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Este texto explora a intertextualidade como recurso argumentativo na construção de sentido em vários tipos de textos, incluindo científicos, religiosos, políticos e literários. A autora regina mafalda denardin frasson discute a importância da intertextualidade na argumentação, sua capacidade de re-significar textos e suas implicações para a compreensão de discursos. O texto também aborda a importância da intertextualidade na análise de discursos e na construção de sentido.
Tipologia: Exercícios
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A INTERTEXTUAUDADE COMO RECURSO DE ARGUMENTAÇÃO
Regina Mafalda Denardin Frasson'
A presença da intertextualidade em várias manif~taçõ~ da lingua- gem é fato que d~perta interesse na inv~tigação de sua força argumenta- tiva. A que ~taria ligado ~ recurso? A freqiiência das relaçõ~ intertextuais em textos científicos, religio- sos, políticos, pedagógicos, jurídicos, jomalísticos, publicitários, hUínorís- ticos, aponta uma possibilidade de r~posta. Trata-se de um recurso argu- mentativo onde a incorporação de vozes de enunciador~ diversos, a con- tínua retomada de asserções do outro confirmam o fenômeno da intertex- tualidade. Buscando chegar a uma compreensão do fenômeno lingiiístico que é o texto, ~te trabalho pretende ~tabelecer uma relação entre intertex- tualidade e argumentação, enfocando a intertextualidade como um modo de argumentar , ou seja, como recurso a serviço da argumentação. Acredita-se que a retomada de textos é capaz de re-significar o já- dito, abrindo perspectivas para outras significaçõ~, podendo opor-se ou acr~centar novos sentidos, novas direçõ~.
A argumentação consiste na apresentação de argumentos, raciocí-
Professora do Departamento de Letras Vernáculas da Universidade Federal de Santa M"ri"
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nios, através dos quais se pretende obter determinados resultados. Ela es- tá presente em todo discurso, constituindo uma ação pela linguagem, sen- do o objetivo dessa ação, muitas vezes, a persuação. Charollesl conside- ra que há argumentação sempre que um agente (individual ou coletivo ) produz um comportamento destinado a modificar ou a reforçar as disposi- çóes de um sujeito (ou conjunto de sujeitos) com relação a uma tese ou conclusão. ~a forma, entende que a argumentação consiste em um mo- do particular de interação humana. Retomando Perelman, o autor ratifi- ca que qualquer conduta de argumentação supõe a operacionalização, por um agente-argumentador, de meios para atingir um fim, ou seja, pro- vocar ou aumentar a adesão do interlocutor às teses apresentadas ao seu assentimento. ~e modo, chama argumentos ao conjunto de meios ou instrumentos utilizados por um agente para sustentar sua tese. Considerando também a argumentação como um modo de interação humana, no sentido de que aquele que argumenta pretende interferir so- bre as representações ou convicções do outro, com o objetivo de modifi- cá-Ias ou aumentar a adesão a tais convicções, Geraldi2 considera funda- mentais três aspectos: a) a argumentação é uma atividade; b) a argumentação se dirige a sujeitos; c) a argumentação procura modificar as motivações que o locutor imagina responsáveis por determinadas ações. &ses aspectos configuram, sem dúvida, a presença da interlocução no discurso. Assim, é evidente a importância que deve ser dada à figura do interlocutor, considerando que a escolha de argumentos ou contra-ar- gumentos, a sua hierarquização podem influir decisivamente na argumen-
tação. Situando a argumentação num campo mais amplo, Geraldi conside- ra-a como atividade estruturante do discurso. Destaca o autor que, para a análise de um discurso, produto resultante da interação locutor/interlocu- tor, deveria ser considerado: a) que a participação do locutor na constru- ção do discurso está vinculada a uma formação ideológica de que ele faz parte; a uma instância discursiva específica onde se deu tal construção; aos conhecimentos que possui sobre o tema do discurso; à condição espe- cífica de sua fala, correspondendo essesaspectos e outros ao que se tem deno-
1 CHAROLLES, Michel. Les fonnes directes et indirectes de l'argumentation. Pratiques, (28):7-43, out. 1980. 2 GERALDI, João Wanderley. Tópico -comentário e orientação argumentativa. In: Sobre a Estruturacão do Discurso. Campinas: IEL, 1981.
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ção argumentativa dos enunciados que compõem um texto como fator básico de coesão e coerência textuais.
Muitos lingiiistas têm-se preocupado em ~tudar a função argumenta- tiva da linguagem, d~tacando que o homem usa a língua não só para se comunicar com seus semelhant~, mas para atuar sobre el~ de diversas maneiras, ou seja, para interagir através do discurso. Assim, a linguagem é vista como ação, ação que se ~tabelece sobre o outro e sobre o mundo.
A intertextualidade configura-se como um fenômeno traduzível em termos de diálogo de textos, sendo evidente na literatura e estando presen- te também em outros tipos de texto. O trabalho intertextual pode referir- se a um gênero, a uma breve alusão, a uma paródia, a um signo ou con- junto de signos, pois todo texto faz parte de uma história de textos, é a continuação de textos anteriores. O diálogo que se estabelece, através da intertextualidade, indica a presença de vozes, consoantes ou dissonantes, e permite que os locutores e enunciadores falem, façam-se ouvir, revelando pontos de vista acerca do mundo e posicionando-se diante da realidade. Toda intertextualidade, mesmo aparentando constituir-se numa ativi- dade lúdica, nunca é ideologicamente inocente, revelando sempre uma in- tenção e revestindo a palavra do outro de novas significações. O conhecimento da intertextualidade é de grande importância para a construção do sentido, pois o texto não permite uma leitura ingênua, devendo-se voltar para ele um olhar intertextual, que, conforme Jenny é um olhar criticO. O fenômeno da intertextualidade foi teorizado por Bakhtin em seu ensaio Problemas da Poética de Dostoievski, onde considera Dostoievski o criador de um novo tipo de romance -o romance polifônico -caracte- rizado pela pluralidadedevozes: do narrador, das personagens e vozes sociais. O aspecto inovador do estudo de Bakhtin está na análise do proble- ma da pluralidade semântica a partir do significante. Assim, ele pesquisa a palavra como unidade migrat6ria e como elemento de ligação entre mÚl- tiplos discursos, estudando
KOCH, Ingedore v. Argwnentação e Linguagem. São Paulo: Cortez, 1984. JRNNY- I~urent. A estraté2ia da fonna. In: Intertextualidades. Coimbra: AImedida. 1979.
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a vida da palavra, sua passagem de um locutor a ou- tro, de um contexto a outro, de uma coletividade so- cial, de uma geração a outra. E a palavra rumca esque- ce seu trajeto, nunca se desembaraça totalmente do domfnio dos textos concretos a que ela pertence.
7 DAKHTIN, M. Problemas da Pottica de Dostoievski. Rio de Janeiro: Forense-Univemtária,
I, e f r fI S H SANTA MARIA, JUUDEZ-1992 (^91)
que a utilização da palavra do outro servir de argumento a uma tese que está sendo defendida. Uma citação, uma alusão, um efeito de polifonia, uma paráfrase, uma paródia, uma apropriação são, entre outros, elementos capazes de se revelar argumentativos, auxiliando a determinar a orientação a ser da- da na leitura ou na produção de textos. Maingueneau considera que o intertexto é um componente decisi- vo das condições de produção, afirmando que um discurso constrói-se atra- vés de um já-dito em relação ao qual toma posição13. A argumentação por autoridade já apontada por Aristóteles, no sen- tido da influência do caráter do orador4, assim como as palavras, os atos e os julgamentos do outro, usados como meio de prova em favor de uma tese, estudados por Perelman15, justificam a relação entre intertextualida- de e argumentação. As pesquisas de Ducrot voltadas para a argumentação ampliam ain- da mais essa constatação, quando ele afirma que a argumentação está ins- crita na língua, sendo, portanto, a autoridade polifônica e o raciocínio por autoridade reconhecidos como recursos de argumentação. A incorpo- ração de vozes que o locutor faz ao seu discurso permite que, a partir des- sas vozes, sejam tiradas conseqiiências de asserções cuja responsabilidade não assume diretamente. Para Ducrot, como também para Vogp6, a polifonia é um fato cons- tante no discurso, ressaltando os autores que, através da leitura polifôni- ca, vários fenômenos discursivos, como a pressuposição, a negação, o uso da forma verbal do futuro do pretérito, o emprego de certos operadores argumentativos, poderiam ser melhor estudados, uma vez que apontam a presença de outras vozes no discurso, que podem servir como argumentos favoráveis ou contrários às teses que estão sendo expostas. A intertextualidade não se resume a uma simples presença do outro no texto, pois a escolha do intertexto já representa uma postura ideoló-
13 MAINGUENEAU, Dominique. Initiation aux Méthodes de L ~nalyse du DiscOUTS.l'aris: Ha- chette, 1976. 14 ARlSTÓTELES. Ane Retórica e Arte Poética. Trad. de Antonio Pinto de Carvalho. Tecno- print S.A., Coleção Universidade. 15 PERELMAN, CH. Le champ de I'argumentation. Bruxelles: PressesUniversitaires de Bruxel- Ies, 1970. PERELMAN, CH. OLBRECTS- TYTECA, L. Traité de L 'argumentation, Ia nouvelle rhétori- que. Bruxelles: Editions de l'Université de Bruxelles, 1983. 16 VOGT, Carlos. O Intervalo Semantico. São Paulo: Ática, 1977. .LinKUaKem, PraKlndtica e Ideologia. São Paulo: HUCn"EC. FUNCAMP, 1980.
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gica. A sel~ão de uma citação já a transforma, o recorte no qual é inseri- da, as supressões que poderão ser operadas no seu interior, o modo co- mo é tomada no comentário podem revelar a confirmação ou a negação do outro texto. Por isso, a intertextualidade não é uma mera adição de textos, mas um trabalho de absorção e transformação de outros textos, com vistas a determinados objetivos. Na perspectiva pragmática, a linguagem é considerada como uma for- ma de ação, onde cada ato de fala, cada recurso utilizado tem em vista um objetivo. Assim, a intertextualidade presente no texto pode pretender atrair, persuadir, convencer, contestar. Pode-se considerar que a sel~ão de um intertexto, deste ou daque- le jornal, deste ou daquele autor, terá ~ diferente, importando não só o que é dito, mas o tom com que é dito, podendo-se constituir um elemen- to de argumentação. A utilização do recurso do holofote, destacando um determinado 88- pecto, amplificando, como recomenda Aristóteles, confirma a importân- cia da sel~ão das citações, dos intertextos para, através deles, argumentar. Nos textos jornalísticos, publicitários, no discurso político, observa- se, com freqiiência, a utilização do recurso da intertextualidade, para refe- rir outras vozes, encaminhando-88 no sentido da intencionalidade, soan- do como recurso de persuasão, revelando novas perspectivas, novos pon- tos de vista, afirmando ou negando, acolhendo ou refutando as outras vozes. Relacionando intertextualidade e argumentatividade, Koch afirma que a intertextualidade constitui um dos poderosos fatores de textualida- de, estando subj acente a ela, em maior ou menor grau, a argumentatividade. 17
Na relação entre intertextualidade e argumentação, é preciso lem- brar que, dependendo da intenção, o locutor recorrerá, explícita ou impli- citamente, a outros textos conhecidos, a fim de encaminhar o sentido, a direção, as conclusões, o futuro discursivo do texto, enfim, o objetivo pa- ra o qual aponta.
UMA ANAliSE
Na última campanha eleitoral para Presidente da República, foi pos- sível constatar a freqiiência do recurso da intertextualidade, podendo ser observados seus objetivos e efeitos de persuasão, ou seja, sua força argu- mentativa.
A intertextualidade como fator de textualidade..
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Movendo-se no terreno da afetividade, a propaganda desperta emo- ções por ter sido veiculada no dia sete de setembro de 1989, data de ani- versário da Independência do Brasil e parodiar o Hino Nacional Brasileiro:
Pátria amada, abandonada, Salve, salve.
A manobra argumentativa utilizada traz para o interior do texto um argumento incont~tável, assegurado pela autoridade de um povo, re- fletida na letra do Hino Nacional. O jogo de palavras idolatrada/abando- nada, com sua similitude fônica, revela-se como recurso retórico que atrai a atenção e encaminha para o sentido de abandono da pátria, daí a n~- sidade de salvá-Ia. Salve, salve, ao mesmo tempo que repr~enta uma sau- dação, remete para a idéia de salvação, explorando o jogo polissêmico da palavra. Vamos tirar opafs do abandono parece criar um contagiante clima de vitória, reunindo todas as aspiraçõ~ coletivas naquele momen- to. Seu voto é seu grito de independência aponta para a solução, ou seja, através do voto n~te candidato para pr~idente, você (o povo, o brasilei- ro) alcançará a independência. A fórmula Dia 15 de novembro, ajude a collorir estepais equivale a um slogan, isto é, uma frase marcante, incisi- va, atraente, um chamamento à participação, sintetizando o propósito de persuadir. O logotipo do Movimento Brasil Novo com a indicação dos partidos que dele fazem parte: PRN, PTR, PSC e PST, ao lado da indica- ção do nome do candidato Collor, equivalem a uma ~pécie de assinatura do texto. O aspecto icônico -um menino de cor negra, segurando a ban- deira brasileira em uma das mãos e tendo a outra no peito -aponta a di- reção do sentido: reverência, r~peito, ao m~mo tempo que se converte em símbolo da criança abandonada, ampliando-se para Pátria amada, aban- donada. Observando a propaganda através dess~ pontos de vista, o texto re- vela-se argumentativo, sendo que a intertex:tualidade é utilizada como re- curso de argumentação.
Hoje, os tempos mudaram. O Hino Nacional é retomado com outro objetivo. Outras vozes se fazem ouvir...
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ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RIO GRANDE DO SUL Participe da Vigília Cívica. A partir das 14h, acompanhe a votação do Impeachment em Brasília nos telões da Assembléia Legislativa. Apoio: Fórum Gaúcho Pr6-Irnpeachment.
Texto 2 -Zero Hora, 29/09/92.
o estudo dos textos permite comprovar a relação existente entre in-
O PA TRIA AMADA Que o país se torne uma nação no sentido amplo da palavra.
IDOLATRADA Que a Câmara dos Deputados ouça o grito que vem das ruas.
SUBFATURADA Que o povo sinta pela primeira vez que a justiça foi feita para todos.
ENLAMEADA Que a decisão a ser tomada hoje
ANARQU IZADA seja a resposta mais contundente que já demos