para a realização desta pesquisa, posto que uma quantidade significativa de colegas da turma não deseja trabalhar em escolas e busca atuar em outros espaços educativos. Através de um breve estudo sobre o histórico do curso de Pedagogia, podemos perceber que a atuação do pedagogo esteve quase sempre direcionada para o espaço escolar. Ao longo dos anos o curso foi tentando se adaptar as novas demandas advindas da sociedade e as reformulações curriculares no perfil foram modificando também a função do pedagogo. A partir de 1996, segundo a Lei de Diretrizes de Bases nº 9394, o campo de atuação do pedagogo não ficou restrito a educação na escola. Esse olhar mais abrangente foi apagando, mesmo que de forma ainda lenta, a ideia cristalizada de que o curso de Pedagogia forma o pedagogo apenas para a docência e que a educação é estável. De acordo com Libâneo:

As questões referentes ao campo de estudo da Pedagogia, da estrutura do conhecimento pedagógico, da identidade profissional do pedagogo, do sistema de formação de pedagogos e professores, frequentam o debate em todo o país [...] (2002, p. 25).

Nesse processo de mudança podemos observar no Projeto Pedagógico do curso de Licenciatura em Pedagogia, do Centro de Educação/UFPE (2007), que o mesmo traz como um dos objetivos do curso, formar profissionais para atuar também em espaços não escolares de formação humana, ou seja, com a reforma curricular, percebemos a preocupação em se pensar a atuação do pedagogo em novos espaços. Esse cuidado do curso de Pedagogia em formar pedagogos que estejam aptos para atuarem, também, em espaços de educação não formal, nos revela uma atenção às novas demandas educativas advindas da sociedade. Como nos alerta Libâneo (2002, p.28) “O pedagógico perpassa toda a sociedade, extrapolando o âmbito escolar formal, abrangendo as esferas mais amplas da educação informal e não-formal”. Nesse sentido, o autor (ibidem) procura chamar nossa atenção para as transformações inerentes a todo processo sócio histórico,

A autoria nos mostra que a educação não formal se desenvolve normalmente no ambiente extraescolar, nas organizações sociais, nos programas de formação sobre direitos humanos, cidadania, lutas contra desigualdades e exclusões sociais, no centro das atividades das ONGs, nos programas de inclusão social, especialmente no campo das artes, educação e cultura. Isso nos mostra que a educação não formal vai além de um espaço ou conceito, dependendo primeiramente de um ator essencial: o educador. O educador que se propõe a atuar no campo da educação não formal deve almejar contribuir para a transformação política e social do indivíduo envolvido no processo educativo. Diante do exposto, acreditamos que não podemos restringir os estudos da educação ao espaço escolar e diante da realização de um curso de Pedagogia, no qual tivemos poucas experiências para além dos muros das escolas, buscamos responder as seguintes questões: como o pedagogo tem atuado nos espaços de educação não formal? De que modo o curso de Pedagogia contribuiu na elaboração de ações educativas em outros espaços educativos? Quais as motivações levaram este profissional a trabalhar nesses espaços? Para esta pesquisa, escolhemos as Organizações não Governamentais, uma vez que são considerados espaços de educação não formal, ampliando a cada dia seu trabalho com as crianças e jovens que estão à margem na nossa sociedade. Tivemos como objetivo central compreender como se constitui a atuação do pedagogo em uma Organização Não Governamental na cidade de Recife. Para isso elencamos os seguintes objetivos específicos: i) conhecer o interesse dos pedagogos em trabalhar em Organizações Não Governamentais; ii) Identificar as ações educativas que os pedagogos desenvolvem nesse espaço; iii) conhecer a contribuição da formação acadêmica no curso de Pedagogia para o trabalho dos pedagogos nas ONGs; iv) delinear os motivos que levaram esses espaços a buscarem o pedagogo para fazer parte de sua equipe de colaboradores.

2. A Educação Não Formal – Um espaço em construção

O termo educação não formal ganha popularidade a partir do final da década de 60 no Brasil, o seu surgimento teve contribuições tanto nacionais como

internacionais, possuindo aqui relação direta com a Pedagogia Social. De acordo com Gohn (2006) a educação não formal é conceituada nesse campo da Pedagogia, uma vez que ela trabalha com coletivos e se preocupa com os processos de construção de aprendizagens e saberes coletivos. Segundo Machado (2008) a Pedagogia Social pode possuir diferentes enfoques de acordo com cada país, e apesar de não haver consenso, em alguns países o profissional é denominado de Educador Social e em outros de Pedagogo Social. Atualmente, o campo de educação não formal passou a ser valorizado por também dar importância aos valores culturais que articulam as ações dos indivíduos. Certamente este termo já não nos causa tanto estranhamento, no entanto é um campo que está em construção e precisamos conhecê-lo melhor. Muitas vezes, propostas educativas de educação não formal se voltam aos grupos sociais excluídos com uma lógica assistencialista ou de prevenção, visam apenas inserir ou incluir determinado grupo ou indivíduo na sociedade de acordo com seus moldes, como se o sujeito fosse objeto da Educação. A educação não formal vai além dessa lógica, pois a experiência com esse outro sujeito ganha sentido novo para o educador. Arroyo (2012) comenta:

Na medida em que outros educandos chegam com outras experiências sociais, outras culturas, outros valores, mostrando-se Outros sujeitos nas relações políticas, econômicas, culturais, Outras Pedagogias são inventadas, outras formas de pensa-los e de pensar a educação, o conhecimento, a docência. (p.11)

Por vezes, preso ao processo de escolarização que ocorre dentro da lógica formal de educação, o educador vai se distanciando do educando e não se envolve mais com a necessidade daquele aluno. Sabemos que existem outros campos educativos além da escola que demandam o Pedagogo, entretanto, é importante sabermos que a educação não formal não acontece apenas em espaços considerados como “não escolares”. É sabido que o sistema escolar, ou o processo de escolarização, mantém um controle social através das desigualdades, no entanto, acreditamos que onde há a educação, em qualquer lugar que ela esteja, existe a possibilidade de transformação entre educador e educando, e assim a educação não formal poderá ocorrer tanto fora do espaço escolar como nele próprio, dependendo da prática do educador.

como A Lei da Reforma Universitária. Sobre este fato, Vieira (2008) fala que a Lei definiu, no artigo 30, os especialistas que atuariam nos sistemas de ensino, criando as habilitações em Administração, Planejamento, Inspeção, Supervisão e Orientação. Na Lei 5.540 ainda não se via a formação docente como prioridade. Franco (2012, p. 69) alega que neste período, “o Brasil abria mão de uma perspectiva pedagógica revolucionária, inovadora, progressista, para entrar numa perspectiva pedagógica tecnicista e antidemocrática”. No ano 1969, em virtude da Lei da Reforma Universitária, o Parecer nº 252/69, retificava e organizava o curso de Pedagogia, tendo assim a intenção de habilitar o profissional da educação em orientação, administração, supervisão e inspeção educacionais, seja ele bacharel ou licenciado. Apenas na década de 80 é que se abre um debate social, do qual vão estar inseridos movimentos tais como: ANDES – Associação Nacional de Professores do Ensino Superior, ANPAE – Associação Nacional de Política e Administração Nacional, ANPED – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Educação, CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação, em busca de um único objetivo, a educação. Sobre esse período Brzezinski (2002, p.87) diz que:

[...] a cidadania tem sido elemento de união entre movimentos sociais e educação. [...] a educação, por sua vez, ocupa lugar central no conceito de cidadania coletiva, posto que essa se constrói no processo de luta, que é, em si próprio, um movimento educativo.

Em busca dessa cidadania coletiva, alguns educadores se uniram e formaram o Comitê Nacional Pró-reformulação dos Cursos de Pedagogia, com o objetivo de agregar o maior número de professores e estudantes no debate acerca das reformulações dos cursos de formação de educadores. Posteriormente esse comitê, veio a se transformar na Comissão Nacional de Reformulação dos Cursos de Formação de Educadores – CONARCFE, que propunham uma base comum para os cursos de Pedagogia. Em encontros posteriores, se observou a necessidade da base comum ser dividida em eixos curriculares, assim propostos: relação educação e sociedade conteúdo, método e material didático; escola e os profissionais do ensino e relação teoria-prático pedagógica, nos quais poderiam ser acrescidos outros eixos para a formação do

educador. Em 1990, essa Comissão se transformou na então Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE. E em meio a uma política neoliberal, a partir do governo do então presidente Fernando Collor, se formula a nova LDB de nº 9394 de dezembro de 1996, e em seu artigo 64, a Lei relata que “a formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional”. (BRASIL, 1996). Em virtude da LDB 9394/96, outras instituições foram criadas e reconhecidas para a formação de docentes da Educação Básica, dentre elas os ISE - Institutos Superiores de Educação, que ofereciam programas e cursos, dentre os quais o Curso Normal Superior para a formação de professores para a Educação Infantil e para as series iniciais do Ensino Fundamental. Preocupados com o novo quadro educacional que se formara, Pimenta e Libâneo, (1999, p. 241) relatam que:

[...] a atuação do Ministério da Educação e do CNE na regulamentação da LDB n. 9.394/96 tem provocado a mobilização dos educadores de todos os níveis de ensino para rediscutir a formação de profissionais da educação. A nosso ver, não bastam iniciativas de formulação de reformas curriculares, princípios norteadores de formação, novas competências profissionais, novos eixos curriculares, base comum nacional etc. Faz-se necessária e urgente a definição explícita de uma estrutura organizacional para um sistema nacional de formação de profissionais da educação, incluindo a definição dos locais institucionais do processo formativo.

Entre os debates, contestações e polêmicas, a LDB 9.394/96 foi corrigida pelo Parecer CNE/CP nº 5/2005 e este foi reexaminado e retificado pelo Parecer CNE/CP nº 3/2006, que como retrata Oliveira (2012, p.57), “no paragrafo único do artigo 4º da DCNP, são desenhadas outras possibilidades de participação do pedagogo em atividades docentes” [...]. De acordo com o documento final do Parecer CNE/CP n.3/2006, o curso de Pedagogia fica assim definido:

4º. O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.

90, quando passaram a fazer parceria com o Estado. Para Garcia (2008) o numeroso aumento de ONGs, surgidas como fruto de demandas no contexto das políticas sociais do Terceiro Setor, pode ter contribuído para a expansão da educação não formal no Brasil. Segundo Gohn:

A expressão ONG foi criada pela ONU na década de 1940 para designar entidades não-oficiais que recebiam ajuda financeira de órgãos públicos para executar projetos de interesse social, dentro de uma filosofia de trabalho denominada “desenvolvimento de comunidade”. (1997, p.54)

As ONGs são consideradas espaços de educação não formal, geralmente se constituem em espaço de luta em prol da democracia, agem como forma de conscientização política. Dessa forma, os pedagogos precisam estar preparados para a realidade desse espaço, sabendo que a sua função de educador possui grande importância para que o processo educativo aconteça. Para a educação não formal, não existe instrução prévia das ações que deverão ser realizadas por um pedagogo, até porque estamos lidando com o acontecimento de experiências entre sujeitos distintos, seja ele educador ou educando, e as experiências acontecem em tempos distintos para cada um. Ter um padrão de ações é prever algo que ainda não aconteceu, é estar tomando para si um resultado que ainda não se tem na prática. Desse modo estaríamos tratando a educação não formal através da lógica formal da educação. No entanto, apesar de não ter uma “receita” de sua atuação nesses espaços, os pedagogos precisam conhecer a fundo a instituição em que trabalham, como missão, valores, projetos etc. e ainda saber os fins da educação não formal. Seu foco é a formação social e crítica do sujeito e não apenas a qualificação. O processo de ensino-aprendizagem ocorre em comunhão entre educador e educando, a tarefa pedagógica se mistura com a vida do outro, o educador social vai se reinventando ao mesmo tempo em que vai construído esse processo, juntos constroem o conhecimento. Desta forma, Freitas (2011) comenta que:

As aprendizagens materializadas nas associações democráticas (ONGs, Organizações da Sociedade Civil – OCS, Movimentos Sociais- MS) se definem por compreenderem várias dimensões: a aprendizagem política

dos direitos; a capacitação para o trabalho; o desenvolvimento de habilidades e potencialidades; a participação do indivíduo nos problemas coletivos e cotidianos, a capacitação dos indivíduos para se tornarem cidadãos do mundo; a busca por abrir e integrar o indivíduo nas relações do seu entorno. (p. 62)

Nesse sentido, o educador não formal deve constantemente questionar a si próprio: Como devo enxergar o outro? Quem é o meu próximo? Preciso adaptar a minha própria prática para atender as dificuldades do meu aluno! A educação não formal não transforma apenas o educando como também altera o ponto de vista e a vida do próprio educador. Ela vai lidar com um tipo de problemática que a “pedagogia escolarizada” não está acostumada, pois os sujeitos por ela silenciados e esquecidos são aqui reconhecidos e ouvidos. O problema em questão é: Os pedagogos estão dispostos a lidarem com os educandos que foram deixados à margem de um sistema educacional de lógica formal e foram silenciosamente esquecidos nesse processo de escolarização existente e ainda dominante? Nesse sentido, o pedagogo que pretende atuar com a educação não formal não pode ter uma “mente escolarizada”, ou seja, deve estar atento para não reproduzir os costumes da lógica formal escolar.

3. Metodologia

Uma vez que esta pesquisa tem como objetivo inicial compreender como se dá a atuação do pedagogo em espaços não formais, em particular em Organização Não Governamental – ONG, nos aproximamos da abordagem qualitativa, posto que esta busca o entendimento dos acontecimentos em situações diversificadas. De acordo com Chizzotti (2001) a efetividade da pesquisa qualitativa,

[...] parte do fundamento de que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependência viva entre o sujeito e o objeto, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito. O conhecimento não se reduz a um rol de dados isolados, conectados por uma teoria explicativa; o sujeito–observador é parte integrante do processo de conhecimento e interpreta os fenômenos, atribuindo-lhes um significado. (p.70)

verbal cuja captação é muito importante para a compreensão e a avaliação do que foi efetivamente dito. (p.35) Decidimos utilizar a entrevista do tipo semiestruturada, uma vez que “[...] favorece não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...]” além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações (TRIVIÑOS, 1987, p. 152). Para organizarmos os dados, as questões objetivas foram tabuladas e as descritivas tiveram como referência as três fases básicas da análise de temática descrita por Bardin (1979), e sintetizada por Triviños (1987), ou seja, a pré- análise, a descrição analítica e a interpretação inferencial. Tal opção se fez a partir da compreensão de que essa é a melhor forma de registro, tendo em vista os dados que foram disponibilizados e os objetivos da investigação.

3.1. Caracterizando o Campo e os Sujeitos da Pesquisa

3.1.1. Organização Não Governamental – 1

A ONG1 uma entidade sem fins lucrativos, que neste ano completa 22 anos de fundação, possui 3 unidades, visa minimizar as dificuldades vivenciadas pelos jovens carentes da região metropolitana do Recife através de trabalhos sociais. Seu objetivo é contribuir no processo de formação da cidadania, de forma integrada, visando o desenvolvimento global da pessoa. Dentre os valores da instituição, podemos destacar a Formação Integral Cidadania, o Compromisso com o Coletivo e a Justiça Social. A ONG1 também desenvolve ações baseadas na educação complementar, possibilitando aos seus assistidos conhecimentos em diversas áreas como: judô, artes, teatro, coral, dança, artesanato, capoeira, bem como informática educativa, matemática, encontros com a psicóloga, programa de leitura, letramento, evangelização e educação física. Também cabe aqui ressaltar o trabalho integrado das assistentes sociais junto aos pedagogos, onde as assistentes sociais identificam a realidade socioeconômica do usuário, com o objetivo leva-lo a participar do processo de

conscientização dos seus direitos e deveres, buscando com isso a ampliação da sua cidadania. Ou seja, o propósito deste trabalho é interpretar as questões socioeconômicas que permeiam a realidade dos usuários e seus familiares, orientando-os de forma educativa e reflexiva na defesa dos direitos da criança e do adolescente, e a partir daí, participem juntos do processo de atendimento na ONG. É importante destacar que a referida Organização conta, também, com a participação de vários parceiros e contribuintes. Entre eles estão a CELPE, a COMPESA, o Centro Marista, a INFRAERO, o Governo de Pernambuco e a Universidade Federal de Pernambuco. Como sujeitos de pesquisa desta ONG escolhemos o pedagogo que aqui denominaremos de pedagogo 1 , com pós-graduação em Psicopedagogia em andamento, atuando há sete anos nessa instituição e a gestora que aqui denominaremos de gestora 1 , graduada em Gestão de Recursos Humanos atuando há 12 anos na instituição.

3.1.2. Organização Não Governamental – 2

Neste ano a ONG2 completou 12 anos de inauguração. Ela foi criada no dia 18 de junho de 2003 e tem como finalidade trabalhar a educação e formação da cidadania de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Para isso, ela procura promover a qualidade de vida da comunidade em que está localizada, através de programas de cidadania, capacitação profissional e políticas públicas, visando a inclusão social das famílias e a inserção delas no mercado de trabalho. De acordo com a proposta da ONG2, a metodologia utilizada em seus trabalhos está firmada no “Amor”, “Educação” e “Profissionalização”. Ela acredita na união, na força da contribuição de cada pessoa e nas parcerias, para juntos alcançar a transformação social. As atividades que são desenvolvidas objetivam a melhoria da qualidade de vida, geração de emprego e renda para a comunidade local e também para as comunidades vizinhas, oportunizando a inserção das famílias nos projetos. O projeto mais importante para a ONG2 tem como objetivo qualificar profissionalmente os educandos. Esse projeto visa jovens com idades entre 15 e

Por consequência, o movimento, a transformação da realidade educativa, leva também a mutações na Pedagogia, cabendo-lhe orientar a prática educativa conforme as exigências concretas postas pelo processo de conquista da humanização em cada momento do processo histórico-social. (p. 96)

As mudanças ocorridas na Pedagogia fez com que o pedagogo percebesse outras possibilidades de atuação profissional, entre elas, o trabalho dentro de uma Organização Não Governamental. O meio social no qual cada indivíduo está inserido, sua cultura, condição social, família, amigos, entre outros, também interfere e influencia nas escolhas de cada pessoa, como foi o caso aqui dos pedagogos que participaram dessa pesquisa. Para o Pedagogo 1 o interesse em atuar na ONG aconteceu através de uma oportunidade para trabalhar na instituição como instrutor de informática. Para ele, não havia, inicialmente, um interesse pessoal, ou identificação pela área não formal da educação.

A pessoa que eu sou hoje foi tudo baseado é... Na verdade o que eu sou hoje, a ONG, ela me lapidou, na verdade eu entrei como uma pedra bruta e fui bem lapidado né. Antes realmente esse desejo realizado era uma coisa bem vazia, muito vaga, sendo bem sincero, não tinha interesse. O desejo surgiu aqui com a experiência dentro da instituição. O aprendizado da educação essa coisa, de acreditar que ela pode ser transformadora foi tudo aqui da instituição. ( Pedagogo 1 )

Apesar de ter o interesse na docência, ele desconhecia o trabalho do pedagogo em espaços para além da escola. Essa afinidade surgiu e foi tomando proporção cada vez maior através das experiências vividas dentro da ONG. Para o Pedagogo 2 , o que o motivou a trabalhar na ONG foi o desejo em prestar serviço voluntário à comunidade. Como ele possuía experiência em informática na escola formal, ele se colocou à disposição da instituição para prestar serviços nessa área. Podemos perceber na seguinte fala:

[...] Essas experiências de informática foi o que me trouxe para a instituição... E o serviço social né... Porque a gente presta um trabalho para a sociedade se desenvolver e melhorar de vida. Isso é muito bom... Mesmo que a gente não receba nada... Eu passei muito tempo sem trabalhar, mas só em ver os meus alunos... Desde criança até terceira idade, que é a faixa etária que eu pego e continuo pegando, transformados. Já pagava todo o salário que eu precisava... ( Pedagogo 2 )

Vale destacar o quanto as experiências nas ONGs motivaram os pedagogos a fazer o Curso de Pedagogia. Sobre isso eles comentam,

Eu entrei aqui como monitor de informática né... Sem experiência nenhuma, ensino médio... Com aquela expectativa de vida que nem tinha né, um futuro que nem imaginei que um dia seria pedagogo, seria coordenador pedagógico. Então assim, do início fiquei perdido, fiquei constrangido né, porque os amigos de trabalho formados tinham experiência já... Com o tempo foi surgindo o desejo e incentivo dos colegas, dizendo faz um curso que tu se identifica né. É uma coisa que eu vi dentro da instituição também né, a instituição me deu também um respaldo teórico muito grande dentro da formação continuada... Todo o meu crescimento, pessoal, profissional e cognitivo partiu muito da instituição né. Se eu sou a pessoa com esse conceito todo, eu não posso deixar de mencionar a instituição, pois foi ela que me deu justamente esse respaldo para isso. Claro que as minhas experiências foram as experiências com os alunos, no trabalho, com as pessoas experientes que foram me ensinando. Então com tudo isso, foi muito gratificante. ( Pedagogo 1 )

Eu antes mesmo de me formar, já atuava aqui como educadora, trabalhava com apoio escolar, e umas oficinas, educadora de informática, para jovens adultos e terceira idade e aí como já trabalhava na área de educação, me veio a oportunidade de fazer uma graduação em Pedagogia, e no momento pra mim era mais propicio. Fiz, me formei, continuei trabalhando aqui né, bem antes de me formar. ( Pedagoga 2 )

Consideramos importante ressaltar nos relatos de ambos os pedagogos, a plena satisfação e orgulho que eles têm em atuar como pedagogos nas ONGs, pois foi a experiência no Curso de Pedagogia que lhes deu maior segurança no seu trabalho nesses espaços educativos. Eles enfatizam que os conhecimentos adquiridos no curso contribuem para a transformação social dos sujeitos. Podemos perceber através das falas a seguir:

Hoje em dia eu posso dizer eu tenho orgulho, antes eu ficava meio assim porque era professor e hoje em dia não, tenho orgulho em dizer que sou professor e que acredito na educação transformadora, e ainda acredito que o que eu tô passando ali, não vai ser só um mero conhecimento, é tudo uma troca... Então é isso que nos motiva a acreditar na educação, faz acreditar que existem pessoas que querem e que tem o desejo. Ah, eu fico feliz em participar porque é muito bom trabalhar assim dessa perspectiva... ( Pedagogo 1 ) Eu me sinto realizada, mas é claro que eu acho que ainda dá pra fazer muito ainda... E assim, muitos até reclamaram no início pra mim, “Tu é doida é? Vai trabalhar 8 horas por dia de graça? Todos os dias?” Mas eu não posso deixar esse povo que precisa se desenvolver não, se eu posso fazer, se eu tenho essa qualificação, porque não ajudar? Eu

trabalhar no mercado...Vemos o lado profissional, mas vemos também o desenvolvimento deles, porque as vezes muitos chegam tímidos, sem coragem... Desmotivados, sem nenhuma ideia, “pra onde eu vou”, e aqui a gente estimula, informa como deve ser feita a busca de emprego... ( Pedagogo 2 )

Sobre a preparação para as atividades que realizam dentro da ONG, ambos relatam que a instituição sempre promove encontros, capacitações, treinamentos entre outros, e que existe um Plano de Ação para nortear suas ações:

Na verdade temos o plano de ação que é como se fosse nosso P.P.P Projeto Politico Pedagógico. Então nesse plano de ação é onde a gente vai trabalhar o ano todo. Tem as demandas né, diárias do dia a dia e nosso planejamento também diário para poder executar durante o semestre, durante o mês, mas dentro disso existe o plano de ação onde detalha todo o que a gente vai trabalhar. ( Pedagogo 1 ) A gente é treinado, capacitado, a cada seis meses a gente está fazendo uma capacitação, treinamento, todo material didático e plano de aula é dado pela empresa, a gente é treinado para aplicar aquilo que tá dentro do projeto... ( Pedagogo 2 )

Ainda sobre o Plano de ação, gostaríamos de destacar a questão da preocupação e cuidado que os pedagogos têm com o contexto vivido pelos educandos. Ambos informam que buscam conhecer a comunidade em volta da ONG para que possam ajustar os conteúdos que deverão ser trabalhados, pois ela interfere de forma direta no cotidiano da própria instituição. Tudo que é envolvido aqui e tudo que acontece aqui é incluso dentro desse plano, onde a gente tem uma base do que acontece aqui, onde a gente acompanha pra que se mantenha durante o ano... Até a história de vida dos alunos podem nos ensinar também, de dentro da comunidade, no lugar que eles estão inseridos eles têm uma experiência, tem o que nos ensinarem, essas historias são também fundamentais. ( Pedagogo 1 ) A gente também vê a questão da sociedade, da comunidade como é, do público que a gente vai trabalhar, pra ta acrescentando coisas novas no material que a gente ta trabalhando... no plano de aula que a gente recebe... ( Pedagogo 2 )

No entanto, enquanto o Pedagogo 1 percebe a sua prática na ONG direcionada para a formação social do sujeito, existindo a preocupação para com o desenvolvimento pleno de cada educando, como percebemos na fala a seguir:

Na verdade todo nosso trabalho é justamente voltado pra essa ação social, pra essa formação do sujeito, que é o desenvolvimento humano.

Nossas metodologias têm os meios, os mecanismos onde a gente tenta trabalhar essas ações justamente no sujeito e nessa formação. A gente acredita nessa formação, todo o trabalho pautado, independente de área, se é artes, judô, letramento, no ser convivência, se é na recreação, matemática. Todo esse trabalho dentro da linguagem especifica é voltado para a formação social do sujeito, de cada educando, não é uma questão só coletiva é uma questão individual de cada sujeito. ( Pedagogo 1 )

O Pedagogo 2 privilegia em suas ações a formação profissional do sujeito, ou seja, seu trabalho é mais direcionado para a qualificação profissional do que para a formação social do sujeito, como vemos na fala na sua fala abaixo:

Fazer com que os jovens se destaquem no mercado de trabalho... que ele mostre que ele tem atitude e iniciativa e que vai fortalecer a empresa para ele poder também crescer, não apenas ter o emprego, mas se manter no emprego... Nosso trabalho é esse, fortalecer pra ter um profissional diferenciado. Visando isso, a empresa entra em contato com a gente, que a gente leva aqueles alunos que realmente mostraram que tem potencial que tem comprometimento e que vai com certeza fazer a diferença na empresa... (Pedagogo 2)

O público alvo das ações educativas nas duas ONGs é percebido de forma distinta pelos dois Pedagogos , o que os distingui em relação a compreensão de seu papel educativo em um espaço não formal. Para o Pedagogo 1, ele considera os sujeitos que ali estão a partir do seu potencial, isto é, ele não parte da premissa de que esses sujeitos dependem da instituição para ‘ ser alguém na vida’ ,

É muito gratificante o trabalho dentro de uma instituição, o público é diferente, são os meninos de vulnerabilidade social, tem lá suas dificuldades né, suas necessidades, mas você vê que tudo que a gente traz, todo o conhecimento deles... Eles conseguem absorver rapidamente, conseguem trocar na formação, e a gente vê que isso é muito gratificante né? ( Pedagogo 1 )

Já para o Pedagogo 2, percebemos, em alguns momentos, que seu olhar pedagógico considera o público que está na ONG como sendo “inferior”, ou que está propenso a se tornar um marginal se não tiverem acesso à educação.

A gente pega um público muito delicado né? Famílias de baixa renda, e tem problemas com drogas em outras idades, então a gente busca transformar esse público em cidadãos... A gente tem visto muito resultado, desde o inicio, de jovens transformados... E a partir dessas