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“Sei que você odeia surpresas, Stella. Para alinhar nossas expectativas a um cronograma aceitável para você, saiba que já estamos prontos para ser avós.”.
Tipologia: Notas de aula
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Tradução ALEXANDRE BOIDE
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“Sei que você odeia surpresas, Stella. Para alinhar nossas expectativas a um cronograma aceitável para você, saiba que já estamos prontos para ser avós.” O olhar de Stella Lane saltou da mesa do café da manhã para o rosto de sua mãe, que envelhecia da forma mais graciosa possível. A maquiagem sutil chamava a atenção para os olhos cor de café, prontos para a batalha. Aquela não era uma boa notícia para Stella. Quando sua mãe punha algu‑ ma coisa na cabeça, era impossível fazer com que mudasse de ideia. “Recado dado”, Stella respondeu. O choque deu lugar a questionamentos acelerados, motivados pelo pânico. Netos significavam bebês. E fraldas. Montanhas de fraldas. Uma explosão de fraldas. E bebês choravam, dando gritos agudos como cria‑ turas mitológicas que nem os melhores fones de ouvido eram capazes de abafar. Como conseguiam berrar tanto e por tanto tempo sendo tão pe‑ quenos? Além disso, bebês implicavam maridos. Maridos eram precedi‑ dos por namorados. Namorados eram precedidos por encontros. Encon‑ tros levavam a sexo. Ela estremeceu. “Você tem trinta anos e ainda está solteira, Stella. Estamos preocu‑ pados com você. Já experimentou usar o Tinder?” Stella deu um gole enorme de água e engoliu acidentalmente um cubo de gelo junto. Depois de limpar a garganta, respondeu: “Não. Nun‑ ca experimentei”. Só de pensar no Tinder — e no encontro decorrente do uso do apli‑ cativo — já começou a suar. Stella detestava qualquer coisa relacionada a um encontro: a quebra da rotina confortável, as conversas rasas e cons‑ trangedoras, e, de novo, o sexo …
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área externa arborizada do restaurante a certificou de que ninguém tinha ouvido. Stella ficou observando aquela mão sobre a sua, fazendo um es‑ forço consciente para não a puxar de volta. Contatos físicos não solicita‑ dos a incomodavam, e sua mãe sabia disso. Fazia aquilo justamente para que se “acostumasse”. Na maior parte das vezes, só a deixava irritadíssi‑ ma. Philip compreenderia aquilo? “Vou pensar no assunto”, disse Stella, com sinceridade. Sua aversão pela mentira e pelo engodo era ainda maior do que aquela que sentia pelo sexo. E, apesar de tudo, ela queria deixar sua mãe orgulhosa e contente. Não importava o que fizesse, nunca conseguia parecer bem‑sucedida aos olhos dela e, em consequência, aos seus próprios olhos. Stella sabia que um namorado ajudaria muito nesse sentido. O problema era que sim‑ plesmente não conseguia manter um relacionamento com um homem. Sua mãe abriu um sorriso. “Ótimo. Quero que apareça acompanha‑ da no meu próximo jantar beneficente, daqui a alguns meses. Adoraria ver James ao seu lado, mas, se não for possível, vou encontrar alguém.” Stella contraiu os lábios. Sua mais recente experiência sexual havia sido após um dos encontros às cegas promovidos pela mãe. Era um cara bonito — ela era obrigada a admitir —, mas com um senso de humor que a deixava confusa. Ele trabalhava com investimentos financeiros, então os dois deveriam ter muito em comum, mas o sujeito não queria conversar sobre o trabalho em si. Preferia falar sobre política corporati‑ va e técnicas de manipulação, o que a deixou tão perdida que o encontro fora um fracasso. Quando ele perguntou sem rodeios se ela queria transar, Stella foi pega totalmente de surpresa. Concordou só porque detestava dizer não. Então começaram os beijos, que não agradaram. Ela podia sentir o gosto do cor‑ deiro do jantar na boca dele. E não gostava de cordeiro. O cheiro do perfu‑ me do cara a deixou enjoada, e ele era bem rapidinho com as mãos. Como sempre acontecia em situações de intimidade física, o corpo de Stella en‑ trou no modo de sobrevivência. Quando ela se deu conta, ele já havia ter‑ minado e estava descartando o preservativo na lixeira ao lado da escrivani‑ nha do quarto, o que a incomodou — ele não sabia que o lugar desse tipo de coisa é no banheiro? Em seguida, o cara disse para ela se cuidar e se mandou. Se a mãe soubesse o total desastre que ela era com homens…
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E agora queria bebês também. Stella se levantou e pegou a bolsa. “Preciso ir trabalhar.” Apesar de estar adiantada no cronograma, o verbo “precisar” era o mais apropriado no seu caso. O trabalho a encantava, era onde podia canalizar as deman‑ das furiosas de sua mente. E uma espécie de terapia. “Essa é minha garota”, o pai comentou, ficando de pé e limpando a camisa de estampa havaiana antes de abraçá‑la. “Logo mais vai ser a dona daquele lugar.” No rápido abraço — ela não se incomodava com o contato físico por iniciativa própria, ou quando tinha tempo de se preparar mentalmente para ele —, Stella sentiu o perfume familiar da loção pós‑barba que ele usava. Por que todos os homens não podiam ser como seu pai? Ele a considerava linda e genial, e o cheiro dele não a deixava enjoada. “Você sabe que o trabalho não é uma obsessão saudável, Edward. Não incentive esse tipo de coisa”, a mãe falou antes de voltar a atenção para Stella e soltar um suspiro maternal. “Você deveria sair com gente nova nos fins de semana. Sei que acabaria encontrando o homem certo.” O pai deu um beijo gelado em sua testa e murmurou: “Eu bem que gostaria de estar no trabalho também”. Stella sacudiu a cabeça para o pai enquanto abraçava a mãe. O colar de pérolas que ela sempre usava pressionou o esterno de Stella, que foi invadida pela fragrância do Chanel No^ 5. Suportou o cheiro enjoativo por três segundos antes de se afastar. “Vejo vocês no fim de semana que vem. Tchau.” Ela acenou para os pais antes de sair do restaurante chique no cen‑ tro de Palo Alto para a calçada ladeada de árvores e lojas caríssimas. Três quarteirões ensolarados depois, chegou ao prédio baixo que abrigava seu lugar favorito no mundo: seu escritório. A sala do canto com janela no terceiro andar era sua. A fechadura da porta da frente se abriu quando Stella aproximou a bolsa do sensor, e ela entrou com passos firmes no prédio vazio, apre‑ ciando o eco solitário dos saltos altos no piso de mármore ao passar pela mesa vazia da recepção e entrar no elevador. Uma vez instalada em sua sala, iniciou sua adorada rotina. Primeiro, ligou o computador e digitou a senha de acesso. Enquanto carregava,
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“Por que esperou que ela te chamasse para sair? Por que não tomou a iniciativa?” Ela achava que os homens gostavam disso. Estaria errada? Com um gesto impaciente, Philip devolveu a caixa de preservativos à sacola. “Ela acabou de se formar. Eu não queria ser acusado de aliciar menininhas. Além disso, gosto de garotas que sabem o que querem… principalmente na cama.” Ele a olhou dos pés à cabeça, como se pudesse ver por baixo de suas roupas, o que a deixou toda tensa e envergonhada. “Me diga uma coisa, Stella… você é virgem?” Ela se virou para as telas do computador, mas os dados se recusavam a fazer sentido. O cursor na tela de programação piscava. “Não que seja da sua conta, mas não.” Ele entrou na sala, apoiou o quadril na mesa e a encarou com uma expressão cética. Stella ajeitou os óculos no rosto, apesar de não ser ne‑ cessário. “Então nossa grande econometrista já mandou ver… Quantas vezes? Três?” Ela nunca assumiria que o palpite dele estava certo. “Para com isso, Philip.” “Aposto que você fica deitada na cama repassando recursões lineares enquanto o cara faz tudo sozinho. Estou certo?” Stella de fato faria aquilo se pudesse inserir dezenas de gigabytes de dados no cérebro, mas jamais admitiria ter pensado nisso. “Um conselho de um cara que já deu suas voltinhas por aí: pratique mais. Com a experiência, você começa a gostar mais da coisa, e aí os homens passam a gostar mais de você .” Ele se afastou da mesa e tomou a direção da porta, sacudindo ostensivamente a sacola. “Aproveite sua se‑ mana sem fim.” Assim que ele saiu, Stella levantou da mesa e fechou a porta, usando mais força que o necessário, provocando um estrondo reverberante. Seu coração disparou. Ela limpou as mãos suadas na saia reta justa e tentou controlar a respiração. Quando voltou a se sentar, estava agitada demais para fazer qualquer coisa além de olhar para o cursor que piscava. Philip estaria certo? Ela não gostava de sexo porque não sabia fazer direito? A prática levava à perfeição? Era um conceito interessante. Talvez o sexo fosse só mais uma interação pessoal que exigisse um esforço extra de sua parte — como conversas casuais, contato visual e regras de etiqueta.
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Mas como ganhar prática no sexo? Os homens não se jogavam aos pés dela como, ao que parecia, as mulheres faziam com Philip. Quando ela conseguia dormir com um cara, ele ficava tão decepcionado com a experiência que nunca mais tentava repeti‑la. E Stella estava no Vale do Silício, o reino dos cientistas e dos gênios da tecnologia. Os homens solteiros disponíveis deviam ser tão ruins de cama quanto ela. Com a sorte que tinha, mesmo se fosse para a cama com uma parcela estatisticamente significativa deles, não conseguiria nada além de Dsts. Não, Stella precisava mesmo era de um profissional. Suas credenciais teriam sido testadas e comprovadas, e ainda não haveria o risco de contrair doenças. Pelo menos era o que ela achava. Era assim que conduziria sua carreira se estivesse no ramo. Homens comuns eram atraídos por atributos como personalidade, senso de humor e de‑ sempenho na cama — coisas em que Stella não sobressaía. Mas profis‑ sionais se interessavam por dinheiro — o que Stella tinha em quantida‑ de considerável. Em vez de trabalhar no novíssimo banco de dados, ela abriu o nave‑ gador e fez uma busca no Google por acompanhantes masculinos na região.